domingo, 26 de junho de 2022

OS PITORESCOS XXXI


Bem antigamente, todo mundo escrevia footbball, crack, goal, back e penalty. Hoje, é futebol, craque, gol, beque e pênalti.


Na Cuiabá antiga, chamava-se de “besta” aquelas pessoas que se julgavam superiores as outras. Hoje, tem o apelido de pessoa “snob”, ou que gosta de “esnobar” os seus semelhantes.


Bem antigamente falar “azul”, era como se estivéssemos falando o árabe. Hoje, “azul” é quando tudo vai bem. “Azul” também é chamado o céu de Brigadeiro.


Na Cuiabá antiga, quem pilotava avião era chamado de “aviador”. Hoje, o chique é ser “Brigadeiro” do avião do Presidente. Quando reformados muitos Brigadeiros vão pilotar os super- jatinhos dos ricaços de Mato Grosso.


Bem antigamente, falávamos francês quando íamos ao balé usando um paletó marrom. Também quando fazíamos um croqui ou maquete com vidro fumê.


Na Cuiabá antiga, comíamos uma omelete ou pedíamos na boate um champanhe ao garçom.


Bem antigamente, falávamos o francês quando sentávamos no bidê, viajávamos na maionese, ou quando um sutiã (sob o edredom) provocava uma gafe – ou um frisson.


Na Cuiabá antiga, falávamos todas essas palavras em francês, ensinado pela professora Dunga Rodrigues.


Bem antigamente, pedir um açaí, um suco de abacaxi ou de pitanga era falar tupi. Quando vemos um urubu ou um sabiá, ficamos de tocaia, votamos no Tiririca, botamos o braço na tipoia, armamos um sururu, comemos mandioca (ou aipim). Regamos uma samambaia, deixamos a peteca cair. Hoje, tudo isso é ensinado como português.


Na Cuiabá antiga, comemos moqueca capixaba, tocamos cuíca, cantamos a Garota de Ipanema, sem saber que isso é do linguajar tupi.


Bem antigamente, os “navios negreiros” trouxeram para a Bahia a capoeira, o acarajé, o dendê, o vatapá, o axé, o afoxé, os orixás, o agogô, os atabaques, os abadás, os babalorixás, as mandingas, os balangandãs.


Na Cuiabá antiga, as palavras estrangeiras sempre entraram em nosso vocabulário sem pedir licença, feito uma “tsunami”. Muitas vezes nos pegando de surpresa, como numa “blitz”.


Bem antigamente, todo mundo achava difícil falar grego, mas diziam sou ateu, apoio a eutanásia, gosto de metáforas, adoro bibliotecas, detesto conversar ao telefone, já passei por várias cirurgias.


Na Cuiabá antiga, falar o grego era tarefa fácil para os professores Cesário Neto e Benedito Figueiredo.


Bem antigamente, existiam muitos italianos no Brasil e eles trouxeram a sua culinária, de nomes insubstituíveis como a pizza, a lasanha, o risoto. Hoje, essas iguarias são conhecidas pelos nomes contrabandeados da Itália.


Na Cuiabá antiga, quem entregava uma encomenda fazia uma entrega. Hoje, fala-se em “delivere”.


Bem antigamente, sair pra night de bike era sair pra noite de bicicleta. Hoje, ninguém mais sai à noite por falta de segurança.


Na Cuiabá antiga, o café deixou de ser apenas o grão e a bebida, para ser também o lugar onde é bebido.


Bem antigamente, os japoneses chamavam de “kapitan”, o capitão, “pan” de pão, “shabon” de sabão.


Na Cuiabá antiga, o americano chamava mosquito de “mosquito” e piranha de “piranha”. Hoje, continua assim.


Este “Pitorescos” especial é para comemorar o 5 de maio, “Dia da Língua Portuguesa”, cada vez mais inculta e nem por isso menos bela.


“Uma língua viva, vibrante, maleável, promíscua – vai de boca em boca, bebendo de todas as fontes, lambendo o que vê pela frente”.


Este trabalho foi realizado baseado em trabalho de Eduardo Afonso, sobre A Língua Portuguesa.


“Os Pitorescos” também é cultura!


Gabriel Novis Neves

13-05-2022





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