Parece que foi ontem que conversava com o meu pai e hoje são comemorados 129 anos do seu nascimento.
Quase um século e meio, e estamos no século vinte e um.
Ele nasceu no final do século dezenove, no dia vinte e três de agosto de mil oitocentos e noventa e quatro, num casarão assobradado, na Praça da República.
Foi uma das referências do seu tempo e passou para a história da Cuiabá antiga com o apelido de Bugre do bar.
Já escrevi tudo sobre o meu pai e da família que ele constituiu, casando aos quarenta anos com a minha mãe Irene Novis, moça bonita, alegre e prendada, vinte anos mais nova que ele.
Serei repetitivo para muitos, porém, não posso passar em brancas nuvens essa data que representa uma lição de vida para mim e meus oito irmãos.
Na vida trabalhou com honestidade e ética e contentou-se com o que foi possível alcançar, não frustrando-se com metas sonhadas.
Embora tenha propiciado ensino superior aos seus quatro filhos homens, sendo dois médicos, um economista, um graduado em direito, uma filha pedagoga, outra assistente social e três normalistas, meu pai soube como tratar as suas frustrações.
Sonhava em 1950 comprar um apartamento em Copacabana, próximo aos seus irmãos que lá viverem até falecer, pra alojar seus filhos estudantes, e não teve condições financeiras.
Seus filhos sempre moraram, quando estudantes, em vagas de quarto em pensões, e faziam suas refeições nos restaurantes universitários e casa de parentes.
Sonhou que no dia que eu passasse no vestibular de medicina, me daria um fusquinha.
Durante meu tempo de faculdade sempre andei de bonde da Light Praia Vermelha – Linha 04.
Foi o meu maior incentivador para retornar logo após a minha formatura para Cuiabá.
Tinha receios que eu permanecesse no Rio atraído pelo bom salário que recebia como médico concursado e estável da Prefeitura do Rio, e me tornasse um funcionário público sem futuro.
Acertou mais uma vez e parece que sabia o que a história havido me reservado.
Retornei casado à minha cidade natal com a mulher que ele muito gostava.
Quando procurei ajuda com ele para comprar um telefone fixo para a minha casa e um carro usado, ele me disse que estava falido.
Meu pai nunca teve depressão ou doença até então.
Faleceu de doenças naturais três meses antes de completar oitenta e oito anos.
Foi pai exemplar, educador, trabalhador e despojado de vaidades sociais.
Passou cinquenta anos trabalhando no bar e chegou a ser considerado um empresário rico.
Não percebeu e acompanhou o tempo passar, e aposentou-se com dois salários mínimos pelo INSS.
Deixou como herança todos os seus filhos bem-educados e seis deles com instrução superior.
De bens materiais deixou a casa onde morava na rua do Campo, e seu lugar de trabalho, que era o salão e sorveteria do bar do Bugre, no Centro Histórico de Cuiabá.
Não há como esquecer desta data natalícia, que hoje com muitas saudades recordamos.
Gabriel Novis Neves
23-08-2023
Com os nove filhos e a mulher 1970 |
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