terça-feira, 30 de setembro de 2014

Espera


Os profissionais da “espera” são muitos. Dentre eles: pescadores, caçadores, médicos parteiros.
O médico parteiro, no entanto, tem um grande e divino diferencial: espera pacienciosamente para receber e aparar uma nova vida.
A chegada de um novo ser é o maior espetáculo da natureza do qual o homem pode participar.  Lindo e incomparável, excita nossas emoções e propicia uma ampla reflexão sobre o futuro, se isso fosse possível.
Quantos produtos de solitárias e longas horas de espera foram transformados em verdadeiros benfeitores da humanidade?
O trabalho de espera é para poucos neste mundo atual da velocidade e de resultados instantâneos.
Por isso, esses “esperadores” estão desaparecendo no competitivo mercado de trabalho da velocidade e, no caso da obstetrícia, cedendo lugar aos “fazedores” de cesariana com data marcada.
Entretanto, não nos esqueçamos de que existem outras formas de espera.
Como nos versos de Camões. Jacó esperou sete anos fazendo trabalhos forçados de pastor para Labão, pai de Raquel, serrana bela que pretendia para se casar. Assim que terminaram esses intermináveis anos de espera, não cumprindo com a sua palavra, Labão pediu a Jacó mais sete anos de serviços para lhe entregar sua filha Raquel. Jacó aceitou, pois estava disposto a ser servil a vida toda para um dia possuir a sua Raquel.
Assim é a vida para os “esperadores”.
Observando grupos  de jogadores de cassino entendemos o prazer oferecido aos que se utilizam das máquinas de brinquedo dos salões de diversão.
Relatam que duas ou três horas na frente da máquina das ilusões, faz que as misérias deste mundo sejam esquecidas. Eu creio que a liberação de serotonina é intensa nesses usuários, que estão ali apenas pelo prazer lúdico do desligamento da vida real.
As perdas, para eles, são como compras de uma fantasia desejada. Ninguém se aborrece com os pequenos desfalques materiais para a aquisição de momentos de grandes prazeres.
A razão não elimina o prazer, mesmo com perda material após longa espera.
A sensibilidade responsável entende que a paz tem de ser procurada, mesmo em uma espera – dentre as muitas que nos são oferecidas.

Gabriel Novis Neves
18-09-2014

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

PROJEÇÕES


Todos nós vivemos em cima de projeções, quer queiramos ou não. O nosso referencial é sempre o outro.
Jogamos em quem está mais próximo e mais íntimo de nós todas as nossas frustrações, as nossas raivas, os nossos ódios.
No  individual,  isso costuma ser meio contido, parcimonioso.
O perigo maior é no coletivo, quando nos sentimos fortes e desinibidos para qualquer tipo de violência.
Isso tem sido visto nas manifestações de rua. Pessoas consideradas tranquilas, e até mesmo pacíficas, na multidão, se despem de seus medos e se tornam extremamente agressivas. Daí o perigo dos protestos no dia a dia.
No âmbito pessoal agredimos e somos agredidos, geralmente pelos que mais amamos. São incontáveis os casos em que idosos e crianças são maltratados pelos familiares e pelos mais próximos.
Reações desproporcionais às causas, algumas vezes banais, são meras consequências de toda essa carga de energia acumulada durante a vida, de todos os lados.
Domados logo após o nascimento pela ética e pela cultura, somos impedidos de exorcizar as nossas angústias, as nossas insatisfações, o nosso ódio.
Segurar as feras internas é um dever pessoal e da sociedade como um todo.
O pior é que quanto mais seguros nos mostramos a terceiros, maior é a ira deles contra nós.
Incomodamos muito quando mostramos sinais de estar vivenciando  felicidade. Tudo é admitido, menos ver alguém bem. Imediatamente são disparadas baionetas para liquidar qualquer estado de espírito positivo.
O que fazer?
O ser humano funciona dessa forma.
Basta compreendê-lo e, se possível, amá-lo.

Gabriel Novis Neves
28-09-2014

Mês de Agosto


Fui criado na crença de que o mês de agosto é o mês do desgosto.
Nunca me preocupei com essa crença, e fui levando a vida sem marcas do mês perigoso para os crédulos em desgraças.
Ao entardecer do meu ciclo vital, procurando cuidar da minha saúde, encontrei o agosto que nunca gostaria de ter vivido.
Excesso de cuidados médicos também faz mal à saúde, especialmente a emocional.
Internei-me em um hospital de variadas clínicas, as mais indicadas para a minha idade, sem apresentar sintomas - a não ser o excesso de peso em meus joelhos lesionados pelo tempo de uso.
Logo que cheguei ao hospital submeti-me a vários exames laboratoriais para serem comparados com os realizados há quatro meses.
Com a solidão do ambiente passei a enxergar tudo com lente de aumento.
Preocupações surgiram e, pela primeira vez, senti o sabor do desgosto em agosto.
Meus dias de relax foram destinados às visitas às clínicas.
Após quinze dias de internação solitária, experiência primeira, desejo esquecer rapidamente este mês, mas isso só será possível quando repetir todos os exames aqui e obtiver o parecer médico.
Espero que tudo seja uma “esmeraldite”, doença que só acomete médicos, especialmente idosos, e foi para mim uma das mais dolorosas experiências.
Sei que um dia o meu ciclo vital irá se fechar. Porém, não discuto com a sabedoria de quem criou este mistério, que é a impossibilidade de saber quando.
O sofrimento pela procura de problemas funcionais congênitos e hereditários é muito grande. Sentimento que não pretendo mais experimentar a esta altura da minha caminhada, e também não desejo a ninguém.
A primavera está chegando, e com ela uma nova vida com muita esperança de renovação da natureza e dos homens.
O inverno, que tantos dissabores nos trouxe, ficará esquecido até o ano que vem...

Gabriel Novis Neves
27-09-2014

ILHA DA FANTASIA


Dentre todas as ilhas que se descortinam através do Caribe Mexicano, surge com certeza a mais charmosa de todas, Cozumel. Verdadeira ilha da fantasia com suas praias deslumbrantes de aguas plácidas e de um azul turquesa, só encontrado naquela região.
Totalmente preparada para o turismo, seus setenta mil habitantes fixos, parecem viver apenas para agradar aos que esbarram nesse oásis.
Seus apenas sessenta quilometros quadrados de praias deslumbrantes, com seus resorts aconchegantes, são um convite ao romantismo presente em todos nós, mas algumas vezes adormecido pelas hipocrisias do cotidiano.
Entretanto, o enorme relax que uma viagem dessas proporciona, é basicamente o encontro de nós com nós mesmos e mais ainda com o outro.
Coisa quase impossível no agito das grandes cidades, as nossas comportas se abrem e tudo flui naturalmente, em total simbiose com a paz trazida pelo mar e seus mistérios.
A sensação é que todo o nosso sistema cortical, após longas adaptações às distorções do cotidiano hostil, volta a se expandir e a funcionar como se vazios estivéssemos de tudo que nos aflige. As preocupações corriqueiras se minimizam e vão cedendo lugar a uma integração total com a natureza, enfim uma sensação de pleno bem estar.
Visitas a lugares extremamente pobres como a Jamaica cuja capital, Klingston e o balneário  Ocho Rios nos fascinam com a sua beleza selvagem e seus habitantes com a alegria dos não poluídos pela competitividade dos grandes centros. O ritmo e a sonoridade logo fascinam o visitante. Não por acaso ali nasceu o grande Bob Marley.
Ao passar por Costa Maya nos encantamos com as ruinas mayas ali presentes que não nos deixam esquecer dessas civilizações que nos precederam e cujos vestígios, nos deixam impressionados com a sua sabedoria e a sua arte.
Ponho-me a pensar o que nós brasileiros, desperdiçamos não cuidando dos nossos paraísos que, de tantos e tão mal cuidados, não conseguem mais sequer nos deslumbrar.

Gabriel Novis Neves
25-09-2014

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Novo Pronto Socorro


Vi a maquete do novo Pronto Socorro de Cuiabá, projeto arquitetônico feito por uma empresa baiana. É uma obra muito bonita.
A licitação do necessário empreendimento social está prometida para hoje, dia vinte e cinco de setembro, coincidentemente a dez dias das eleições gerais.
Só tenho aplausos para a iniciativa, porém, sérias e pertinentes dúvidas.
O projeto prevê o investimento de “setenta e cinco milhões de reais para a construção”, e “vinte e cinco milhões” para equipamentos.
Esses dados são oficiais, fornecidos pelo secretário municipal de saúde.
Temo pelo nascimento de mais um esqueleto de tantos existentes por aqui e no Brasil.
A nossa debilitada prefeitura só entrará (!) com vinte e cinco milhões de reais, ou um quarto do valor da obra equipada.
Outros setenta e cinco milhões de reais, posteriormente serão captados com doações do governo do estado e federal.
Não se falou na festa de apresentação da maquete, como ficarão os recursos para custeio e manutenção do novo Pronto Socorro.
A prefeitura não tem dinheiro para mantê-lo em condições aceitáveis de atendimento.
O governo do estado, não consegue nem repassar às prefeituras os recursos constitucionais e a previsão para o próximo ano não é das melhores.
O governo federal nem está aí para a nossa raquítica e frágil saúde publica, vítima de inanição crônica de investimentos.
Como não entendo da área jurídica, fico sem saber como uma obra dessa grandiosidade e necessidade é lançada sem fontes de recursos para a sua conclusão e funcionamento.
 “Depois vamos ver” é adágio de antes da criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Coisa do passado e pai dos milhares de esqueletos de obras públicas.
Situação pior é o exemplo do Hospital São Benedito em Cuiabá, onde milhões de reais foram investidos na revitalização e ampliação de um hospital privado fechado há anos.
O governo paga um aluguel mensal de mais de cem mil reais aos proprietários do imóvel e o mantém fechado, por não possuir recursos para custeio e manutenção do mesmo.
Outros esqueletos de hospitais existem no CPA e estrada de Santo Antônio.
Alguém com credibilidade e não envolvido emocionalmente no processo eleitoral, tem a obrigação de explicar ao nosso povo, como viabilizarão recursos para transformar em realidade esse sonho dos cuiabanos e mato-grossenses que é o de ter o seu moderno e eficiente Pronto Socorro.

Gabriel Novis Neves
18-09-2014

AFRODISÍACO


Certa ocasião, um antigo político desta terra tentava me convencer a entrar para a vida partidária. Após esgotar o seu repertório de vantagens que a vida pública oferece e diante da minha indiferença apelou: “além de tudo o poder é afrodisíaco”.
Com o tempo me esqueci das outras vantagens enumeradas: “merenda”, “mensalinho”, “mensalão”, “sorte nos negócios”, viagens para qualquer parte do mundo com todas as despesas pagas, “cartões corporativos”, “acompanhantes” e “passaporte vermelho”, pratos básicos da mordomia que o poder oferece.
Salários sem teto com seus balangandans de benefícios, lembrando “o que que a baiana tem”, além do título de excelência.
O que me ficou gravado mesmo, talvez por ser médico, foi o efeito “afrodisíaco”, que dizem rejuvenescer as pessoas desse seleto clube.
Será que esses efeitos farmacológicos existem mesmo ou são quadros fantasiosos em frágeis personalidades?
A verdade é que muita gente, que nunca foi notada no mundo glamoroso dos encantamentos sociais, torna-se presente com o crachá do poder.
A liberação de estímulos nervosos pela rápida ascensão social costuma provocar reações químicas extremamente agradáveis ao carente organismo, como as endorfinas diante de um esforço físico continuado.
A exposição é vital ao político, onde nessa carreira não é permitido o ostracismo, pois quem não é visto não é lembrado.
 “Falem mal, mas falem de mim” faz parte do estatuto desse profissional.
O eleitor adora histórias de mocinhos e vilões. São lembrados nas urnas sempre com bons resultados.
Antigos guardiões da ética e da moral, implacáveis julgadores da conduta alheia, quando políticos, se transformam em verdadeiras bailarinas chamando a atenção de todos.
O que interessa é a luminosidade da evidência.
Não me surpreendo mais com essas metamorfoses de conduta - de trombeteiros da discrição para as arenas dos escândalos.
É possível que estas mudanças os façam felizes. Recuperam a sua autoestima, na maioria das vezes arranhada pelo anonimato numa época em que é tão importante aparecer.
O poder deve mesmo ser afrodisíaco para explicar o que presenciamos nos seus detentores.
Ou será mais um engodo na cartilha dessa gente?

Gabriel Novis Neves
10-09-2014

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Marina


Venceu o analfabetismo, a miséria, as doenças tropicais, a morte física, o preconceito e se tornou uma personalidade conhecida e respeitada no mundo civilizado.
Acreana, sempre participou dos movimentos sociais, e com Chico Mendes tornou-se defensora intransigente dos povos das florestas e do meio ambiente.
Lutou contra a ganância dos “modernos” colonizadores da motosserra.
Muito jovem foi eleita por um então pequeno partido (PT), em um “Estado Curral”, deputada, senadora da República por dois mandatos (16 anos), e nomeada Ministra do Meio Ambiente.
Nesse período contrariou poderosos interesses comerciais dos desmatadores das florestas.
Tem mestrado e doutorado, fechando de maneira brilhante e exemplar o seu currículo acadêmico.
Marina tem experiência de vida, ao driblar todas as barreiras que lhe foram colocadas pelo destino.
Acadêmica ao exercitar o livre pensamento, quando propôs ao Brasil a modernidade da Rede da Sustentabilidade, em vez dos arcaicos partidos políticos que não representam os anseios da nossa gente, especialmente dos mais humildes.
Candidata por um micro partido (PV) nas eleições presidenciais passadas, abocanhou com a sua biografia irretocável, cerca de vinte milhões de votos.
Perdeu feio na terra da motosserra...
O destino mais uma vez lhe apresenta novo desafio, ao lhe retirar da posição de vice para disputar a Presidência do Brasil.
Enfrenta a candidata da continuidade do poderoso governo aparelhado para a permanência eterna no poder, e o candidato da “elite branca”.
Ambos possuem todos os instrumentos para ganhar eleições em um país sem escolaridade, com voto obrigatório (instrumento para a corrupção eleitoral), e tempo de rádio e televisão desproporcionais no primeiro turno.
Contra a máquina governamental, enfrentando os três maiores partidos políticos (PT, PMDB e PSDB), a magricela do Acre, no segundo turno ainda é a favorita para ganhar as eleições.
Os empresários da motosserra simpáticos à candidatura da ética Marina, foram chamados pela ainda Presidente, e duramente cobrados para retribuir tantos benefícios recebidos do governo federal, nos últimos doze anos.
Montaram então, comitês “suprapartidários” não para pedir votos à candidata da continuidade, mas, para arrecadar dinheiro para comprar votos.
A candidata temida pelo Planalto, apesar de longa vivência na política partidária, “nunca, jamais, em tempo algum na história deste país”, foi investigada, processada ou, suspeita de praticar crimes contra o erário público.
É conhecida e admirada pelo seu caráter e competência.
Tem sido atacada de maneira desumana pelos corruptos, mensaleiros, destruidores da Petrobrás, como “demônio” que irá fazer mal as criancinhas se eleita for.
É emocionante e gratificante verificar, que pelo conhecimento e dedicação ao trabalho, ainda se conseguem em um país tão injusto, chegar pelo voto ao seu comando.
Será?

Gabriel Novis Neves

19-09-2014

terça-feira, 23 de setembro de 2014

IMPREVISTOS


O próprio sentido da palavra já é questionável para os habitantes do planeta Terra.
Como prever alguma coisa nesse mundo de incertezas que vivenciamos todos?
Talvez seja até isso o que torna a vida tão fascinante.
Apenas os muito ansiosos passam a vida tentando explicar e administrar todos os acontecimentos à sua volta.
Vivemos de momentos, e não de fórmulas resolvidas visando o bem-estar perene.
Muito sofrem os que visam controlar e gerenciar as emoções e as experiências alheias. Fazer isso com as nossas próprias já é uma tarefa quase impossível.
Como faz parte da nossa genética procurar zonas de conforto, absorvemos mal os imprevistos, pois não somos condicionados a acreditar que viver é sempre correr grandes riscos.
Somos, ao contrário, levados a buscar a felicidade nos velhos aprendizados das belas histórias do “felizes para sempre”.
A decepção é inevitável na vida adulta quando descobrimos que não é assim que funciona a engrenagem.
A tão falada sabedoria da velhice está apenas na capacidade que adquirimos em não brigar com o novo. É exatamente aprender  nessa metamorfose diária que permite que nos tornemos pessoas mais tranquilas.
Os idosos, como têm muito mais passado que futuro, passam a escancarar o presente com toda a sua força, vivendo dessa maneira mais intensamente, pelo menos mentalmente, os que  conseguiram conservar as suas faculdades.
Passam a não se levar tão a sério, na profunda compreensão de que somos apenas poeiras no espaço movido por energias incontroláveis.
Benditas palavras: “ah, se os jovens soubessem e os velhos pudessem”...
A juventude com a sua sofreguidão vive de planos preestabelecidos como imutáveis e, por isso, se frustra tão mais frequentemente.
A vida nos ensina que cada pessoa é única na sua individualidade. Tentar mudá-la é mais difícil que  quebrar um átomo de carbono.
Tudo o que temos de fazer é entendê-la e respeitá-la, tendo em vista as limitações  e os vários imprevistos que moldam as nossas vidas e pelos quais não temos a mais remota responsabilidade, mas que, com certeza, vão marcar para sempre os nossos comportamentos.

Gabriel Novis Neves
20-09-2014

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Responsabilidade


É um termo que deveria ser retirado dos nossos dicionários pelo seu desuso. Lendo os jornais da cidade, fiquei espantado com a total falta de responsabilidade na execução das obras da Copa.
Projetos feitos às pressas para efeito eleitoreiro, falta de planejamento e fiscalização, cronogramas de execução das obras com prazos não respeitados e o famoso jogo de cartas marcadas com os consórcios vencedores do pregão administrativo.
Alguns desses projetos, de tão mal elaborados, tiveram de ser totalmente revistos pelos técnicos das firmas vencedoras.
É o caso da Arena Pantanal. As reformulações e consequentes aditivos dobraram o seu custo inicial.
E todas essas lambanças foram feitas com o dinheiro do contribuinte mato-grossense.
O trevo do bairro Santa Rosa, a obra de maior visibilidade urbana, teve o seu projeto original totalmente alterado por barbaridades técnicas.
No momento a obra está paralisada e corre o risco de desabamento.
O viaduto da SEFAZ, pomposamente “inaugurado” há seis meses, está interditado com risco de cair. Os técnicos colocaram escoras enquanto decidem se remendam ou implodem para fazer um novo.
O elevado da universidade (UFMT) também apresenta problemas na sua estrutura.
Os vinte e três quilômetros de trilhos por onde correrá o bondinho do VLT, projeto de um bilhão e quinhentos milhões de reais, segundo previsões otimistas, será entregue à nossa população na festa de trezentos anos de Cuiabá, em dois mil e dezenove.
A reforma do nosso raquítico Aeroporto Internacional (?) foi um fiasco. O seu teto foi para os ares na primeira chuva com ventania.
Muitos projetos não saíram do papel, como na área do turismo, e outros ficaram incompletos, como os Centros de Treinamento.
Todas essas irregularidades foram denunciadas pelo Ministério Público, Tribunal de Contas, CREA, a população independente e os “Profetas do Atraso”.
A irresponsabilidade dos nossos dirigentes públicos não ouviu o clamor das ruas!
Resta-nos agora esperar a punição para os culpados e o ressarcimento do nosso dinheiro jogado no esgoto da irresponsabilidade.
Temos de recuperar a nossa tradicional responsabilidade com a coisa pública, sequestrada pelos modernos gestores.
Se assim não o fizermos, estaremos condenados a desaparecer como civilização.

Gabriel Novis Neves
03-09-2014

REINO RE-UNIDO


Finalmente a Inglaterra e sua monarquia despertam do susto de separação de seus súditos escoceses. Estes, há trezentos e sete anos rezam na mesma cartilha inglesa  e por um percentual de cinquenta e quatro por cento de sua população, vão continuar a fazê-lo.
Os outros quarenta e seis por cento, separatistas, foram elegantemente convidados pelo primeiro ministro escocês a se reintegrarem às causas majoritárias e permanecerem unidos. Pelo menos por uns tempos, se dissiparam os temores de uma Escócia independente.
Esse filme continua sendo rodado em outras partes do mundo tais como na Espanha onde os países bascos lutam há anos por sua independência.
De positivo, a promessa inglesa de uma maior independência do parlamento escocês que há algum tempo vem clamando por mudanças.
Ficou também a maior visibilidade mundial para o país cuja identidade estava centrada na sua beleza, nas suas saias “kilt”, nas suas gaitas de fole e no seu uísque (scotch).
Agradecido sai o primeiro ministro inglês que correu o risco de passar à história como o ministro da separação.
É aguardar algumas gerações e tudo recomeçará, como nos mostra a história.
Assim, Inglaterra, Escócia, Irlanda e País de Galles seguem como uma das maiores potências europeias, o chamado Reino Unido.
Resta aguardar o rumo que tomarão esses quarenta e seis por cento que votaram "sim" no plebiscito a favor da independência escocesa, em sua maioria jovens.
Pensando nisso, não posso deixar de lembrar de famosa frase de Einstein: "a mente que se abre a uma nova ideia, jamais volta ao seu estado normal".

Gabriel Novis Neves
19-09-2014

Pesquisa de início de campanha


Um dos resultados mais interessantes de pesquisa que já conheci foi um do Datafolha sobre as próximas eleições presidenciais quando a Marina ainda não era candidata.
O Instituto merece credibilidade. Entrevistou mais de duas mil pessoas em todo o país e fez uma série de cruzamentos de dados abordando outra série de situações que hoje dominam nossos interesses.
Todos os pré-candidatos ao cargo de presidente do Brasil apresentaram uma queda em relação à mesma pesquisa realizada no mês anterior.
Uns mais, outros menos. A surpresa ficou com o pré-candidato dos evangélicos, que tecnicamente empatou com o candidato de Recife.
Em compensação, os votos nulos e brancos assumiram a ponta da colocação, demonstrando claramente o grau de insatisfação da nossa população com os políticos, na sua maioria envolvida em falcatruas.
Uma especialista em interpretação de pesquisa esclareceu que a presença da “boca do jacaré” bem aberta nos gráficos, indica índices de desaprovação preocupante para candidatos do governo.
E nesse gráfico o bocão do jacaré era assustador! Traduzindo: na parte superior é projetado o percentual de reprovação e na inferior o de aceitação.
Para o candidato da continuação isso é pior que perder a Copa do Mundo, mas para os outros o resultado não chega a ser animador.
Daí o desespero observado nas medidas demagógicas eleitoreiras embrulhadas em forte conteúdo de marketing jogadas à população indefesa.
Pelos dados da mais recente pesquisa Datafolha, milhares de famílias no miserável Nordeste, que não trabalham, pois recebem para a sua subsistência a tal bolsa de distribuição de renda de quem trabalha, já reclamam da inflação que voltou.
Dizem que o que recebem mensalmente não supre mais suas necessidades básicas.
Os preços no final das feiras estão proibitivos aos bolsistas.
Por esse fenômeno de má gestão e incompetência administrativa, a candidata da reeleição, ou seja, da continuidade, está sofrendo mensalmente uma significativa migração dos seus votos para outras opções.
Todos os candidatos, pelos seus marqueteiros, estão satisfeitos, mesmo com as perdas e o tamanho da boca do jacaré.
Só calaram, por não terem porta-vozes, os mais de 30% dos eleitores que declararam como seus candidatos prediletos o voto branco ou nulo.
A luz amarela está acessa aos senhores candidatos. O brasileiro, na sua imensa maioria, deseja mudança.
Entretanto, esse candidato agora foi encontrado na lista da pesquisa.
O resultado dessas eleições será uma grande incógnita. A seringueira do Acre, que representa "um mal a Mato Grosso na visão do líder do agronegócio aqui", ainda poderá papar esse descontentamento nacional. 
Favoritos, neste momento, não são os brancos e nulos, e sim, os que migraram, em massa, para a magricela.

Gabriel Novis Neves
08-09-2014

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

BEM SERVIDOS


Se fizermos uma análise bem detalhada sobre a composição das chapas majoritárias que disputarão as eleições aqui em Mato Grosso, provavelmente entraremos em surto psicótico.
Candidatos para vices e suplentes, que não precisam de votos para se eleger, escondem as suas filiações partidárias.
Existem nesse grupo pessoas totalmente desconhecidas e outras muito conhecidas pela população.
Um horror de contradições! O discurso dos “cabeças de chapa” negam na prática tudo aquilo que pregam, pois, às vezes, têm como sombra representantes de partidos com dirigentes na Papuda.
Como pregar o combate permanente à corrupção, ao desmando administrativo, à ausência da ética com a coisa pública, se os chefes desses candidatos que escondem a sua filiação partidária estão presos na Papuda condenados pelo Supremo Tribunal Federal?
Não se discute o currículo desses candidatos. Se acontecer um impedimento do titular estaremos entregues a laranjas de gente muita conhecida.
O que o dinheiro faz!
Os povos primitivos ainda existentes no planeta Terra são felizes porque não conhecem esse mal que é o dinheiro.
Que vírus violento é esse metal!
Sapos com vida são deglutidos em sua homenagem.
Tristes tempos modernos onde acontecem essas coisas consideradas normais!
Ideologia? Compromisso com a verdade? Nada soa mais falso na nossa atual política, onde o jogo pelo poder é pesado, mas estamos muito bem servidos nestas próximas eleições.
Só o destino nos poderá salvar  desse imbróglio que é escolher, por mérito, nossos governantes.

Gabriel Novis Neves
03-09-2014

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Tristeza geral


Às vésperas da Copa do Mundo a nação brasileira não estava feliz, não estava vibrante e muito menos, verde e amarela. De norte a sul, de leste a oeste, o sentimento de frustração predominava. 
A construção, ou reforma, de doze campos de futebol padrão FIFA irritou a nossa gente carente de inúmeros equipamentos sociais. 
Além, é claro, do sentimento de revolta que nos atingia frente a tanta roubalheira. Segundo declarações do “Fenômeno”, que fez parte do Comitê Organizador Local da FIFA, nunca se viu tanto roubo como nas obras do Brasil. 
A nossa genética de alegria foi substituída pelas manifestações de rua. Esse movimento de defesa à nossa dignidade não foi mais pontual, mas um sentimento nacional.
O povo brasileiro está triste com tanto desgoverno e falta de compromissos sociais.
A escritora Adélia Prado silenciou jornalistas em um programa de televisão ao demonstrar todo o seu desencantamento com nossos dirigentes.
O Brasil virou o país dos negócios escusos. Tudo e todos têm um preço. As aulas “da professora”, com suas estapafúrdias tarefas, têm de ser cumpridas, sob pena de severos castigos àqueles que não atenderem a sua despótica vontade.
A tristeza substituiu a esperança.
Temos um país em que quase todas as Instituições que compõem o poder estão sendo investigadas pela Polícia Federal.
Enquanto lutávamos para conquistar o hexacampeonato de futebol, outros países lutavam para descobrir uma vacina para nos livrar do câncer.
Nossas crianças ficaram preocupadas com o preenchimento do álbum de figurinhas dos jogadores de futebol.
Muitas terminam o ensino médio mal sabendo escrever e interpretar textos e, muitas vezes, não sabendo sequer realizar as quatro operações aritméticas.
Esse não foi o país que sonhamos para os nossos filhos.
Muitas lutas foram enfrentadas e vencidas. Mas estamos sendo derrotados exatamente quando colocamos “lá” o candidato que representava dias melhores para esta nação.
O legado desse som "Tristeza Geral"? Os inúmeros escândalos não republicanos praticados nestes últimos doze anos.
O pior é que a inflação voltou e o crescimento desapareceu. Iremos enfrentar nos próximos meses a maior crise política da história desse país.
Essa foi a “Copa da Tristeza”.
Qualquer semelhança com a desmotivação política do momento é mera coincidência...

Gabriel Novis Neves
31-08-2014

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

LEI DA PALMADA


Ainda bem que longe se vão os tempos em que criança não tinha voz ativa e muito menos era consultada sobre suas preferências.
A hierarquia era bem nítida. Os pais, ou tutores, mandavam, e os filhos obedeciam sem questionamentos.
Em sala de aula os professores eram autoridades máximas. Eram respeitados e, muitas vezes, temidos, pois não toleravam indisciplina. Chegavam mesmo a impor castigos físicos àqueles mais rebeldes.
Os mais antigos ainda se recordam da famosa palmatória, fonte de tortura para crianças menos disciplinadas.
Nas últimas décadas tudo isso foi substituído por uma permissividade abusiva em nome de novos conceitos pedagógicos.
Como porteiras abertas subitamente são sempre muito perigosas, passamos a observar crianças sem qualquer tipo de limite sendo transformadas em adolescentes problemáticos nos lares e, principalmente, no mundo, cujas regras costumam cobrar caro de quem as contrariam.
O que não foi aprendido em casa é devolvido com muitos traumas e sofrimentos.
A inversão foi de tal ordem que em algumas famílias o que se vê são filhos mandando nos pais e afrontando-os, sem qualquer tipo de controle que, em certos casos, chega à violência física.
Os pais, sobrecarregados  de trabalho que os tempos modernos impõem, foram se tornando cada vez mais omissos em relação a essa permissividade.
Formou-se um círculo vicioso, em que, quanto mais omissão, mais rebeldia e mais violência familiar.
Daí, o surgimento de algumas leis que tentam por ordem na casa. Temos, por exemplo, a Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência contra a mulher.
Mais recentemente veio a “Lei da Palmada”,  contra o abuso de truculência contra crianças.
Entendemos perfeitamente que um país como o nosso, com baixo nível de educação, medidas drásticas tenham de ser tomadas para que os excessos sejam contidos.
Entretanto, passar isso para a educação em geral me parece meio ditatorial.
Algumas crianças, mais temperamentais, têm de ser contidas nos seus primeiros anos de vida, não com agressões, mas com pequenos castigos que permitam o seu condicionamento emocional ao mundo hostil que as espera.
Se pequenas palmadinhas fizessem mal, estaríamos todos marcados para sempre, pois foi o que não nos faltou quando crianças. Ao contrário dos dias de hoje, não éramos deprimidos e nem entediados com os brinquedos infantis os mais singelos.
O que se vê atualmente são pais tentando preencher o tempo infantil com tarefas ininterruptas, tirando dos filhos a época mais importante da vida, responsável, inclusive, pelo ócio criativo, tão importante a um bom desenvolvimento emocional e físico.
Lamentável que tenhamos um nível de educação tão baixo, que seja necessária a criação de uma legislação para determinar o modo como devemos criar os nossos filhos.
Não seria muito mais fácil e mais proveitoso oferecer às crianças educação gratuita e obrigatória, pelo menos nos dez primeiros anos de vida?
Ela estaria na escola recebendo conhecimento e adquirindo valores, enquanto seus pais ou responsáveis estariam lutando por sua sobrevivência.

Gabriel Novis Neves
02-09-2014

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Pessimismo


Precisamos combater a onda de pessimismo que nos últimos anos tem se abatido sobre o povo brasileiro.
É certo que as coisas não estão andando como gostaríamos, mas, quem sabe ainda haja possibilidade de vislumbrar alguma luminosidade no fim do túnel?
Sabemos que sentimentos negativos são responsáveis pela fabricação de enzimas tóxicas para o nosso organismo, enquanto que os positivos nos enchem de endorfinas propiciadoras de imenso bem-estar. 
Essa negatividade está mais presente na classe média, uma vez que os menos abastados, mergulhados na sobrevivência do dia a dia, procuram dedicar o pequeno tempo ocioso a coisas mais excitantes. Jogos de futebol da segunda e terceira divisões, por exemplo, no nosso caso.
Filas imensas foram formadas para a compra do ingresso para os jogos da Copa – apesar do seu preço surreal.
Alguns torcedores enfrentaram madrugadas geladas nessa busca. Teve até manifestação com gritos de ordem: “Queremos fila padrão FIFA”.
Quanto mais  massacrado  o ser humano, maior a sua necessidade de se projetar em ídolos famosos que, de alguma maneira, o represente.
O poder sempre soube disso. A preocupação  com o pão e o circo tem raízes históricas. 
As pessoas, de um modo geral, têm compromisso com o prazer, e momentos festivos, como uma Copa do Mundo, são ideais para extravasar as suas necessidades. 
Os mais abastados compraram seus ingressos como se fosse para um show da Broadway.
Digamos que esses jogos seguiram o mesmo movimento que se observa  no Carnaval, que apesar de ser a maior festa popular do Brasil a cada ano se transforma em festa para poucos.
Essa comercialização dos circos tem se mostrado um bom filão de negócios, passando, portanto, a figurar como evento para “gente grande”. 
As mídias, muito inteligentemente, apregoaram a todo o momento que a festa seria na rua, e é para lá que todos foram. 
Bela tentativa para neutralizar a frustração de um povo que outrora lotava os estádios. Apesar de seus minguados salários, sempre havia a possibilidade de assistir aos jogos  a preços simbólicos na saudosa “geral”. 
Outros tempos, outros comportamentos... 
A festa da Copa foi um evento visando altos lucros.  Dela participaram apenas uns poucos privilegiados - no país dos privilégios.
É preciso que tudo isso seja encarado de uma maneira histórica, coerente com o momento socioeconômico que vivemos. 
Se não pudermos ficar otimistas, pelo menos que nos mostremos compreensivos. 
É melhor para a nossa saúde. 

Gabriel Novis Neves
04-08-2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

ÁGUA MOLE


Existe um adágio popular que diz: “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Muitos acreditam nesse provérbio, e me incluo entre eles.
Todos os meses eu escrevo e publico artigos sobre a lamentável situação em que se encontra o nosso ensino nos seus três níveis: fundamental, médio e superior.
Montamos a maior fábrica de analfabetos funcionais do mundo com a qualidade de ensino ofertado aos nossos alunos.
A criança não aprende nada no ensino fundamental, é promovido ao ensino médio, embora muitos desistam de perder tempo nas tais escolas públicas.
O ensino médio, ineficiente em vagas, agradece àqueles que ficam na estrada, que representa o gargalo de acesso ao ensino superior, onde boa parcela deles termina essa etapa sem conseguir fazer as quatro operações aritméticas.
Um considerável número desses alunos é incapaz de interpretar um texto!
O ensino superior, por ausência do governo, tem na iniciativa privada a supremacia de formar, e bem, profissionais de nível superior.
Estas faculdades particulares oferecem centenas de cursos de “cuspe e giz” e as chamadas faculdades “nobres”, como a de medicina, mas, cobram mensalidades inacessíveis à maioria da população brasileira que empobreceu.
As poucas universidades públicas que oferecem os tais “nobres” cursos por mérito, não permite o ingresso do aluno egresso do sistema público de ensino, por deficiência de aprendizado.
Então o governo oferece as mais variadas vagas para bolsistas com a justificativa de corrigir erros históricos, e cria uma injustiça social impedindo os mais preparados academicamente a ingressarem em universidades públicas, onde o ensino é gratuito e geralmente de melhor qualidade.
O poder público não tem vontade política para corrigir as falhas do nosso ensino básico, obrigando, com essa visão míope, que as universidades coloquem no mercado de trabalho os analfabetos funcionais com anel de graduação.
O Ministério da Educação divulgou o último resultado da avaliação do ensino médio no Brasil.
Para a nossa vergonha, o nosso Estado ocupa o penúltimo lugar na tabela de classificação!
Enquanto isso estoura o escândalo na Petrobrás envolvendo dinheiro público para fins não éticos.
Tomou outro rumo, segundo investigações, o dinheiro que deveria ser mais bem empregado para a melhoria do nosso ensino.
A Revista Veja divulga a relação dos supostos autores dessa subtração orçamentária composta da elite política desta nação.
Mais uma humilhação nacional descoberta em momento oportuno.
Pelo voto de coligação e preço elevado será que há possibilidade de banir essa gente da vida pública?
Coragem, brasileiros!

Gabriel Novis Neves
06-09-2014