terça-feira, 21 de junho de 2022

A HISTÓRIA DO HISTORIADOR


Sempre tive um encantamento com aqueles que faziam histórias e com os narradores de histórias.


Cresci entre o Instituo Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a casa dos historiadores Estevão e Rubens de Mendonça.


Um pouco mais adiante estava a residência dos governadores, que faziam a nossa história recente.


Vi Dom Aquino Correa (1885-1956) que fez história participando de solenidades no Instituto Histórico.


Nos fundos da rua da minha casa conversava com Júlio Muller (1895-1977) que transformou a cidade de Cuiabá, ele na janela do seu sobrado.


Na aula de Embriologia, o professor Bruno Alípio Lobo Filho, pedia silêncio aos alunos.


“Todos vocês que foram aprovados no vestibular, um dia serão médicos, só deixarão de ser se forem vítimas de um acidente biológico”.


Vamos estudar, pois este pais depende de vocês.


Um dia comandarão esta nação e precisamos de gente preparada, nas mais diferentes áreas do conhecimento.


As eleições presidenciais foram disputadas no ano anterior entre outros candidatos por um ex-aluno da nossa universidade (Adhemar de Barros), e outro de Belo Horizonte (Juscelino Kubitschek de Oliveira).


Profundo silêncio ocupou o imenso auditório do nosso curso.


Antes de sair de Cuiabá para cursar um curso superior, ouvi um seriado na rádio Tamoio do Rio de Janeiro, onde o célebre e culto radialista Almirante, contava a história de Noel Rosa.


Noel nasceu em Vila Isabel (Rio), filho de pais de classe média e cursou os primeiros anos de medicina na mesma faculdade minha, na Praia Vermelha.


Abandonou os estudos pela boêmia vindo a se tornar um dos maiores compositores da música popular brasileira na primeira metade do século vinte.


Faleceu aos 26 anos de idade, é lembrado até os dias de hoje, e fez história contado por muitos.


E eu “humilhado” não tinha histórias a contar, muito menos feito histórias.


Para mim era um terror quando em uma roda alguém dizia – no meu tempo!


Fui educado entre idosos e ouvi muitas histórias.


Certa ocasião, o meu avô Dr. Alberto Novis (1873-1962), leu uma página dos seus inúmeros diários onde anotava os fatos mais importantes do dia.


A primeira trepanação do osso mastoideo para drenar uma séria coleção purulenta que levaria o paciente à morte, foi realizado por ele na Santa Casa da Misericórdia!


Estava diante de um homem que fez e contava história, que são as suas memórias.


Meu professor Estevão de Mendonça, que morreu em 1949, com oitenta anos e seu filho Rubens de Mendonça falecido em 1983, aprimoraram meus conhecimentos pela leitura dos seus livros publicados, e contando a não escrita que é a história oral.


Aos oitenta e sete anos, próximo aos oitenta e nove do meu avô, tenho escrito muitas histórias que são as minhas memórias, de uma longa existência vivida intensamente.


Me tornei um historiador pelo tempo, tendo participado de muitas histórias contadas por mim.


Gabriel Novis Neves

07-06-2022


Fotografias do acervo do Sr. Francisco das Chagas Rocha:








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