terça-feira, 23 de abril de 2024

O ENVELHECIMENTO NA ERA DIGITAL


Li um artigo em um jornal digital de São Paulo sobre o assunto desta crônica.


Confesso que por diversas vezes fiz a sua releitura pela minha dificuldade de compreensão.


Sou jurássico, pouco entendendo de comunicação digital.


Tive a paciência de anotar o número de palavras incompreensíveis para mim, algumas em inglês.


O autor do artigo possui um belo currículo e pertence a geração de autores modernos, discorrendo muito bem sobre o polêmico assunto do envelhecimento na era digital.


Eu boiei na leitura, tendo anotado vinte e duas palavras que não soube o sentido ou a sua tradução do inglês.


A safra nova de escritores escreve tão difícil e inventam nomes bonitos como — ‘envelhecimento na era digital’!


Ora, envelhecer é quando ficamos idosos e fazemos um balancete em nossa vida.


Tivemos, nesse período de vida vencido, sucesso em nossas atividades privadas e pessoais?


No envelhecimento deveremos estar preparados para o recomeçar, e não apenas observando o tempo passar.


É hora de um novo emprego que lhe faz feliz, ou novo curso superior para novos desafios.


Por que não começar um relacionamento amoroso ou tentar um novo?


Tratar a mulher e filhos com valores diferentes dos seus, pois tudo muda com o ‘andar’ do tempo.


Equilibrar o passado com o presente faz um envelhecer sem traumas.


Aprofundar no estudo de idiomas e internet requer um rico envelhecer.


Na era digital temos que nos preparar e bem, pois os valores humanos mudaram e desde cedo temos que nos preparar para o envelhecimento.


Este não é uma doença, mas poderá nos causar no futuro, aborrecimentos sérios causando-nos a terrível depressão e conflitos familiares.


Gostaria de envelhecer no modo antigo, em casa com toda a família reunida.


A era digital diminuiu a distância entre os de longe e distanciou os de perto.


Gabriel Novis Neves

10-04-2024




DOAÇÃO


Quando alguém manda alguma guloseima para mim, temos o hábito aqui em casa de dizer que ‘chegou doação’.


As ‘funcionárias’ adoram esse termo, e com alegria recebem os presentinhos e trazem ao meu escritório, todas sorridentes dizendo: ‘hoje temos doação’!


Estamos no terceiro dia da semana, e ganhei doação em três dias consecutivos: atas, melancia, bolinho de polvilho e francisquito.


Antes do almoço, ‘provei’ uma fatia gelada de melancia, uma gostosura só.


Após o almoço duas atas comidas com colher de sobremesa.


No lanche da tarde, um francisquito e um bolinho de polvilho.


À tarde está sem espaço para o picolé.


Faço essas ‘estripulias’ consciente da necessidade do controle de peso, especialmente na idade que me encontro.


Muitas dessas reminiscências pertencem a minha infância e juventude.


A sorveteria do bar do meu pai, fabricava inúmeras variedades de picolé, cada qual mais saboroso que o outro, muitos de frutas naturais.


A minha mãe sempre tinha novidade para a merenda escolar, deixando lembranças, o francisquito.


No interior come-se mais que em cidades grandes, quando os quitutes são menos frequentes.


As donas de casa eram educadas para o lar, quando aprendiam a fazer guloseimas que eram distribuídas pela vizinhança que trocavam gentilezas.


Os vizinhos de antigamente eram considerados parentes, e tratados como tal.


Esse hábito de troca de iguarias com a vizinhança terminou com a vida moderna.


Os moradores dos espigões de concreto mal se conhecem entre si, inviabilizando essas delicadezas.


E as doações desapareceram, levando tudo para o lixão do esquecimento.


A enfermeira da noite chegou e foi logo perguntando sobre a origem da doação em cima da mesa, pois o que vem para mim é para todos nós.


Ela foi ‘experimentar’ um bolinho de polvilho e achou ótimo.


O tempo vai passando nos levando sempre ao passado de boas recordações.


As gerações novas não tem a mínima noção do que seja uma ‘doação’ como do relato acima.


Gabriel Novis Neves

20-03-2024






domingo, 21 de abril de 2024

EGO INFLADO


Acordei cedo e, ao ler os comentários dos leitores a minha crônica publicada, fiquei com o meu ‘ego inflado’, por uma arrogância que não tenho de ser um bom escritor!


Tenho afirmado por diversas vezes, que a escrita foi a terapia que descobri com o envelhecer.


Nunca imaginei a publicação das minhas crônicas recebendo aplausos.


Na maioria das vezes versando sobre assuntos do cotidiano tão do meu agrado e dos meus leitores!


Estou competindo com flores, plantas e músicas, e me saindo bem nos comentários.


Fiz ainda recente um curso de gramática portuguesa e acredito ter facilitado a minha comunicação por escrito.


Nem por isso me transformei em um ‘criativo’ escritor, como dizem alguns leitores.


Eles são gentis e amáveis ao comentar os meus textos, fáceis de ler, sem palavras difíceis ou estrangeiras.


Quando uso palavras técnicas prefiro explicar, a deixá-los a ‘quebrar cabeças’, consultando o Google ou dicionários.


A gramática tecnológica é vastíssima, do domínio de técnico especializado por área.


Com o advento da internet as receitas médicas de leituras só compreensíveis por farmacêuticos, foram substituídas pelas digitais.


O objetivo da publicação dos meus textos é de conversar com meus leitores, e também comigo.


Fico um tempo gostoso lendo as respostas recebidas e quantas vezes aprendendo com elas!


Lembro-me daquela célebre frase do educador Paulo Freire: ‘Quem ensina aprende e quem aprende ensina’.


Posso afirmar que ao escrever aprendo a melhorar os meus textos, e tenho o leitor sempre a me ensinar.


Acordar com o ‘ego inflado’, distante de ser atacado pela vaidade, me faz feliz para ‘enfrentar’ mais um dia, cheio de surpresas boas e más.


‘Oxigenado’ pelos aplausos ao meu ‘trabalho literário’, abro o notebook para mais um dia de produção, que estou concluindo agora antes da chegada do fisioterapeuta.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024




LONGE DE MIM


De longe vem a música do barzinho para me acalentar nesta sonolenta manhã de domingo.


De mais longe a ‘presença da ausência’ da Regina em formato de saudade.


Como dói a saudade sentida pelos dezoito anos de separação!


Com um ano para completar noventa anos, acho que já cumpri as minhas obrigações aqui na Terra.


Lembro dos meus amigos, contemporâneos e vejo que quase todos eles já pertencem ao plano espiritual.


Parecem me chamar para que juntos continuemos nossos trabalhos.


Deus saberá a hora de nos chamar, e só Ele.


Meu filho caçula veio me visitar.


Mediu a sua pressão arterial por três vezes.


Atualizou seus contatos pelo celular.


Trocamos algumas frases sobre assuntos variados e logo se foi.


Foi almoçar na casa da sogra, fazendo valer aquele provérbio popular: ‘quem casa um filho, perde um filho’.


Vou almoçar na companhia da minha ‘cuidadora’ com o que sobrou do ‘almoço da família no sábado’.


Escolhi uma macarronada que sequer provei. Como reserva para uma emergência — um prato de quibe cru com pão sírio.


Essa iguaria árabe é feita pela avó cuiabana, da viúva de um migrante libanês, marido de uma das minhas bisnetas.


Hoje à tarde não volto mais para o escritório.


Irei assistir pela TV, às decisões dos principais campeonatos regionais: Rio, São Paulo e Minas Gerais.


Meu time do coração — o Botafogo do Rio — ganhou a Taça Rio, que não foi comemorada pelo tamanho do time de Garrinha, Heleno de Freitas, Nilton Santos, Jairzinho, Didi, Amarildo, Gerson, Zagalo e tantos outros campeões do mundo.


O som do barzinho emudeceu, avisando que o cantor foi embora.


A ‘presença da ausência’ permaneceu, não me abandonando nunca.


Assim vivo procurando poetizar todos os momentos da minha vida, mesmo na solidão de um domingo, até não sei quando.


Gabriel Novis Neves

07-04-2024




sexta-feira, 19 de abril de 2024

A CONTAGEM PARA O ALMOÇO FAMILIAR


Uma presença garantida nesses almoços de sábado em meu apartamento, é a minha.


Difícil conseguir reunir filhos, netos, bisnetos, noras e genros.


Minha neta médica tem plantão na maternidade.


A que trabalha com gastronomia fica na empresa, e sempre alguém tem parentes para homenagear.


Não posso esquecer da minha avó Eugênia. Ela foi mãe de dez homens e cinco mulheres.


Seu casarão assobradado foi demolido em 1968, para dar lugar ao início da avenida Presidente Vargas, bem em frente à Praça da República.


Eu me lembro com saudade desse casarão próximo à casa onde nasci.


Diziam os mais antigos que na hora de fechar a casa para dormir, a minha avó contava as crianças que dormiam pelo chão.


Não raro dava por falta de alguém, que a obrigava a percorrer as redondezas, recolhendo quem faltava.


É importante lembrar que naquela época era frequente crianças dormirem na casa dos vizinhos.


Era uma festa para as crianças e até hoje existe esse hábito em menor intensidade.


Como eu gostava de dormir na casa dos vizinhos! Porém, com a permissão da minha mãe.


Era bom ser criança antigamente.


Nos almoços de sábado, chamados da família, estou sempre a contar o número de presentes para distribuir os pratos na mesa.


É quando a algazarra se faz presente com todos falando alto ao mesmo tempo.


A cozinha é reforçada com a presença assídua da cozinheira da minha neta.


Ela recebe encomenda de pratos especiais e sobremesa.


A minha cozinheira ajuda em tudo, não podendo faltar salada verde com castanha do Pará e ovos de codorna, arroz, feijão, picanha, massas, farofas, batata palito, pastel de carne e queijo, coscorão.


A avó do marido de uma neta envia ‘doação’ de comida.


Esfirra, quibe cru, pão sírio, charuto, arroz árabe, salada árabe, macarrão árabe.


De sobremesa salada de frutas, com cereja e açúcar.


Este é o básico com variações no tipo de carnes, indo do filé mignon, carne de porco, carneiro.


Carne branca de peixe, frango assado recheado de farofa.


Mais ou menos é assim que funciona ultimamente o almoço da família.


Gabriel Novis Neves

13-04-2024




quinta-feira, 18 de abril de 2024

ATÉ QUE ENFIM


Após uma semana do ‘teste da flor’, uma leitora sentiu falta das folhagens e flores, acompanhando meus textos.


Após os cumprimentos pela crônica — ‘Crianças de hoje’, publicado dia do aniversário de 305 anos de Cuiabá —, ela lascou um ‘cadê as folhagens lindas e as papoulas’!


Seu limite de tolerância com certeza tinha esgotado pela ausência, daquilo que estava acostumado a admirar e comentar todos os dias.


Acho muito pouco que num universo de quase quatrocentas pessoas, que recebem diariamente minhas crônicas com uma flor, apenas uma percebesse a falta da flor e folhagens, querendo saber o motivo.


O jardim está bem florido e até frutos caseiros estão produzindo, como as ‘doces jabuticabas’.


Tem uma verdadeira farmácia para primeiros socorros, como o ‘boldo’ para o estomago, ’ ‘capim cidreira’ é calmante, ‘hortelã para gripe’ e ‘alecrim’ para o coração e cozinhar vários pratos assados.


Essas preciosidades estão no meu jardim e deixei de enviar as suas fotos aos meus amigos.


O que me deixou encucado é que uma só leitora depois de alguns dias notou a sua falta.


E meus leitores sei que amam as flores e a minha caduquice com elas.


Quando me visitam me presenteiam com vasos de orquídeas das mais variadas espécies.


A última que recebi foi de um médico: um vaso com uma ‘muda de orquídea branca’.


Tenho várias mudas de orquídeas transplantadas em troncos de árvores.


Demora a florir e quando surgem é uma beleza só.


A cuidadora do jardim ama as plantas dedicando a elas um carinho todo especial, sobre a supervisão de um paisagista profissional.


Até esteira especial de proteção solar adquiri para o jardim, pois o nosso sol faz mal a elas.


Regadas duas vezes ao dia, pois o sol de Cuiabá exige.


Estou ‘remanchando’ para encerrar esta crônica, na ilusão de outra reclamação de um leitor sobre a ausência da flor, mas ‘desse mato não sai coelho’.


Gabriel Novis Neves

08-04-2024




quarta-feira, 17 de abril de 2024

O BÊBADO E O TOMBO


Todo mundo fala no número de tombos que o bêbado toma.


Ninguém procura saber a quantidade de garrafas de aguardente que antes ele consumiu.


Eu estou assim com as quedas que levo em casa, quando ninguém quer saber das estripulias que faço.


Graças a Deus sem fraturas. Mas já perdi as vezes que caí em casa.


O tombo de agora foi ‘glorioso’ — entre o vão da cama e a mesinha do abajur.


Deitado, com a máscara do CEPAP ligado para a sesta, tentei verificar se a lâmpada do abajur estava queimada.


Desequilibrei o meu corpo e rolei por esse vão amparado pelo meu braço esquerdo.


Foi uma manobra arriscada que fiz sem a mínima necessidade.


Esse meu comportamento ansioso causou apenas fortes escoriações no antebraço esquerdo, tratado com um curativo com mertiolate e fita adesiva compressiva.


Tudo bem comigo, fui ao escritório digitar uma crônica sobre o acidente, prontinha em minha cabeça.


Tenho campainha no meu quarto que, quando acionada emite um chamado no meu escritório.


No momento em que cai, minhas duas funcionárias estavam na cozinha fora do alcance da campainha, com o liquidificador ligado.


Depois de muito chamar uma ouviu um ruído e veio me socorrer. A outra nega ter ouvido a campainha.


Preciso controlar a minha ansiedade.


Descobrir um remédio salvador é a minha sina.


Nunca afirmarei que este será o meu último tombo, se não melhorar a minha ansiedade.


Fico pensando como um homenzarrão passou pelo estreito vão da cama.


Minha mãe também nos seus últimos anos de vida, caiu muito na rua.


Andava apressadinha e embaralhava as sandálias ou tropeçava nas irregulares calçadas de Cuiabá.


Como é difícil tratar uma ansiedade, causadora de tantos transtornos desagradáveis e danos à saúde.


Cair quando criança é aprendizado. Ela chora sentida, levanta, para de chorar e vai brincar.


Segundo a crendice popular, queda em idoso é uma das três causas de óbito. As outras duas são disenteria e pneumonia.


Vou frear a minha ansiedade, pois pretendo ficar por aqui ainda por muito tempo.


Gabriel Novis Neves

11-04-2024