quinta-feira, 30 de junho de 2022

OS CIRCOS DA MINHA INFÂNCIA


Não havia festa maior na minha infância que frequentar os circos que se exibiam em Cuiabá!


Os mais famosos por aqui, eram o Circo Garcia e o Circo Bocute.


Armavam as suas enormes tendas de lona, em formato de um círculo, especialmente no Campo d’Ourique, local das antigas touradas e hoje sede da Câmara de Vereadores de Cuiabá.


Ali naquele imenso palco, com cadeiras para o público, éramos brindados com tudo que uma criança gosta e o público adulto também, como o “biquíni de peça inteira”, e as lindas pernas da bailarina Doramy.


Quando chegavam na cidade percorriam as principais ruas e avenidas com carro de som, soltando foguetes e exibindo nas jaulas, onças, leões, elefantes e macacos domesticados.


Também os incríveis palhaços, anões, homem gigante, com bailarinas provocantes.


Na noite do espetáculo, enfrentava com o meu pai uma longa fila para comprar os ingressos, quando toda a cidadezinha assistia.


Sentávamos na pequena cadeirinha desmontável, um pouco distante do palco, e logo o espetáculo se iniciava.


A vibração era intensa quando os palhaços apareciam com os rostos pintados, roupas de palhaços com calças presas por suspensórios, enormes sapatos de pano, bonés, aprontando cenas de inocente humor.


O palhaço preferido das crianças frequentadoras de circo era o “Pasta Chuta”.


Anos depois vimos na televisão aos domingos, em horário nobre, “Os Trapalhões”, com os palhaços Didi, Dedé, Mussum e Zacharias.


No cinema mudo tivemos o “Gordo e o Magro”, palhaços de tamanho sucesso mundial que na minha casa tinha a estatueta dos dois, colocados na parte superior da cristaleira da varanda.


Depois, Charles Chaplin, o “palhaço Carlitos” e recentemente o “mister Bean”.


Os circos que visitavam a Cuiabá antiga tinham diversas atrações, como o homem na jaula dos leões e onças.


Bailarinas sendo conduzidas nas trombas dos elefantes.


Cenas fortes de trapezistas no ar, equilibristas, engolidores de espadas, atiradores de faca e flecha, assopradores de fogo.


O inesquecível “Globo da Morte, onde até três motociclistas se cruzavam em alta velocidade.


O cuiabano Névio Lotufo chegou a pilotar a sua moto, no “Globo da Morte”.


Sentia um grande alívio de satisfação quando esse número terminava!


A cenas dos anãos palhaços com o homem gigante de dois metros de altura.


A inconfundível bandinha do circo acompanhando cantores humoristas e tocando nos intervalos dos espetáculos.


Tudo isso era o circo da minha geração, com apresentações e artistas inesquecíveis como o palhaço Pasta Chuta e a bailarina Doramy.


Gabriel Novis Neves

24-06-2022








quarta-feira, 29 de junho de 2022

ÚNICA HOMENAGEM


Encontrei um velho álbum com fotos da minha família, quando os meus pais ainda eram vivos.


Nessas ocasiões aquela coisinha que às vezes temos guardado no fundo do coração, passa a nos incomodar.


Recordei, com auxílio dos meus irmãos, da única homenagem que o meu pai recebeu.


Após fechar o bar, verdadeiro centro de vivência da Cuiabá antiga, depois de cinquenta anos de atividades e pioneirismo nessa área do comércio, recebeu o reconhecimento da sua atividade profissional.


Foi da Associação Comercial de Cuiabá (ACC) onde ele foi um dos fundadores.


O Presidente da ACC empresário Joel Bulhões, acompanhado do acadêmico e empresário Arquimedes Pereira Lima, lhe entregou a honraria na sua casa da rua do Campo.


Era uma pequena placa banhada de prata com os dizeres de agradecimentos da ACC em caixa azul com seda na parte interna.                        


O Bugre fez questão de convidar os garçons que o acompanharam para compartilharem da festa.


E lá estavam o Paulo, Quindú, Domingos.


A solenidade foi simples como a vida tranquila do meu pai.


Minha mãe emocionada ficou encarregada de retribuir a gentileza.


Ele nos deixou há quarenta anos e para perpetuar a sua passagem por aqui, honramos os seus ensinamentos morais e éticos.


Celebramos também todos os anos a festa de São Pedro, no dia 29 de junho.


Antigamente nesse dia, meu pai retirava a imagem de São Pedro do Oratório da minha casa, e em procissão levava o Santo até a Igreja, onde uma missa era celebrada.


No retorno era oferecido aos parentes e amigos o chá com bolo.


À noite fogueira, com fogos de artifícios, balões, cantos, danças e brincadeiras típicas das festas juninas, salgadinhos, bolos e doces da região, para a alegria das crianças e adultos.


Hoje, essa festa ficou resumida a uma reza, cânticos, hinos, chá com bolo e uma imensa saudade.


Cada ano é realizada na casa de um filho ou neto do casal Novis Neves, podendo a cerimônia religiosa ser assistida virtualmente, via link.


Essa tradição teve o seu início logo após o casamento do meu pai em 1934, ideia da minha mãe Irene, muito religiosa.


O Bar Moderno, que ficou conhecido como o bar do Bugre, apelido de Olyntho Neves, foi inaugurado em 29 de junho de 1920, dia que se comemora São Pedro, que passou a ser o santo Padroeiro da Família Novis Neves.


Ganhei do meu querido amigo Dr. João Cunha, o blog do Bar do Bugre, para contar histórias da cidade que ele tanto amou.


Muitas crônicas escrevi, e publiquei no meu blog, para não deixar no esquecimento, personagens que fizeram parte da história da Cuiabá antiga.


É por esse blog do Bar do Bugre, que sua cidade lembra do comerciante correto que durante cinquenta anos de trabalho honrou a ética, e bem educou os seus nove filhos.


As honrarias que recebo, sei que são para o “pai da Universidade”!


Confesso que gostaria de socializar essas homenagens com os meus pais, que me conduziram para a estrada de bem servir à coletividade.


Gabriel Novis Neves

17-06-2022

















terça-feira, 28 de junho de 2022

A FESTA DE SÃO JOÃO


Dos santos festeiros do mês de junho o mais popular não é o Antônio, que tem fama de casamenteiro, nem Pedro que tem as chaves do céu, mas o João.


Quem não se lembra das antigas festas de São João, do hino do São João Cuiabano, com o santo sendo levado em procissão para a “lavagem” nas águas cristalinas do córrego da Prainha?


A imagem saia da casa do festeiro próximo da meia noite, acompanhando por familiares e amigos, geralmente depois do chá com bolo, fogueira, queima de fogos de artifício, danças caipiras e a famosa quadrilha, onde todos vestiam à caráter.


A alegria da bandinha do mestre Ignácio do Baú, do Exército, Polícia Militar, ou grupos de músicos como China, Bolinha, e tantos outros, acompanhavam a procissão e tocavam:


“Deus que salve o João, Batista sagrado, no seu nascimento nós temos a alegrar, viva São João.


Se São João soubesse, que hoje era seu dia, descia do céu à Terra pra ver nossa alegria, viva São João.


João batiza Cristo, Cristo batiza João, ambos foram batizados no rio Jordão, viva São João”.


Quem nunca cantarolou “pula fogueira ioiô, pula fogueira iaía”, “Cai, cai balão”, ou “Chegou a hora da fogueira da noite de São João”.


E as crianças recitando e cantando:


“Capelinha de melão, é de São João!


É de cravo,


É de rosa,


É de manjericão...


Viva São João! ”


O povo cantarolava as músicas acompanhado de rojões e vivas ao santo.


Era uma festa contagiante e esperada por todos para a sua celebração, que ia até o mês de agosto, e era chamada de festa de São João atrasado.


Com a violenta urbanização de Cuiabá, os casarões com quintais das fogueiras foram substituídos pelos espigões de concreto.


As chácaras das periferias, onde São João era muito comemorado, hoje são bairros populosos da nova Cuiabá.


As histórias desta festa são tantas, que não poderia esquecer da dona Maria de Umbelina, dona do Bar Colorido.


Este lugar de diversão e prostituição frequentava pela elite masculina, ficava atrás da igreja do Senhor dos Passos, atravessando a ponte do córrego da Prainha.


Dona Maria realizava todos os anos a festa de São João.


Enquanto esperava a saída do santo para o banho na Prainha, o baile no salão animava os fregueses.


Na hora da procissão um famoso médico escondeu o santo.


Ela mandou o baile parar e gritou: “se quisessem fazer putaria, que fossem para o Clube Feminino (o da elite). Sua casa era de respeito”!


O santo apareceu e a procissão saiu do Bar Colorido, levado pelo festeiro até o córrego da Prainha.


E Viva São João!


Gabriel Novis Neves

24-06-2022











segunda-feira, 27 de junho de 2022

MINHAS FONTES


O meu irmão caçula não desiste de insistir comigo para saber quais são as fontes que me fornecem tantas informações que converto em crônicas.


Respondi que conversando com ele e ajudado pela minha memória já tive assunto para escrever algumas, que com certeza ele leu e colocou a carapuça.


Dos mais despretensiosos bate-papos quantos assuntos já me abasteceram de material para escrever, assim como coisas simples que me chegam.


Agora conto com a inocência dos meus bisnetos que não me deixam sem sugestões para atender diariamente ao meu blog.


A vida de um velho, mesmo solitário e sem sair de casa para bisbilhotar em rodinhas de cafeterias e restaurantes, engana muita gente quando o assunto é novidades ou simples fofocas.


Elas chegam pelas mídias sociais com uma profusão que me obriga a deletar muitas delas, antes mesmo de lê-las.


Eu procuro sempre escrever fazendo com que as palavras saiam do fundo do meu coração, e isto fica mais evidente quando falo das conversas com os meus bisnetos.


São coisas novas para a maioria dos meus leitores, que pertencem ainda à categoria de mimar filhos e netos.


Conversando com amigos me lembrei da primeira mulher cuiabana formada em odontologia na USP aos 21 anos de idade, que no seu retorno montou um “Gabinete”, nome antigo de consultório dentário, na rua 13 de Junho.


Mais tarde, a Dra. Maria Barata abandonou a profissão para ajudar seu marido no Armazém Bandeirantes, que ficava na rua dos Porcos nas proximidades da Praça Ipiranga, é uma crônica.


E quando alguém bem mais jovem me pergunta se me lembro dos circos da minha infância?


Após um mergulho no passado recolho, além dos nomes dos circos que se apresentavam em Cuiabá, dos seus principais artistas e como chegava até lá para assistir aos espetáculos, com os meus oito anos de idade.


E as cutucadas para contar histórias das festas juninas que não desapareceram, mas foram descaracterizadas, sem a procissão para lavar a imagem do santo no córrego da Prainha, onde poucos conhecem a letra e música do hino do São João Cuiabano.


Essas são as minhas fontes, podendo também passar pela história da compra de medicamentos pelo telefone e a incompreensão de certos burocratas desumanos que povoam os nossos dias.


Gabriel Novis Neves

25-06-2022











domingo, 26 de junho de 2022

OS PITORESCOS XXXI


Bem antigamente, todo mundo escrevia footbball, crack, goal, back e penalty. Hoje, é futebol, craque, gol, beque e pênalti.


Na Cuiabá antiga, chamava-se de “besta” aquelas pessoas que se julgavam superiores as outras. Hoje, tem o apelido de pessoa “snob”, ou que gosta de “esnobar” os seus semelhantes.


Bem antigamente falar “azul”, era como se estivéssemos falando o árabe. Hoje, “azul” é quando tudo vai bem. “Azul” também é chamado o céu de Brigadeiro.


Na Cuiabá antiga, quem pilotava avião era chamado de “aviador”. Hoje, o chique é ser “Brigadeiro” do avião do Presidente. Quando reformados muitos Brigadeiros vão pilotar os super- jatinhos dos ricaços de Mato Grosso.


Bem antigamente, falávamos francês quando íamos ao balé usando um paletó marrom. Também quando fazíamos um croqui ou maquete com vidro fumê.


Na Cuiabá antiga, comíamos uma omelete ou pedíamos na boate um champanhe ao garçom.


Bem antigamente, falávamos o francês quando sentávamos no bidê, viajávamos na maionese, ou quando um sutiã (sob o edredom) provocava uma gafe – ou um frisson.


Na Cuiabá antiga, falávamos todas essas palavras em francês, ensinado pela professora Dunga Rodrigues.


Bem antigamente, pedir um açaí, um suco de abacaxi ou de pitanga era falar tupi. Quando vemos um urubu ou um sabiá, ficamos de tocaia, votamos no Tiririca, botamos o braço na tipoia, armamos um sururu, comemos mandioca (ou aipim). Regamos uma samambaia, deixamos a peteca cair. Hoje, tudo isso é ensinado como português.


Na Cuiabá antiga, comemos moqueca capixaba, tocamos cuíca, cantamos a Garota de Ipanema, sem saber que isso é do linguajar tupi.


Bem antigamente, os “navios negreiros” trouxeram para a Bahia a capoeira, o acarajé, o dendê, o vatapá, o axé, o afoxé, os orixás, o agogô, os atabaques, os abadás, os babalorixás, as mandingas, os balangandãs.


Na Cuiabá antiga, as palavras estrangeiras sempre entraram em nosso vocabulário sem pedir licença, feito uma “tsunami”. Muitas vezes nos pegando de surpresa, como numa “blitz”.


Bem antigamente, todo mundo achava difícil falar grego, mas diziam sou ateu, apoio a eutanásia, gosto de metáforas, adoro bibliotecas, detesto conversar ao telefone, já passei por várias cirurgias.


Na Cuiabá antiga, falar o grego era tarefa fácil para os professores Cesário Neto e Benedito Figueiredo.


Bem antigamente, existiam muitos italianos no Brasil e eles trouxeram a sua culinária, de nomes insubstituíveis como a pizza, a lasanha, o risoto. Hoje, essas iguarias são conhecidas pelos nomes contrabandeados da Itália.


Na Cuiabá antiga, quem entregava uma encomenda fazia uma entrega. Hoje, fala-se em “delivere”.


Bem antigamente, sair pra night de bike era sair pra noite de bicicleta. Hoje, ninguém mais sai à noite por falta de segurança.


Na Cuiabá antiga, o café deixou de ser apenas o grão e a bebida, para ser também o lugar onde é bebido.


Bem antigamente, os japoneses chamavam de “kapitan”, o capitão, “pan” de pão, “shabon” de sabão.


Na Cuiabá antiga, o americano chamava mosquito de “mosquito” e piranha de “piranha”. Hoje, continua assim.


Este “Pitorescos” especial é para comemorar o 5 de maio, “Dia da Língua Portuguesa”, cada vez mais inculta e nem por isso menos bela.


“Uma língua viva, vibrante, maleável, promíscua – vai de boca em boca, bebendo de todas as fontes, lambendo o que vê pela frente”.


Este trabalho foi realizado baseado em trabalho de Eduardo Afonso, sobre A Língua Portuguesa.


“Os Pitorescos” também é cultura!


Gabriel Novis Neves

13-05-2022





sexta-feira, 24 de junho de 2022

FELICIDADE SEM FIM


Há um mês não tinha contato com os meus bisnetos de cinco, quatro e um ano de idade e, que moram na minha cidade.


Tenho um que nasceu e vive em Portugal, tão distante e longe se mim, que acompanho seu dia a dia, com fotos e vídeos.


Está um homenzinho que todos os anos me visita para matar as saudades.


Tanta diferença notei neste curto intervalo, na reunião de família no almoço deste sábado.


E eles por sua vez tudo fizeram para me mostrarem os seus novos conhecimentos.


A mais velha pegou folhas da minha impressora, escreveu o seu nome e me presenteou na mesa do almoço.


Ainda me recomendou para colocar num quadro para pregar na parede.


Isso porque o seu primeiro desenho feito aqui em casa, eu coloquei em um quadro com moldura e vidro e, ela deve ter gostado.


A segunda de quatro anos seguiu a sua prima mais velha, e me deu de presente um lindo desenho de uma árvore, que só o amor de um biso entende.


O menor de apenas um ano, nos brindou saboreando uma gostosa manga de sobremesa.


Tudo isso acompanhado de muita alegria onde os pequerruchos queriam mostrar ao biso, toda a sua imensa satisfação em estar aqui comigo.


Nem um pingo de choro ouvi deles durante a sua permanência aqui, ou desentendimento tão comum entre crianças saudáveis.


Meus bisnetos até parecem com crianças do tempo em que eu era criança, quando criança respeitava os seus pais.


Como é bom momentos como este que vivi na hora do almoço.


Fico presenciando essa cena das crianças, sabendo que tudo passa tão rápido e logo serão adultos.


Nessa fase tem necessidade de tudo que as crianças não precisam.


Precisam de dinheiro, poder e amor, que as crianças desconhecem por não sentirem necessidade desses bens materiais e imateriais.


De dinheiro e poder que desconhecem, e amor é o que não os faltam.


Felicidade sem fim, são esses momentos mágicos que só as crianças nos propiciam.


O destino das pessoas é traçado logo nos primeiros anos de vida.


Crianças felizes serão adultos preparados para enfrentarem as armadilhas que a vida nos premia.


Gostaria que daqui para frente nesses quinze anos que tenho de vida, esses encontros de felicidade sem fim, fossem eternos.


Gabriel Novis Neves

18-06-2022








MAIS HISTÓRIAS DE CUIABÁ


Conta-nos Estevão de Mendonça que por volta de 1882 o major de engenharia Américo Rodrigues de Vasconcelos, tendo construído o Jardim Alencastro, introduziu ali um exemplar alienígena “Ravenala” de Madagascar e as primeiras mudas de flamboyantes, que dispostas em duas filas paralelas, vieram depois a formar uma abóboda sobre os passeios laterais.


Mais tarde, foram cortadas por ordem do desembargador Alfredo José Vieira, quando intendente municipal (prefeito).


Por empenho do presidente (governador) José Maria de Alencastro, inicia-se a construção do Laboratório Pirotécnico, sob a direção do major Américo de Vasconcelos, engenheiro cuja capacidade o “Jardim Alencastro” já lhe atestava.


A instalação completa do Laboratório não chegou a efetivar-se; as obras foram interrompidas, e o edifício passou a ter ocupação militar.


Foi a sede da Força Pública do Estado e, ficava no bairro do Porto, em frente à Igreja de São Gonçalo.


Pouco antes da Proclamação da República (1889), o presidente José Maria de Alencastro solicitou ao engenheiro militar Floriano Peixoto, que enviasse à Cuiabá, alguém capaz de construir uma praça no centro da cidade e, um laboratório de armas de guerra.


Este indicou seu colega da turma de cadetes da arma de engenharia, o gaúcho de Uruguaiana, Américo Rodrigues de Vasconcelos, servindo em seu gabinete no Rio de Janeiro.


Este era casado com Leonarda de Vasconcelos, uruguaia de nascimento.


O casal possuía apenas uma filha, nascida no Rio de Janeiro, Eugênia de Vasconcelos.


Chegou à Cuiabá, com mulher e filha cumprindo ordens.


Construiu a praça, que recebeu o nome de “Jardim Alencastro” em homenagem ao presidente, ao lado da igreja Matriz, marcando a cidade como capital da Província de Mato Grosso.


Também iniciou a construção do laboratório Pirotécnico.


Sua filha adolescente logo despertou o amor no jovem cuiabano Gabriel de Souza Neves, vindo a contrair casamento.


Seus pais retornaram ao Rio de Janeiro em 1889, onde viveram até a morte.


O casal Biézinho, apelido do meu avô, e Eugênia tiveram muitos filhos homens e mulheres.


Todos receberam e, eram tratados pelos apelidos, sendo que Otávio, era chamado de “Mocinho” e seu “Zé”.


Eu sou filho do “Bugre” e aos 27 anos ganhou o sobrenome, passando a ser chamado de Bugre do Bar, nome de Olyntho Neves.


Os filhos mais velhos do casal tiveram condições financeiras de estudar no Rio de Janeiro se tornarem bacharéis em Direito, e se tornaram desembargadores.


Outro agrônomo e, o caçula bacharel e Direito, funcionário da alfândega do Rio.


Coincidências: meu bisavô materno era baiano, médico da Marinha, e veio para Cuiabá por causa da Guerra do Paraguai.


Filho de baiana e judeu, aqui se casou com uma cuiabana, deixando muitas filhas todas iniciando o seu nome com a letra C, e homens com nomes em A.


Já o meu bisavô paterno, era gaúcho de Uruguaiana, engenheiro militar, do Exército Brasileiro.


Veio para Cuiabá, para construir o Jardim Alencastro e, sua única filha carioca de mãe Uruguaia, aqui se casou, com um cuiabano.


As Forças Armadas, foram fundamentais para construção da Família Novis Neves.


Gabriel Novis Neves

20-06-2022


Fotografias do acervo do Sr. Francisco das Chagas Rocha:





 21° Batalhão PMMT
Praça da República, Cuiabá 




quarta-feira, 22 de junho de 2022

FONTE INESGOTÁVEL


Encontrei uma preciosidade: fotos antigas de Cuiabá, pertencentes ao acervo do senhor Francisco das Chagas Rocha.


O editor do blog do Bar do Bugre, Dr.João Nunes da Cunha Neto, foi o seu descobridor, posteriormente aplaudido pelos professores Amidem e Fernando Tadeu.


Os leitores das crônicas da Cuiabá antiga apreciam as fotos antigas e desconhecidas da maioria.


Fico satisfeito em poder rever personagens históricos que conheci, como o mestre Ignácio da Banda de Música do Baú, e lugares onde brincava e que não existem mais como o Quintal Grande, hoje avenida Mato Grosso.


As ilustrações com fotos desse acervo fotográfico fazem as histórias contadas serem prazerosas ao leitor.


Perdemos muitos álbuns familiares e a última grande perda foi de parte do acervo de Lázaro Papazian, o armênio que veio para Cuiabá fazer história como Fotógrafo Cháu.


Quanto mais aniversários ganho, mais fico interessado em conhecer as minhas origens, e agora, encontrei essa fonte inesgotável do colecionador Francisco, para demonstrar por exemplo, como era exercida a medicina em Cuiabá em 1873!


Na página de anúncios do jornal da época li esta matéria que julgo importante para a história da nossa medicina:


“Vaccinação. – Foram vacinadas na quinta-feira pelo dr. Augusto Novis em sua casa, dezesseis crianças de 3 mezes à 2 annos de idade e quatro menores do Arsenal de guerra”.


Augusto Novis era um baiano de Salvador, filho de judeu e baiana.


Formou-se em medicina e fez concurso para a Marinha Imperial sendo aprovado como cirurgião-mor da Armada.


O Brasil estava em plena Guerra do Paraguai (1864-1870).


Como tenente médico foi designado pelo Imperador do Brasil (Pedro II) para Cuiabá e partir com as tropas de Leverger para expulsar os paraguaios da cidade de Corumbá.


“.... Jamais sairá da minha memória a terrível noite de 23 de junho de 1867, quando desembarcamos em Corumbá. Havia sinal de destruição por toda a parte, cadáveres apodrecendo nas sarjetas, o mal cheiro insuportável, pessoas famintas e doentes, a promiscuidade contribuía para disseminar a peste da bexiga que já se havia manifestado. ”


O Dr. Augusto Novis retornou à Cuiabá no dia 18 de julho de 1867, desolado com o quadro que presenciara em Corumbá.


Aqui chegando, soube que o emissário que veio trazer a notícia da grande vitória, trouxe também a peste.


A população de Cuiabá foi violentamente castigada, reduzindo-se pela metade.


Uma carroça percorria as ruas apanhando os corpos em domicílio e transportava-os, como carga, para o cemitério de Nossa Senhora do Carmo, no Cai-Cai, para esse fim inaugurado a 02 de agosto de 1867.


O Dr. Augusto Novis, devido a peste da varíola que assolava Cuiabá, não retornou à Salvado e foi reformado por problemas de saúde como Cirurgião Médico e Capitão de Fragata em 27-02-1886.


Ficou atendendo seus clientes em casa, na sua residência e na Santa Casa da Misericórdia, onde ia montado no seu cavalo, de preferência o Lorde.


Casado com Maria da Glória Novis, faleceu em Cuiabá em 08 de julho de 1908, deixando enorme descendência, sendo que está na quinta geração de médicos cuiabanos exercendo a profissão em Cuiabá, sendo o mais novo, a minha neta.


“Quando o futuro é incerto, o melhor é voltar ao passado” não se aplica ao historiador.


Gabriel Novis Neves

20-06-2022


Fotografias do acervo do Sr. Francisco das Chagas Rocha:

















Sr. Francisco das Chagas Rocha