sexta-feira, 3 de junho de 2022

PASSANDO DO PONTO


O frio que fez em Cuiabá na segunda metade deste mês de maio passou do ponto.


Não me lembro de um período tão prolongado de dias de baixas temperaturas em pleno outono.


Gosto de temperaturas amenas, que me fazem bem à saúde.


Mas este ano a climatologia errou feio na “dosagem” do nosso outono, obrigando a retirada das roupas de inverno guardadas no armário por longo tempo para nós.


Como sempre acontece, isso prejudica mais as crianças e velhos.


E em época de banho morno, nem é bom pensar no banho com água natural do ano todo na nossa cidade quente.


A Cachoeira do Véu da Noiva parece tão distante de nós nestes dias de frio com nevoeiros, que ficamos a esperar para sentirmos a pancada das águas em nossas costas nos acalmando.


Nasci em um mês frio, daí a minha sensibilidade com o inverno, mesmo que seja curto e rápido.


A minha família sempre comemorou o meu aniversário, sendo a maioria das vezes em casa com janelas fechadas, proibindo a entrada de ventos frios.


Minha filha casou-se em julho, e fazia um frio danado, que abreviou os cumprimentos no pátio aberto do Colégio dos Padres.


O frio em Cuiabá serve também de aviso que as festas juninas estão chegando e terminando com a de São Benedito.


O frio é um bom parâmetro para avaliarmos o nosso peso corporal.


Como esses agasalhos são pouco utilizados aqui, eles estão sempre novos, e só o perdemos pelo aumento da circunferência abdominal.


Guardo com muito carinho um agasalho de mangas compridas feito de tricô com lã branca para fazer uso dele no consultório, todo elaborado pela minha mãe.


Era um quadro inesquecível!


Ela com aquele rolo de lã jogado no colo, sentada em uma cadeira de balanço, com a linha passando pelas suas costas enfiadas em duas agulhas de fazer tricô.


Totalmente concentrada no trabalho, e baixinho contando o suficiente para ser ouvido e nunca esquecido - dois pontos, um junto e um nó.


Já o casaco estava pronto.


O presente que ela me dava, além de utilitário, tinha uma grande carga emocional, que quanto mais tempo passa maior o seu valor.


Neste inverno de outono o meu cunhado veio me visitar.


Ao me cumprimentar notei que vestia um lindo blaiser marrom, que eu havia ganhado de presente da minha mulher há quase cinquenta anos.


Logo um filme completo passou pela minha cabeça do dia que ganhei esse presente!


As roupas de frio guardam histórias, diferente das outras que acabam com o uso, saem de moda ou não são mais compatíveis com o manequim atualizado.


Que mais ondas de frio aconteçam neste meu outono da vida, me trazendo belas recordações.


Gabriel Novis Neves

22-05-2022





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