sábado, 19 de agosto de 2023

VIVER MUITO, CANSA


Desde que me entendo por gente pretendia viver muito e nunca pensei que um dia fosse morrer, embora soubesse ser isso inevitável.


Também pudera!


Na juventude a nossa vida é cheia de emoções e conquistas.


A dor era inexistente.


Parece que tudo caminha a nosso favor com muito carinho e amor.


Chega um dia que necessitamos de remédios, com o início da fase da dor que até então desconhecíamos.


O lar se transforma em um ninho vazio com o casamento dos filhos.


Chega a aposentadoria com a idade e descobrimos que não somos mais os mesmos, com saúde plena.


Infelizes daqueles que perdem a companheira ou companheiro!


A maioria continua sozinho até o final da sua vida, que só Deus sabe quando será.


Custa a se adaptar à nova vida, onde as coisas são difíceis de aceitar.


Vivem aos trancos e barrancos, dependentes de médicos especialistas, cuidadoras e medicamentos.


Isso quando tudo vai muito bem, sem necessidades de internações hospitalares para tratamentos cirúrgicos e clínicos de doenças.


São conhecidas tantas doenças hoje, não respeitando a idade, que se fôssemos consultados não nasceríamos, pois a vida é um risco permanente e ninguém gosta de morrer.


Com o passar dos anos vamos acumulando tempo e, muitas vezes, se ultrapassa os noventa anos.


Esta semana conversei pelo celular com uma antiga “enfermeira” do Hospital Geral de Cuiabá.


Cuidava do berçário, era querida por médicos e pacientes.


Era carinhosamente chamada pelo diminutivo do seu nome, pela sua baixa estatura.


Aplicava injeções em casa, dava banho nos recém-nascidos e era secretária do Dr. Zelito no seu consultório da rua dos Porcos.


Ela não teve filhos, mas ajudou na criação de sobrinhos e afilhados.


Está com noventa e cinco anos, totalmente lúcida falando um pouquinho com “voz de velha”.


O motivo do seu telefonema foi o de pedir um emprego para o seu sobrinho de quarenta e cinco anos.


Ele sempre trabalhou na iniciativa privada, porém, com o Covid 19 foi dispensado, e há dois anos não consegue emprego, sendo casado e tem um filho.


Disse-lhe que no Estado só por concurso público ou com um bom pistolão político, de preferência deputado estadual.


Ela disse que na época do Dr. Zelito é que era bom.


Na época ela fez um pedido desse a ele, que anotou num pedaço de papel e falou com governador do Estado.


No outro dia o “Diário Oficial” publicou a nomeação do seu sobrinho.


Agora está tudo difícil, né? Ela falou. Após os cumprimentos, desligou o celular.


Tive a impressão que a “enfermeira” do Hospital Geral, cansou de viver!


Gabriel Novis Neves

11-06-2023




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