sábado, 23 de julho de 2022

OS PITORESCOS XXXV


Bem antigamente, para alguém ganhar dinheiro precisava trabalhar muitos anos, às vezes até a morte.


Hoje, uma boa colocação em Brasília por quatro anos resolve o problema de gerações dos seus descendentes, com os “presentes” e “jetons” recebidos dos empreiteiros, para realizarem palestras sobre o “Contexto Mundial e o Brasil”.


Na Cuiabá antiga, dono de um bordel era visto como o ricaço da cidade. Hoje, só homens do agronegócio do interior do Estado.


Bem antigamente, tirar férias era passar um mês no Rio de Janeiro para os moradores do interior do Brasil. Para os cariocas, irem de navio para Buenos Aires. Hoje, férias só se forem pelas praias do Oceano Índico.


Na Cuiabá antiga, os casamentos eram realizados aqui. Hoje, nos melhores “resortes” do Nordeste ou ilhas da América Central.


Bem antigamente, a diversão dos velhos no Rio de Janeiro, era frequentar a Confeitaria Colombo. Hoje, ficar em casa com medo de ser assaltado.


Na Cuiabá antiga, a grande distração era fazer piquenique com toda a família, no rio Coxipó. Hoje, passar o dia perambulando pelos shoppings da cidade.


Bem antigamente, existiam agências do Banco do Brasil e Casas Bancárias. Hoje, desapareceram as Casas Bancárias.


Na Cuiabá antiga, na rua de Baixo, onde posteriormente foi a Casa Rosa, loja de tecidos do libanês Mutran, existiu a Casa Bancária Almeida, que era de um multiempresário cuiabano. Hoje, as agências dos Bancos funcionam nos aplicativos dos celulares.


Bem antigamente, os bandeirantes de Sorocaba aqui chegaram e só se interessavam pelo ouro abundante que retiraram da região da igreja do Rosário.

Deixavam um enorme buraco na região e alguns ficaram morando próximo ao garimpo. Hoje é o bairro do Baú.


Na Cuiabá antiga, existiam muitos índios como os Paiaguás e Coxiponés. Hoje, esses grupos indígenas são lembrados dando seus nomes ao Palácio do Governo e ao Cine Clube Coxiponés, da UFMT.


Bem antigamente, muitos índios de Cuiabá foram levados pelos bandeirantes para São Paulo como escravos para trabalharem em suas fazendas. Só então descobriram que eles só sabiam nadar, caçar e pescar.


Na Cuiabá antiga, os índios da região moravam em enormes áreas chamadas de Reservas Indígenas. Hoje, todos estão “amontados” no Parque Nacional do Xingu, ao Norte de Mato Grosso, sendo muito visitados por turistas estrangeiros.


 Bem antigamente, estrangeiro eram os portugueses e paulistas chamados de bandeirantes. Hoje, o migrante do Sul, descendente de alemães, italianos, todos loiros de olhos azuis.


Na Cuiabá antiga, migrante era quem vinha de Várzea-Grande, Bonsucesso, Livramento, Poconé, Barão de Melgaço, Guia, Passagem da Conceição, Acorizal e Chapada dos Guimarães. Hoje, o migrante é agricultor do Sul do Brasil, principalmente.


Bem antigamente, chovia pedra. Hoje, granizo.


Na Cuiabá antiga, se usava guarda-chuva para proteger a queda da água na cabeça. Hoje, dia de chuva jornal velho serve de cobertura.


Bem antigamente, para advogar não era necessário ter curso superior. Eram os rábulas nomeados pelo Tribunal de Justiça. Hoje, existem os famosos escritórios genéticos.


Na Cuiabá antiga, o Júri Popular, era um verdadeiro show de oratória e expressão corporal dos advogados, tudo com muita cultura geral e jurídica. Toda a cidade gostava de assistir e torcia pelos melhores juristas. Hoje, assistem ao Júri, alguns estudantes de Direito.


Bem antigamente, os professores serviam de exemplo para os seus alunos. Hoje, com exceções, se preocupam mais com as questões político-partidários, que não servem de exemplo para ninguém.


Na Cuiabá antiga, as professoras eram chamadas de professoras. Os professores de professores. Eram queridos e respeitados. Hoje, todos são tratados por você, e desapareceu o respeito.


Bem antigamente, os jogos de futebol terminavam no final do tempo regulamentar de noventa minutos. Hoje, sempre nos últimos minutos da prorrogação.


Na Cuiabá antiga, eu deixava o campo de futebol, nome antigo das modernas Arenas, bem antes do término das partidas. Hoje, tem torcedor que chega nos minutos finais das partidas, que são os mais emocionantes.


Bem antigamente, falava- se em transfusão, e todo mundo entendia que era de sangue. Hoje, ninguém entende que existem de imunoglobulinas.


Na Cuiabá antiga, era comum retirar da veia pequena quantidade de sangue, e aplicar na mesma pessoa no músculo do braço ou nádega. Não tinha contraindicações. Hoje, está contraindicado.


Assim é a medicina. Aquilo que era verdade ontem, hoje não é.


Gabriel Novis Neves

26-06-2022




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