domingo, 27 de junho de 2021

PRAÇAS


Na velha Cuiabá todos os eventos importantes aconteciam nas Praças.


As mais famosas eram a Praça Alencastro, onde ficava a sede do governo estadual, e a Praça da República, com as escadarias da Catedral.


As duas eram separadas por apenas uma avenida.


Bem próximas, portanto.


O governador despachava em uma sala do lindo casarão colonial, com janelas abertas, vendo o povo passar.


Às vezes saía para comprar cigarros do outro lado da Praça, no Bar do Bugre, onde passava à saber, também, as novidades.


Certa ocasião o governador Ponce de Arruda foi ao bar, em tarde ensolarada, e disse ao meu pai que o odor de amônia estava tão forte que era percebido em seu gabinete.


Papai respondeu ao seu amigo que Cuiabá não possuía mictório público e não havia creolina para dar jeito naquele odor.


Voltando ao Palácio Alencastro o governador convocou o prefeito de Cuiabá para resolver esse sério problema social.


Outro problema que o governador Ponce tomou ciência era que não havia entre as principais Praças da cidade uma cabine de telefone público.


Esse serviço também era feito pelo meu pai. Ao lado do bar e da Catedral, havia um ponto de táxis.


Quando alguém precisava desses motoristas, telefonava para o "Bugre" no bar, meu pai atendia ao telefone e da porta do bar gritava o nome do taxista, que vinha atender ao chamado.


Quando o motorista não estava no ponto, meu pai avisava a quem tinha solicitado o serviço.


O prefeito da ocasião resolveu construir a “casinha do posto telefônico público”!


Assim que entregou o serviço recebeu tantas críticas, que bolaram até letra para uma marchinha de carnaval:


“Criaram uma casinha, bem enfrente ao bar, mais parece mictório, do que posto de falar..., o Bugre está quente com a tal decisão, pois taparam a frente do seu casarão...” E por ai ia à brincadeira poética musical.


Tempos depois a “casinha” foi demolida.


A Praça da República funcionava como um verdadeiro panteão, onde "estadistas e heróis" desfilavam as suas inflamadas falas comemorativas, que emocionavam “multidões”!


Ali assisti à solenidade da ida dos pracinhas de Cuiabá para os campos da Itália combater o nazi-fascismo.


Vi também o retorno deles, com número mais reduzido devido aos muitos tombados nos campos de batalha da Europa.


Os célebres discursos teatrais do jovem Arcebispo de Cuiabá, o imortal Dom Aquino Correa, também eram feitos na praça.


Atos públicos e políticos tinham como grande palco as escadarias da antiga Catedral!


Sempre convivi entre Praças e, não por acaso, minha residência atual fica próxima à Praça Popular!


Gabriel Novis Neves

15-06-2021

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