terça-feira, 22 de junho de 2021

GAIOLA


Antes do surgimento das torres de concreto armado para moradias, no fim dos anos cinquenta e inicio dos sessenta, morávamos em casas com imensos quintais.


Era natural nos quintais, e até dentro das residências, a presença das casinhas dos pássaros silvestres amestrados.


Quem não possuía uma gaiola individual ou coletiva de até sete ou mais pássaros?


Essas gaiolas, que significam prisão para os canários, catatuas, bem-te-vis, beija-flores, araras, papagaios, serviam também para comercialização e lazer aos seus proprietários, embora existissem leis para disciplinar esse assunto, onde os animais deveriam ser registrados.


Antes da mudança da capital federal do Rio de Janeiro para Brasília, o Palácio Pedro Ernesto, sede da Câmara Municipal do então Distrito Federal, ficou muito conhecido devido ao luxo, escândalos de toda a ordem, onde predominavam as mordomias, nepotismos, funcionários fantasmas e o excessivo custo financeiro.


Guardo grandes recordações, dolorosas na sua maioria, da política do Rio de Janeiro. Gaiola virou sinônimo de desperdício com o dinheiro do povo.


Na década de sessenta surgiram várias gaiolas de ouro espalhadas por todo o Brasil, nos três níveis de administração pública.


As gaiolas de ouro do executivo, legislativo e judiciário, são por todos conhecidos com suas gaiolinhas distribuídas pelos mais diversos cenários do poder no Brasil.


Com o surgimento da pandemia aparece por aqui a “síndrome da gaiola”.


Esta pandemia retira jovens e adultos da sua convivência social para ficarem isolados em casa, criando sérios transtornos emocionais que requerem ajuda de psicólogos e psiquiatras.


Ataca mais os jovens que, retirados do seu meio social, se habituam à vida isolada e não desejam mais a reintegração social.


Ansiedade, depressão, irritabilidade, insônia e até pensamentos suicidas levam esses adolescentes, e adultos também, à procura de ajuda médica especializada.


Essas doenças, assim como o vírus causador da pandemia, são ainda muito desconhecidas para os profissionais de saúde.


Tenho acompanhado adolescentes e crianças com a “síndrome da gaiola”.


Tenho conversado com colegas sobre o futuro da vida pós-pandemia. É opinião unânime que o sistema educacional, principalmente, sofrerá profundas modificações sem sabermos se será para melhor ou pior.


No nosso dia a dia as alterações do isolamento serão definitivas, como o trabalho à distância e aproveitamento maior das facilidades da internet e aplicativos.


Nada neste mundo mais será igual, como diz Pasteur, “tudo se transforma nada se perde”.


Em curto prazo, gaiola deixou de ser casinha de passarinho para símbolo de corrupção, como gaiolas de ouro, e se transformou em patologia médica.


Na próxima geração qual será o significado de gaiola?


Gabriel Novis Neves

21-06-2021

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