terça-feira, 19 de julho de 2022

MÉDICO DO FLAMENGO


Dos meus colegas quatro seguiram carreiras pouco habituais.


Dois se tornaram cientistas pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz em Manguinhos, no Rio de Janeiro.


Luiz Fernando Rocha Ferreira da Silva (também poeta) e Sérgio Gomes Coutinho, por anos estagiaram pelos principais Centros de Pesquisas dos Estado Unidos e Europa.


Professores da Escola de Saúde Pública da FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz) e membros da Academia Brasileira de Medicina.


O Brito, colega do CPOR, se especializou em medicina aeronáutica.


Encontrei-o por acaso no salão de embarque do Aeroporto de Brasília quando me disse que era chefe do serviço médico da Aviação Civil Brasileira.


O mais conhecido foi o italiano naturalizado brasileiro Giussepe Taranto, que praticou durante toda a sua vida, medicina esportiva.


Foi estagiário do Clube de Regatas do Flamengo, chefe do serviço médico do clube, durante o seu período de Ouro (1970-1980).


Conheceu todo Brasil, países das Américas e Europa.


Também alguns países Africanos e Asiáticos.


Nos jogos do Flamengo ficava no banco do técnico e jogadores reservas.


Quando um jogador se machucava era ele quem decidia se o jogador continuava em campo ou seria substituído.


O Flamengo veio à Cuiabá jogar pelo campeonato brasileiro da época.


Era um domingo pela manhã quando recebi uma chamada telefônica.


Era do Taranto.


Ele sabia que eu era cuiabano, morava aqui e era reitor.


Disse que estava hospedado no Hotel Fenícia com a delegação do Flamengo e que gostaria de me dar um abraço.


Perguntou se eu tinha filhos menores.


Diante da minha resposta, perguntou se eles eram torcedores do Flamengo e se eles gostariam de conhecer o Zico, em pleno apogeu da fama de ídolo de futebol de um time popular.


Ele sabia que eu não era Flamengo.


Coloquei os meus dois filhos no carro.


Em poucos minutos estava estacionando na porta do Hotel dos Hadads, cheio de seguranças.


Cheguei na recepção e pedi que chamassem o Dr. Taranto.


Minutos depois estava abraçando o meu colega, cujo último contato foi no dia 15 de dezembro de 1960, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, quando graduamos em medicina pela UB.


Conversou com os meus garotos e disse que os levariam até o quarto do Zico, que acabara de acordar às 11 h da manhã.


Pegamos o elevador e paramos no andar onde estava o ídolo.


Taranto abriu a porta do quarto, que não estava fechada com chave.


O Zico de calção e sem camisa tinha acabado de tomar o café e estava sentado na cama.


Ele mal olhou para mim e os meninos e, com desdém, a pedido do seu médico, autografou as duas camisas do Flamengo.


Zico foi um craque de sucesso no Maracanã.


Participou de três Copas do Mundo (1978-1982- 1986) e nunca foi campeão, nem eleito o melhor jogador do mundo, mesmo tendo jogado na Itália.


Encerrou a sua carreira de jogador de futebol no Japão.


Fracassou como técnico de futebol na Ásia, e até hoje é funcionário de um time no Japão.


Anos depois fui jantar no antigo restaurante Getúlio.


No calçadão eram colocadas mesas que atendiam fregueses de petiscos e cerveja.


Tinha acabado de sentar em uma mesa com a minha mulher quando o maitre veio me dizer que o Zico estava do lado de fora, provavelmente com o seu empresário.


Me indagou se não gostaria de ir até lá para cumprimenta-lo e lhe pedir autógrafos.


Agradeci a gentileza e preferi saborear o pacu cuiabano.


Gabriel Novis Neves

25-06-2022






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