sábado, 31 de julho de 2021

GARÇOM, TRAGA MAIS UMA "SAIDEIRA", POR FAVOR!


Dos garçons que atenderam no Bar do Bugre, lembro-me muito bem de três deles - Kindú, Paulo e Domingos. Outros com certeza existiram mas, ou eu era muito criança ou já estava estudando no Rio de Janeiro. 


Papai teve três excelentes auxiliares que foram seus irmãos Tinô, que ficou até o fechamento do bar em 1970, Yoyo, que se aposentou e morreu e o Joãozinho, que faleceu prematuramente.


Além da honestidade dos garçons, me lembro muito bem do comportamento deles em eventos especiais. Era contagiante a alegria deles retirando do amplo almoxarifado do bar as mesinhas e cadeiras de ferro com dobradiças para datas especiais, como passagem do ano e carnaval.


Essas mesinhas com quatro cadeiras de ferro vinham com quatro descansos de copos. Eram colocadas na ampla calçada em frente à Praça da República, em fila dupla e fila única defronte seguinte à Praça Alencastro para acomodarem maior número de frequentadores que acorriam ao mesmo tempo aos serviços e quitutes do bar. Aquilo era um "colírio para os olhos" e um afago no coração; ou seja, o bar completamente lotado e ainda servindo outra metade na rua.


Fico pensando como esses três jovens garçons faziam o controle daquilo que serviam, de quanto recebiam em pagamento pelas contas de consumo da clientela nesses eventos especiais, cujas noites começavam e terminavam tranquilas, sem nenhuma altercação, discussão ou briga, apesar do alto teor alcoólico  consumido no local e das constantes disputas políticas regionais. Não raro perguntavam aos fregueses o que haviam consumido para calcularem as contas das despesas, sendo método muito ajustado em razão da honestidade vigente, uma vez que se tornava impossível manejar anotações, comandas, ou outra forma de registro.


Essa é uma das imagens mais lindas que guardo do bar, quando ele invadia calçadas, propiciando felicidade e alegria aos freqüentadores e uma ruidosa atmosfera de alegria e bem estar à população que assistia. Eram oportunidades singulares, de eventos especiais, em que muitos fregueses compareciam com seus familiares somente nessas ocasiões ao bar tão prezado por todos. 


Assistir a passagem do ano com fogos de artifício que “seo” Bugre e auxiliares soltavam da porta do bar, era um espetáculo aguardado, com as estrelinhas dos pistolões caindo sobre eles!


Outra ocasião em que o bar ia "para a rua" era no carnaval. As mesas e cadeiras eram colocadas assim que desaparecia o sol. Sentados e posicionados no interior do bar ou nas calçadas, os frequentadores “sapeavam” os desfiles de carros abertos com lindas garotas fantasiadas de forma extravagante, dançando e jogando serpentinas e confetes em agradecimento ao público, que as aplaudiam.


Os blocos de mascarados dançavam e cantavam lá dentro e nas cercanias, jogando e recebendo jatos de lanças perfumes, cujos tubos também poderiam ser adquiridos no próprio bar, assim como as caixas de confetes e rolos de serpentina. Todos queriam brincar, e como se divertiam! 


Muitos ainda lembram das marchinhas e sambas carnavalescos como: “A Jardineira”, “Perequitinho Verde”, “ALÁ-LA-Ô”, “Cidade Maravilhosa”, “Esta chegando a hora” e “Taí” - a predileta do meu pai.


Os dois salões internos, (um era o da sorveteria), ficavam totalmente lotados e com gente de pé, acumulados até no setor de lavagem dos copos. No salão principal, bem aos fundos, ficava apenas o lugar para o enorme móvel de madeira que na sua parte superior tinha a "eletrola".


Papai comprava alguns discos com marchas e sambas de carnaval e o toca-discos era a "eletrola", móvel de mais ou menos 1 metro de altura, fechado por um tampa de madeira.


O disco era um “bolachão” com uma música de cada lado do vinil, cuja duração da rotação era de aproximadamente  três minutos, tempo suficiente para a chegada à caixa registradora, atender alguns fregueses e voltar ao aparelho de som para virar o disco para seu "lado B" com outra música.


Meu pai fazia esse serviço de ir e vir - para ligar a eletrola, colocando o então pesado braço com agulha nova na ponta do disco, circulando em rotação adequada para produzir o som. Quando mais crescidinho, eu fazia esse serviço para ele.


Imagens e fatos que tenho gravados em minha memória, como pontos luminosos, e agora, em provecta idade, anoto para permitir aos meus descendentes e amigos conhecerem o significado e a essência desses eventos especiais realizados no bar quase centenário em nossa cidade, dos quais também fui protagonista.


Gabriel Novis Neves

30-07-2021










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