quarta-feira, 30 de novembro de 2022

NOTÍCIA BOA CORRE, NOTÍCIA RUIM VOA


Contrariando seu hábito, assim que acordou a minha neta de nº 4 me chama por vídeo no celular.


Atendo e lhe dei “oie” tranquilamente.


Ela, muito nervosa, me pergunta: vô, onde você está?


Respondi que estava no escritório do meu apartamento, conforme ela mesmo estava vendo.


Ela retruca: “algum fato novo? ”


Respondi brincando que tinha acabado de acordar e já havia postado para meus amigos a crônica “Morreu o cirurgião amigo de todos”.


Foi uma homenagem que fiz ao meu colega recém falecido Nadim, do Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá e Polícia Militar de Mato Grosso.


Pergunto então qual a razão dessa chamada por vídeo e as perguntas feitas, que achei muito estranhas.


“Vô já chorei e estou super nervosa, me acalmado agora te ouvindo e te vendo pela tela do meu celular”, disse-me ela.


Eis o problema: uma amiga da minha neta, por whtsap, lhe disse que ficou sabendo do falecimento do seu avô.


“Que avô? Tenho dois, e vivos com saúde”, respondeu minha neta


“O avô Gabriel - afirmou a sua amiga. Desejo que vocês estejam todos juntos nesse momento difícil. Dr. Gabriel foi referência aqui no Estado.


Um excelente médico e professor.


Como ninguém da família havia comentado nada, minha neta resolveu falar comigo, o suposto morto.


Minha filha única ficou sabendo da notícia logo que acordou, pelo grupo da família, e me telefonou, assim como meu filho médico.


Estou muito bem, ontem dormi às nove horas, com uma ida ao banheiro às quatro horas – respondi a eles.


E completei.


Tomei o meu café da manhã: um mini pão francês integral com manteiga e queijo branco da fazenda.


Dois ovos cozidos, uma xícara de café com leite e meio mamão papaia sem caroço e gelado.


Enviei um print dessa conversa ao amigo João Cunha, editor do meu blog do Bar do Bugre, e comentei no final que foi bom saber que a notícia da minha morte dá IBOPE!


Ele me respondeu: “É tétrico, mas é bom quando se descobre a verdade! ”


É a primeira vez que fico sabendo da minha morte pelo celular e escrevo uma crônica sobre o falso acontecimento.


Entre mortos e feridos do início da manhã todos estão salvos.


Nunca devemos acreditar nas notícias que nos chegam pelo celular e grupos de whtsaps.


Gabriel Novis Neves

28-11-2022




terça-feira, 29 de novembro de 2022

QUANDO O CARTEIRO CHEGOU


Durante o tempo que estudei no Rio de Janeiro, todas as quartas-feiras recebia carta da minha mãe.


Sábados à tarde, depois das aulas na faculdade, respondia e colocava nos Correios e Telégrafos do Largo do Machado.


Depois, pegava o bonde 4 da Praia Vermelha para o jantar no restaurante universitário.


O preço do bonde era de cinquenta centavos. O restaurante gratuito.


Às vezes permanecia no centro acadêmico da medicina para as “brincadeiras dançantes”.


Geralmente as moças vinham do subúrbio com as suas mães.


Outras vezes, eu voltava para assistir filmes no Cine São Luís ou Asteca.


Politheama, também na praça do Largo do Machado, chamado de “polipulga”, só quando estava “mal-intencionado”.


Sempre gostava de receber cartas que eram só da minha mãe.


Como estudante nunca tive namorada em Cuiabá, para não me comprometer precocemente, pois o curso de medicina era longo e precisava não perder o foco que o amor juvenil produz.


As cartas da minha mãe eram repletas de amor de uma mãe distante, rezando pelo sucesso do seu filho na cidade grande.


Quantas notícias alegres recebi.


Lembro-me de uma carta que recebi da minha mãe em 1954, comunicando que em breve teria mais uma irmãzinha, a nona dos nove filhos que ela foi mãe.


Quando a caçulinha nasceu eu já era estudante de medicina.


Nunca temi receber cartas.


Já o telegrama, que era como se fosse uma notícia urgente, eu tinha minhas preocupações.


Felizmente passei incólume pelas notícias dos telegramas que recebi de Cuiabá.


Nessa época a cantora paulista Isaurinha Garcia havia gravado um grande sucesso musical- “Quando o carteiro chegou”.


Falava da sua angustia quando ouvia o carteiro gritar do seu portão que lhe trazia uma carta.


Eu já gostava quando a dona da pensão onde morava dizia que tinha uma carta para mim.


Logo abria o envelope cheio de boas notícias.


Isaurinha temia abrir a carta, cujo nome identificou ao ler no envelope como sendo de um ex-namorado que a tinha deixado, dizendo estar farta dela, e não abriu a carta que não sabia ser de alegria ou de tristeza e, a queimou!


Como morava com outros colegas, notava o nervosismo deles ao abrirem uma carta, que poderia conter boas ou más notícias.


Esses envelopes a eles enviados eram cartas de amor.


Às vezes traziam lembranças que só uma jovem apaixonada seria capaz de fazer, como a de enviar um fio de cabelo para seu amado.


Quem nunca escreveu bobagens ridículas amorosas quando jovens?


A Isaurinha Garcia, que imortalizou e valorizou o trabalho dos carteiros com a canção do carteiro, foi uma sofredora de amor.


Conheci a Isaurinha em um show no Sayonara.


Depois que ela morreu, assisti com a minha mulher num teatro de Copacabana, um musical em sua homenagem, onde ouvi mais uma vez a história do carteiro e das cartas.


As cartas inúmeras que recebi da minha mãe, não tive como guardá-las durante as minhas mudanças pelas pensões do Rio de Janeiro.


As que escrevi para ela, não sei onde colocaram em casa de muitas crianças.


Daria tudo neste mundo se pudesse ler as cartas que os carteiros me entregaram da minha mãe.


Gabriel Novis Neves

02-02-2022





VÍDEO - MENSAGEM 

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

MORREU O CIRURGIÃO AMIGO DE TODOS


A semana iniciou com seus moradores sem entenderem o que havia acontecido: seu médico morreu!


No dia anterior à sua morte, ele passou com seus amigos do Complexo Hospitalar Jardim Cuiabá reunidos na festa de confraternização de final de ano.


Passou o dia cantando, tocando violão com um grupo, e era também ritmista.


Depois foi descansar em sua casa que ficava nas proximidades do Hospital.


Os filhos mais velhos estavam viajando para o exterior, na Disneylândia, Estados Unidos da América do Norte.


Dr. Nadim por duas vezes teve oportunidade de nos deixar.


A primeira vez quando sofreu ruptura de um aneurisma havendo necessidade de um enxerto.


Foi transferido em um jatinho do seu plano de saúde para a cidade de São Paulo, onde foi operado com sucesso, retornando para Cuiabá.


A outra vez foi quando acometido pelo Covid 19 não teve condições de ser removido da UTI.


Permaneceu por semanas internado e obteve alta hospitalar para casa, sucesso esse alcançado pelas correntes de orações dos seus amigos, e competência dos médicos que o trataram.


Voltou a exercer as suas funções de médico no Jardim Cuiabá, e também na Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, reformado na patente de Coronel.


Sou bem mais velho que ele, e o hospital do meu dia a dia não era o seu.


Conheci Nadim quando estava montando o curso de medicina da UNIC.


Precisava de um cirurgião de “mão cheia” para lecionar a disciplina cirurgia geral para os alunos do quinto e sexto ano.


Aqueles que eu conhecia já eram professores de medicina da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, a pioneira.


Conversando com o neurocirurgião Nicandro Figueiredo, professor da Universidade de Cuiabá, sobre as minhas dificuldades ele me respondeu:


“Chame o Nadim”.


Depois me passou oralmente o seu currículo.


Nicandro saiu do meu gabinete com o contrato do Nadim e com a recomendação de iniciar os seus trabalhos no dia seguinte no antigo Hospital Geral de Cuiabá.


Ele era conhecido entre os colegas como o médico dos casos difíceis.


Depois que deixei a direção da faculdade de medicina perdi o relacionamento com o grande mestre humanitário.


As notícias sobre seu falecimento me chegaram através de irmãos, cunhada e sobrinhos, que sempre trataram os seus males com ele.


Ele primeiro cuidava do paciente, e só depois discutia seu honorário, que ficava a cargo deste.


Nadim vivia no hospital, estando sempre disponível para socorrer aqueles que precisavam de um médico.


Acho que ele não tinha a menor ideia do quanto era querido pela nossa gente.


Morreu com dignidade, vítima de um infarto do miocárdio em casa, e lá de cima deve ter constatado também como era querido na Polícia Militar, local do velório e translado do corpo até o cemitério.


O cuiabano reconheceu o seu humanismo e espírito de caridade ao próximo.


Cuiabá perdeu o seu cirurgião geral, e em situações de dificuldades médicas não poderão mais dizer:


“Chame o Nadim!”


Gabriel Novis Neves

24-11-2022




domingo, 27 de novembro de 2022

OS PITORESCOS 53


Bem antigamente não existia a Copa do Mundo porque o futebol só foi criado pelos ingleses no século XVII.


Hoje quase todas as nações praticam esse esporte, considerado o mais popular.


Na Copa do Catar o campeonato é jogado entre 32 seleções de países de quatro continentes: americano, europeu, asiático e australiano.


Na Cuiabá antiga o futebol era praticado por clubes e seus jogadores eram locais e não remunerados.


Os jogos eram realizados nos antigos Largos que caracterizavam a velha cidade Imperial.


O primeiro Largo transformado em Praça foi a Alencastro, quando da construção do nosso primeiro Jardim Público de Cuiabá.


Hoje Cuiabá tem estádio de futebol construído para sediar jogos da Copa do Mundo de 2014.


Tem nome de Arena Pantanal, embora Cuiabá esteja localizada em pleno Cerrado.


Possui um time de futebol com o nome da capital e foi fundado por um jogador Gaúcho que jogava no Flamengo do Rio, e nunca em Cuiabá.


O Cuiabá é um time de futebol profissional pertencente a empresários do agronegócio e recebe auxílio mensal do governo para divulgar o nosso Estado.


Seu técnico é português de nascimento e, do seu time titular nenhum dos seus jogadores são filhos de Cuiabá.


Somos os maiores produtores de alimentos dos Estados e maiores importadores de antigos jogadores de futebol dos Estados brasileiros.


Há três anos consecutivos, o Cuiabá participa do Campeonato Brasileiro dos vinte melhores times.


Nos dois anos que participou fez sua torcida de bairristas sofrer até a última rodada para não ser rebaixado.


Bem antigamente, a seleção brasileira que disputava os jogos da Copa do Mundo tinha seus craques recrutados dos grandes times do nosso futebol, como o Botafogo, Flamengo, Vasco, Fluminense, Corinthians, Santos, Palmeiras, São Paulo, Grêmio, Internacional, Cruzeiro e Atlético Mineiro.


Era proibido trazer jogador de futebol que jogasse em clubes de futebol do exterior.


Hoje não existe nenhum jogador titular da seleção brasileira da Copa do Catar, que jogue em times brasileiros.


Na reserva apenas três, e ainda dizem que o futebol que se joga no Brasil é o melhor do mundo.


Na Cuiabá antiga, quando a seleção brasileira entrava em campo o torcedor torcia e sofria pelo jogador do seu clube que vestia a camisa do Brasil.


Hoje, com a seleção de jogadores desconhecidos para a maioria da nossa população, que deixaram o nosso país muito jovens e nunca jogaram no Maracanã, perdemos aquele estímulo de torcer pela nossa seleção, chegando a nos desinteressar pelos resultados dos jogos.


Bem antigamente, encucaram na cabeça da nossa gente que a seleção brasileira de futebol representava a nossa nação, e um chute dado pelo adversário era um chute no coração do Brasil.


Depois, veio o tempo do “politicamente correto” e isso virou verdade.


Ninguém mais comenta sobre isso com receio de sofrer bulling.


Na Cuiabá antiga, todos os jogadores da seleção brasileira pertenciam aos nossos principais clubes.


Esse era um fator que fazia torcedores fanáticos da seleção nos dias de jogos do Brasil.


O Brasil estreou na Copa do Catar vencendo a fraca seleção da Sérvia por apenas 2X0, com os gols feitos no 2ºtempo.


O artilheiro é um jogador brasileiro que construiu toda a sua carreira em clubes europeus.


Sentado no banco de reservas o Pedro do Flamengo, que pelo jeito não jogará nessa seleção.


Bem antigamente, a 1ª Copa do Mundo foi realizada em 1930 em Montevidéu, e os uruguaios seu campeão, com 13 seleções disputando o título.


Hoje, a seleção do Uruguai já não assusta ninguém e o melhor jogador do Flamengo, que é o uruguaio Arrascaeta, na seleção do seu país é reserva.


Na Cuiabá antiga ficávamos sabendo dos resultados dos jogos no outro dia pelos grandes jornais do Rio de Janeiro e São Paulo.


Hoje, pela televisão tudo é nos mostrado em tempo real, desde a chegada dos jogadores aos modernos estádios, vestiário, aquecimento em campo e o jogo com árbitros, bandeirinhas e o VAR.


Bem antigamente, em 1934, os italianos sediaram a Copa do Mundo e conquistaram o título de campeões do mundo, com 16 participantes.


Até então o país sede dos jogos da Copa eram campeões do mundo.


Hoje, essa regra foi alterada quando o Brasil sediou os jogos da Copa.


Na Cuiabá antiga, acompanhei pela Rádio Nacional do Rio a seleção brasileira no Maracanã em 1950 no jogo final perder para os uruguaios, por 2X1.

Em 2014 a seleção brasileira repetiu a dose, sendo trucidados pela seleção da Alemanha por 7X1 em Belo Horizonte, com tudo transmitido a cores pela TV.


Hoje, ser sede dos jogos não significa vantagem para ser campeão.


Gabriel Novis Neves

25-11-2022




sábado, 26 de novembro de 2022

GALINHA COM ARROZ


É irresistível um prato de arroz temperado com cebola bem picadinha, alho, pimenta do reino, cheiro verde, coxa e sobre coxa de galinha, com pimenta malagueta à vontade de cada um.


No dia desse prato aproveito para dispensar a inseparável salada de folhas, ou qualquer que seja um outro acompanhamento do meu cotidiano.


Todo o espaço disponível no meu estomago reservo a esse prato simples da nossa culinária.


De sobremesa manga bourbon fatia e gelada.


Sempre gostei das comidas simples, meu pai era “enjoado” para almoçar e nunca o vi jantar, que sempre foi substituído por um lanche.


Ele trazia da padaria uma variedade de pães feitos na hora e que eram transformados com manteiga de lata da marca Aviação, em saborosos sanduiches de presunto, salaminho e queijo amarelo furadinho.


Meu pai pedia para completar o seu lanche um copo grande de nata grossa de leite de vaca.


Ele vinha da chácara do “seo” Mario Esteves, que desapareceu depois da última enchente do rio Cuiabá, antes da construção da Usina Hidrelétrica de Manso nos municípios da Chapada dos Guimarães e Nova Brasilândia.


Meu pai não era acompanhado por nenhum filho no copo com nata.


Seus nove filhos utilizavam um pequeno “coador de finos fios metálicos entrelaçados” para o leite fervido, já sem a nata, para não correrem o risco de que chegasse à xícara uma ínfima porção que fosse de nata.


No almoço comia pouco.


Seu prato predileto era arroz, feijão mulatinho e pequenos bifes bem passados, que recortava todo o seu entorno, acompanhado de finíssima farinha de mandioca.


Nunca aceitava qualquer tipo de saladas, e sobremesas só em datas especiais, quando se deliciava com a ambrosia, receita da sua mãe Eugênia e feita maravilhosamente bem pela minha mãe Irene.


Herdei do meu pai este hábito simples da nossa culinária.


Quando passei no vestibular de medicina no Rio de Janeiro, a minha tia Alba Botelho, irmã mais velha da minha mãe, me convidou para um jantar comemorando o fato.


Isso aconteceu no seu belíssimo apartamento na rua Sá Ferreira em Copacabana.


Minha tia me pediu que escolhesse o prato para o jantar de gala.


Eu lhe disse: um prato de Maria Isabel, que vem a ser o nosso prato de arroz com carne seca, sem direito a sobremesa.


Minha tia era casada com um fazendeiro e passou parte da sua vida na fazenda.


Sabia fazer como ninguém a nossa deliciosa Maria Isabel, prato preferido dos peões da fazenda no quebra-torto.


Até hoje continuei assim, quando se trata de hábitos alimentares.


Gabriel Novis Neves

18-11-2022




sexta-feira, 25 de novembro de 2022

A REUNIÃO DO CLIMA DA ONU


É um grande evento, e os grandes líderes mundiais comparecem com enormes comitivas para debaterem as questões do clima na terra.


A cereja do bolo é sempre a questão do desmatamento da nossa Amazônia Legal.


Também presentes os governadores dos nove estados amazônicos, do qual pertencemos.


Este ano está sendo realizado em uma pequena cidade do Egito, sem condições logísticas para abrigar Congressos de grande envergadura.


Não sei o critério utilizado pela ONU para a escolha do local das suas reuniões anuais.


Os discursos são lidos em forma de poesia, gostosos de serem ouvidos pelos países ditos desenvolvidos e que exterminaram as suas florestas.


Cobram dos países menos desenvolvidos, como o Brasil, para que não derrubem mais nenhuma árvore nos próximos anos na região amazônica, com o intuito de não poluir mais a atmosfera do planeta.


Enquanto isso, “800 jatos particulares que emitem fortes gases na atmosférica foram ao Egito para dizer para você ir de bicicleta para o trabalho porque você está destruindo o planeta terra”.


Mato Grosso é um Estado agrícola e o maior produtor de alimentos do mundo para o mundo.


Milhões de pessoas estão classificadas como famílias em insegurança alimentar e pobreza absoluta sem condições de ter uma refeição por dia.


Mato Grosso é um Estado que tem controlado o seu desmatamento amazônico.


O desmatamento ilegal tem que ser criminalizado, mas o que se pressiona lá fora é a nossa concorrência sem subsídios agrícolas com os outros países produtores e a nossa ocupação da Amazônia.


Ocupação essa que inviabilizaria a posse por outros países de nossas riquezas minerais, florestais, biodiversidade e águas, diz o nosso governador Mauro Mendes presente à Reunião do Clima.


Mato Grosso é amparado por lei que determina que até vinte por cento do seu território, poderá ser aproveitado para produção de alimentos para o mundo, que tem fome.


Como garantir em uma Reunião patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), que não iremos derrubar nenhuma árvore e que o Estado sobreviverá sem os impostos da exportação de alimentos para os países que não os produzem e têm fome?


Em contrapartida sempre os países ricos ofereceram migalhas ao nosso Estado, e de migalhas não necessitamos.


Precisamos de recursos substanciais para manter nosso desenvolvimento social e econômico e cuidar do clima no planeta terra.


O resto são discursos em forma de poesia, até a próxima reunião, pelo menos em uma cidade em melhores condições para receber as enormes comitivas que se fazem presentes.


Terminada a reunião nem sei se existe ata do conclave!


Muitos falaram e cantaram como a amazônica Fafá de Belém, da comitiva do governador do Pará.


Agora ninguém mais toca no assunto.


Gabriel Novis Neves

16-11-2022




quinta-feira, 24 de novembro de 2022

E O MUNDO CONTINUA


Os cantores do rádio da minha infância e juventude todos já partiram.


Da fase da minha maturidade acabou de partir o “Tremendão” ficando de indez, o interminável Roberto Carlos, o maior parceiro do Erasmo Carlos.


A música popular brasileira abandonou as suas origens e nos deixou como herdeiros cantoras como a Preta Gil e cantores como o Bello.


E o mundo continua a sua caminhada inexorável e não se preocupando com o que passou, trabalho para historiadores.


Jesus Cristo, o filho de Deus que veio para nos salvar, nos deixou aos 33 anos.


Os grandes gênios da humanidade e os imbecis também já partiram.


Todos sabemos como nascemos, crescemos e morremos, e nunca estamos preparados para a morte, mesmo que vivamos mais de cem anos.


O nascimento é recebido com muita alegria, e a morte será sempre inexplicável, prematura e dolorosa.


O Erasmo Carlos foi autor de centenas de músicas de sucesso.


Gostava de muitas das suas canções, e a minha favorita, e que me emociona até hoje é: “Sentado à beira do caminho”. 


Quando a ouço faço uma regressão ao final dos anos sessenta, lamentando pelo tempo ter passado tão rápido.


Como eu era feliz com a minha mulher, três filhos pequenos para criar, meus pais, com o Bar do Bugre funcionando, meus oito irmãos e a carreira de médico a consolidar! 


Daria tudo nesse mundo para ouvir “Sentado à beira do caminho” na casinha da rua Marechal Floriano Peixoto no radinho da cabeceira do meu quarto de dormir.


O mundo continua não se preocupando mesmo com os idosos quase velhos que, por causas diversas, foram deixados para trás com as suas doenças próprias da idade avançada.


Nesta reta da vida, que sei que será a última, não tenho nem o radinho de pilha do quarto de dormir, substituído por um enorme aparelho de televisão, cujos canais não tocam mais a música do Erasmo Carlos que tanto gostaria de ouvir.


Tenho certeza que no show de final do ano seu parceiro preferido Roberto Carlos não deixará de interpretar minha canção:


Sentado à beira do caminho!


Gabriel Novis Neves

22-11-2022








 

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

O NASCIMENTO DO BAR DO BUGRE


O bar do Bugre nasceu no dia 29 de junho de 1920 no galpão do antigo cinema de Cuiabá, lugar que está construído o atual Cine Teatro de Cuiabá, inaugurado em 1942.


Não conheci o cinema do galpão e sim o moderno Cine Teatro frequentado pela sociedade cuiabana à noite, antes da chegada da televisão.


A minha geração assistia às suas matines às tardes.


Artistas famosos do teatro brasileiro se apresentaram lá.


Recordo-me do ator Procópio Ferreira na peça de Joracy Camargo: “Deus lhe pague”.


Meu pai se fez presente, mas não me recordo se na companhia da minha mãe.


Naquela época as mulheres tinham muitos filhos, tipo escadinhas, e não tinham com quem deixá-los em casa.


O Bar do Bugre surgiu da necessidade que a minha avó Eugênia sentiu de abrir um negócio para três dos seus filhos maiores de idade trabalharem.


Meus avós não possuíam recursos para enviar todos os seus filhos para estudarem no Rio de Janeiro, cidade que a minha avó paterna nasceu.


Dos três primeiros filhos, dois se formaram em Direito, e ao retornarem à Cuiabá ingressaram na Magistratura e terminaram suas carreiras como desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.


Outro fez o curso de agronomia, e foi chefe do Departamento de Terras de MT.


Os outros concluíram o ensino primário, mas não o ensino médio, que era onde terminava o ensino em nossa capital.


Meu pai era o mais velho dos irmãos que ficaram por aqui.


Vivia de fazer pequenos “biscates”, assim como seus irmãos.


Foi cobrador de médicos, dentistas e farmacêuticos, sendo o mais famoso o farmacêutico Pedro Celestino Corrêa da Costa, que foi governador de Mato Grosso por dois períodos e empresta o seu nome a antiga e aristocrática rua de Cima.


Meu pai alugou uma parte da antessala do cinema do galpão e montou um pequeno bar.


Minha avó, viúva, ajudada pelas suas filhas solteiras, eram as responsáveis pela feitura dos salgadinhos, doces e refrescos.


Meu pai alugou mesas, cadeiras e comprava cervejas na primeira fábrica de cerveja que ficava em Várzea-Grande, município de Cuiabá às margens do rio Cuiabá.


Era do empresário Almeida, sogro do médico Alberto Novis, que ficou surdo, e foi trabalhar como gerente da fábrica de cerveja.


Na noite da inauguração do Bar do Bugre toda a sociedade compareceu para prestigiar o evento.


A festa estava animada, quando alguém pediu silêncio e perguntou o nome do bar.


Ao saber que o bar não tinha nome, começaram os palpites, até que um poeta bradou: seu nome tem que ser Bar Moderno, pois ele viverá por muitos anos, e será sempre moderno.


Devido ao sucesso do bar meu pai comprou um enorme casarão residencial na rua de Cima com duas frentes, uma para a Praça Alencastro outra para a Praça da República.


Fez uma ampla reforma no imóvel, transformando em Bar do Bugre, reconhecido e sempre lembrado pelos antigos cuiabanos.


O bar Moderno viveu cinquenta anos e só existia com esse nome, na Junta Comercial de Cuiabá.


Meu pai envelhecido (76 anos) não estimulou nenhum dos seus quatro filhos homens para ser seu sucessor.


Formou dois filhos em medicina e um em economia, todos no Rio de Janeiro, e o caçula em Direito na nossa Universidade Federal de Mato Grosso, implantada pelo seu filho primogênito.


Meu pai teve como principais auxiliares seus irmãos desempregados, Tinô, Ioiô e Joãozinho, e três garçons, Quindú, Paulo e Domingos.


Esta é a história do nascimento do Bar do Bugre.


Gabriel Novis Neves

15-11-2022




terça-feira, 22 de novembro de 2022

SAUDOSISMO


Bons tempos aqueles em que Nilton Santos becão do Botafogo e seleção brasileira, duas vezes campeão do Mundo, em 1958 na Suécia e 1962 no Chile, podia dizer no vestiário ao genial Garrincha – “Perdeu Mané”.


Nada de alegria. Perdemos o jogo.


O ingênuo e pobre menino que nasceu em Pau Grande no interior do Estado do Rio veio para o Botafogo de Futebol e Regatas e conquistou o mundo com as bolas nos pés.


Enquanto jogava futebol ajudou a fabricar inúmero ídolos como Pelé, Vavá, Amarildo e tantos outros com as inúmeras bolas cruzadas da direita, que duas ou três por partida batiam nas pernas dos atacantes sendo transformadas em gols para a seleção brasileira ou Botafogo.


Garrincha era nome de um pequeno pássaro existente na região onde nasceu e que ele gostava de caçar.


Sua irmã mais velha, certa ocasião, presenciou a cena e passou a chamá-lo com o nome do pássaro.


Mané era seu apelido de moleque, já que seu nome de batismo era Manoel Francisco dos Santos.


No futebol todos só o chamavam de Mané Garrincha, e assim foi consagrado em filmes, marchinhas carnavalescas de sucesso e livros.


Mané era a alegria do povo brasileiro e ídolo nacional.


Bons tempos aqueles em que Mané era orgulho!


Hoje Mané é xingamento de Ministro do Supremo Tribunal Federal quando no exterior é indagado por um brasileiro anônimo na calçada do seu hotel de luxo, sobre o resultado das últimas eleições em nosso país, e rudemente respondeu ao povo brasileiro chamando-o de Mané.


“Perdeu Mané e não amola! ”


E entrou correndo no chique hotel pago pelos milhões de Manés que, para o Ministro, é o povo brasileiro e assim tratado por ele.


A alegria do Mané Garrincha, o ídolo, era jogar futebol, pouco se importando sobre o resultado das partidas, estando sempre alegre no vestiário após o termino dos jogos.


Daí o seu compadre, amigo e colega do Botafogo, quando diante da tristeza pela derrota, avisar ao sempre alegre Mané Garrincha:


“Mané, perdemos o jogo”, hoje imitado de forma agressiva por um Ministro do Supremo Tribunal Federal contra o povo brasileiro representado por um popular que o abordou.


Bons tempos aqueles em que Mané era apenas apelido de Manoel, e não “amolava” ninguém!


Gabriel Novis Neves

19-11-2022




segunda-feira, 21 de novembro de 2022

O MÉDICO COMO PACIENTE


Aprendi na faculdade de medicina que a prescrição de medicamentos é da competência médica.


Até certo ponto é assim que funciona.


Entretanto, quando o médico é o paciente as coisas não são assim.


Estou fazendo a minha oitava imunotransfusão de imunoglobulinas.


A primeira vez que fiz foi há dois anos, quando estive internado no Hospital Sírio Libanês em São Paulo.


O motivo da internação foi identificar e tratar das causas das minhas repetidas pneumonias.


Entre os mais complexos exames complementares de imagens e análises clínicas, depois de minucioso exame clínico, retirei dois pólipos do intestino grosso, e as dosagens de imunoglobulinas e subgrupos deram abaixo da normalidade.


A infectologista indicou inicialmente quatro dias seguidos de reposição das imunoglobulinas no hospital.


A doutora me avisou que, apesar de eu não ter indicadores de alergia, os nove frascos de cinquenta gramas cada, seriam feitos em gotejamento bem lento na veia, para evitar efeitos colaterais como enjoos, elevação da pressão arterial e temperatura corporal, entre outros possíveis.


No segundo dia, após terminar a aplicação, minha temperatura axilar atingiu 37,5º, e não fiz uso de antitérmicos.


No dia seguinte a infecto me disse que estava com os resultados do laboratório de análises clínicas, não havendo mais necessidade das outras duas aplicações no hospital, me liberando para casa.


Daí para frente à minha infecto de Cuiabá ficaria atenta na investigação laboratorial, e é o que faço há quinze meses.


Nunca mais tive pneumonias nem outro tipo de infeção, e as minhas dosagens estão sempre na faixa da normalidade.


No dia anterior da minha primeira imunoinfusão foi realizado, por enfermeira especializada no quarto do hospital, um procedimento de preparar com cateter, uma veia profunda da face anterior do meu braço direito, guiado por ultrassom e imediatamente certificado da sua posição por raio X.


Estou fazendo no Centro de Infusão de Cuiabá, o meu sexto procedimento, e o pessoal da enfermagem já me conhece muito bem.


Sabem que eu não tenho efeitos colaterais ao medicamento, minhas veias são ótimas, sempre as achando na primeira vez.


Sentindo-me em casa, pedi a excelente técnica de enfermagem, que fizesse acelerar o gotejamento da droga chinesa em minha veia, para encurtar o meu tempo de permanência lá.


Ela me respondeu, acertadamente, que não poderia fazer nada, pois era prescrição médica.


Cuidadosamente, lembrei a ela que eu era médico e era um pedido meu.


Mesmo assim me disse que nada mudaria a sua decisão, pois ali eu era um paciente e a prescrição foi feita pela médica responsável pelo Centro de Infusão.


Antes de chegar ao local do procedimento fui atendido na triagem, pela médica professora de medicina, com uma folha impressa com o pedido da minha infecto.


Na solicitação da infecto ao plano de saúde, ela prescreveu o medicamento com o gotejamento lento, desconhecendo o meu desejo de aumentá-lo com segurança total para o paciente.


A medicina é uma profissão difícil de conquistar, e mais ainda de ser exercida.


Gabriel Novis Neves

17-11- 2022




domingo, 20 de novembro de 2022

OS PITORESCOS 52


Bem antigamente, nossos governantes eram o Rei de Portugal que governava o Brasil, e os Estados chamados de Províncias, pelos Capitães Gerais, portugueses como o Rei. Conde de Azambuja, Capitão Geral da Província de Mato Grosso, foi o 1º a morar no Largo da Mandioca, em um casarão colonial, com toda a elite do seu governo. Também fazendeiros e garimpeiros ricos. Toda semana no Largo, os tropeiros da região traziam seus produtos para serem vendidos e o local passou a ser chamado de Largo da Feira da Mandioca. O antigo Largo em homenagem ao seu morador ilustre passou a ser chamado de Praça Conde de Azambuja, de acordo com os legisladores da época. Hoje, a Câmara de Vereadores de Cuiabá, apagou a nossa história, mudando seu nome para de uma querida moradora da rua do Campo, minha prima, que frequentava a feirinha da Mandioca, sempre no seu finzinho quando os produtos eram bem mais baratos.


Na Cuiabá antiga, a Praça Conde de Azambuja ou da Mandioca, era um local turístico para visitantes em nossa cidade, cheia de beleza arquitetônica e histórica. Hoje, o local está cheio de barzinhos e é um local não indicado para passear com a família.


Bem antigamente, dia de eleições era uma festa com direito a churrasco para todos. Os patrocinadores eram chamados de exercerem o voto de cabresto, quando o dono do churrasco votava em nome dos seus participantes, com o consentimento dos mesários e fiscais dos partidos. Hoje, funciona a compra dos votos com o santinho do candidato enrolado no dinheiro e depositado nas mãos do eleitor. Costuma funcionar melhor que o antigo churrasco. Daí surgiu a expressão: perdi a eleição na boca da urna.


Bem antigamente, urna para votar tinha boca e todos que votavam, colocavam sua cédula com o nome dos seus candidatos favoritos dentro de um envelope, e por uma fenda dentro de uma enorme sacola de lona. Essa era a antiga boca da urna, que engolia o envelope que às vezes estava sem a cédula ou escrita cheia de palavrões. Hoje, o voto é na polêmica maquininha eletrônica do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A boca da urna permanece com toda vitalidade, do lado de fora da cabine de votação, com os santinhos enrolados com dinheiro. Essa boca tem muita fome e quem não tiver grana viva, perderá a eleição.


Na Cuiabá antiga, era muito fácil os candidatos ganharem ou perderem eleições, na boca da urna. Bastava o candidato ou candidata entrar na fila dos votantes, e pedir para mostrarem a cédula em quem iriam votar. Se fosse do seu partido dava parabéns ao eleitor, caso contrário as mulheres com lábios com forte batom vermelho beijavam a cédula e devolvia ao eleitor, que satisfeito e orgulhoso colocava na boca da urna. Esse voto estava anulado. Quando esse serviço era feito por homens, eles escreviam: muito bem, anulando esse voto por conter rasuras. Hoje, para ganhar uma eleição, o partido do candidato tem que receber muito dinheiro do fundo partidário, mania recente criada pelas Cortes Superiores deste país para gastar o nosso dinheiro arrecadado dos inúmeros impostos que pagamos para agradar aos políticos. Importante também montar uma esperta caixa 2, para receber dos empresários transferências chamadas de doações milionárias que são verdadeiros adiantamentos, que serão cobrados depois das eleições com juros e correções monetárias. A bocas de urnas vivem.


Bem antigamente, só os homens votavam. Bem depois, as mulheres adquiriram esse direito. Recentemente, até menores de 18 anos, vota. Hoje, os resultados são idênticos, demonstrando que os presentes recebidos continuam os mesmos.


Na Cuiabá antiga, governo não perdia eleição por possuir nas mãos, a famosa máquina do poder. Hoje, essa máquina está fatiada com o Legislativo e Judiciário.


Bem antigamente, o carvão para manter a máquina do poder, vinha daqueles que possuíam dinheiro. Hoje quem tem dinheiro no Brasil são banqueiros, muitos do agronegócio, empresários donos de multinacionais, e as fortunas invisíveis, existindo dizem os entendidos, mais dinheiro de brasileiros no exterior que no Brasil, e o número de brasileiros com dupla nacionalidade, cada dia aumenta mais. Não se esquecer dos inúmeros laranjais espalhados por esse imenso Brasil. O “laranja” mais elegante que conheci foi o de “sócio oculto”.


Na Cuiabá antiga, votar era enfrentar uma longa fila indiana, para exercer a cidadania. Hoje, enfrentamos uma multidão nos corredores de votação, e os idosos em cadeira de rodas, para furar esse verdadeiro bloqueio tem que falar: licença por favor, até a cabine de votação. No retorno, obrigado, obrigado, obrigado até chegar ao seu automóvel. Isso é chamado de direito de “exercer a sua cidadania”, expressão que evito falar, para não repetir os chavões dos políticos e locutores da televisão.


Gabriel Novis Neves

03-10-2022