segunda-feira, 13 de junho de 2022

A PELERINE


Durante o meu período de Reitor da UFMT era obrigado a usar a pelerine branca por ocasião da colação de grau dos formandos.


O representante de cada turma era escolhido para vir até a mesa onde se encontrava o reitor presidindo a mesa dos trabalhos da solenidade.


Ele se levantava usando a pelerine branca e aproximava o capelo da cabeça do aluno e, de acordo com as leis do país, lhe concedia o título de graduado nas mais diversas áreas do conhecimento.


O capelo simboliza o rito de passagem da formatura, quando os alunos se tornam oficialmente profissionais.


Ao chegar para a primeira colação de grau que iria presidir na UFMT, o vice-reitor acadêmico Benedito Pedro Dorileo havia preparado todo o protocolo, e escolhido um excelente chefe de cerimonial, professor Lídio Modesto, que só deixou o cargo ao se aposentar.


Na hora da cerimônia ele deixava sobre a minha mesa, uma lista de procedimentos do ato acadêmico.


Nunca li o impecável ritual e ainda necessitava de ajuda dos vice-reitores (Dorileo e Atílio), bem mais competentes que eu.


A minha formatura no Rio foi realizada no Theatro Municipal, com a presença na mesa principal do reitor Pedro Calmon, ministro da educação Clóvis Salgado, diretor da faculdade de medicina, Arnaldo de Moraes, patronos, paraninfos, autoridades civis, militares e religiosas.


Não me lembro de ter ensaiado para esse ato, nem da existência de chefe de cerimonial.


Entramos pela porta lateral do teatro, fomos procurando nossos lugares na bancada construída nos fundos da boca do palco com becas pretas e faixas verdes na cintura.


A longa cortina de veludo cor de vinho nos separava das cadeiras e camarotes superlotados com familiares e amigos.


A solenidade se iniciava com a mesa composta e abertura das cortinas, que eram acompanhadas com aplausos do público.


Foi difícil identificar onde estava o meu pai com familiares e amigos.


Vinte e cinco anos depois de deixar a reitoria, fui eleito presidente-fundador da Academia de Medicina de Mato Grosso.


Novamente voltei a usar a pelerine branca, sempre sendo orientado pelo chefe do cerimonial, que há quinze anos exerce esse cargo.


Parece que essas instituições centenárias existem para guardarem o ritual das tradições do início do profissionalismo e sua constante atualização.


Seus professores e médicos são pessimamente remunerados, chegando pobres na velhice, sofrendo humilhações quando suas despesas com a saúde aumentam e os salários não.


Quando chega a conta da farmácia lembramos da pelerine e do capelo.


Gabriel Novis Neves

08-06-2022









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