sexta-feira, 29 de julho de 2022

O VENDEDOR DE PIPOCAS DA UNIVERSIDADE


Um professor de sociologia da nossa universidade federal há 29 anos tem o hábito de comprar no campus pipoca com cheiro de bacon, que diz ser irresistível.


Conversando com o dono da carrocinha ficou sabendo que ele se chamava Vicente e desde os primórdios da instituição, mantém ali, a sua carroça para vender pipoca.


O professor perguntou se ele me conhecia.


Respondeu que sim, e que eu fui um verdadeiro pai para ele.


Certa ocasião o prefeito do campus o proibiu de vender pipocas, expulsando-o do seu local de trabalho.


Ele apelou para o meu irmão Pedrinho, seu freguês e amigo, para falar comigo para resolver a sua situação.


Sua permanência até hoje ele debita a esse fato.


O Pedrinho, seu amigo, era muito querido por todos na universidade.


Era economista, professor de estatística, escritor, contador de “causos”, caricaturista, desenhista, espírita e muito humanitário e solidário.


Faleceu de causa natural, aos 80 anos no Rio de Janeiro.


Vicente de Souza Santos, baiano de Nova Canaã, veio para Goiás, depois para Rondonópolis.


Solteiro, trabalhador braçal em fazendas, chegou em Cuiabá em 1974, na época da enchente do Rio Cuiabá, com 33 anos de idade.


Foi vendedor de bola na rua, pedreiro, limpador de ônibus da Viação Mota.


Seu cunhado lhe arrumou um carrinho de pipoca, e ele passou a vender na rua.


Um guarda da universidade lhe perguntou se ele já tinha vendido na universidade.


Foi então que ele passou a vender pipocas em frente ao Centro de Ciências Sociais, cuja coordenadora era a professora Luzia Guimarães.


Em 1979 começou a trabalhar na limpeza da UFMT, depois transferido para o Zoológico por solicitação do seu diretor, o mateiro Raul José Vieira.


Funcionário de dia, pipoqueiro à noite.


Trabalhou 31 anos na universidade como servidor, mas nunca parou de vender pipoca.


Aposentou-se aos 70 anos, mas a pipoca continua na sua vida.


Casado há 50 anos com uma goiana, teve um casal de filhos.


O rapaz foi assassinado por causa de drogas e tem 2 netos.


Diz não se esquecer de mim, posou para uma foto com o professor André Lacerda, seu antigo freguês e admirador.


Está um velhinho elegante, magro, discreto sorriso, e a cabeça toda branca, com a sua inseparável carroça de pipoca.


O professor André Lacerda, sorridente, o entrevistou, fotografou e tem por hábito conversar com pessoas humildes, que muitas vezes nos surpreendem.


Nos dão verdadeiras lições de vida, especialmente da tão falada e escrita gratidão, mérito para poucos, meu amigo Vicente.


Mesmo aposentado continua o seu Vicente contribuindo com a comunidade acadêmica.


Receba a gratidão e reconhecimento de serviços prestados do reitor fundador.


Gabriel Novis Neves

20-06-2022





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