domingo, 31 de março de 2024

VISITAS DE DOMINGO


Recebi uma comissão de professores da nossa Universidade Federal.


O objetivo era discutir o tipo ideal de universidade que queremos.


Passados cinquenta e três anos da sua criação, os professores estão preocupados com a sua memória histórica.


Durante mais de meio século a UFMT sofreu muitas transformações.


Nasceu com a forma jurídica de fundação, depois mudada para autarquia.


Ela se espalhou por Rondonópolis, Pontal do Araguaia, Barra do Garças e recentemente Várzea Grande.


O Centro de Rondonópolis virou Universidade Federal, com o curso de Medicina funcionando.


Pontal do Araguaia e Barra do Garças se preparando para ser sede da Universidade Federal do Araguaia.


A universidade ideal no meu conceito é aquela que valoriza seus professores e servidores, oferecendo-lhes condições dignas de trabalho, com salários justos.


Se a instituição não valorizar quem nela trabalha, será muito difícil desejar um ensino de qualidade.


Realizamos um grande sobrevoo nesses cinquenta anos de cidade universitária no Coxipó da Ponte.


Houve avanços sim, mas a impressão que temos é que passamos por um momento de letargia.


As autarquias parecem mais sensíveis a corrosão burocrática do poder público, prejudicando o seu desenvolvimento.


A nossa universidade perdeu sua autonomia administrativa e financeira, ficando refém dos burocratas de Brasília. Um horror!


É muito email pra lá e cá, com ofícios, memorandos, planos de trabalho detalhados, etc.


O nosso curso de Medicina está completando quarenta e quatro anos de funcionamento.


Para comemorar seus quarenta anos formando médicos e prestando serviços ao Estado, sua direção se esforçou para imprimir um livro contando a trajetória desse curso.


Os professores, diretores, reitores, ex-alunos de primeira hora, gravaram longos depoimentos para a comissão encarregada da impressão do livro que seria lançado em 2020.


O livro está pronto, revisado para a gráfica de uma editora.


A universidade teve editora (!), mas não edita mais por problemas burocráticos e não sei se o cargo de editor foi extinto.


O reitor diz que nada pode fazer, pois não tem recursos. O mesmo acontece com toda a área da saúde.


Isso se repete em todos os setores dando ao chegante um aspecto de abandono.


Gabriel Novis Neves

24-03-2024





sábado, 30 de março de 2024

DOMINGO DE PÁSCOA


‘O Domingo de Páscoa, com sua aura de renovação e esperança, desperta na alma um sentimento especial.


As ruas ganham vida com a alegria das pessoas, os aromas tentadores das cozinhas se misturam no ar.


É um dia onde os corações se abrem para a partilha e a celebração da vida.


Nas casas, as famílias se reúnem em torno da mesa farta, onde o aroma do bacalhau e dos doces tradicionais preenche o ambiente.


O som das risadas e das conversas animadas ecoa pelos cômodos, enquanto as crianças correm ansiosas em busca dos ovos de chocolate escondidos pelo coelhinho.


Nas igrejas, fiéis se congregam para celebrar a ressurreição de Cristo, renovando sua fé e esperança em um mundo melhor.


As melodias dos cânticos ecoam pelos templos, elevando os espíritos e fortalecendo os laços de comunidade.


Nas praças e parques, o sol brilha mais intensamente, refletindo a alegria e a paz que permeiam este dia especial.


Casais passeiam de mãos dadas, crianças brincam livremente e idosos contemplam o espetáculo da vida que se renova a cada ciclo.


É um dia de reflexão e gratidão, onde a mensagem de amor e perdão ressoa em cada gesto e em cada palavra.


Que o Domingo de Páscoa seja sempre da importância de cultivarmos o amor, a solidariedade e a esperança em nossas vidas, não apenas neste dia, mas em todos os dias do ano’.


Escrevo esta crônica, a primeira, com o auxílio da ‘inteligência artificial’.


Há dias assisti na Academia de Medicina uma palestra sobre o assunto e como utilizar essas ferramentas em medicina.


Hoje testei em literatura e o resultado transcrevi acima. Na vida moderna, quando acionadas as ferramentas disponíveis, conseguimos resultados como os apresentados.


Mesmo aceitando como uma grande conquista tecnológica, senti a falta da sensibilidade humana.


A missa esperada das nove horas era realizada na Catedral Metropolitana de Cuiabá. Celebrada por Dom Aquino Correa. Eu coroinha, entrava igreja, cuidando das vestes religiosas do celebrante da missa.


Vinha gente de todos os bairros da cidade, para ouvir o sermão de Dom Aquino, considerado o ‘príncipe dos poetas’.


No órgão da Catedral, Zulmira Canavarros com sua filha Maria, soprano.


O coral dos seminaristas com vocal do padre Pedro Cometi.


A população na rua se confraternizava e renovava a fé.


Todos alegres, usavam a sua melhor roupa e engraxava seus sapatos na engraxataria do bar do Bugre, com as mesas dos salões do bar ocupadas.


O Domingo de Páscoa era um dia de festa, que encerrava com a Procissão do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.


Essas são algumas recordações que guardo da minha infância, impregnadas de humanismo.


Deixo aos leitores uma análise crítica de ‘Domingo de Páscoa’.


O que fiz hoje foi uma ‘brincadeira’ neste domingo alegre.


Gabriel Novis Neves

30-03-2024


Altar-mor da antiga Catedral de N. Senhor Bom Jesus de Cuiabá
Fotografia publicada por Francisco das Chagas Rocha
no Facebook 






sexta-feira, 29 de março de 2024

FESTA DO PIJAMA


A minha bisneta mais velha está completando sete anos.


Fez jardim, pré e está no segundo ano do ensino fundamental.


Há dois tem aulas particulares de inglês, balé, canto, piano, tênis, natação e catequese.


Escreve, lê e fala fluentemente o português. Ainda não escolheu a sua futura profissão.


Sua mãe lhe perguntou como gostaria de comemorar a sua data natalícia e lhe deu várias opções para receber as suas amiguinhas.


Ela respondeu que gostaria de dar a ‘festa do pijama’.


Perguntei como seria essa festa, completamente desconhecida para mim.


Ela convidaria quinze coleguinhas, para dormir em sua casa!


Desde sempre que crianças adoram dormir na casa de amiguinhos.


Quando criança, dormi algumas vezes na casa de vizinhas.


Como era gostoso colocar debaixo do braço o pijama com escova de dente e creme dental!


Era um prêmio recebido da minha mãe. Só voltava para casa após o café com leite da manhã, que achava melhor daquele servido em minha casa.


Ficava aguardando com alegria minha vizinha da rua de Baixo retribuir a gentileza.


Uma das minhas amigas até hoje recorda comigo aquele ‘divertimento’ infantil.


Minha bisneta aniversariante, com certeza receberá presentes das amiguinhas e lhe irá dar uma lembrancinha do seu aniversário.


Será um pijama, chinelo, escova com creme dental, sabonete e toalha de banho — um enxoval completo para dormir fora de casa.


A modernidade nos surpreende com coisas do passado em ‘embalagens’ modernas.


Fiquei apaixonado com a escolha da minha bisneta para comemorar o seu aniversário!


Essa geração nova, quando bem orientada por pais e familiares, tem muita coisa boa que os antigos desconhecem.


Que motivo lindo a minha querida bisneta escolheu para festejar seu aniversário: festa do pijama!


Soa como tema carnavalesco em plena semana santa!


Ela herdou toda essa criatividade da sua mãe, que quando criança liderava suas priminhas e amigas em brincadeiras.


Pensei que adulta, seria diretora de teatro tamanho sua versatilidade.


Escolheu o curso de Direito onde se saiu muito bem, mas resolveu educar e bem os seus filhos.


E viva a ‘festa do pijama’ da minha bisneta amada.


Gabriel Novis Neves

27-03-2024




REZAR E ORAR SEMPRE


Fui criado na Igreja Católica, Apostólica, Romana.


Batizado, fiz minha primeira comunhão na Catedral Metropolitana de Cuiabá.


Crismado na igreja do Seminário, tive a honra de ter Dom Aquino Corrêa como padrinho.


Casei-me na igreja Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro. Minha mulher, sempre católica praticante.


Filhos, netos e bisnetos batizados na Igreja Católica.


Sou ‘católico-raiz’, não praticante. Quando possível, recebo a Eucaristia no hospital ou em minha casa.


O santo padroeiro da família Novis Neves é São Pedro. Sua imagem está no oratório da casa de minha irmã Aracy: coube a ela como herança.


Todos os anos, no dia 29 de junho, ela reúne a família para a comemoração da festa em honra dele.


Então, é feita a ‘reza do terço’, com belos cânticos dedicados ao Padroeiro.


A comemoração de fé a São Pedro por nossa família completa agora seus noventa anos.


Jesus — aceito por muitos como o Messias —, em seu curto ministério terreno, orientou, salvou e realizou milagres.


Mesmo assim foi crucificado, morto e sepultado. Após sua ascensão, a Igreja primitiva (Apostólica), mesmo duramente perseguida, foi espalhando a doutrina do Mestre mundo afora.


No final da Idade Média e início da Moderna, começaram a se levantar alguns descontentes contra a maneira como Roma dirigia a Igreja.


Os protestos culminaram com a dita ‘venda de indulgências’. Objetivo era angariar fundos para a construção da Basílica em Roma. É o que nos diz a história.


Os protestantes criaram a ‘Igreja Cristã Católica Reformada’. Daí surgiram inúmeras denominações, como os luteranos, calvinistas, puritanos, anglicanos, batistas, presbiterianos, em meio a outras.


Aboliram a adoração a qualquer tipo de imagem e santos. Seguiam a orientação de que a salvação vem da fé em um Deus único, representado apenas e suficientemente pela Santíssima Trindade, alicerçada, única e exclusivamente, na palavra de Deus, contida na Bíblia.


A Igreja Cristã Apostólica Romana empreendeu uma ‘Contrarreforma’, corrigindo erros e abusos ocorridos à época.


 Considero interessantes alguns vocábulos utilizados com semelhante finalidade. Se os católicos apostólicos romanos se referem a ‘rezar’, já os reformados preferem ‘orar ‘.


Os católicos apostólicos romanos adoram o Deus (Santíssima Trindade). Têm vários santos e orações, como a ‘ave-maria’, a ‘salve-rainha’, dedicadas aos santos de preferência.


Os católicos reformados ‘oram’ apenas para um Deus único. A Ele se dirigem diretamente, convictos de que não é necessária nenhuma intercessão para tal propósito.


Ambas as Igrejas professam a fé em Cristo, tendo como máxima a oração do ‘pai-nosso’, ensinada por Jesus. Faz parte do cânon bíblico.


O cristão da Igreja Reformada tem sempre a palavra de Deus na Bíblia Sagrada, a lhe acompanhar nos cultos. Dela tiram suas orações e agradecem sempre a Deus.


A reflexão e o estudo da palavra de Deus me franquearam ainda tempo, não digo para me converter para a religião evangélica, mas para compreender melhor a Bíblia dos evangélicos. Pude sentir toda a beleza de orar sempre e, principalmente, de bendizer uma graça recebida.


Sinto Jesus próximo a mim, iluminando-me o caminho. Pude, hoje mais que ontem, entender como é fácil rezar ou orar, permitindo-me um bate-papo amigo.  


E o faço diretamente com ELE! Diga se não sou um privilegiado?!


Gabriel Novis Neves

27-3-2024




quarta-feira, 13 de março de 2024

PRONTUÁRIO MÉDICO


Durante o período da minha internação hospitalar, fiz o possível para não deixar de publicar minhas crônicas.  


No que toca à de hoje, já tive o ensejo de escrever duas com essa temática, significativa em minha trajetória.


Problemas é o que não me falta nessas ocasiões, ainda mais por ser o protagonista.


Pensando no pobre do leitor, forçado a degustar verdadeiros ‘prontuários médicos’, decidi parar de escrever por certo tempo. Os achaques teimam em me fazer companhia.


Pelo menos até que esta fase finde, rogando a Deus não seja longa! Assim, meu cérebro terá seu repouso merecido e tranquilizador.


Ficará desligado de certas preocupações que envolvem a cidade, à semelhança do desmoronamento de parte dos paredões do Portão do Inferno, dificultando o trânsito que nos leva a Chapada.


Terei mais tempo para verificar tantas coisas belas que a natureza nos oferece. E até tempo demais para colher dados com vista à declaração anual do meu Imposto de Renda.


O camarada que inventou essa tal cobrança — logo apelidada de ‘Carne Leão’ — caiu em desgraças com o povo, que quer esganá-lo.


Está sempre a ‘garfar’ dos que mais trabalham, os quais encontram, em suas economias, um apoio para amenizar as agruras.


Este ano, o preenchimento do meu imposto de renda, será uma ‘barbada’ para a contadora.


A bem-dizer, não terei nada a acrescentar aos meus proventos que possa ser onerado. E saber que a sede do governo se agiganta, a cada dia mais voraz!


Já ficou longe o tempo de usufruir férias encantadoras, quando recorria a viagens em hotéis estrelados.


O tempo de que disponho — esta a verdade — é para ‘gastar’ em gente que cuide de mim, dado que já não me dou ao luxo de sair de casa.


Ideia é navegar por esse mundo do pensamento pouco conhecido e descobrir lindezas que nos enriqueçam. Riquezas que o Leão não pode ‘morder’.


As borboletas da dúvida voam à minha volta: daí a dificuldade de encerrar esta crônica. 


Preciso me revestir de uma couraça para tomar esta decisão difícil: estou a me privar de um dos prazeres que mais curto: ausentar-me do ato de escrever.


A vida é uma colcha de retalhos, envelopada com as experiências do dia a dia. O que nos está reservado para o dia de amanhã, quem é que sabe, senão Deus?


Vou interromper minhas crônicas por alguns dias.


Pretendo voltar energizado, disposto a lançar luzes sobre este período de reflexão.


Ah, prometo não recorrer ao estilo de ‘prontuário médico’! Agradeço-lhes a compreensão. 


Gabriel Novis Neves

13-3-2024




terça-feira, 12 de março de 2024

FONTE DE INSPIRAÇÃO


De uns tempos para cá, descobri que, deitado na cama, esperando o sono chegar, tenho tido muita ‘disposição’ para escrever.


Tudo que leio, ouço e converso durante o dia, pode me servir de ‘inspiração’.


Ouvindo música pelo ‘youtube’, a cuidadora, sentada no sofá, papeando com alguém ao fone de ouvido, começou a teclar a minha nova criação no iPhone.


Tudo por extrema necessidade de ‘esvaziar’ meus neurônios, cheios de informação.


Não me detenho à pontuação e fico concentrado no tema que elegi para a nova crônica.


Quando sinto que o sono vem, de mansinho, chegando, encerro meu trabalho.


Àa vezes, chego a findar a crônica. Outras, deixo os últimos retoques para a manhã do dia seguinte, tão logo abro o computador.


Faço uma ‘revisão geral’. E outras, mais específicas, para ‘temas especiais’, ao exemplo de psiquiatria, filosofia, teologia e estilística gramatical.


Cada pasta me é muito importante quando acionada, pois não sou um ‘sabe-tudo’, mesmo quando o tema cuida de medicina.


Terminei há pouco a minha gostosa soneca após o almoço. Como choveu esta madrugada, e continua a chover, o sono me foi reparador.


Ao meu lado, o tradicional chá de camomila com erva-doce, que a cuidadora tem o maior zelo de me trazer todas as tardes. 


Dou graças a Deus por me ter ensinado como viver bem o dia. Aliás, nem chego a ver o tempo passar.


Sinto que fui premiado — já lá se vão treze anos — com um jeito digno e especial para o entardecer dos meus dias.


Iniciei a escrever essas peripécias do cotidiano despertado por meu caminhar pelas ruas, avenidas e becos de minha cidade. 


Além desta temática autobiográfica, que agasalha aspectos do meu passado, tento abordar outras matérias com conteúdo variado.


Nesse andar, sem atropelos, espero que, quando a noite chega, possa estar sob o influxo de nova ‘inspiração’.


Assim, a vida caminha de forma serena para mim. Difícil — chego a pensar — de ser entendida por quem não se abeira do meu dia. 


A meu ver, ‘escrever’ é parte, hoje, de minha maturidade. Tenho comigo que, ao mesmo tempo em que isso me realiza, tem o dom de proporcionar a meus leitores um bocadinho de afago.


Só eu sei como me faz bem!


Gabriel Novis Neves

12-3-2024




domingo, 10 de março de 2024

QUE CHUVARADA!


Graças a Deus, nesses últimos dias desabou uma chuvarada daquelas em Cuiabá.


Prefiro que ‘o pé-d’água’ venha durante o dia. Quero sentir o forte vento batendo portas e janelas abertas. E mais: olhar o firmamento cinza-escuro com raios e trovões.


Pena que todo esse ‘escândalo’ foi por um curto tempo! Logo, estou certo disso, ela voltará.


O céu, em toda a extensão, continua chumbo, com a chuva bem distante. Na cobertura, as flores do meu jardim já saltitam de alegria. E agradecem!


As duas trepadeiras que embelezam os balaústres de concreto, se animaram. Tudo fica lindo quando chove por aqui!


Em razão das ‘bocas de lobo’ entupidas — um puro desleixo administrativo —, a sujeira se acumula nas ruas e avenidas, o que embaralha ainda mais o trânsito. Mas que vale a pena chover, ah, isso vale!


De onde moro, tenho ilusão de uma ‘cidade verde’, que um dia Cuiabá foi!


Lembrei-me de minha bela infância e dos brinquedos no ‘córrego da Prainha’, que foi aterrado e transformado em avenida.


Igualmente da ‘garimpagem’ do ouro e do seu comércio na ‘Casa Miraglia’.


Como me esquecer da correnteza das águas que escorriam por nossas ruas! Tudo que encontrava, era levado de roldão. Ah, como era gostoso ouvir o barulho das pedrinhas rolando!


Vem-me à mente o lindo ‘assanhamento’ das nossas aves e pássaros! Fazem uma algazarra só!


O Sol não apareceu ainda. Mais um pouco, todo vestido de ouro, vai se recolher para regressar amanhã. Isso se não chover!


A Lua não está com jeito de sair de casa hoje, espantada pelo mau tempo!


É de dar pena o que as chuvas fizeram na estrada que nos conduz a Chapada dos Guimarães!


Bem no trecho do ‘Portão do Inferno’, houve um sério deslizamento de terras, impedindo até o tráfego de veículos pequenos.


Ainda bem que, na virada do ano-novo, cercado de dificuldades e controle, esse tráfego foi restabelecido.


Mas, mãos aos Céus! Não houve vítimas. Felizmente! E a festa foi linda na ‘Chapada remoçada’! Como sempre!


Que Deus ouça Antônio Carlos Jobim e alongue este período até as ‘águas de março’!


Gabriel Novis Neves

11-3-2024




sábado, 9 de março de 2024

A CONTADORA


Depois que troquei o escritório de contabilidade, nunca mais tive problemas com a minha declaração do imposto de renda.


Minha excelente contadora é graduada em contabilidade por nossa Universidade. 


Este ano conquistei, todo feliz, um recorde: nunca lhe tinha sido o primeiro cliente a fazer a declaração do IR.


O número 1 do pódio sempre coube a uma médica, por sinal minha contemporânea. Ela, a detentora do troféu.


Pessoas de idade provecta são muito ansiosas e não deixam para amanhã o que podem fazer hoje. Querem resolver, de um tapa, todos os problemas que têm pela frente. 


Mesmo que a Receita Federal tenha prorrogado para maio a entrega da declaração, no terceiro dia da abertura do programa fiz questão de entregar a minha.


A próxima preocupação será em julho, quando devo fazer a “prova de vida”, torcendo por que a roda da existência continue a girar.


Descobri, na ida à contadora, um novo site inteligente, capaz de responder a perguntas que jamais supunha atinar.


É competente pra responder a qualquer indagação. Seja exemplo o desejo de escrever uma poesia sobre a cidade de Cuiabá.


Ainda que o Google seja uma marca internacional — muito mais rápido que eu pudesse imaginar —, hoje contamos, para nos auxiliar, com a inteligência artificial!


Pareceu-me ter ficado bem mais simples obter informações e estudar, bastando apenas ter um celular à mão.


Vejam só: descobri que nasceu em Vitória, no Espirito Santo, outro Gabriel Novis Neves. Tinha um ano mais novo que eu. 


Curioso: era médico, formado na mesma universidade onde cursei. Mais: especialista em infectologia e clínica médica. Pena não o tenha conhecido em vida.


O meu irmão Pedro Novis Neves, autor do livro “Raízes do Passado”, esteve pesquisando na Europa em catálogos telefônicos de hotéis, arquivos públicos, cartórios de cidades por onde passava. Intento era encontrar pistas a propósito do sobrenome ‘Novis’.


Agora, com um simples clicar do celular, tenho as mais sofisticadas informações das mais diferentes partes do mundo.


Quantas práticas tecnológicas caíram em desuso nestes últimos quarenta anos! E quantas surgiram e se multiplicaram nos últimos vinte!


Às vezes me pego a matutar com os meus botões: como será a Terra daqui a dez ou vinte anos? Nem é possível imaginar!


Só tenho uma convicção absoluta: o homem é uma criatura findável. Talvez para que o mundo continue a criar outras — e mais outras — mudanças em todos os sentidos.


Gabriel Novis Neves

10-3-2024




sexta-feira, 8 de março de 2024

O PRIVILÉGIO


Aqueles que me seguem pelo Bar do Bugre — blog onde publico minhas crônicas do cotidiano —, capitalizam a meu favor este desejo: continue ‘de bem’ com a vida.


Agrada-me esse carinho. Mas não creio que bate com a verdade: ao longo da minha longa vida, nunca estive ‘de mal’ com ela.


Enfrentei dificuldades no decorrer dos meus dias, mas sempre ‘de bem’. Nem de longe cheguei a pensar em ficar de mal com ela.


Não me era próprio pensar no envelhecer, no adoecer. Nem mesmo no ter os meus movimentos limitados.


Tive medo, sim. Sobretudo o de sofrer humilhações financeiras na última fase da existência.


Quantos casos conheço de pessoas que trabalharam a vida toda e, entradas na aposentadoria, precisaram da ajuda financeira de terceiros para arcar com seus compromissos.


A tanto é que chamo de humilhações financeiras, em especial aos que já navegam a nau dos setenta anos. 


Nessa altura, mesmo uma pessoa saudável tem sua despesa de farmácia elevada. Some-se a ‘extra’ com os cuidadores, que nos atendem vinte e quatro horas ao dia.


Para os longevos, ter um  fisioterapeuta é necessidade que se inicia nas academias. Depois, isso se dá em casa, onde o preço se agiganta.


O velho —  isso parece ser frequente — mora em apartamentos espaçosos com seus filhos. Há dos que continuam a residir em casas amplas. 


Quando o ninho fica vazio — dado o casamento dos filhos —, a solidão abate o velho. É aí que pensa em mudar para um espaço menor. Intento é minimizar os gastos.


Por vezes, nem consegue isso, pois, com o tempo, foi acumulando um mundo de quinquilharias, o que não lhe permite sair de onde está.


Listei alguns fatos que enfrentei — e que ainda enfrento no meu dia a dia —, sempre abraçando o lado bom da vida.


Fui obrigado a pôr, num segundo plano, alguns prazeres que a juventude tem em conta. É o caso das viagens, algo que sempre me fascinou. Como me dói saber que não as aproveitei!


Minha vida laboral acabou por privilegiar atividades associadas à profissão, relegando tudo quanto se referia a projetos pessoais.


Por isso, embora as falas dos amigos me sejam um afago — e quem não gosta duma palavra carinhosa —, chego a me surpreender.


Os que bem me conhecem, não ignoram que jamais deixei de buscar o que me faz bem. Ah, desde que isso não viesse a se opor aos interesses da comunidade onde vivo!


Gabriel Novis Neves

9-3-2024




CASAS VAZIAS


Durante a ausência domiciliar, por força da internação médica, minha casa ficou aos cuidados da cozinheira. 


Quando retornei, ela me disse da ‘tristeza’ que sentiu por ver a casa deserta. Algo meio sem alma, assegurou. 


Afinal, preparava o almoço com carinho, e não tinha a quem servir.


O silêncio invadia as dependências da casa. Sem vida. Como é triste viver só!


A expressão ‘casa vazia’ me fez lembrar do grande poeta português Fernando Pessoa.


Quando retornou à casa dos pais e ingressou o imenso salão, foi tomado de surpresa! Sim, ele havia se ausentado depois do falecimento deles! Voltou por força do inventário!


Seja dita a verdade: não reconheceu sua casa! Os que nela residiam, já tinham feito a lição terrena. E o que ficou, não os representava.


A cadeira de balanço e a máquina de costura, estas nem mais se achavam ali.


Algo à semelhança disso estava sentindo a minha cozinheira quando voltei: feliz por poder conversar e preparar os seus quitutes para mim.


E como é bom saber que minha falta fez tanta falta a ela!


Meu cotidiano forceja por voltar à normalidade, e o faz com muito vagar, em meio aos trancos e solavancos.


Meus exames de análise laboratoriais, bioquímicos e de imagens, tudo nos conformes. Quero voltar a fazer aquilo que fazia, embebido de mais alegria e prazer.


No tentar identificar o motivo do mal-estar que me abate, a enfermeira julga que isso se deve à dose cavalar de antibióticos com que me bombardeei.


Pergunto-me: por que é que a gente adoece, mesmo cuidando — e muito bem — de nossa saúde?


Na verdade, busco driblar esse mal-estar que tanto me atormenta. Saída é escrever este pequeno texto, ao modo de placebo.


Em tempo: jamais havia atravessado por um atalho desses. Quero, rápido, voltar a meus afazeres do dia a dia, pois os serviços teimam em se avolumar.


A meta agora — Deus olhe por mim! — é regressar logo à vida costumeira. Que saudades da casa cheia de gente e barulho! Já estou ansioso. Podem vir!


Gabriel Novis Neves

8-3-2024




quarta-feira, 6 de março de 2024

PROFISSÃO E MÃO DE OBRA ESPECIALIZADA


Aí dois enfoques do trabalho que têm o mesmo fim, ainda que diferentes quando se trata do custo ao consumidor.


O pessoal da mão de obra especializada possui, em sua maioria, ensino fundamental e médio, quando os possui.


Pelo serviço, cobra o que bem lhe apetece.


No que toca aos portadores das mais variadas profissões, exige-se deles o ensino superior em universidades, com registro em seus conselhos. Sem isso, não poderão exercê-las.


Os honorários dependem de tabelas. Fornecem recibo pelo serviço prestado.


Tais diferenças incentivaram o surgimento de ‘profissões invisíveis’, com remuneração bem maior.


Por não possuírem carteira assinada, descontam como autônomos com vista à aposentadoria pelo INSS.


Há bem tempo, elas só vingavam nos grandes centros urbanos, a exemplo de São Paulo e do Rio de Janeiro. Hoje se dissemina pelas capitais dos Estados.


Interessante que, quando precisamos dos serviços de ‘profissionais invisíveis’, a ajuda de intermediários é de lei.


Diferentemente ocorre com os de mão de obra especializada: a indicação é sempre do porteiro do edifício.


Quando se cuida dos profissionais com ensino superior, a gente se socorre sempre de um colega.


Sendo médico, passei pelo estreito e difícil corredor do vestibular, seguido por um curso de seis anos. Depois, frequentei três anos de residência médica. Só aí ingressei no mercado de trabalho, cara a cara com uma competição desumana.


Para ‘sobreviver’, o médico recém-formado é obrigado a atender no SUS, sob o jugo de tabelas ridículas. Adicione a tanto um plano de saúde também com suas tabelas irrisórias.


Ele tem de ir ao encontro de um dilúvio de pacientes por dia! Tão só para ‘sobreviver’.


O médico principiante não dispõe de clínica particular, cada vez mais rarefeita. Só o conseguirá se portar erguida especialização e demonstrar competência, o que implica uns vinte anos de serviços.


Há honrosas exceções.


Ressalte-se que, no caso da mão de obra especializada e das ‘profissões invisíveis’, quanto mais jovens são, mais ganham.


Convoquei um gesseiro para retocar um pedaço da parede do ar-condicionado da copa. O isopor, provisório, se estilhaçou com a ventania última.


A indicação do jovem, quem o fez foi o porteiro. O custo desse trabalho de quase uma manhã beirou a hora da morte. 


Curioso por saber o preço? De longe maior que o de um médico que atende aos pacientes do SUS e de convênios.


Alguém poderia, por favor, me explicar essa diferença de custos por serviços prestados? Com a palavra, os economistas!


Gabriel Novis Neves

7-2-2024






LADO A LADO COMIGO


Fui aconselhado por uma leitora a não mais escrever a propósito da morte. Sei, a cada dia, ela mais se abeira de mim.


No entanto, tenho tocado, de quando em vez, neste tema. Até mesmo como forma de aprendizado, a nos preparar para a partida final.


Mas a ‘indesejada’ está me espreitando à porta. Num dia destes, virá me convidar a acompanhá-la. É o destino de todo vivente.


Seguirei o conselho dado, centrando-me no que me atravessa o cotidiano.


Ontem à noite, o ar-refrigerado do meu dormitório não funcionava. A enfermeira recorreu ao turbo.


Logo, o quarto ficou bem gelado, e o problema parecia estar sanado. Mas, pouco antes de dormir, começou a vazar água do aparelho.


De pronto, telefonei ao técnico da refrigeração. Cansado, não me respondeu.


Busquei o mais simples: pus uma toalha de rosto dentro de um vaso de plástico bem debaixo do aparelho para que o ‘pingar’ constante não me incomodasse.


Acordei cedo. O técnico logo me chamou, querendo saber do que necessitava.


Expliquei-lhe o motivo, e ele me respondeu que logo estaria em minha casa.


Chegando, retirou a tampa do aparelho. O trabalho era o rotineiro: havia excesso de poeira na tela do aparelho.


Pedi que fizesse o mesmo com o aparelho do meu escritório e da copa.


Dada a proximidade com a cozinha, o da copa, além da poeira, estava com fungos.


Como é difícil e oneroso a função da dona de casa!

Todos os dias, brota alguma tarefa a ser cumprida. 


São pequenas coisas: não podemos permitir que se agigantem.


Amanhã me chega o novo fogão de cinco bocas para a cozinha. Comprei pela internet, pois o modelo é daqueles bem antigos.


O atual está franqueando a saída de gás, intoxicando o ambiente. Mais ainda: duas de suas bocas nem funcionam.


O técnico do fogão não tem mais o que fazer, restando-me tão apenas substituí-lo.


Noto que o dia a dia cuida de nos desviar a atenção de ‘temas’ fundamentais. Será o medo de enfrentá-los? É a vida!


Gabriel Novis Neves

6-3-2024




segunda-feira, 4 de março de 2024

QUATRO DIAS NA UTI


Os deuses determinaram que eu permanecesse quatro dias internado em uma Unidade de Terapia Intensiva.


Confesso-lhes: esta, não foi minha estreia. Já havia, por outras duas vezes, passado por lá. Graças a Deus, fui bem-sucedido.


Eita lugarzinho ruim para se submeter a tratamento! Uma cama estreita, nada confortável, mal permite que o paciente se volte para o outro lado.


Dormir cheio de monitores pelo tórax, braços e pernas, não é tarefa das mais agradáveis. Ainda mais sem a presença do travesseiro costumeiro. Ah, isso ninguém merece!


Acresça a luminosidade no quarto o tempo todo, com um entra e sai dos técnicos de laboratório de exames clínicos e de imagens.


Sem contar o ‘barulho’ irritante dos monitores e a presença contínua do pessoal da enfermagem e médicos.


As medicações se alteravam ao sabor do quadro evolutivo do paciente.


Ressalvo: foram quatro dias de ‘bons tratos’, sob os cuidados do corpo de enfermagem, muito competente sempre.


No dizer de meus filhos, cheguei ‘morto’ à UTI! Sim, bastante confuso, em septicemia, com pneumonia e infeção urinária.


Não lhes nego que cheguei a sonhar com o aniversário frustrado de meus 89 anos em julho.


Mais uma vez, a mão do Pai veio a meu encontro: obtive alta hospitalar na noite do quarto dia.


Vim com um “PIC” no braço esquerdo para terminar a sequência de dez dias do antibiótico.


Já as aplicações do antibiótico, com a sanilização do cateter, são realizadas pela enfermeira da ‘Help Vida’.


Passada a tempestade, vem a ‘bonança’. A meu sentir, ela se resume em estar de novo a postos, ocupando-me do que me faz sorrir o coração: escrever minha crônica.


Mesmo hospitalizado, não me furtei ao compromisso com os leitores. Que bom poder ‘tranquilizar’ meus amigos! Com saúde, tudo volta às boas!


Gabriel Novis Neves

5-2-2024