domingo, 5 de junho de 2022

O PITORESCO XXVIII


Bem antigamente, o futebol praticado em Cuiabá era por clubes amadores. Os jogadores, na sua maioria praticava o esporte por prazer e amor pela camisa. Hoje, são todos profissionais, muito bem remunerados. Desconhecem essa história de amor à camisa dos clubes onde são funcionários.


Na Cuiabá antiga, o diretor de futebol do Mixto Esporte Clube era o Lisboa, que morava na rua da Fé, nos fundos do portão da minha casa da rua do Campo. Após, os jogos do seu time do coração, levava o uniforme dos jogadores e lavava e passava em sua casa.


Bem antigamente, presidente do clube de futebol, técnico de futebol, médico, massagista, roupeiro eram torcedores do clube. Hoje, são cargos remunerados.


Na Cuiabá antiga, o economista, filho de Poxoréo, Édson de Souza Miranda, do bairro Araés, criou um time de futebol chamado São Cristóvão. Sem o meu consentimento me designou presidente do clube. Na segunda-feira pós estreia do São Cristóvão no domingo, pelo campeonato cuiabano de futebol, meu consultório de ginecologista estava lotado dos jogadores do clube, para minha avaliação. Só então descobri que eu era presidente do time, cuja renúncia foi imediata (1968).


Bem antigamente era assim que as coisas funcionavam. Tudo na base do amor. Foi assim que dona Zulmira Canavarros compôs o hino do Mixto. Os irmãos Carvalhos se dedicaram ao Dom Bosco. Garcia Neto e seu sogro, seo Francelino, ao Americano de Hermínio pastel. Ao Paulistano de Armando Candia. Aos Bancários do Botú, o Atlético da elite cuiabana comandado pela família Matoso. O Operário do Rubens dos Santos. Hoje, os clubes praticam o futebol profissional e pertencem ao pessoal do agronegócio. Não tem torcida raiz, do coração. No máximo torcedores bairristas.


Na Cuiabá antiga, assisti ao primeiro jogo de um time de Cuiabá com um profissional. Foi o Madureira do Rio de Janeiro em um domingo pela manhã no campo do Colégio Estadual, contra o Americano. Ganhou de goleada. Achei que o time do Rio jogava uma enormidade. Hoje, o Madureira é o passado e há muito não pertence à elite do futebol brasileiro, ocupado por um time de Cuiabá.


Bem antigamente, meu pai me dizia que gostava de assistir as touradas, onde hoje está construída a Câmara de Vereadores e o Centro Geodésico da América do Sul. Hoje, só se assiste touradas nos campos de futebol, tudo registrado pelo VAR.


Na Cuiabá antiga, tínhamos cinemas chiquíssimos como o maravilhoso Tropical na rua do Campo. Outros como o Cine Bandeirantes, na rua de Cima e o Cine Theatro Cuiabá, o único ainda sendo utilizado hoje por multimídias. Agora, cinemas só nos shoppings.


Bem antigamente, os “homens” saiam de casa para jogar xadrez na casa de amigos. A casa do meu avô Alberto Novis era um verdadeiro cassino, com vários tabuleiros com peças do jogo do xadrez, distribuídos pela enorme sala da sua casa na rua Voluntários da Pátria, pouco abaixo da rua de Cima e antes da Igreja do Senhor dos Passos. Meu avô era viúvo, morava sozinho e era surdo, predicados importantes para montar uma casa de jogo, onde as discussões em alta voz eram frequentes. Foi lá que aprendi a jogar xadrez com o meu avô. Meu 1°parceiro foi o médico aposentado Jonas Corrêa da Costa.


Na Cuiabá antiga, a única mulher que conhecia e jogava xadrez, foi a minha mãe Irene Novis Neves. Possuía em casa, um jogo de xadrez e era a minha parceira. Hoje, não sei se praticam esse jogo.


Bem antigamente, joguei xadrez com a elite dos jogadores de xadrez. Dr. Lima Avelino, amazonense, bacharel em Direito, pai de dona Marieth, casada com Ênio Vieira, tio de dona Maria Lygia casada com Garcia Neto. Dr. Paraná, advogado, pai de Dante de Oliveira. Dr. Jonas Corrêa da Costa, médico, pai de Milton Côrrea da Costa, pai de dois médicos um deles (Joninha) outro Mário Márcio. Tinha uma filha professora da Escola Técnica Federal, chamada de Inês casada com o advogado Hilton Martiniano de Araújo e outra Isa. Dr. Porciúncula, médico, casado com cuiabana e logo se mudou para o Rio de Janeiro. Desembargador Hélio de Vasconcelos, médico Dr. Caio Corrêa, Luís Lotufo engenheiro civil, foi o meu último parceiro do jogo de xadrez.


Na Cuiabá antiga, recebi uma visita de quem não conhecia. Ele soube que na rua do Campo, próximo à casa da sua namorada, que estava hospedada na Casa da Bem Bem, havia um guri que jogava xadrez. Fomos jogar xadrez. Ele não tinha me avisado que era paulista e campeão de xadrez. Foi uma derrota após a outra. Ele tinha conhecimentos teóricos e eu só prática de mexer com as peças. Ficou na minha memória de fatos inesquecíveis. De todos os citados jogadores de xadrez, só eu e o Luís Lotufo continuamos vivos, com a graça de Deus, sem jogar xadrez.


Gabriel Novis Neves

22-04-2022




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.