quarta-feira, 30 de junho de 2021

MÊS DE JULHO

 

Está chegando o mês de julho, de São Benedito – o Santo protetor dos pobres.


É mês também de Nossa Senhora de Santana - padroeira das mulheres casadas, especialmente as grávidas, (tornando seus partos rápidos e bem sucedidos), das viúvas, dos navegantes e marceneiros.


Julho dos inúmeros aniversários da família, e - porque não? - de um gostoso friozinho curto e rápido.


O Santo Negro, como é conhecido São Benedito, é comemorado no primeiro domingo do mês.


Este ano a festa será no dia 4 de julho, precedida de três missas de madrugada, rezadas em frente à igreja do Rosário.


São antecedidas de lavagens das escadarias da igreja, feitas pelos membros da Congregação.


Essa festa religiosa, como as demais, tem Rei e Rainha.


As comemorações são em tempo integral, com missa, chá com bolo, reza e procissão no seu encerramento.


Tudo realizado por devotos do santo.


Fogos de artifícios, banda de música e coisas gostosas das barraquinhas são vendidas para ajudar a paróquia.


Este ano, a festa do primeiro domingo do mês cai no aniversário da minha mulher. Logo a seguir é o meu, que fica na conta do São Benedito "atrasado".


É da nossa cultura oferecer presentes aos aniversariantes. Imagino a luta que terei que enfrentar com os meus filhos e netos para convencê-los a mudar este hábito centenário.


Bens materiais, já passou do tempo de recebê-los; e o carinho, amor e gratidão deles recebo diariamente.


Vivo os tempos do descobrimento do sorriso sem segundas intenções, do afago carinhoso que aperta meu dilacerado coração, cheio de "engenhocas" para evitar que ele pare de funcionar.


Do olhar penetrante impregnado de bondades, e até do choro saudável.


Hoje cedo estava pensando que daqui há 79 anos, todos os meus bisnetos, estarão vivendo no ano três mil.


Viver no século vinte e dois é o impossível para mim e uma certeza para os meus bisnetos.


Nasci na primeira metade do século vinte, e o meu sonho é avançar, até pelo menos aos arredores do meu centenário neste conturbado século que vivemos.


Este é o presente que gostaria de receber lá do Alto, pois, assim terei uma melhor noção do meu desempenho neste planeta.


E viva São Benedito e Nossa Senhora de Santana.


Gabriel Novis Neves

20-06-2021

terça-feira, 29 de junho de 2021

TECNOLOGIA


Semana passada tive duas surpresas: uma quando comprava por telefone remédios de uma grande rede de farmácias, com quatro lojas em Cuiabá; outra quando consultei meu banco em busca de algumas informações, via celular.


A atendente da farmácia me disse que iria consultar a rede, para confirmar se havia o remédio que eu solicitara.


Imaginei que estava sendo atendido pela farmácia central, e estranhei, pois na central geralmente não faltava nada. Ao indagar sobre isso veio à explicação dos tempos modernos: - não trabalho na farmácia, e sim, em casa – me disse a atendente.


Comentei o ocorrido com o boy que mais tarde veio me entregar o produto que havia comprado. Ele me disse que as funcionárias que atendem aos pedidos via telefone são muitas e que trabalham em casa. E acrescentou que não conhece nenhuma delas.


Sorrindo com um ar maroto, ainda falou para este velho pré-informática: - Esse trabalho é conhecido como Home Office!


Precisei de informações do meu Banco. Desde que surgiu a pandemia deixei de frequentá-lo.


Até então, uma vez por semana, procurava esse serviço em busca de orientação e ajuda para resolver meus problemas de pagamentos de boletos, sacar dinheiro no Caixa Eletrônico e outros.


Conhecia pelo nome todos os funcionários. Nos tornamos amigos. Falava sempre com eles pelo telefone fixo ou via Wattsapp.


Telefonei para minha gerente para resolver uma norma do Banco Central. Ela ficou de me dar o retorno nas primeiras horas da tarde.


De acordo com o combinado, uma funcionária me ligou na hora prevista – a gerente teve que atender um cliente em casa.


Relatei o meu problema. Pelo fixo falava com a funcionária do Banco e pelo celular ela ia me ensinando, passo a passo para responder pelo aplicativo ao solicitado pelo Banco Central.


Findo o motivo da consulta, fiquei contente com a metodologia e paciência de quem me orientava.


Pedi outros favores como me ensinar a trabalhar com o PIX, verificar se tinham boletos depositados em conta, e outras coisinhas mais.


Satisfeito com o atendimento falei que não a conhecia do Banco!


- Doutor, ela respondeu, eu sou funcionária do Banco, mas sempre trabalhei em casa.


Já existem empresas no mundo onde você faz as compras on-line e paga tudo no cartão.


Com a pandemia, surgiu um novo tipo de funcionário que são os invisíveis ou home office, do atendimento remoto ou trabalho a distância.


Gabriel Novis Neves

31-05-2021

segunda-feira, 28 de junho de 2021

SOSSEGO


Mesmo com o distanciamento social e prisioneiros na gaiola, somos atingidos pelo telefone e obrigados a ouvir propostas as mais indecorosas.


Tenho o celular que sempre me acompanha pela casa, mais não sei por que os inoportunos nos procuram sempre pelo telefone fixo, quase sem utilidade para mim.


Você é obrigado a se deslocar para atender ao chamado, muitas das vezes.


Colegas me dizem que quando o fixo chama, geralmente suspendem o gancho e abaixam imediatamente desligando o aparelho.


Quantas vezes é um robô do outro lado da linha!?


As ofertas de serviços são as mais hilariantes possíveis, indo de oferecimento de empregos até seguro de serviços para o apartamento onde moro.


Que saudades do velho trote, que caiu em desuso com a modernidade!


Era tão bom! Certa ocasião, ainda estudante no Rio de Janeiro, um querido colega de pensão passou semanas conversando com uma moça, se passando como argentino.


Estrangeiro sempre teve muito valor em nossa terra, talvez cicatriz da escravidão e do período colonial.


Ele se passava como Juan, ela era Wilma. Marcou um encontro, em um sábado na Rua Paissandu, esquina com Marquês de Abrantes.


Combinaram o horário e cor da roupa do encontro. Tinha tudo para dar certo, mas, a vida é feita de detalhes.


- Você é Wilma?


-Eu sou Juan.


Isso com perfeito sotaque portenho.


A moça encantada com seu futuro companheiro, belo e jovem rapaz, fisgou o detalhe, e nas camisas antigas era costume bordar no bolso à esquerda, o nome do usuário!


Respondeu ao cumprimento de apresentação e disse secamente com ar de profunda decepção:


“- Você é Ney”.


Estava encerrada nesse momento uma aventura que não suportou ao primeiro encontro.


Ao chegar em casa, meu colega de pensão relatou a todo o grupo a desventura por que passou.


Eles já estavam se amando com sinceridade impossível de suportar uma mentira.


Voltando ao meu desconforto com os chamados no telefone fixo, hoje tive que ouvir como se compra uma sepultura, com direito ao velório na Capela, ou cremação, e seguro total de assistência em meu apartamento.


Neste momento atendo um eficiente “faz tudo” nos serviços caseiros. Acaba de arrumar um dos pés da minha cama e tenta desentupir a pia de um quarto com banheiro, privativo da minha enfermeira atual.


Tudo resolvido, irá comprar a peça para meu candelabro.


Espero ter sossego para assistir pela TV aos jogos da Copa América, na Arena Pantanal.


Gabriel Novis Neves

21-06-2021

domingo, 27 de junho de 2021

PRAÇAS


Na velha Cuiabá todos os eventos importantes aconteciam nas Praças.


As mais famosas eram a Praça Alencastro, onde ficava a sede do governo estadual, e a Praça da República, com as escadarias da Catedral.


As duas eram separadas por apenas uma avenida.


Bem próximas, portanto.


O governador despachava em uma sala do lindo casarão colonial, com janelas abertas, vendo o povo passar.


Às vezes saía para comprar cigarros do outro lado da Praça, no Bar do Bugre, onde passava à saber, também, as novidades.


Certa ocasião o governador Ponce de Arruda foi ao bar, em tarde ensolarada, e disse ao meu pai que o odor de amônia estava tão forte que era percebido em seu gabinete.


Papai respondeu ao seu amigo que Cuiabá não possuía mictório público e não havia creolina para dar jeito naquele odor.


Voltando ao Palácio Alencastro o governador convocou o prefeito de Cuiabá para resolver esse sério problema social.


Outro problema que o governador Ponce tomou ciência era que não havia entre as principais Praças da cidade uma cabine de telefone público.


Esse serviço também era feito pelo meu pai. Ao lado do bar e da Catedral, havia um ponto de táxis.


Quando alguém precisava desses motoristas, telefonava para o "Bugre" no bar, meu pai atendia ao telefone e da porta do bar gritava o nome do taxista, que vinha atender ao chamado.


Quando o motorista não estava no ponto, meu pai avisava a quem tinha solicitado o serviço.


O prefeito da ocasião resolveu construir a “casinha do posto telefônico público”!


Assim que entregou o serviço recebeu tantas críticas, que bolaram até letra para uma marchinha de carnaval:


“Criaram uma casinha, bem enfrente ao bar, mais parece mictório, do que posto de falar..., o Bugre está quente com a tal decisão, pois taparam a frente do seu casarão...” E por ai ia à brincadeira poética musical.


Tempos depois a “casinha” foi demolida.


A Praça da República funcionava como um verdadeiro panteão, onde "estadistas e heróis" desfilavam as suas inflamadas falas comemorativas, que emocionavam “multidões”!


Ali assisti à solenidade da ida dos pracinhas de Cuiabá para os campos da Itália combater o nazi-fascismo.


Vi também o retorno deles, com número mais reduzido devido aos muitos tombados nos campos de batalha da Europa.


Os célebres discursos teatrais do jovem Arcebispo de Cuiabá, o imortal Dom Aquino Correa, também eram feitos na praça.


Atos públicos e políticos tinham como grande palco as escadarias da antiga Catedral!


Sempre convivi entre Praças e, não por acaso, minha residência atual fica próxima à Praça Popular!


Gabriel Novis Neves

15-06-2021

sábado, 26 de junho de 2021

MEU PRIMEIRO DIA


É evidente que uma pessoa com oitenta e seis anos já viveu vários tempos em um só, que é a sua vida.


As coisas mudaram, e muito, neste meio século e meio.


A começar pela minha educação. Ela foi precedida por brincadeiras infantis até aos meus seis anos e oito meses, quando fui para a escola.


Minha mãe me preparou com o uniforme do Grupo Escolar, confeccionado por ela, para na primeira semana de março de 1.942 eu fosse apresentado à professora, que me alfabetizou.


Ela também arrumou a minha pasta escolar. Lá continha um caderno de caligrafia, um livro de alfabetização, um lápis preto, um apontador de lápis e uma borracha.


A merenda levava de casa – um copo de café com leite, pão francês com manteiga e açúcar.


Minha primeira escola foi a Escola Modelo Barão de Melgaço, que ficava na Praça Ipiranga onde atualmente funciona o “Ganha Tempo”.


Minha mãe, antes de eu sair de casa na "Rua de Baixo", me dizia para seguir em frente em direção a Rua Treze de Junho, que atingiria a Praça onde professores e alunos se encontravam antes do início das aulas.


Ao chegar à Praça, uma professora de longos cabelos pretos enrolados na cabeça, se aproximou de mim, chamando-me pelo nome - sou a professora Oló (Aureolina Eustáquio Ribeiro), e ficarei responsável por você.


A campainha tocou um pouquinho antes das sete e meia.


Os alunos se perfilavam em grupos de trinta, que atingia aqueles do primeiro ao quarto ano primário.


Ouviam o bom dia da diretora, cantavam o Hino Nacional com o hasteamento da bandeira brasileira.


Depois, em marcha indiana, entrávamos no pátio da escola e cada grupo procurava a sua sala de aula.


Para mim tudo era novidade – não conhecia o quadro negro, giz, apagador. As carteiras de madeira de lei, que comportavam dois alunos, ficavam enfileiradas em número de cinco, divididos em três blocos.


Éramos trinta alunos por série, onde os totalmente analfabetos ficavam em um grupo à direita, aqueles que conheciam o bê-á-bá no centro e em outra extremidade aqueles colegas que liam e escreviam.


Fiquei no grupo dos analfabetos e por ser alto, sentava na quinta carteira para dois alunos.


Não havia distinção social, econômica ou de raça.


Tudo era novidade para mim! Não sabia que ir ao banheiro era "breve". E para saber se havia alguém lá, a professora mantinha um pedaço de madeira forte em cima da sua mesa.


No meio das aulas tinha a merenda que era servida no pátio para os menos abonados financeiramente.


Geralmente pão francês com rapadura de cana. Os de melhores condições financeiras compravam deliciosos salgadinhos que eram vendidos pelos especialistas. Eu merendava na sala de aula a merenda que trazia de casa.


Demorei um semestre para começar a ler o livro do primeiro ano primário. Ia muito bem, até que me enrolei na página da mola, roda, cola, soda etc.


A página ficou até amarelada de tanto manuseá-la com as mãos de manteiga da merenda.


No final do ano sabia ler e escrever e fui aprovado com a nota dez, passando para o segundo ano.


Não parei mais de estudar e após dezoito anos colava grau de Medicina.


Depois que adquiri o ensino superior, estudo até nos dias atuais.


A escola só tem porta de entrada, não existe saída.


Gabriel Novis Neves

12-06-2021

sexta-feira, 25 de junho de 2021

CELEBRIDADE


O Brasil é a terra das “celebridades”!


A CPI da Covid fez surgir algumas, nada comparáveis ao criminoso do momento – o Lázaro.


Este já é chamado de Serial killer, que é uma expressão em inglês que significa “assassino em série”, na tradução para a língua portuguesa.


A principal característica de um serial killer é a sequência de assassinatos que comete, seguindo, por norma, um determinado roteiro estabelecido, assim como uma “assinatura”, que caracteriza o seu crime.


O meu encontro (!) com esse bandido, há quinze dias, coincide com o horário do meu almoço, quando a televisão está ligada no noticiário.


O tempo de exposição deste pobre rapaz é tão generoso que fico sem entender o critério atual de informação importante.


Aprendi que a informação é uma concessão do poder público às empresas de comunicações para bem informar aos pagadores de impostos.


Qual a importância de se transmitir, quase em tempo real, as estripulias deste infortunado rapaz nos sertões do Centro-Oeste, quando o poder constituído já tomou todas as providências para a sua capitulação?


Mais de duzentos homens fortemente treinados e armados, com auxílio de aviões, cães amestrados e drones com visão térmica, perambulam os recantos mais isolados da região, sem sucesso até agora.


Quando criança, aqui no velho oeste brasileiro, ouvi muitas histórias contadas por adultos, nas quais o vencedor sempre foi o morador do mato.


Guardava com carinho e zelo a sua espingarda calibre 22 para a caça necessária à sua sobrevivência e dos seus familiares.


Enquanto isso, esquecemo-nos da guerra civil nas favelas cariocas com inúmeras baixas entre moradores e policiais e a violência cada dia maior nas nossas cidades.


Vivemos em clima de permanente alerta, reféns dessa insana guerra, conturbada pela dolorosa desigualdade social.


Até quando teremos que conviver com tanto desperdício de informações?


Ontem o assassinato cruel do jogador de futebol no Paraná, e tantos crimes administrativos, que após grande exposição na mídia, caíram na caixa do esquecimento.


Hoje temos o Serial killer, - qual será o crime que está sendo preparado para substituir esta fase?


Gabriel Novis Neves

24-06-2021

quinta-feira, 24 de junho de 2021

ESCOLHA


Uma matéria do Euro Exim Bank Ltd. fez os economistas pensarem quando disse:


“Um ciclista é um desastre para a economia do país: ele não compra um carro e não toma um empréstimo, não compra um seguro do carro, ele não compra combustível, ele não envia seu carro para serviços e reparos – ele não usa estacionamento pago”.


“Não causa acidentes graves, não exige rodovias com várias faixas – não se torna obeso – sim... e que droga”!


“Pessoas saudáveis não são necessárias para a economia”.


“Elas não compram remédios. Elas não vão aos hospitais e médicos. Elas não adicionam nada ao PIB do país”.


“Por outro lado, cada nova loja do McDonald´s cria pelo menos 30 empregos: 10 cardiologistas, 10 dentistas, 10 especialistas em perda de peso, além das pessoas que trabalham no McDonald´s”.


“Escolha sabiamente um ciclista ou um McDonald”?


“PS: caminhar é ainda pior. Eles nem compram uma bicicleta”.


É assim que pensam os capitalistas, que hoje dominam a economia mundial, onde o homem é tratado como negócio que deve ser rentável.


Com a derrubada do muro de Berlim o capitalismo venceu o socialismo, e até aqueles que defendiam o socialismo como melhor maneira de viver, abandonaram esse “ismo” e praticam como a Rússia e China o mais fanático capitalismo. No Brasil os últimos governos ditos da esquerda, quando no exercício do poder, exerceram o mais cruel capitalismo.


É só consultar a recente história do Brasil, para constatar aquilo que digo.


Tenho certeza que futuramente outra sociedade não capitalista irá substituir os atuais “ismos” (capitalismo e socialismo), criando outra maneira de viver, com nova filosofia.


Uma sociedade que destrua a desigualdade social, que tantos males causa à humanidade.


Uma sociedade onde o homem saudável - o ciclista - fará parte importante na elaboração do PIB de uma nação, onde todos poderão ser felizes.


Essa é a minha escolha!


Gabriel Novis Neves

22-06-2021

quarta-feira, 23 de junho de 2021

QUASE


Ao ligar a televisão no FOXSPORTS para assistir ao jogo Chile e Uruguai pela Copa América na Arena Pantanal, me deparei com uma notícia inusitada. 


O narrador esportivo comentava que, no dia anterior, um cabeleireiro havia furado a bolha de proteção sanitária que cuidava da saúde dos jogadores de futebol contra a Covid19 e levou garotas de programa ao hotel da concentração da equipe chilena. 


A Confederação que patrocina o torneio internacional, imediatamente, multou a Confederação Chilena.


No dia do jogo essa era a notícia dos principais jornais sul-americanos e alguns da Europa.


Finalmente nos tornamos famosos nos países que participam da Copa América 2021!


Temos que trabalhar  muito ainda para sermos respeitados na maioria dos países europeus.


Cuiabá é uma cidade ainda sem tradição em campeonatos internacionais.


A primeira experiência foi  em 2014, quando sediamos alguns jogos da Copa do Mundo dos 7X1, quando fomos vergonhosamente "engolidos" pelos alemães em Belo Horizonte.


Esse foi o grande escândalo daquela  época envolvendo jogadores de futebol.


Fico imaginando o espanto dos leitores europeus lendo esta matéria.


Acostumados com notícias de que em Cuiabá onças pintadas e jacarés disputam com os transeuntes espaços nas calçadas, e muita gente os criam em casa como animais de estimação, o impacto da notícia do cabeleireiro com as garotas de programa deve ter feito um estrago no imaginário dessa gente.


Estamos no caminho dos famosos e para chegar lá é só fazer um esforçozinho.


Basta substituir o cabelereiro por empresário e garota de programa por modelo.


Só assim jogadores da França, Itália, Inglaterra, Alemanha entenderão esse "moderno estágio" do futebol em Cuiabá.


Quase - chegamos lá.


Gabriel Novis Neves

22-06-2021

terça-feira, 22 de junho de 2021

GAIOLA


Antes do surgimento das torres de concreto armado para moradias, no fim dos anos cinquenta e inicio dos sessenta, morávamos em casas com imensos quintais.


Era natural nos quintais, e até dentro das residências, a presença das casinhas dos pássaros silvestres amestrados.


Quem não possuía uma gaiola individual ou coletiva de até sete ou mais pássaros?


Essas gaiolas, que significam prisão para os canários, catatuas, bem-te-vis, beija-flores, araras, papagaios, serviam também para comercialização e lazer aos seus proprietários, embora existissem leis para disciplinar esse assunto, onde os animais deveriam ser registrados.


Antes da mudança da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, o Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal do então Distrito Federal, ficou muito conhecido devido ao luxo, escândalos de toda a ordem, onde predominavam as mordomias, nepotismos, funcionários fantasmas e o excessivo custo financeiro.


Guardo grandes recordações, dolorosas na sua maioria, da política do Rio de Janeiro. Gaiola virou sinônimo de desperdício com o dinheiro do povo.


Na década de sessenta surgiram várias gaiolas de ouro espalhadas por todo o Brasil, nos três níveis de administração pública.


As gaiolas de ouro do executivo, legislativo e judiciário, são por todos conhecidos com suas gaiolinhas distribuídas pelos mais diversos cenários do poder no Brasil.


Com o surgimento da pandemia aparece por aqui a “síndrome da gaiola”.


Esta pandemia retira jovens e adultos da sua convivência social para ficarem isolados em casa, criando sérios transtornos emocionais que requerem ajuda de psicólogos e psiquiatras.


Ataca mais os jovens que, retirados do seu meio social, se habituam à vida isolada e não desejam mais a reintegração social.


Ansiedade, depressão, irritabilidade, insônia e até pensamentos suicidas levam esses adolescentes, e adultos também, à procura de ajuda médica especializada.


Essas doenças, assim como o vírus causador da pandemia, são ainda muito desconhecidas para os profissionais de saúde.


Tenho acompanhado adolescentes e crianças com a “síndrome da gaiola”.


Tenho conversado com colegas sobre o futuro da vida pós-pandemia. É opinião unânime que o sistema educacional, principalmente, sofrerá profundas modificações sem sabermos se será para melhor ou pior.


No nosso dia a dia as alterações do isolamento serão definitivas, como o trabalho à distância e aproveitamento maior das facilidades da internet e aplicativos.


Nada neste mundo mais será igual, como diz Pasteur, “tudo se transforma nada se perde”.


Em curto prazo, gaiola deixou de ser casinha de passarinho para símbolo de corrupção, como gaiolas de ouro, e se transformou em patologia médica.


Na próxima geração qual será o significado de gaiola?


Gabriel Novis Neves

21-06-2021

segunda-feira, 21 de junho de 2021

JARDIM


Na Cuiabá de antigamente bastava falar em “Jardim” que todos sabiam daquilo que se tratava.


- Vamos nos encontrar no Jardim – diziam. E na hora combinada esse encontro era realizado.


A Praça Alencastro possuía um belo Jardim com “passarelas para desfilar”, ornamentado com um Coreto e Chafariz importados da Europa, que hoje estão na Praça Ipiranga servindo de abrigo aos moradores de rua.


O Jardim, ou Jardim do Alencastro ou da Praça Alencastro, possuía um gasômetro, local de desembarque das moças que vinham do Porto de ônibus, para se distraírem dando voltas em torno do Jardim.


O Jardim também possuía bancos de concreto, onde famílias sentavam enquanto os filhos adolescentes passeavam ou iniciavam um "namorico", muitas vezes culminando com um eterno casamento.


Constituía na melhor diversão de Cuiabá antes da televisão.


Após a matinê das quatro da tarde no Cine Theatro de Cuiabá, os jovens enamorados continuavam suas conversas nos bancos do Jardim.


As quintas-feiras e os domingos eram especiais, com retretas no coreto.


Quinta era a banda da Polícia Militar que tocava e no domingo a responsabilidade era dos músicos do 16° Batalhão de Caçadores.


O público do Jardim se esvaziava às quintas-feiras e aos domingos logo após a retirada dos músicos, pontualmente às nove da noite.


Durante a semana era pouco frequentado no período escolar. A meninada tinha que dormir cedo, pois no outro dia tinha aula.


Dizem os antigos que o Jardim tinha grades, ficando os de menor poder aquisitivo dando voltas pelas calçadas de fora.


Conheci o Jardim sem as grades, mas havia discriminação social e econômica entre os seus frequentadores, que terminaram migrando para a Praça da República.


A tudo presenciei das portas do Bar do Bugre, e na minha imaginação restou uma “multidão” de pessoas se divertindo nos domingos de férias no Jardim.


O carnaval de rua tinha como palco principal o Jardim.


Lá acolhia os foliões mascarados e se usava muito confete, serpentina e lança-perfumes.


Bons tempos aqueles em que tubos de lança perfumes eram utilizados para “assustar” as moças quando recebiam aquele líquido frio nas pernas!


Cuiabá cresceu e a inocência do Jardim desapareceu.


Gabriel Novis Neves

15-06-2021

domingo, 20 de junho de 2021

FORA DA CURVA


A língua portuguesa é muito linda e ao mesmo tempo complicada, devido às suas mais variadas expressões.


“Fora da curva” é um modismo dos tempos atuais, e ser fora da curva significa fazer mais que o esperado. 


Significa também que você vai dar o melhor de si mesmo; é ser autêntico e fugir na normalidade. 


A origem dessa expressão, segundo o "Dicionário Informal", veio da Curva de Gauss, uma parábola em forma de sino, onde os que estavam dentro dela eram os medianos e os que estavam fora, os que se destacavam.


Daí “o ponto fora da curva” ser muito parecido com “outro patamar”, reavivado com declarações recentes de um craque, que disse após a vitória que o Flamengo estava em outro patamar!


Não é sem motivo que os estrangeiros reclamam muito do aprendizado da língua portuguesa, repleta de expressões como estas.


Estou escrevendo sobre “o ponto fora da curva”, motivado por um comentário de um amigo sobre uma crônica que publiquei recentemente.


Após sua aprovação explícita daquilo que tinha lido, ainda me provocou dizendo que o ponto fora da curva dava uma excelente crônica.


Li outro dia que “o ser humano não precisa de uma existência tranquila, mas de um desafio que o faça utilizar sua capacidade de lutar”.


Se todas as pessoas fossem iguais, se todo o mundo pensasse da mesma maneira, seríamos todos loucos (ou não seríamos nada).


Aquilo que distingue uma pessoa normal de uma extraordinária é que a primeira se contenta com a existência que lhe é dada, não busca oportunidades, não procura nada fora do comum.


O que limita o ser humano é o que ele pensa. As coisas não caem do céu, mas são bem mais fáceis de encontrar se você buscar por elas.


O impossível é só questão de opinião.


Se o normal é a vida seguir uma linha reta, com tudo exatamente como planejado, qual seria a graça de viver?


Mas a gente ama um desafio, não é mesmo?


Vamos viver como o ponto fora da curva.


Gabriel Novis Neves

17-06-2021

sábado, 19 de junho de 2021

PROSTITUIÇÃO NO BRASIL


O jornalista Peninha (Eduardo Bueno), autor de vários livros interessantes, aborda como poucos a “História da Prostituição no Brasil”!


A prostituição é considerada a mais antiga profissão do mundo, antes vocação e devoção, nos templos da Babilônia, onde viviam as grandes prostitutas e o sexo era considerado sagrado.


Veio a moralista verdade judaico-cristã e puniu o sexo e as prostitutas.


A prostituição chegou ao Brasil com as caravelas de Pedro Álvares Cabral.


Dois fortes motivos, como a corrida do ouro em Minas Gerais e a escravidão, deram origem às mulheres e meninas nas janelas.


Quanto mais bonitas mais faturavam, isso em mil setecentos e setenta e poucos.


Depois elas vão para a cidade do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.


Com a chegada do Rei ao Rio de Janeiro, esta cidade torna-se cosmopolita e, como qualquer cidade grande, transforma-se em um grande centro de prostituição.


Nessa ocasião as prostitutas vendiam doces e ofereciam aos seus clientes outras gentilezas (a prostituição).


Em 1845 é feita a primeira radiografia social sobre o Rio, e ficou claro que existiam três categorias de prostitutas.


As de alto nível, que atendiam em suas casas na Lapa, e geralmente eram costureiras.


As do segundo nível que atendiam em casas mais afastadas localizadas em Botafogo e no Jardim Botânico.


Aquelas do terceiro nível atendiam no Centro do Rio.


Surgiram as cafetinas, que eram as responsáveis pelas "meninas das janelas", e uma ampla rede de negócios surgia, oferecendo empregos os mais diversos.


Discutiu-se o vínculo da escravidão com a prostituição e houve quem propusesse acabar com a escravidão para eliminar a prostituição e, claro, essa idéia estava errada.


Em 1867 circularam no Rio as polacas, que eram chamadas de francesas.


A Constituição Imperial de 1871 não proibia a prostituição e o Rio foi transformado em um “antro de perversão”!


Tornou-se um hábito os pais levarem os seus filhos para os prostíbulos. Era salutar, pois retiravam os jovens do ato de onanismo que, entre outras superstições, acreditavam que "fazia crescer cabelos nas palmas das mãos" de quem o praticava.


Integrantes de todos os partidos políticos da época frequentavam os prostíbulos e se encontravam até para conversar; o que fazia as prostitutas serem muito bem informadas sobre esses acordos e conversas.


Até na famosa Confeitaria Colombo havia prostituição de alto nível, depois das dezessete horas.


Quando trabalhava no Hospital e Pronto Socorro  Souza Aguiar no Rio de Janeiro, o exercício da Medicina também exigia atendimento de urgência e emergência para muitas "meninas das janelas" no Mangue, local da baixa prostituição no Centro do Rio de Janeiro. O deslocamento dava-se em ambulância e os motoristas eram muito respeitosos. Alguns, inclusive, se diziam fregueses da casa. 


Eram sempre urgências quando as "meninas das janelas" eram atendidas nos quartos de trabalho. Nas emergências era necessário o transporte para o hospital, justificando o deslocamento da ambulância para atender os chamados.


Em Laranjeiras havia uma "casa" na Rua Alice, que atendia uma clientela de nível social melhor, inclusive muitos alunos de medicina. Os prostíbulos do Catete funcionavam na Rua Correa Dutra, sem as meninas na janela. A porta, sempre fechada, era controlada por uma cafetina e as "meninas" ficavam esperando os clientes sentadas em cadeiras em ampla sala.


Com o advento da internet na década de 1990, surgiram as garotas de programa, muitas universitárias e meninas pobres do interior que na cidade grande vendem seus corpos para ganhar dinheiro. As garotas  de programa foram substituidas pelas falsas "modelos" e "atrizes de filmes pornôs". As cafetinas, proprietárias de prostíbulos praticamente desapareceram e deram lugar às "Agências de Modelos".


A hipocrisia social sempre cercou a história da Prostituição no Brasil.


Gabriel Novis Neves

17-06-2021


Post Scriptum: VEJA AQUI - história da prostituição no Brasil, pelo jornalista Eduardo Bueno