quarta-feira, 22 de junho de 2022

FONTE INESGOTÁVEL


Encontrei uma preciosidade: fotos antigas de Cuiabá, pertencentes ao acervo do senhor Francisco das Chagas Rocha.


O editor do blog do Bar do Bugre, Dr.João Nunes da Cunha Neto, foi o seu descobridor, posteriormente aplaudido pelos professores Amidem e Fernando Tadeu.


Os leitores das crônicas da Cuiabá antiga apreciam as fotos antigas e desconhecidas da maioria.


Fico satisfeito em poder rever personagens históricos que conheci, como o mestre Ignácio da Banda de Música do Baú, e lugares onde brincava e que não existem mais como o Quintal Grande, hoje avenida Mato Grosso.


As ilustrações com fotos desse acervo fotográfico fazem as histórias contadas serem prazerosas ao leitor.


Perdemos muitos álbuns familiares e a última grande perda foi de parte do acervo de Lázaro Papazian, o armênio que veio para Cuiabá fazer história como Fotógrafo Cháu.


Quanto mais aniversários ganho, mais fico interessado em conhecer as minhas origens, e agora, encontrei essa fonte inesgotável do colecionador Francisco, para demonstrar por exemplo, como era exercida a medicina em Cuiabá em 1873!


Na página de anúncios do jornal da época li esta matéria que julgo importante para a história da nossa medicina:


“Vaccinação. – Foram vacinadas na quinta-feira pelo dr. Augusto Novis em sua casa, dezesseis crianças de 3 mezes à 2 annos de idade e quatro menores do Arsenal de guerra”.


Augusto Novis era um baiano de Salvador, filho de judeu e baiana.


Formou-se em medicina e fez concurso para a Marinha Imperial sendo aprovado como cirurgião-mor da Armada.


O Brasil estava em plena Guerra do Paraguai (1864-1870).


Como tenente médico foi designado pelo Imperador do Brasil (Pedro II) para Cuiabá e partir com as tropas de Leverger para expulsar os paraguaios da cidade de Corumbá.


“.... Jamais sairá da minha memória a terrível noite de 23 de junho de 1867, quando desembarcamos em Corumbá. Havia sinal de destruição por toda a parte, cadáveres apodrecendo nas sarjetas, o mal cheiro insuportável, pessoas famintas e doentes, a promiscuidade contribuía para disseminar a peste da bexiga que já se havia manifestado. ”


O Dr. Augusto Novis retornou à Cuiabá no dia 18 de julho de 1867, desolado com o quadro que presenciara em Corumbá.


Aqui chegando, soube que o emissário que veio trazer a notícia da grande vitória, trouxe também a peste.


A população de Cuiabá foi violentamente castigada, reduzindo-se pela metade.


Uma carroça percorria as ruas apanhando os corpos em domicílio e transportava-os, como carga, para o cemitério de Nossa Senhora do Carmo, no Cai-Cai, para esse fim inaugurado a 02 de agosto de 1867.


O Dr. Augusto Novis, devido a peste da varíola que assolava Cuiabá, não retornou à Salvado e foi reformado por problemas de saúde como Cirurgião Médico e Capitão de Fragata em 27-02-1886.


Ficou atendendo seus clientes em casa, na sua residência e na Santa Casa da Misericórdia, onde ia montado no seu cavalo, de preferência o Lorde.


Casado com Maria da Glória Novis, faleceu em Cuiabá em 08 de julho de 1908, deixando enorme descendência, sendo que está na quinta geração de médicos cuiabanos exercendo a profissão em Cuiabá, sendo o mais novo, a minha neta.


“Quando o futuro é incerto, o melhor é voltar ao passado” não se aplica ao historiador.


Gabriel Novis Neves

20-06-2022


Fotografias do acervo do Sr. Francisco das Chagas Rocha:

















Sr. Francisco das Chagas Rocha 



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