quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O QUE VOU ESCREVER


Todas as vezes que fico sabendo de uma notícia triste, como a do falecimento de um amigo bem mais moço que eu de uma maneira súbita, não sei como e o que vou escrever.


Se o meu amigo estivesse brincando com amigos no pantanal jogando tênis e saboreando uma cervejinha bem gelada, pior ainda.


O ser humano é muito contraditório e difícil de ser entendido!


Desde que nascemos e conseguimos entender a vida, ou pensar que entendemos, desejamos que ela seja a mais longa possível, sem doenças ou dores e uma morte súbita sem tempo de atendimento médico ou hospitalar.


Quando isso acontece o falecido vai para outro plano espiritual feliz por ter alcançado seus objetivos aqui na Terra, e morreu brincando.


Cenário mais lindo para nos deixar de recordação, impossível.


Entre os povos primitivos da nossa Amazônia, o brincar entre meninas, meninos e adultos é tão necessário na sua rica cultura, como o nadar, pescar, caçar, construir ocas, cozinhar, dançar, casar e ter filhos.


Como médico aprendi a lutar contra a morte, na preservação da vida “ad-eternum” como se isso fosse possível.


Profissionalmente o médico jurou adiar a morte até onde a ciência assim lhe permitir, e enquanto não houver morte cerebral ele não se dá por vencido.


Nas duas hipóteses citadas, da morte súbita sem sofrimentos para os pacientes e despesas para a família, e a morte prolongada com sofrimentos aos enfermos e custos altíssimos, a incompreensão é a mesma com relação ao fechamento do nosso ciclo vital, que é a vida.


Onde há vida existe a morte, nos ensina a biologia e Deus sabiamente assim determinou.


Estou com 88 anos completos, moro com cuidados e carinho das cuidadoras, não sinto dores a não ser da viuvez há 17 anos.


Tenho uma família que muito me ama, com filhos, netos e bisnetos, que fazem a alegria da minha vida.


Passo o dia todo no computador brincando de escrever crônicas.


Desejo (se isto posso pedir à Deus) uma morte súbita, enquanto brincava com os meus bisnetos no jardim da cobertura.


Seria o grande prêmio da minha vida terrestre que a minha passagem para o plano espiritual fosse efetuada de maneira repentina!


Sem dores, sem internações e sofrimentos prolongados para a família!


Gabriel Novis Neves

04-08-2023




quarta-feira, 30 de agosto de 2023

HISTÓRIA


Embora não o conheça pessoalmente, o engenheiro Pedro Soares, ex-aluno da nossa universidade federal, tem-se demonstrado um excelente guardião do nosso passado recente de meio século.


Depois que nos conhecemos através do meu blog, ele tem demonstrado grande interesse em restaurar e resguardar a história da UFMT.


Diz que a história é uma bússola que o destino entrega a cada um de nós.


Acha que a história do ensino superior em nosso Estado e, consequentemente a criação da UFMT em 10-12-1970, está se perdendo com o tempo.


Preocupado com a memória histórica da nossa universidade, pesquisa no sentido de homenagear todos os professores fundadores do curso de Engenharia Civil, quando muitos já partiram para outro plano espiritual.


Seu cuidado é tanto, que esta semana me presenteou com o meu currículo atualizado.


“Como tudo aquilo que nos é mais essencial e vital, acaba na maioria das vezes sendo ignorada e desprezada pelo nosso orgulho e vaidade, como a representatividade da água, do ar, do chão que pisamos e do alimento que desfrutamos. ”


“Sem o essencial, perecemos, mas nem por isso o reconhecemos, cuidamos e prezamos.


Reconhecer a história é um convite para compreendermos quem somos e quem decidimos ser neste contexto. 


Ela é a referência que melhor pode guiar um propósito e um destino.


Ao resgatá-la, nos reencontramos, ao desprezá-la, nos perdemos, vivendo à margem de nós mesmos.


Amadurecer é saber reconhecer tudo aquilo que nos é essencial, dando a ele o seu devido valor. ”


O nosso ex-aluno tem toda a razão e os professores atuais, jovens nem sempre nascidos aqui, têm enorme dificuldade de pesquisar nosso início de instituição de ensino superior.


O pouco que se sabe é através da história oral, que com o passar dos anos tende a desaparecer.


O historiador para escrever a história, necessita conhecer pela pesquisa, o ator ou atores, protagonistas dos fatos históricos.


Não podemos esquecer a nossa história por vaidades ou desleixos, sonegando o referencial das nossas origens, para as novas gerações.


Gabriel Novis Neves

25-08-2023





segunda-feira, 28 de agosto de 2023

RIO 40 GRAUS


Foi um filme que estreou no Brasil no dia 24 de agosto de 1955. Eu cursava o primeiro ano de medicina no Rio de Janeiro.


Tinha 61 atores, destacando Modesto de Souza e Ana Beatriz.


Mas o grande sucesso do filme era o cantor Zé Kéti, que lançou o samba “A voz do Morro”, seu sucesso definitivo.


O diretor do filme foi Nelson Pereira dos Santos, que foi membro da Academia Brasileira de Letras e dirigiu vários filmes.


Trabalhou em 1973 na reitoria da UFMT conhecendo detalhes sobre a Amazônia mato-grossense e o trabalho pretendido pela nossa universidade.


Acompanhou os pioneiros da UFMT na construção da Cidade Laboratório de Humboldt, no município de Aripuanã, na Cachoeira de Dardanelos.


Depois fez um documentário a pedido do Ministério do Planejamento.


O teatrólogo Antunes Filho, também da Academia Brasileira de Letras, esteve na reitoria apenas uma semana, por ocasião da inauguração do nosso Teatro Universitário com a peça Macunaíma, de Mário de Andrade.


Ambos eram famosos no mundo todo, e muito fáceis de serem administrados, mesmo sendo estrelas.


Minha cozinheira veio me trazer um copo de água e me avisar que a meteorologia prevê para hoje à tarde 41 graus dentro de casa.


Na rua os termómetros devem marcar mais de 50 graus!


Isso por que estamos em pleno inverno!


Mesmo na Chapada dos Guimarães o clima está tão desértico, que muitos que têm casas lá para passar os finais de semanas, preferem ficar por aqui mesmo.


Escrevo achando graça, em notar que após uma certa idade, não podemos puxar um fio da nossa memória que aparecem tantas coisas escondidas por anos, como o Projeto Aripuanã e a inauguração do nosso Teatro Universitário!


Depois dizem que envelhecemos, o que não aceito.


Talvez o corpo, mas a memória, jamais!


Se eu fosse mais jovem, não teria como escrever está crônica, cujos assuntos são novidades para muitos, mesmos sendo professores e servidores da nossa UFMT.


Só o calor de 40 graus no inverno, não é novidade para ninguém!


Gabriel Novis Neves

23-08-2023





Rio, 40 graus - Filme completo 

MEU CORAÇÃO


O coração é um órgão do nosso organismo protegido pela caixa torácica e responsável pela circulação do sangue no nosso corpo.


Funciona como uma bomba, levando pelas artérias o sangue bom (rico em oxigênio) para todas as partes do organismo e trazendo o sangue ruim (com gás carbônico e pouco oxigênio) pelas veias, para a sua oxigenação que é feito no coração.


É o órgão queridinho dos poetas, compositores e boêmios.


Seria incapaz de contar em quantos poemas musicados o coração é o grande protagonista.


Cresci embalado pelas canções que falam do coração.


Tenho amigas que dizem ter a sua sensibilidade à flor da pele, que é o maior órgão do ser humano.


Já não posso dizer o mesmo.


Sinto que toda a minha sensibilidade está concentrada no meu coração.


Que estranho músculo é esse que funciona como uma bomba, e é capaz de captar nossas emoções que nascem no cérebro e se espalham pelo nosso corpo e pele?


Escrevi tudo isso pois ouvi uma canção orquestrada que me fez chegar ao teclado do computador.


A canção passeia pela nossa vida nos lembrando como ela é e como resolvemos nossos difíceis problemas humanos.


Usar a sabedoria e o controle cerebral para não cairmos no precipício e armadilhas que o destino nos reserva, e são fundamentais.


Aprendi, e muito, com meus próprios erros, não esquecendo que aqueles próximos de nós, nem sempre são nossos amigos.


Essa orquestração de uma linda canção sem letras, foi um gostoso convite para navegar e, porquê não sonhar também?


Enquanto ouvia a canção fiz uma auditoria por tudo que passei.


Confesso que tive muita sorte durante essa longa caminhada já percorrida, enfrentando sem escolher muitos caminhos difíceis.


Eles surgiram diante de mim e a sorte me ajudou sempre, às vezes de forma providencial.


Gostaria de ouvir mais canções para provocar o meu cérebro a escrever as suas letras que brotam do fundo do meu coração.


O poeta é o escritor que melhor escreve sobre a nossa alma, tão difícil de traduzi-la.


O médico fala muito sobre a alma, embora nunca a tivesse encontrada no corpo humano.


Ela com certeza estaria no cérebro nas várias sinapses que comandam os nossos sentimentos, sem o charme transmitido pela alma que achamos que está no nosso coração.


Este é o meu coração, cheio de parafusos, prótese e placas movidas a bateria, doando gratidão.


Gabriel Novis Neves

11-08-2023




domingo, 27 de agosto de 2023

CATÓLICA


Nossa poeta Sueli Rondon está sempre a nos surpreender com os seus poemas.


Ganhamos de presente para este último domingo de agosto: CATÓLICA!


CATÓLICA


“Ao entrar no elevador

Encontrei uma senhora

Vestia um jaleco branco

E trazia no peito

Uma espécie de Santo


Reparando nela porém

O Santo era um envelope de pano

Revestido de brocado

E estava dependurado

Por um cordão dourado


Apontando para a medalha estoica

Que carrego no peito

Ela me olhou e disse:

Estou vendo que é católica

Respondi:

Com orgulho e respeito senhora


Pois saiba que carrego comigo

A Sagrada Eucaristia

Ministrei-a a um amigo

Que há muito me pedia!


Ao receber a notícia

Foi tão grande a emoção

Que no segundo seguinte

Fiz a genuflexão!


Tocando com a ponta dos dedos

Aquele tecido sagrado

Fiquei deveras emocionada

Com a distinta Graça

Que me fora outorgada”!


Gabriel Novis Neves

22-08-2023


N.E.: JHS é uma sigla cristã, que representa as iniciais de "Jesus Salvador dos Homens", um dos símbolos da Igreja Católica. Aparece em relevo nas hóstias que o padre consagra e oferece aos fiéis nas missas.








N.E.: JHS é uma sigla cristã, que representa as iniciais de "Jesus Salvador dos Homens", um dos símbolos da Igreja Católica. Aparece em relevo nas hóstias que o padre consagra e oferece aos fiéis nas missas.

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

NÓ NA GARGANTA


Defendo de há muito tempo a tese impossível que criança não deveria crescer.


Como é lindo e gostoso o mundo de uma criança, que com os anos perde os seus encantos.


Ao se tornar adulto, só tem o que perder, especialmente a inocência!


Tenho o privilégio de conviver com quatro crianças, que são os meus bisnetos.


Mesmo quando repetem os gestos dos seus pais, é tudo muito diferente.


Pena que só usufruo desse prazer, nos almoços da família, sempre aos sábados.


Meus bisnetos estão na melhor fase das crianças, entre dois e seis anos.


Entendem de tudo e conhecem os hábitos da casa do biso.


Sabem, por exemplo, que preciso de ajuda para andar pela casa, que é o “braço amigo”.


Quando chegam aos sábados para o almoço, vêm correndo ao escritório para me beijar e abraçar.


Logo perguntam se eu quero ir para sala onde pais, tios e avós estão reunidos, bebendo aperitivo, acompanhado de pastéis fritos na hora, recheados de carne moída ou mozzarella, coscorões da massa do pastel e esfihas assadas.


Respondo que irei fechar o meu computador e as chamarei.


Saem em desabalada correria de alegria pela casa que conhecem tão bem!


Quando as chamo, gritando da porta do meu escritório, logo aparecem e me oferecem seus bracinhos para me conduzir até a cadeira de balanço vazia da sala para eu me sentar.


Todas querem vir ao meu colo para tirar fotografias, e quando os pratos do almoço estão postos à mesa, oferecem para me apoiar até lá.


Almoçam na copa com suas babás e vão brincar na cobertura até a chamada da sua avó para fotos do final do almoço com a família reunida.


Ao me levantar para a curta soneca, mais uma vez me acompanham até ao meu dormitório.


Só se retiram, após a sua avó pingar uma gota de colírio lubrificante em meus olhos.


Criança deveria ser sempre criança, nos doando muito amor e carinho, que só encontramos nas crianças.


O nó na garganta aparece quando fecham a porta do meu dormitório refrigerado.


Só na próxima semana se Deus permitir!


Gabriel Novis Neves

21-08-2023




quinta-feira, 24 de agosto de 2023

ESCREVER TODOS OS DIAS


Muitos me perguntam onde consigo descobrir tanto assunto para escrever e publicar diariamente uma crônica desde 2009!


Fácil de responder.


Com a idade, as minhas sinapses cerebrais estão mais antenadas para apreciar as coisas do cotidiano, que são surpreendentes e não programadas.


Ontem trabalhei o dia todo e fechei o computador.


Tomei banho e estava no dormitório refrigerado, todo refestelado, aguardando o lanche noturno que me é servido na cama, em uma mesinha de acrílico.


Vou ao celular para saber das novidades.


Encontro no Whatsap, uma mensagem de uma amiga de Rondonópolis (MT).


Ela me forneceu o aplicativo que era de uma aula da sua filha em São Paulo (capital).


Pelo iPhone entrei na sala de aula já no seus momentos finais, mas aproveitei muito os ensinamentos de técnicas modernas para viver bem.


Existe tanto conhecimento novo com relação ao nosso cérebro que na faculdade de medicina não me informaram.


Nunca tive aulas com os mais famosos professores, como por exemplo, sobre os toques com os dedos das mãos, na cabeça, frontal, face e tórax superior anterior, seguido do aperto das mãos e abraço apertado.


Tem um pouco de pontos de acupuntura.


O interessante é que no chat da aula conversando existiam pessoas de vários lugares do Brasil e exterior, no total de vinte e cinco, sendo eu o único homem.


Não senti nenhum constrangimento, pois no exercício da minha profissão de médico-parteiro, conversava mais com as mulheres que com os homens.


Dizem que os ginecologistas, que no meu tempo só atendiam mulheres, tinham alma feminina.


O encontro na sala da aula se discutiam problemas que afetavam todas as pessoas, principalmente as mulheres.


Foi tudo muito proveitoso e aprendi bastante.


Situações que foram discutidas e resolvidas e que até hoje me atormentam, por exemplo: como me valorizar, não me menosprezar, gostar de mim mesmo.


E tudo isso aconteceu sem estar programado.


Para a próxima aula já estou matriculado com presença confirmada desde o seu início, para conversas, trocas de experiências e exercícios.


Assim aparecem os assuntos para eu escrever todos os dias.


Gabriel Novis Neves

22-08-2023




ACREDITAR


Existem certos fatos que aconteceram em minha vida que mesmo o passar dos anos não me fizeram esquecer deles.


Chego mesmo a duvidar da existência desses fatos.


São mais os desagradáveis que não me saem do pensamento, sequestrando os alegres, muito mais numerosos.


É uma briga permanente para acreditar no que realmente aconteceu.


Porém, sei que eles aconteceram, e foram muito! Mas sempre permanece a dúvida se de fato ocorreram.


Sei que não posso viver assim, alimentando uma dúvida que não existe.


Foram tantos os momentos difíceis e prazerosos que vivi!


Hoje seria impossível repeti-los, a não ser por pensamentos.


Eu sei que na minha vida ganhei muito mais que merecia.


Porém, ela chega ao seu final cheia de perdas.


Há pessoas que me deixaram para um outro plano espiritual, que eu não acredito, mas tendo a certeza que em breve estarei junto a elas.


É ruim o que acontece comigo, pois essa ambiguidade não faz bem para o meu emocional fragilizado pela idade.


É a velha questão do ser ou não ser.


No meu caso o pior é que os fatos aconteceram comigo e eu continuo a não acreditar.


Os bons momentos que vivi de verdade, custo a acreditar que um dia poderão novamente vir a acontecer com a mesma intensidade.


Os tempos são outros!


Tão diferentes, inclusive, em lugares onde foram possíveis de realizá-los!


Mas aconteceram, e eu me lembro de tudo, e não acredito.


Assim como as perdas que nunca aceitei e sou obrigado a conviver com a ausência causada por elas.


Sinto a “saudade que é a presença da ausência”.


Por sorte me lembrei que sou médico para me ajudar.


Tenho memória retrógada, muito comum em pessoas velhas.


Elas ficam abrindo as “gavetas do passado” e revivendo fortemente o passado.


Queiram ou não ele nos faz sofrer com as lembranças dos tempos agradáveis e desagradáveis.


Assim é a vida.


Funciona como um ciclo que se inicia e um dia se fecha.


Mesmo velho tenho que aprender a viver para não sofrer mais.


Gabriel Novis Neves

03-06-2023




terça-feira, 22 de agosto de 2023

129 ANOS DE NASCIMENTO DO MEU PAI


Parece que foi ontem que conversava com o meu pai e hoje são comemorados 129 anos do seu nascimento.


Quase um século e meio, e estamos no século vinte e um.


Ele nasceu no final do século dezenove, no dia vinte e três de agosto de mil oitocentos e noventa e quatro, num casarão assobradado, na Praça da República.


Foi uma das referências do seu tempo e passou para a história da Cuiabá antiga com o apelido de Bugre do bar.


Já escrevi tudo sobre o meu pai e da família que ele constituiu, casando aos quarenta anos com a minha mãe Irene Novis, moça bonita, alegre e prendada, vinte anos mais nova que ele.


Serei repetitivo para muitos, porém, não posso passar em brancas nuvens essa data que representa uma lição de vida para mim e meus oito irmãos.


Na vida trabalhou com honestidade e ética e contentou-se com o que foi possível alcançar, não frustrando-se com metas sonhadas.


Embora tenha propiciado ensino superior aos seus quatro filhos homens, sendo dois médicos, um economista, um graduado em direito, uma filha pedagoga, outra assistente social e três normalistas, meu pai soube como tratar as suas frustrações.


Sonhava em 1950 comprar um apartamento em Copacabana, próximo aos seus irmãos que lá viverem até falecer, pra alojar seus filhos estudantes, e não teve condições financeiras.


Seus filhos sempre moraram, quando estudantes, em vagas de quarto em pensões, e faziam suas refeições nos restaurantes universitários e casa de parentes.


Sonhou que no dia que eu passasse no vestibular de medicina, me daria um fusquinha.


Durante meu tempo de faculdade sempre andei de bonde da Light Praia Vermelha – Linha 04.


Foi o meu maior incentivador para retornar logo após a minha formatura para Cuiabá.


Tinha receios que eu permanecesse no Rio atraído pelo bom salário que recebia como médico concursado e estável da Prefeitura do Rio, e me tornasse um funcionário público sem futuro.


Acertou mais uma vez e parece que sabia o que a história havido me reservado.


Retornei casado à minha cidade natal com a mulher que ele muito gostava.


Quando procurei ajuda com ele para comprar um telefone fixo para a minha casa e um carro usado, ele me disse que estava falido.


Meu pai nunca teve depressão ou doença até então.


Faleceu de doenças naturais três meses antes de completar oitenta e oito anos.


Foi pai exemplar, educador, trabalhador e despojado de vaidades sociais.


Passou cinquenta anos trabalhando no bar e chegou a ser considerado um empresário rico.


Não percebeu e acompanhou o tempo passar, e aposentou-se com dois salários mínimos pelo INSS.


Deixou como herança todos os seus filhos bem-educados e seis deles com instrução superior.


De bens materiais deixou a casa onde morava na rua do Campo, e seu lugar de trabalho, que era o salão e sorveteria do bar do Bugre, no Centro Histórico de Cuiabá.


Não há como esquecer desta data natalícia, que hoje com muitas saudades recordamos.


Gabriel Novis Neves

23-08-2023



Com os nove filhos e a mulher
1970


segunda-feira, 21 de agosto de 2023

MUNDO ACADÊMICO


O sofisticado mundo acadêmico cada vez mais intransigente com o ter que o ser quando o assunto é sobre livros impressos.


A sua maioria dá um imenso valor aos trabalhos impressos em formatos de livros.


Isso teve o seu início nos anos setenta, com a institucionalização da pós-graduação no Brasil, que terminava com a descrição de uma tese.


Esta era impressa, ia para a biblioteca das universidades e melhorava o holerite dos seus professores.


Iniciou-se o corre-corre para imprimir livro, com o objetivo de deixar aflorada a vaidade acadêmica e criar uma elite de professores melhor remunerados.


Isso criou distorções, pois na área da medicina grande parte dos nossos médicos docentes concluíram os seus mestrados e doutorados em saúde pública e ambiental.


Com seus títulos de pós-graduação e um livro impresso, ajudaram na qualificação da instituição e na melhoria do valor dos seus holerites.


Tenho acompanhado as dificuldades encontradas pela nossa universidade e academia de medicina em imprimir seus livros institucionais.


Seus professores, às vezes, utilizam as suas parcas economias, quando não empréstimos bancários, ou passam à vendedores de seus livros pelo PIX.


Existem leis de incentivo à cultura, porém a política partidária é um entrave para essa proteção. 


Tenho mais de 3 mil crônicas publicadas em meu blog, e muito bem guardadas nas nuvens.


Seu acesso é fácil e está à disposição de todos sem ônus.


O blog possuiu uma pequena tarja para facilitar a pesquisar tudo sobre determinado assunto publicado.


Muitos depoimentos sobre a nossa história e instituições são encontrados no Youtube.


Se quisesse transformar essas três mil crônicas em livros impressos, necessitaria de recursos financeiros para trinta livros, cada qual com cem títulos.


Isso só com auxílio do governo.


Ainda ficaria em dúvida se alguém iria lê-las, e não teria nenhuma alteração no meu holerite de professor universitário aposentado em quarenta horas, da nossa universidade federal de Mato Grosso.


Vou deixar como está, para ver como ficará!


Gabriel Novis Neves

25-04-2023




domingo, 20 de agosto de 2023

MEU COQUEIRINHO


Depois que passei a brindar meus leitores a receberem logo pela manhã a minha crônica com flores do meu jardim da cobertura, hoje enviei plantas verdes que ornamentam a minha casa.


Tenho coqueiros, vários tipos de folhagens e um implante de orquídea roxa em uma pequena árvore que fica na sacada do apartamento, protegida do sol por cortinas.


Gosto do verde na sala de visitas, jantar e copa.


Hoje postei a foto de um coqueirinho junto à crônica.


Diferente dos outros dias, quando coloco as flores, ninguém notou a sua presença nem se referiu a ele.


Com as flores do jardim do terraço, muitos não comentam as crônicas e elogiam a beleza das plantas floridas.


Até na natureza nós fazemos discriminações, como se o verde das folhagens não fosse bonito.


Tenho dez vasos no primeiro piso do meu apartamento distribuído pela copa onde faço as refeições e oito nas salas de visitas e jantar.


São plantas verdes naturais com folhagens coloridas que me estimulam a viver.


São lindas para mim e me servem de companhia o tempo todo.


Nunca me aborrecem e quando chego perto delas balançam as suas folhas verdes tocadas pelos ventos quentes de Cuiabá.


Minha paixão pelas plantas é antiga e sempre precisei do verde para viver.


Gosto de me ver perdido apreciando o horizonte do verde, como da janela do vigésimo andar do edifício onde moro.


Só o grande tapete verde da natureza poderá nos oferecer pinturas que o homem não é capaz de, pelo menos reproduzi-los em telas causando tamanha emoção.


Esse cerrado distante que vejo, não tem uma flor, embora com cuidados de adubagem e regados todos os dias, produza flores de todas as cores.


Eu tenho em meu jardim da cobertura as flores do cerrado cor de rosa choque, lindas de serem apreciadas.


As plantas estão cada vez mais presentes nos ambientes da casa fazendo parte da decoração.


Em mim as plantas, floridas ou não, despertam a minha sensibilidade, ao contemplá-las relaxo a mente e tornam o ambiente mais agradável e acolhedor.


É impossível ficar indiferente, por exemplo, com a beleza exótica da orquídea.


Eu tenho uma roxa, minha cor preferida.


Vou ao Festival de Orquídeas para adquirir alguns vasos de orquídeas para misturar com o lindo visual verde do meu apartamento.


Gabriel Novis Neves

18-08-2023








PÁTRIA MÃE


A escritora cuiabana Sueli Rondon foi conhecer a nossa Pátria Mãe, e nos brindou com mais um de seus apreciados contos.


COIMBRA


“Enquanto a água da torneira escorre pelas minhas mãos ensaboadas, uma xícara branca com desenho de azulejo me reporta à Estação Ferroviária São Bento, localizada na cidade do Porto, Portugal.


Estação antiga e bela com todas as paredes retratando feitos gloriosos em azulejos belíssimos de um passado já distante.


Foi aí que compramos as nossas passagens para a visita para a manhã seguinte que sairia de trem da estação, para conhecer a tão cantada em versos e prosas a cidade de Coimbra.


No café da manhã farto, com pastéis de Belém, croissant e muitos tenros pêssegos e outras frutas, distraímos com o horário da partida.


Com uma valise de mão explicamos aflitos ao senhorzinho taxista de cabeça branca que nos atendeu.


Será que ele conseguiria nos levar até a estação ferroviária São Bento?


Faltavam quinze minutos para o trem partir.


Ele muito solícito (os Portugueses são adoráveis) nos disse que faria um contorno no quarteirão, passaria a estação de trem e nos deixaria na primeira parada mais próxima onde haveria embarque e desembarques. 


Com toda a calma do mundo e pé no acelerador conversamos durante todo o trajeto.


Ao chegarmos no ponto da primeira parada, verifiquei que era bem simples, um banco comprido e uma pequena e estreita proteção no teto.


Aproximei-me de uma senhora que já esperava pelo trem mostrei-lhe nossos ingressos e disparei:


Por favor, estes bilhetes estão corretos? O trem passará aqui, pois não? São bilhetes de primeira classe.


Está correto sim senhora e o seu bilhete é para o carro conforto.


Aqui não dizemos primeira nem segunda classe.


Muitíssimo agradecida! Pela informação e lição de moral (pensei). 


No Brasil não fazemos distinção com tanto esmero por primeira classe, segunda classe e se houver uma quinta, eu vou!


Enfim, não achei diferença entre a classe comum e a classe conforto!


Quanta confusão a semântica pode causar!


Enfim debaixo de uma chuva fina desembarcamos na plataforma no centro da cidade de Coimbra.  


Emoções nos aguardavam.


A cidade é íngreme, muitas rampas, subidas e escadarias até conhecer a tão sonhada Universidade de Coimbra. 


Caminhar por aqueles pátios, visitas às salas de aula!


Bibliotecas!


Em qual destas carteiras estudou José Bonifácio de Andrada e Silva?


Considerado o patrono da nossa Independência, filho de um rico comerciante português do Rio de Janeiro, foi enviado à universidade de Coimbra para estudar Direito.


Enfim após longas caminhadas por corredores, pátios e salas, deixamos a Faculdade de Coimbra, deslumbrados com o poder que a história tem de nos emocionar!


Ao retornarmos em direção ao centro, deparamo-nos no calçamento com três universitários a caminho.


Vestiam o uniforme peculiar, símbolo da tradição universitária de Coimbra:


A longa capa preta, camisa social e gravata, calças compridas também na cor preta.


Essa visão completou nosso passeio e saímos à procura de um bom restaurante para apreciar o legítimo e saboroso Bacalhau à

Lagareiro com batatas a murro".


Gabriel Novis Neves

17-08-2023