sábado, 31 de julho de 2021

A MEDICINA ESCOLHEU MINHA NOIVA


Bastou escrever “Mudança de Destino”, para receber sugestões de escrever sobre o consequente fato mais relevante da minha vida pessoal, na formação da família. Embora não me considere melhor personagem de mim mesmo, achei melhor cumprir a pauta dos meus amigos leitores com a esperança de os ver com corações mais aquecidos nestes dias de inverno em Cuiabá.


Até hoje é estranho entender como um cuiabano pobre conseguiu estudar medicina no Rio de Janeiro e, após namoro de quatro anos, ter casado com uma argentina, nascida em Buenos Aires, filha de diplomata argentino em serviço naquele país, com mãe carioca que acompanhava o pai diplomata brasileiro lá acreditado.


Aos seis anos ela acompanhou a família em mudança para o Rio de Janeiro onde, por direito, tinha dupla nacionalidade, brasileira e argentina. Foi educada nos melhores colégios do Rio, falava português sem sotaque, sendo  fluente em  espanhol, francês e inglês.


Foi a medicina que propiciou o nosso encontro. Tinha um parente, General reformado, que sofria com colecistite calculosa e, certa tarde, a família me chamou para vê-lo, pois em tratamento domiciliar não apresentava melhoras e apresentava quadro clínico de icterícia severa.


Estava no sexto ano de medicina e há dois anos era auxiliar acadêmico, admitido por concurso, do Hospital e Pronto Socorro Souza Aguiar, equipe Catta-Preta, referência em urgências e emergências na América do Sul. Imediatamente fiz o diagnóstico de tratamento cirúrgico e indiquei o meu mestre Fernando Paulino para operá-lo, o que foi feito com urgência no Hospital São Miguel, em Botafogo, por escolha da família.


Após a alta hospitalar fui várias vezes visitá-lo em atenção médica pós-cirúrgica, até estar totalmente curado e com muitos anos de vida a cumprir.


O meu parente tinha três filhas que moravam em um belo edifício na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo. Suas filhas eram amigas da Regina e frequentavam reciprocamente seus apartamentos, conforme hábito da época.


Durante a recuperação do General, eu ficava algum tempo na sala respondendo a curiosidade das meninas, cada vez mais bem impressionado com aquela “pirralha” de gente, me olhando de forma diferente. Ela nunca disse a sua verdadeira idade para mim. Acrescentou uns três anos, que só vim a descobrir quando ficamos noivos em 28-07-1962. Eram nove anos de diferença! Eu tinha 27 anos e ela, 18 anos.


O resto todos sabem. Ela me acompanhou no meu retorno a Cuiabá para exercer minha profissão de médico. Seus três filhos nasceram no Hospital Geral de Cuiabá, nas mãos do médico Clóvis Pitaluga de Moura, também compadre.


Ela foi presente e acompanhou o nascimento de cinco netas e um neto, sendo retirada precocemente do nosso convívio por doença classificada incurável, aos 61 anos incompletos, deixando uma dolorosa lacuna na nossa família.


Descansa no Campo Santo de N. Sa. da Piedade, em Cuiabá, enquanto aguardo para prosseguirmos na eternidade.


Gabriel Novis Neves

29-07-2021









GARÇOM, TRAGA MAIS UMA "SAIDEIRA", POR FAVOR!


Dos garçons que atenderam no Bar do Bugre, lembro-me muito bem de três deles - Kindú, Paulo e Domingos. Outros com certeza existiram mas, ou eu era muito criança ou já estava estudando no Rio de Janeiro. 


Papai teve três excelentes auxiliares que foram seus irmãos Tinô, que ficou até o fechamento do bar em 1970, Yoyo, que se aposentou e morreu e o Joãozinho, que faleceu prematuramente.


Além da honestidade dos garçons, me lembro muito bem do comportamento deles em eventos especiais. Era contagiante a alegria deles retirando do amplo almoxarifado do bar as mesinhas e cadeiras de ferro com dobradiças para datas especiais, como passagem do ano e carnaval.


Essas mesinhas com quatro cadeiras de ferro vinham com quatro descansos de copos. Eram colocadas na ampla calçada em frente à Praça da República, em fila dupla e fila única defronte seguinte à Praça Alencastro para acomodarem maior número de frequentadores que acorriam ao mesmo tempo aos serviços e quitutes do bar. Aquilo era um "colírio para os olhos" e um afago no coração; ou seja, o bar completamente lotado e ainda servindo outra metade na rua.


Fico pensando como esses três jovens garçons faziam o controle daquilo que serviam, de quanto recebiam em pagamento pelas contas de consumo da clientela nesses eventos especiais, cujas noites começavam e terminavam tranquilas, sem nenhuma altercação, discussão ou briga, apesar do alto teor alcoólico  consumido no local e das constantes disputas políticas regionais. Não raro perguntavam aos fregueses o que haviam consumido para calcularem as contas das despesas, sendo método muito ajustado em razão da honestidade vigente, uma vez que se tornava impossível manejar anotações, comandas, ou outra forma de registro.


Essa é uma das imagens mais lindas que guardo do bar, quando ele invadia calçadas, propiciando felicidade e alegria aos freqüentadores e uma ruidosa atmosfera de alegria e bem estar à população que assistia. Eram oportunidades singulares, de eventos especiais, em que muitos fregueses compareciam com seus familiares somente nessas ocasiões ao bar tão prezado por todos. 


Assistir a passagem do ano com fogos de artifício que “seo” Bugre e auxiliares soltavam da porta do bar, era um espetáculo aguardado, com as estrelinhas dos pistolões caindo sobre eles!


Outra ocasião em que o bar ia "para a rua" era no carnaval. As mesas e cadeiras eram colocadas assim que desaparecia o sol. Sentados e posicionados no interior do bar ou nas calçadas, os frequentadores “sapeavam” os desfiles de carros abertos com lindas garotas fantasiadas de forma extravagante, dançando e jogando serpentinas e confetes em agradecimento ao público, que as aplaudiam.


Os blocos de mascarados dançavam e cantavam lá dentro e nas cercanias, jogando e recebendo jatos de lanças perfumes, cujos tubos também poderiam ser adquiridos no próprio bar, assim como as caixas de confetes e rolos de serpentina. Todos queriam brincar, e como se divertiam! 


Muitos ainda lembram das marchinhas e sambas carnavalescos como: “A Jardineira”, “Perequitinho Verde”, “ALÁ-LA-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “Esta chegando a hora” e “Taí” - a predileta do meu pai.


Os dois salões internos, (um era o da sorveteria), ficavam totalmente lotados e com gente de pé, acumulados até no setor de lavagem dos copos. No salão principal, bem aos fundos, ficava apenas o lugar para o enorme móvel de madeira que na sua parte superior tinha a "eletrola".


Papai comprava alguns discos com marchas e sambas de carnaval e o toca-discos era a "eletrola", móvel de mais ou menos 1 metro de altura, fechado por um tampa de madeira.


O disco era um “bolachão” com uma música de cada lado do vinil, cuja duração da rotação era de aproximadamente  três minutos, tempo suficiente para a chegada à caixa registradora, atender alguns fregueses e voltar ao aparelho de som para virar o disco para seu "lado B" com outra música.


Meu pai fazia esse serviço de ir e vir - para ligar a eletrola, colocando o então pesado braço com agulha nova na ponta do disco, circulando em rotação adequada para produzir o som. Quando mais crescidinho, eu fazia esse serviço para ele.


Imagens e fatos que tenho gravados em minha memória, como pontos luminosos, e agora, em provecta idade, anoto para permitir aos meus descendentes e amigos conhecerem o significado e a essência desses eventos especiais realizados no bar quase centenário em nossa cidade, dos quais também fui protagonista.


Gabriel Novis Neves

30-07-2021










sexta-feira, 30 de julho de 2021

A FREGUESIA


Bar Moderno só existiu com esse nome nos registros comerciais, pois foi  reconhecido publicamente como "apêndice" do apelido carinhoso do proprietário, distinguido pela alcunha de "Bar do Bugre" 


Embora fosse conhecido como bar, os frequentadores sabiam que ele possuía uma extraordinária sorveteria, setor de salgadinhos e bolos - que muitos compravam para comsumir em casa - , biscoitos, chocolates e queijos importados, salaminhos, vinhos franceses e portugueses, além de uma variedade de marcas de cigarros.


Além do que o telefone privado instalado em uma de suas paredes e o mictório do bar eram os únicos "bens sociais" para uso constante da população que vinha ao centro de Cuiabá, na época com menos de cinquenta mil habitantes.


Nos anos 40 e 50, o Bar do Bugre foi um grande centro de vivência onde as pessoas se reuniam para conversar, saber das fofocas, também fazer fofoca, tomar uma cervejinha “Teutônia” bem gelada.


Praticamente todos os dias, por volta das 10 horas da manhã, imensa mesa unida abrigava o Padre  Theodoro, secretário do Arcebispo de Cuiabá (Dom Aquino Correa), em companhia de desembargadores, juízes, promotores, membros do Instituto Histórico e Academia Matogrossense de Letras, funcionários federais; reunidos para um papo descontraído e em voz alta, saboreando pasteis e empadinhas feitas em minha casa!


Essa mesa se desfazia por volta das 11 horas e outros frequentadores ilustres passavam a se fazer presentes, como artistas, poetas, funcionários públicos importantes, pessoas comuns, com a característica de sentarem em pequenos grupos, não unindo muitas mesas.


Lembro-me do violinista Tote Garcia, que preferia consumir uma boa dose de conhaque do Porto, com a bebida encoberta pelo descanso do copo - para não cair mosca dentro. O “homem da febre” era “seo” Antônio da Rua de Baixo, que procurava sempre o bar para uma cervejinha antes do almoço. Eu o atendia e todas às vezes que levava o seu pedido perguntava se estava com febre, pois não sorria e eu, demasiado jovem e ainda completamente inexperiente nas coisas da vida e antes de pensar estudar medicina, imaginava, como as crianças, que não sorrir naquele tempo só poderia implicar em estar doente e o sintoma mais frequente da gripe era ter febre.


Foi apelidado por mim de “homem da febre”, fato e alcunha aceitos por meu pai. Leva uma gelada para o “homem da febre”, pedia o meu pai. A total inexperiência com crianças por "seo" Antônio, julgava decorrer do fato de ser casado e não ter filhos, sendo o caçula de uma família de cinco irmãos.


O público da tarde procurava o bar para comprar cigarros, fechar negócios, comprar picolés e usar o mictório. Somente o professor Ezequiel de Siqueira e seus cachorros sentavam na primeira mesa do bar, próximos à porta principal, para corrigir e criar as tarefas escolares e fazer numerologia.


Tempos passados, quando o professor Ezequiel de Siqueira soube pelo meu pai que eu estudava medicina, em uma tarde fui ao bar ele me convocou pela alcunha de "Biézinho" (diminutivo do apelido do meu avô paterno), pediu que sentasse à sua mesa, e com um lápis e folha de papel calculou o que apresentou como minha "numerologia" e lançou uma sentença que cumpri pelo resto da vida: nunca assinei doutor antes do seu nome completo ou sobrenomes. Nas minhas receitas, cargos públicos que exerci nunca o doutor antecedia meu nome próprio.


À noite, o público do bar era outro, no qual pontificava o historiador Rubens de Mendonça, emérito "gozador" do cotidiano com as suas fantásticas quadrinhas. O meu amigo adorava passar pela manhã no bar e inventava e contava uma "fake news", disseminando a título de "fofoca" sem maldades. À noite, ao chegar ao seu ponto de criatividade, logo era interpelado por um "novidadeiro" sobre a notícia falsa que a coletividade se encarregava de esparramar durante aquele dia - nada mais que o fake inventado pelo Rubens, acrescentado por outras invenções e detalhes que surgiam ao ser replicado -, a um  tal ponto que o mesmo fake, agora dito pelo interlocutor com ares de incorporada verdade, levava o historiador a não reconhecer o fato, admirando-se da criatividade alheia.


Após mais de setenta anos passados, tenho enormes saudades daqueles tão queridos personagens da freguesia, frequentadores mais assíduos do Bar do Bugre!


Gabriel Novis Neves

27-07-2021


Nota do Editor: Em reverência ao proprietário, sua melhor e mais sintética  descrição está em CURRÍCULO DO BUGRE 



quarta-feira, 28 de julho de 2021

MUDANÇA DE DESTINO


No auge do prestígio do governo Ponce de Arruda, “seo” Bugre (conforme era conhecido meu pai pelo apelido) foi multado pela Secretaria de Fazenda do Estado. 


Ficou muito inconformado com a multa - a única em mais de trinta anos de comércio - pois era zeloso com o patrimônio público e tinha como contador o Diretor da Fazenda Nacional. 


Depois de noites de insônia, aproveitou uma tarde de sol cáustico, atravessou a Praça Alencastro e foi dar ciência do ocorrido ao Governador do Estado.  Após ouvir ao meu pai, e vendo certa coerência no relato, determinou o cancelamento da multa. 


Estava encerrado o caso da dor de cabeça do “seo” Bugre, mas permaneceu uma profunda mágoa com o fiscal que o multou.


No entanto, essa mágoa foi amenizada com a chegada de seu primogênito que veio fazer uma visita após ter passado em Medicina (1955) no Rio de Janeiro. Esse primogênito felizardo era eu. 


Resolvi fazer essa visita pois iria servir o exército no Rio (CPOR). E logo a seguir iria iniciar meus estágios em hospitais e maternidades. 


Passava os dias em casa com minha mãe ainda no “resguardo” do último parto, e com meus irmãos pequenos, já que não fomos criados juntos.


Certo domingo, minha mãe me ofereceu como divertimento ir ao Clube Feminino, que ficava à três casas da minha. Obediente, fui.


Sentei em uma mesa de costas para rua com algumas colegas. 


Domingo a noite era folga do tio "Tinô" (irmão do meu pai), e papai o substituía  no trabalho noturno do bar,  já que seu irmão lá trabalhava todas as noites da semana até às vinte e uma horas.


Voltando para casa era necessário passar em frente ao Clube e o hábito da população naquele tempo era parar e ficar “sapeando” quem estava lá naquela noite.


Chegando em casa contou à minha mãe o que tinha visto e que o deixou bastante contrariado. 


Ele me viu sentado na mesa com uma consanguínea do fiscal que o multara, à quem creditava ter ferido sua honra por multar o estabelecimento. A decepção o invadiu de tal maneira que até o fez dormir sem tomar o seu copo de nata de leite, tamanha a sua tristeza com o que presenciara.


O Bingo Dançante sempre terminava antes da meia-noite, horário do meu retorno. Dele, nada ouvi sobre essa contrariedade. 


Ouvi depois atentamente a minha mãe e logo marquei meu retorno ao Rio de Janeiro, para só retornar noivo da Regina, mulher que meu pai gostava muito.


Estava mudado o meu destino para sempre.


Gabriel Novis Neves

26-07-2021

terça-feira, 27 de julho de 2021

MENINAS NO BAR


Todos sabem que nasci na "Rua de Baixo" (Galdino Pimentel), há menos de cem anos, o que em termos históricos pouco representa.


O bar do meu pai (Bar Moderno, que era conhecido apenas pelo apelido carinhoso de "Bar do Bugre") ficava muito próximo da minha casa, que era alugada do “seo” Gardés. Eu e três irmãos de uma família de nove filhos nascemos lá, na casinha que logo ficou pequena.


Não sei se consciente ou não, minha mãe só buscou novamente a maternidade após a mudança para o casarão da "Rua do Campo", onde nasceram meus últimos cinco irmãos.


Tudo era muito próximo e, desde que me entendo por gente, a primeira memória que vem era do bar do meu pai. Adorava ficar com meu pai no bar, inicialmente olhando e aprendendo, depois como garçom-mirim e ajudante da minha mãe com os salgadinhos, tornando especialista em fritar pastéis não “esturricados”. Ainda no "cargo" de garçom-mirim me lembro da chegada da moderníssima máquina de sorvetes adquirida por meu pai.


Crescidinho, tomava conta, por prazer, da sorveteria instalada dentro do bar, com seis portas e duas enormes janelas defronte à Praça Alencastro e três enormes portas e duas  janelas para a Praça da República. O estabelecimento também servia cervejas, consideradas mais "refrigerantes" que o próprio sorvete  por alguns.


À noite, esse setor era frequentado pelas “meninas” do Beco do Candeeiro e da casa da Dona Maria de Umbelina. Sempre bem vestidas, com perfumes exalando pelo corpo, "leques" para espantar mosquitos e amenizar o calor, com sorriso permanente nos lábios vermelhos de batom, onde não raro presenciávamos obturações ou dentes de ouro.


As “meninas” não tomavam sorvetes e sim uma cervejinha bem gelada e ficavam debruçadas nas janelas saboreando a retreta de domingo e possíveis clientes até às nove da noite, quando os músicos se retiravam, o “Jardim” se esvaziava e o Bar do Bugre fechava, muitas vezes "expulsando" os retardatários, com o fechamento das suas portas para o Alencastro.


Mais acima, na "Rua do Campo", nosso finado Clube Feminino foi fundado para dificultar o “trabalho” das meninas. Um grupo de senhoras da alta sociedade, preocupadas com os períodos de férias escolares e a disponibilidade dos adolescentes na migração para encontrar com as “meninas”, criaram o Clube que funcionava aos domingos depois das retretas.


Era o famoso “Bingo Dançante”, com animação de "Jacildo e seus Rapazes", uma rodada de bingo e, eventualmente, shows de artistas famosos, como Altemar Dutra. Este, na noite que se apresentou, no meio do seu espetáculo a luz da cidade foi cortada, e ante o "ahhhh!" da platéia disse que gostava mais de cantar "na garganta", sem microfone, acompanhado só com o violão. Noite inesquecível para mim. Nesses domingos dançantes, quem fornecia o salgadinho para esses encontros era “seo” Manoelito Palma, marido da D. Bembém, carregando os pastéis em enorme bacia de banho, cobertos por tecido.


Com o advento da revolução da pílula anticoncepcional e modernização da cidade, o Clube Feminino ficou arcaico, o Bar do Bugre fechou as suas portas em 1970, só restando dessa história as “meninas” com outras roupagens.


Cuiabá virou metrópole e até universidades têm, as “meninas” continuam atuando de maneira mais segura às vezes nos próprios locais de estudo.


Gabriel Novis Neves

26-07-2021


Nota do Editor: Diametralmente opostos na esquina da Praça Alencastro, a Catedral e o "Bar do Bugre" eram complementares e nunca se antagonizaram.

segunda-feira, 26 de julho de 2021

QUINTAIS CUIABANOS


Aqueles da minha geração sabem perfeitamente daquilo que vou contar – os imensos quintais das antigas casas de Cuiabá.


As casas eram localizadas em uma rua e os fundos em outra e geralmente não eram planejadas. A minha possuía muitos “cômodos”. Ao fundo um enorme quintal com portão para outra rua.  Eu morava na Rua do Campo (Barão de Melgaço), e o fundo era na Rua da Fé (Comandante Costa).


Para uma dona de casa com muitos filhos e recursos parcos, era uma mão na roda para não deixar faltar o essencial na mesa. O verdureiro e outros ambulantes vinham à porta das casas dos clientes oferecendo os mais diversos produtos, como peixes, panelas de barro, farinha de mandioca fina, rapadura, doce de leite e outras verduras regionais.


A porta dos fundos da casa recebia carroças de lenha para o fogão e às vezes servia de escape às crianças para brincarem com bolinha de gude, futebol na rua não pavimentada e dar uma chegada à bela casa colonial do "sêo" Júlio (Júlio Muller) que, da sua alta janela, nos contemplava com bocaiuvas que trazia da fazenda Abolição.


O "quintalão" da minha casa produzia de tudo. Na sua parte inferior ficava a pequena granja separada da hortaliça e plantas medicamentosas para dor no estomago, indisposição intestinal que ervas do quintal resolviam.  


Subindo uma escadinha de tijolos de três degraus, entrávamos no quintal propriamente dito, onde era impenetrável a luz solar. Era um lugar úmido com o chão coberto de folhas.


Na entrada, uma enorme e velha mangueira que, após a primeira chuva de agosto, debruçava seus troncos arqueados de manga quase em cima da minha casa. A enorme jabuticabeira com tronco e galhos toda preta dos deliciosos frutos, que ajudam a regular o intestino e pressão arterial. Bananeiras com pesados cachos quase arrastando ao solo.


Pitombeiras e cajazeiras de alto porte e mangueiras de muitos tipos de manga sendo a minha preferida a Bourbon Verde. Quantas vezes chegava da escola “morrendo de fome” deixava a pasta e sapatos pelo caminho e subia ao galho mais alto para saborear aquela manga Bourbon!


Os velhos quintais de Cuiabá possuíam uma infinidade de plantas rasteiras – como melancia, abóbora e de raízes, como mandioca, batata, que às vezes subiam nos muros que separavam os quintais, levando com isso os seus frutos; mas também poderiam ser perigosos, pois era comum chegar com a lenha o escorpião, a aranha caranguejeira e a "saçurana".


Pisar com pés descalços em uma "saçurana" era correr para casa pedindo socorro, com dores insuportáveis. O remédio eram o álcool e o tempo até desaparecer a íngua inguinal.


Quintais como do Juca de Albuquerque, no bairro do Porto, até o córrego passava dentro, para alegria da criançada que bebia daquela água; eram encantadores.


Não sei como contar para netos e bisnetos sobre a casa onde cresci - hoje um estacionamento.


Eles não irão entender nunca o que relatei, a não ser se colocarem essa história de menos de meio século em um aplicativo para baixar no iPad.


Gabriel Novis Neves

24-07-2021

domingo, 25 de julho de 2021

PRISIONEIROS DA TECNOLOGIA


Queiram ou não, todos nos tornamos escravizados pela tecnologia. Uns com alegria (jovens), outros (idosos) contrariados com as “dores” de cabeça que essa engenhoca tão útil nos causa no cotidiano.


Tenho tido muito “desprazer” com as novas tecnologias, embora as utilize, mas sempre reclamando dos imprevistos insuportáveis, mesmo reconhecendo que na minha idade teria poderia ser até “interditado” para resolver os problemas diários com as dezenas de pagamentos mensais.


A geração que me antecedeu ao se aposentar dava “plantão” nos bancos para verificar seus movimentos diários. Era comum encontrar um “montão” de idosos esperando a abertura do banco para serem atendidos pelo gerente.


O idoso, de modo geral,  é ansioso e não suporta a turbulência da internet e celulares, com suas “circunferências” girando até parar, sem antes colocar um triângulo com ponto de exclamação e os seguintes dizeres: "Ops! Desculpe-nos. Estamos melhorando nossos serviços. Tente novamente mais tarde".


Depois desse pedido de desculpa da operadora, a guerra é pelo celular e muita coisa se ajusta pela operadora sem o técnico presencial.


Hoje essa batalha terminou com uma ordem da operadora: desliga e liga o celular. Tudo estava ajustado tecnicamente e pude resolver meus problemas emergenciais.


O celular é uma arma poderosa para nos ajudar, mas devemos estar muito atentos, pois as organizações criminosas tem predileção pelos assaltos neste pequeno aparelho.


Devemos ter duas senhas para o celular: a habitual e outra de reserva, que poderá ser pedida a qualquer hora do dia para entrar no whatsap.


Outras medidas de segurança cabem em um pequeno livro com todas alternativas de segurança.


Enfim, as modernas tecnologias vieram para ficar e se encaixam em “males que vem para o bem”.


Gabriel Novis Neves

23-07-2021

sábado, 24 de julho de 2021

ARCADAS


Duas vezes ao ano vou ao dentista, apenas para prevenção e limpeza da minha arcada dentária original.


Quando criança tive cáries dentárias, sempre tratadas por práticos. Não se utilizava anestesia e os gritos produzidos nos consultórios eram ouvidos à distância. Essa prática era aceita pela população e considerada normal, dentro do conceito estatístico de normalidade da época.


O resultado desse período coincidiu com a fase áurea dos protéticos. Nunca se fabricou tanta dentadura, ou “chapa” como preferem os cuiabanos, como nessa época! Era chique ter dentadura, ou uma enorme ponte na boca. Um dente de ouro, também ia bem.


Significava status e poder econômico. Os pobres,  quando não exibiam falhas acentuadas na arcada dentária, não possuíam um único dente.


Naquele tempo, o mais sábio dos mortais desconhecia que a cárie dentária é produzida por uma bactéria e que podia ser prevenida.


A geração atual, mesmo a de pequeno poder aquisitivo, de um modo geral, possui uma razoável saúde bucal.


As pessoas da minha geração - e que não tiveram a minha sorte -, substituíram a dentadura, considerada obsoleta e antiestética, pelos caríssimos implantes dentários.


Hoje, a dentadura ou a "chapa" viraram marcador econômico: só os pobres as usam.


Mas, como tudo neste mundo, os ricos ganharam o implante, mas perderam o poético ritual do uso da “chapa”.


Que coisa pitoresca é o dia de uma dentadura! Dorme confortavelmente em copos especiais, imersa em água natural com o cuidado necessário para não derramar. Fica no quarto de dormir, sempre em lugar privilegiado, de preferência em cima da cômoda ao lado do oratório. Pela manhã a dentadura é cuidadosamente escovada na pia, com todo o cuidado para não cair no chão.


Após a higiene bucal da dentadura, ou do proprietário, com exímia habilidade é encaixada na arcada dentária. Tinha que ficar bem fixa, do contrário só trocando por uma nova.


Muita gente não se preocupava com a mobilidade da dentadura na boca, e até brincava com ela, enquanto trabalhava.


Já levei muitos sustos com as brincadeiras que se faziam com as dentaduras móveis.


Certa ocasião, na casa do meu avô, jogava xadrez com um parceiro idoso, que prestava atenção no tabuleiro enquanto brincava com a sua dentadura, fazendo-a rodar na boca. Aquilo me desconcentrava e eu achava mais interessante perceber aquela perigosa manobra do que o jogo de xadrez. De repente, num ato mais audacioso desse adversário, a chapa pulou para cima do tabuleiro de xadrez.


Hoje à tarde irei ao dentista - sem nenhum sentimento de medo. Estarei nas mãos de um profissional muito bem capacitado – com nível superior e pós-graduação – e terei toda a moderna tecnologia a minha disposição.


Afora isto, ficarei superconfortável deitado numa cadeira odontológica de última geração – semelhante à de certos deputados – aquela que produz até massagens.


Terei direito até a uma auxiliar para segurar o aparelhinho de aspiração de saliva. Durante o trabalho do odontólogo ouvirei música ambiente, em gabinete refrigerado, e logo estarei de alta, com a recomendação de sempre: “você está ótimo, volte daqui a seis meses”. Assim espero.


Gabriel Novis Neves

23-07-2021

quinta-feira, 22 de julho de 2021

DIAS A FIO


Diz o ditado popular: “nada como um dia após o outro”.   Os dias são uma sucessão de boas e más fases, tornando horrível essa sensação de incerteza à qual somos submetidos.  


Nunca vi tanta sabedoria em uma frase tão curta! O mês de julho começou “feio” com tantos problemas e está terminando olimpicamente “belo”!


Nada é como um dia após o outro para mostrar nossos erros e acertos. Quantas conquistas alcançamos e, mesmo nos momentos difíceis, quando tudo era cinzas, surge o clarão da vida para nós. A fé nos ajuda a encontrar o clarão da felicidade e a recuperar tanto esforço desprendido para a solução de um problema existente.


Na vida só não é permitido e possível diminuir a própria idade cronológica. A idade mental nem sempre corresponde à idade do nascimento. Pode-se empregar toda a tecnologia médica através da cirurgia plástica, que isso só irá piorar a situação.


Um bom momento rejuvenesce a aparência transbordando alegria e felicidade! Às vezes, até no mesmo dia vivemos fases bem marcadas pelo sofrimento e prazer. 


Podemos citar o caso do goleiro do Atlético Mineiro ontem, na partida contra o Boca Juniors em Belo-Horizonte. No início do segundo tempo ele engoliu um enorme frango, o que eliminaria o seu clube da tão desejada classificação. O VAR, depois de muito tempo, viu um impedimento de milímetros do atacante contrário e o árbitro invalidou o gol. O jogo continuou “marrento”, terminando empatado em zero a zero. Decisão por pênaltis! O goleiro “vilão” pegou duas batidas de penalidade máxima e, creiam, bateu o último pênalti convertendo para o Atlético, que segue no campeonato rumo ao título Continental de futebol. Foi de vilão a herói em menos de quarenta minutos.


Nossa vida também é assim  - onde “não há mal que sempre dure nem bem que perdure” e, para isso, devemos estar preparados para entendermos as variáveis pelas quais passamos. 


Não há mar de maravilhas, assim como não há inferno sem fim. A sabedoria dos anos nos ensina como viver entre esses dois parâmetros.


Gabriel Novis Neves

21-07-2021

terça-feira, 20 de julho de 2021

PRANTO


O choro nada mais é do que materialização dos sentimentos de alegria, tristeza ou sofrimento.  É uma das características do ser humano, embora muitos estejam interessados em encontrar esses atributos também nos primatas mais próximos, como os chimpanzés.


O soluçar serve muitas vezes para aliviar o nosso estresse, principalmente quando sentimos a necessidade de comunicar algo a um ser amado com urgência. O soluço muitas vezes pode produzir lágrimas que se derramam dos olhos e rolam pela face.


Uma criança saudável chora nos primeiros meses de vida, até três horas por dia.  


Já o choro de um adulto é diferente. Muito dolorido para nós quando, em uma conversa pontual pelo telefone com um filho, o diálogo é interrompido por uma crise de choro.


Confesso que vivenciei um momento desses e fiquei muito comovido e dolorido, pois era um desabafo angustiado e carregado de profunda tristeza.  O telefone é uma forma rápida de manifestar uma preocupação à distância, nesses dias de isolamento imposto pela pandemia.


Demonstrei toda a minha solidariedade e procurei ser “forte”, evitando o choro.  Mas, como é doído!  Passei o dia acabrunhado, sem a mínima vontade de fazer as coisas, até a resolução final do problema material da causa do desabafo.


O choro é emoção e emoção é vida, e momentos existem em que essas manifestações de algo que nos faz sofrer, embora temporariamente, devem ser exteriorizados. Chorar por uma saúde impecável é sinal de maturidade.


Há também choros adolescentes de outros sentimentos que, estimulados pelos hormônios, faz sofrer muito, alterando por vezes a sequência natural da vida.


Ninguém entende melhor dos choros que os poetas, que vivenciam por vezes lindas melodias em seus versos.  A associação de choros, poetas, melodias, nos conduz à noite, bálsamo de quase todos os males que produzem o choro.


Vamos aguardar o tempo, para saber a origem desse choro adulto que me tocou a alma. 


Deus me protegeu e no caso relatado tudo terminou com choro de alegria.


Gabriel Novis Neves

20-07-2021

domingo, 18 de julho de 2021

GOTEJAMENTO


O médico acompanha os tratamentos. No caso, para exemplo, dez dias com aplicações venosas de antibióticos dissolvidos em uma bolsa com cem mililitros de soro fisiológico, de oito em oito horas. Prescrição precisa, tempo para aplicação e técnicas para aplicar e cuidar bem executadas.


Percebendo o gotejamento perfeito na veia, inevitável a satisfação e a alegria de ver aquilo, sinal que o antibiótico corria normalmente em veia do dorso da mão esquerda. 


Anos à fio, no exercício da medicina, me ocupei com essa atitude, sempre satisfatória. Imediatamente me recordei quando, desde o início do exercício da minha profissão, reconhecia a importância de uma boa veia para o sucesso do tratamento.


Quantas vezes telefonei para o hospital para saber se o gotejamento da paciente que operei estava bom!


Nas emergências, a primeira providência do médico era providenciar uma veia para passar o soro ou sangue.


São coisas tão pequenas que, na maioria das vezes, passam despercebidas ao paciente, desapercebido do bem-estar profissional que sentimos até com os pequenos êxitos.


Quem trabalha com a saúde dos pacientes, reconhece que nem sempre as grandes intervenções ou diagnósticos são capazes de substituir as pequenas coisas, como o sorriso de quem sofre.


O abraço, olhar, o afago são recompensas desta profissão tão sofrida e incompreendida!


Sou de uma das últimas gerações de médicos da antiga escola francesa.


Hoje o que predomina é a tecnologia, cada vez mais sofisticada e cara.


Entendo, porém  que nada substitui uma boa anamnese e um detalhado exame clínico para a fixação das primeiras hipóteses.


Chegamos ao cúmulo de, no atendimento a pacientes de primeira consulta, em alguns casos, novos médicos solicitarem um "montão" de exames laboratoriais mesmo antes de analisar as queixas sobre o quadro clínico. 


Mesmo com queixas pulmonares evidentes, já se percebe que têm resistência à auscultar sequer o tórax desse infeliz.


É imediatamente encaminhado ao laboratório de imagens para tomografia pulmonar, onde o paciente recebe comandos de voz de um computador: “encha o peito de ar, prenda a respiração, respire”!


Até o velho Raio-X do tórax está obsoleto nos dias de hoje.


A medicina fica cada vez mais distante da maioria da população.


Nós ainda temos o SUS que, bem administrado, é um sucesso.


E os EUA? Onde não há esse tipo de atendimento e os seguros de saúde são inaccessíveis a maioria da população?


Defendo que deveríamos humanizar os serviços de saúde e sentir emoção nas coisas mais simples do dia-a-dia desses profissionais.


Mesmo afastado do exercício clínico, continuo sentindo um prazer enorme vendo o gotejamento perfeito em uma veia.


Gabriel Novis Neves

17-07-2021

quarta-feira, 14 de julho de 2021

VELHICE


A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg tem dedicado a sua vida ao estudo da velhice. Entrevista homens e mulheres nunca com menos de 90 anos, já que sua meta é colher o máximo de depoimentos de pessoas com mais de 100 anos.


Muitos livros abordam os aspectos negativos do envelhecimento, o que não é bem apenas isso o importante. O idoso experimenta dificuldades, inseguranças e os medos nesta fase da vida, mas não devemos nunca nos esquecer dos aspectos considerados positivos.


Aos 86 anos, procuro me manter bem para, pelo menos aos 90 anos, ser entrevistado pelos alunos da Dra. Mirian


Raramente alguém faz planos para uma velhice longa, mas ela chega produzindo os “esperados estragos” da longevidade - ainda bem que nos órgãos de "segunda classe" do organismo, conforme podem ser consideradas as articulações, com  obrigatoriedade de uso da tecnologia para manter firme até a chegada ao centenário.


A razão e humor, não foram atingidos e copiando Simone de Beauvoir: “velho é o outro”.  Velho, para quase todos, é sempre “o outro”.


Apenas assumindo consciente e plenamente, em todas as fases da vida, que nós também somos ou poderemos  ser idosos, é que contribuiremos para "derrubar os medos, estereótipos e os preconceitos existentes sobre a velhice”.


O livro da professora Mirian Goldemberg é baseado em entrevistas com pessoas das mais diversas classes sociais e o melhor reavaliador da juventude é o humor, tendo isso ficado claro nas milhares de entrevistas feitas com mulheres e homens.


Eu faço piadas sobre mim e essa atitude  me faz muito bem. Amigos dizem que eu me exponho com esse tipo de brincadeiras mas, resultando em um bem psicológico pessoal, avalio a equação do custo/benefício e continuarei debochando de mim mesmo.


Quando a parte cerebral, mesmo envelhecida, está bem e produtiva, a velhice é um momento do mais puro prazer e, se puder contar boas histórias, melhor ainda.


Sem velhice não haverá vidas longevas e é bom chegar bem ao "ponto final", ignorando pessoas mal-humoradas, maldosas, invejosas, rabugentas, fofoqueiras e deprimidas. Uma pessoa tóxica pode provocar verdadeiro contágio negativo, contaminando o prazer e até mesmo a saúde orgânica deles.


Gabriel Novis Neves

12-07-2021

terça-feira, 13 de julho de 2021

LIMITES DA MATURIDADE


A velhice nos impõem tantos limites que resolvi escrever sobre o principal deles, na minha avaliação, que são os limites. 


Limitações surgem com a idade, moldados até pelo plano de saúde que temos, determinando até as distâncias máximas para onde viajar, em território brasileiro e estrangeiro.


O meu plano de saúde me obriga a pensar muito em viagens pelo Brasil. Aqui onde moro, tenho rede hospitalar, laboratorial e médica que me tranquilizam, ficando arriscado sair para um simples passeio. Viagens internacionais nem é bom mais pensar nelas, pela distância e cobertura de despesas médicas, caso se tornem necessárias.


O idoso  deveria estar muito condicionado em guardar dinheiro para uma emergência médica; nada desprezível essa poupança.


O meu mundo ficou restrito a um raio de sessenta quilômetros à partir da casa. Ainda sinto confortavelmente protegido para uma visita à Chapada dos Guimarães, Livramento ou Santo Antônio de Leverger! Qualquer problema que venha acometer um idoso só poderá ser de saúde, e volto já para a minha casa.


Conversando com um colega de São Paulo, ele me disse que, quando jovem, não se preocupou com o seu futuro - menos ainda em adquirir um bom plano de saúde para a longínqua velhice - que já é hoje. Relata que quando percebeu que estava idoso fez às pressas um plano de saúde que só lhe protege se estiver internado.


Consultas médicas e exames laboratoriais indispensáveis nessa faixa etária, só pode obter mediante pagamento prévio, em caráter particular. E ele não está preparado para esses gastos extras na sua cesta básica de despesas mensais. Disse-md que se pudesse voltar àquela fase de fartos recursos materiais, não hesitaria um minutinho para adquirir seu plano de saúde.


E as limitações impostas pela própria velhice como hipertensão arterial, diabetes, problemas osteo-articulares, insônia e companhia?


Talvez por tudo isso digam que o velho tem raízes no lugar onde nasceu ou mora, ou está com "prego nas nádegas" fixadas na cadeira, dificultando a sua locomoção; pois a principal preocupação deve ser com a saúde e plano que o atenda. 


O velho só é companhia compreendida por outro velho, que negocia bem suas deficiências.  E assim mesmo, o idoso quer viver para além dos seus limites!


Gabriel Novis Neves

24-06-2021