domingo, 6 de agosto de 2023

O BOLICHO


Já estou acostumado a publicar os contos da Sueli Rondon aos domingos no meu blog.


É uma escritora cuiabana que relata fatos reais, como contos e histórias, ocorridos não faz muito tempo.


É um trabalho interessante para a nossa memória.


Ninguém de fora irá escrever sobre a nossa cidade perdendo Cuiabá com o passar dos anos seu lindo e romântico passado.


"Seo Janjão possuía um bolicho/venda em uma esquina da Rua Antônio Maria.


Usava uma calça de sarja frouxa, amarrada por um cinto surrado, que evidenciava sua magreza pelas pregas na cintura.


A camisa de algodão puído fazia parte do vestiário, pois sovina como era, dizia que não gastava dinheiro com futilidades.


Ficava à porta do estabelecimento encostado no portal, perscrutando o movimento do vai e vem dos passantes a caminho do trabalho.


De vez em quando conversava com dois dedos de prosa para assuntar as novidades do dia.


"Seo" Janjão tinha uma predileção.


Todas as manhãs, uma morena bonita de cintura fina e perna grossa, passava em frente ao estabelecimento para ir aos Correios, onde era empregada efetivada.


O Sr. Janjão até suspirava quando ela apontava na esquina, para atravessar a rua passando em em frente ao seu bolicho.


Junto ao portal, três sacos de linho grosseiro, abarrotados de milho, feijão e farinha de mandioca.


O feijão vinha tão sujo que dava trabalho à cozinheira na tarefa árdua de catar o feijão antes do cozimento.


Era preciso separar os gravetos, pedrinhas de terra e exigia trabalho e paciência.


Daí surgiu o termo de quando alguém estava muito à toa pela casa e para irritá-la dizia-se:

 " Vá catar feijão “!


Mas como ia dizendo, o bolicho de Janjão era bem guarnecido.


As prateleiras nas paredes tinham produtos variados: rapadura, vela, querosene, açúcar, café e mais um pouco de tudo que era de primeira necessidade.


No balcão encerado e encardido um grande pote de vidro dividido em cúpulas com docinhos variados almejados pela criançada.


Ao fundo da venda ficava os cachos de banana verde, que Garrote apelido do ajudante do patrão, com um facão, tirava as pencas e as empilhava, assim como a raiz de mandioca, e as abóboras tudo bem separado e de chão varrido.


Garrote tinha esse apelido porque era um rapazote forte de braços roliços e fortes, acostumado a carregar um saco de farinha nas costas.


Forte e trabalhador porque o patrão gostava mesmo é de ficar à porta sondando os transeuntes, trocando conversa pegando dinheiro e passando o troco e na falta de moedas empurrava uma caixinha de fósforos.


Certo dia, quando a tal funcionária dos Correios, apontou na esquina apareceu no mesmo instante no bolicho, um freguês de cara nada amigável, alto e forte como um touro, exigindo comprar a metade de uma melancia.


Já avisamos que não vendemos metade, mas o homem insistiu.


Janjão contrariado dirigiu-se aos fundos da venda e falou pro ajudante:


- Corta a metade de uma melancia porque tem um sujeito chato pra caramba exigindo o corte.


Quando olhou para trás o dito senhor estava colado às costas dele.


Havia o acompanhado até os fundos da loja.


Janjão não se apertou:


- E para este nobre cavalheiro aqui, você entrega a outra metade!


 Gabriel Novis Neves

20-07-2023






Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.