terça-feira, 5 de julho de 2022

MEUS IRMÃOS


Dos meus irmãos, cinco são mulheres e quatro homens. Dois já partiram. Uma mulher e um homem.


Tieta era a mais bela de todas as mulheres. Convidada, se negou a ser miss Cuiabá. Tinha enorme vitalidade. Era uma mulher que aceitava a vida como ela é. Nunca vi a Tieta reclamar de nada. Quando acometida de um câncer, lutou bravamente. Enfrentou com otimismo duas grandes cirurgias, pois queria viver. Era a irmã número seis dos nove, e a primeira a partir.


Pedro foi o meu irmão intelectual. Professor universitário, escritor com livros publicados, estatístico e desenhista. Tinha uma caligrafia cinematográfica. Após anos de doença insidiosa, veio a falecer. Não ligava para a vida terrestre. Foi o irmão com quem tive mais contato. Inclusive fez o seu curso de economia no Rio morando no meu quarto de pensão. Aprontou-me boas! Era o irmão número três, e o segundo a partir.


Inon tinha 12 anos de idade quando eu saí de Cuiabá. É o meu quarto irmão. Já estava retornando quando ele chegou ao Rio para estudar. Possui dois cursos superiores: Farmácia e Medicina, que exerceu com brilhantismo em Cuiabá. Foi um excelente pediatra e atendia seus pacientes de dia ou noite. Quando se aposentou e voltou para o Rio, deixou saudades. Admirador da boate “Lua Morena”. É o irmão número quatro.


Olyntho, o caçula dos homens, herdou o nome do nosso pai. Deixei-o com apenas três anos quando fui estudar no Rio. Sou o seu padrinho de batismo. O mais competente de todos os irmãos. Também entende tudo de “prendas domésticas”. Conseguiu tudo que queria, não deixando nunca a boêmia, que exerceu com extrema aptidão. É bacharel em Direito pela nossa UFMT, possui carteira de Inscrição na OAB de MT. Procurador aposentado da Assembleia Legislativa de MT. Foi fundador e diretor da Escola de Samba Deixa Cair. Nasceu no mesmo dia, de parto normal, da minha irmã Ylclea em anos diferentes. É o irmão número sete.


Yara é a segunda da lista dos meus irmãos. Minha vizinha de idade. Não saiu de Cuiabá para estudar, e terminou seu 2º grau no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Muito religiosa, nunca deixou de assistir e comungar aos domingos. Até quando a artrose permitiu, nunca perdeu uma missa de São Benedito às cinco horas da manhã. Teve intensa vida social. Era chamada de “rueira”, pois não gostava de ficar em casa. Visitava amigas. Fazia compras no mercado várias vezes por semana. Ia também ao Banco do Brasil pagar seus boletos no final do mês. Não se adaptou às novas tecnologias e mal fala ao celular.


Ylclea é a minha irmã número cinco. A única a obter o título de pós-graduação com mestrado. Foi professora universitária. Concursada desempenhou funções importantes na UFMT, como secretária do Conselho Diretor. Católica praticante é a mais “família” dos irmãos. Mantém correspondência com primos distantes. Não se esquece dos aniversários dos irmãos, sobrinhos, primos e amigos. Quando pode visitá-los leva sempre uma lembrancinha. O mesmo acontece por ocasião do Natal. Apaixonada pela Chapada onde costuma passar temporadas. Frequenta cabelereira de lá e adora as pizzas. Difícil de “pegar as coisas no ar”.


Aracy é a número oito dos irmãos. Fez o curso de Serviço Social na UFMT, sendo uma das pioneiras. Muito ligada aos trabalhos manuais. Mexe com gesso e agora com papel. Ficou encarregada, por sorteio de herança, a manter a tradição de realizar a “Reza de São Pedro” no dia 29 de junho, depois com “chá com bolo”. Ele é o protetor da nossa família. Essa tradição iniciou logo após o casamento do meu pai, por sugestão da nossa mãe. Aracy sempre respeitou o passado, querendo sempre saber “quem é quem”. Faz aniversário no primeiro dia do ano. Todos nós pertencemos ao grupo sanguíneo Rh negativo. Ela foi à única vítima dessa incompatibilidade sanguínea na gravidez. Tradicionalista, mora há mais de quarenta anos em uma casa que está reformando.


A caçulinha dos meus irmãos, Ana Beatriz, nasceu quando eu já estudava medicina. Não fomos criados juntos. Quando retornei médico, ela tinha nove anos. Começamos a ter amizade a partir dessa data, mesmo morando em casas diferentes. Desde moça procurou não depender de ninguém. Herdou do meu pai o interesse pelo comércio. Teve lojas de roupas, bar de refeições, até se firmar como empresária de alimentação. Fez negócios de alimentação em Manaus e Cuiabá, permanecendo em Cuiabá.


Novidadeira como ela só, é a primeira a compartilhar notícias boas e más. Vive no seu apartamento sempre queimada pelo sol da piscina, com mudança da sua cor.


Eu sou o mais velho dos nove irmãos. Sou o mais esforçado deles. Nunca acreditei no impossível. Trabalhador, não vi o tempo passar. Hoje me arrependo de não ter dado mais atenção aos momentos felizes que a vida me propiciou. Dizem que tenho sorte. Acredito que trabalhei muito. Continuo diariamente trabalhando oito horas por dia escrevendo “crônicas para mim”. Acho que vou longe nessa caminhada.


Curiosidade: hoje é dia do meu aniversário (87).


Gabriel Novis Neves

06-07-2022







Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.