terça-feira, 31 de julho de 2012

Contramão


Conheci um trabalhador de salário mínimo com menos de cinquenta anos de idade. Era casado e possuía filhos com uma moça que vi crescer. Há um ano apresentou um câncer de pulmão e faleceu na fila do SUS enquanto esperava por providências.
As consultas marcadas e desmarcadas, os exames demorados e os retornos espaçados abreviaram, em muito, a sua permanência entre nós.
Seus companheiros de infortúnio tratados em clínica privada não estão curados, mas ainda nos fazem companhia e levam uma vida sem restrições.
Após o seu óbito a pobre família procurou a Defensoria Pública para o necessário inventário.
Uma série de certidões foi solicitada à viúva.
Ao chegar à Secretaria de Fazenda, para surpresa da viúva e dos parentes, descobriu-se que o falecido era proprietário de uma grande área rural em um dos municípios mais ricos do noroeste do Estado.
O município é novo, fica à beira de rodovia federal (174), suas terras são agricultáveis e sua riqueza maior é a criação de bovinos.
O pobre trabalhador morreu quase à míngua, sem saber que era milionário.
Será que o governo do Estado identificará quem é o criminoso proprietário dessas terras?
Fica a indagação a quem de direito.
A família do trabalhador necessita de resposta urgente para que possa concluir o inventário e se habilitar a receber uma mísera pensão do INNS.
Enquanto isso, há três anos não se faz transplante renal no Estado, e a fila já tem 688 pacientes esperando por uma oportunidade de viver.
O Hospital São Matheus deixou de atender os pacientes do plano de saúde do Estado - o MTSaúde - por falta de pagamento aos seus médicos.
Os jornais anunciam que cumprir lei no Brasil é para otários.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal não cumprem a lei do teto constitucional que regula o salário do funcionalismo público, os quais recebem acima do dito teto.
O pior é o efeito cascata que isso causa nos tribunais Estaduais da Justiça, onde o salário de um desembargador poderá chegar até a mais de cem mil reais, como no Rio de Janeiro.
Nessa cascatinha são beneficiados juízes e promotores.
E a viúva pobre milionária, vai ser julgada?
Estamos na contramão.

Gabriel Novis Neves
21-07-2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

PLANO DE GOVERNO

Um amigo perguntou-me se tenho o hábito de ler os Planos de Governo que os partidos políticos elaboram durante o período eleitoral para debater com a sociedade.
Respondi que não, por dois motivos principais.
Primeiro: porque nem o próprio candidato lê e, se por acaso ganhar a eleição, não irá cumprir nada que ali está escrito, por ser pura fantasia sem nenhum compromisso com a realidade.
Segundo: são verdadeiros caixotes de folhas digitadas, cheias de gráficos e números feitos por empresas especializadas.
Não tenho a mínima motivação para tomar conhecimento da compilação dos textos utilizados nestes documentos fictícios.
Entretanto, acho um mimo para a decoração de bibliotecas caseiras, mesas, além de indispensáveis para serem folheados nos debates da televisão.
Alguns candidatos mais legalistas registram esses planos de governo em cartório, numa demonstração de compromisso com a palavra empenhada no documento.
Geralmente, o candidato que adota esse recurso, está no desespero, e procura criar um fato novo na esperança de melhorar a sua coleta de votos.
Não tenho implicância com esses Planos de Governo, que facilmente são encontrados no comércio especializado e vendidos de acordo com o número de habitantes do município.
O pagamento é antecipado, em moeda corrente para não ficar em restos a pagar, cujas contas são quitadas se o candidato for o vencedor do pleito.
Algumas recordações sobre planos não cumpridos seria importante para reavivar a memória do eleitor.
Até a chegada do PT ao poder, os banqueiros internacionais eram pintados como demônios responsáveis por todos os males da humanidade.
Assim que o Lula ganhou a eleição para a Presidência do Brasil, o seu primeiro ato foi implorar para um banqueiro internacional, deputado federal tucano, que assumisse o Banco Central do Brasil por oito anos, com poderes ilimitados.
O candidato eleito governador de Mato Grosso em 2002 jurou por São Benedito que educação e saúde seriam secretarias técnicas e blindadas por ele. Foi só assumir o governo que adotou a política dos velhos coronéis de loteamento do poder.
O candidato vitorioso nas últimas eleições para a prefeitura de Cuiabá jurou no Conselho Regional de Medicina que o seu secretário de saúde seria um médico, e iria cumprir integralmente o seu período de quatro anos de governo.
Nem uma coisa nem outra foram feitas.
Há pouco tempo escrevi um artigo sobre a inutilidade das Audiências Públicas. Reúne-se um enorme grupo de pessoas, todos falam durante horas sobre o assunto da pauta e, ao encerrar a reunião, está esquecido tudo que foi dito.
Geralmente a solução para os problemas exigem recursos financeiros e essa atribuição é do executivo.
Poderia citar uma série de inutilidades, mas Planos de Governo e Audiências Públicas são amostras atuais e bastante significativas para o momento.
Plano de governo é como dizia o meu avô: “Só serve para inglês ver”.

Gabriel Novis Neves
20-07-2012

domingo, 29 de julho de 2012

Perfídia

Recebi do Conselho Federal de Medicina os termos da Medida Provisória 568/2012 e o Ofício Circular nº. 9 que serviram de inspiração e roteiro para este artigo.
Esta MP (Medida Provisória) deverá ser aprovada a toque de caixa pela fisiológica base de sustentação do governo e deverá entrar em vigor, se depender do Planalto, imediatamente.
Seu único mérito, dizem alguns, é o de ser uma represália às dificuldades e à oposição ferrenha das entidades médicas contra a invasão dos médicos cubanos, no Brasil.
Reduz em 50% os vencimentos dos médicos servidores federais ativos e inativos. Atinge, sobretudo, os médicos dos hospitais federais e universitários, o equivalente a 42 mil profissionais espalhados pelo país.
Essa MP “democrática” desconsidera a lei 3.999 que, desde 1961, determina uma carga horária semanal de 20 horas para médicos. Em 1997, foi aprovada a Lei 9.936, que permite aos médicos, que já trabalhavam 20 horas solicitar outras 20 horas, ficando com um total de 40 horas semanais e estendendo integralmente tal benefício à aposentadoria e às pensões.
Esta MP 568/2012 está sendo chamada de Perfídia pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Esta ignomía afeta grande número de categoria de servidores, sobretudo os ocupantes de cargos médicos do Poder Executivo.
É uma traição que prejudica todos os médicos federais e funcionários que recebem insalubridade. É uma insídia para prejudicar os médicos, nos seus vencimentos com aumento de carga horária. É uma desonra, em que, em 20 carreiras, o cargo de médico será afetado.
A insensibilidade social do governo “democrático” do Brasil coloca o nosso atendimento médico em um processo de retrocesso.
O atual governo é arrogante ao atropelar leis em vigor. Está criando uma cizânia na categoria médica servidora federal.
Não sei se o Ministro de Educação sabe desta MP, já que é um entusiasta defensor de abertura de novos cursos de medicina e aumento do número de médicos.
Um fato me chamou a atenção e estranheza: não encontrei na relação dos congressistas defensores dos médicos brasileiros, nenhum de Mato Grosso. Parece que a nossa bancadinha segue orientação do grande político cearense Ciro Gomes.
As consequências da adoção dessa MP são imprevisíveis. Mas, já sinaliza que será uma porta aberta para a importação de “médicos” de qualidades prá lá de discutíveis.

Gabriel Novis Neves
28-05-2012

sábado, 28 de julho de 2012

CHAPADA DOS GUIMARÃES


É um pequeno lugar onde a natureza guardou tudo que tinha de mais belo, e nos ofertou.
O primeiro presente que a cidadezinha ganhou, foi a sua proximidade com a minha Cuiabá.
O percurso mais utilizado para chegar lá é por uma rodovia asfaltada de mão dupla, sem acostamento, para liberar adrenalina nos seus turistas.
É um dos mais belos cartões postais que conheço - todo trabalhado pela natureza.
O cuiabano quando vai à Chapada sempre leva um agasalho, pois a temperatura lá é muito branda e nós sentimos frio abaixo dos 40º da capital eterna de Mato Grosso.
A subida da serra é uma delícia de se contemplar: cerrado, campo, mata alta, rochas, chapadão, crateras, cachoeiras, quedas de água permanentes - que dão origem a um dos troféus da região, que é o Véu da Noiva. 
Como diz o filósofo Villa, não é para se desprezar as belezas das cachoeiras-relâmpagos, que são produzidas apenas para o escoamento das águas das chuvas. Terminou o período das chuvas, essas cachoeiras-relâmpagos desaparecem. 
Chegar à Chapada é como chegar a um museu de artes. Suas esculturas maravilhosas, às vezes provocantes para os mais conservadores, estão localizadas após o Portão do Inferno, local mais perigoso da rodovia. Uma imensa rocha, de idade milionária, em forma de um fálico, constrange até hoje pessoas, e são motivos de perguntas infantis, querendo saber se aquilo é um bingolim.
As cachoeiras da Chapada se destacam, não pela altitude da queda das suas águas, nem pelo seu volume. O diferencial está na sua elegância inimitável. Uma fita de água branca despencando com tanta disciplina, que só notamos o seu impacto ao tocar com as águas que aguardam o seu abraço, produzindo nuvens de sedução.
O silêncio barulhento da natureza com a sua sinfonia inimitável - que me perdoem os gênios da humanidade.
Uma verdadeira orquestra de ventos, choque das águas, pássaros ornamentais, o ruído dos animais do chão, como o produzido pelo som de uma cobra fugindo na mata.
A lagoa azul é uma obra de arte construída pelas rochas de um azul mais belo que conheci. Rochas, verdes, sol, matas, flores, riachos, animais silvestres, a lua chegando e nós chegando à cidade de Chapada. 
A Igrejinha da época da fundação de Cuiabá e toda uma história no seu percurso. Assim vejo a sofisticada, hoje, Chapada, com os seus restaurantes de luxo e condomínios de gente rica, que decidiu adotar a cidade mais romântica e conhecida de Mato Grosso, como o seu berço de paz.

Gabriel Novis Neves
24-06-2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Eita coisa boa!


Já disse ao Chiquinho, já declarei pela televisão e já escrevi artigos afirmando que ele foi, sem sombra de dúvidas, o melhor prefeito de Cuiabá.
Recebeu uma cidade em morte cerebral e vai deixar uma cidade transformada em um imenso canteiro de obras, apta a receber uma Copa do Mundo.
Fiz essa declaração quando o Chiquinho era a nossa Geni.
As pesquisas começaram a pontuar negativamente a administração municipal quando as medidas impopulares ele as enfrentou. Certo ou errado veremos depois.
Durante o seu período de governo aconteceram inúmeros atos necessários à saúde da cidade, que nenhum prefeito quis enfrentar. Não sei de escândalos envolvendo o nosso patrimônio.
Deixou para o último ano de governo o seu maior troféu. Cuiabá será enredo da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira.
E não é só isso.
Todos os meses haverá uma feijoada com a bateria da escola para arrecadar fundos para o carnaval em fevereiro de 2013.
A bateria da Estação Primeira excursiona e encanta multidões de todo o planeta pelo preciosismo de seus arranjos instrumentais. 
Aqui em Cuiabá o Chiquinho fez questão de contratar, para animar as feijoadas mensais, a sua rainha.
Para dançar alguns segundos com a morena escultural só com a permissão do prefeito - o seu parceiro titular.
Em época eleitoral, os candidatos terão que fazer aliança com o Chiquinho para uns passinhos desajeitados de abdomens proeminentes com a Renata Santos, objeto de consumo dos grandes partidos e também dos nanicos.
Um candidato já ensaiou alguns passos, com autorização do nosso alcaide.
Época de euforia está acontecendo por aqui. Eleição para prefeito e vereadores, ocasião onde cai o nível de desemprego e o consumo aumenta na cidade, consequentemente, gerando impostos para a burra do tesouro municipal.
A paternidade das obras da Copa construída em solo cuiabano será de Cuiabá, mesmo que sejam elefantes brancos. As dívidas monstruosas para esse evento prioritário serão rateadas com todos os municípios.
E as feijoadas da bateria e sua rainha não será surpresa se entrarem no cardápio turístico da nossa cidade, especialmente durante os dias de jogos da Copa do Mundo.
Quem não gosta de carnaval não ama Cuiabá, brada o nosso Chiquinho aos opositores desse investimento de divulgação da nossa cidade.
Eita coisa boa! E a hipnose continua.

Gabriel Novis Neves
26-06-2012

quinta-feira, 26 de julho de 2012

ALINHAMENTO


Nunca vi gente tão preocupada com a gramática e com o lançamento de novos sinônimos para velhos substantivos como os nossos políticos. O último a ser lançado neste meio de inverno e início de campanha ao próximo pleito municipal é alinhamento.
Esse substantivo masculino, outrora traduzia fileira, apuro, traçado do eixo, engajamento, adesão.
Eu faço associação de ideia de alinhamento com oficina mecânica verificando o eixo das rodas do meu carro.
Em política moderna alinhamento significa que o exercício do poder no Brasil só é eficaz se o prefeito for do mesmo grupo do governador, e este do presidente da República.
Este alinhamento fará jorrar recursos federais para o governo do Estado e do município.
Será que esse cordão criado por marqueteiros, e repetido por governadores e prefeitáveis, de fato funciona?
Mato Grosso está alinhado com o governo federal. A presidente da República cortou alguns milhões em recursos para alguns Estados. Um dos premiados foi o nosso. Valeu ser alinhado ou desalinhado com uma boa bancada no Congresso para negociar o preço do alinhamento?
A justificativa foi a crise nos países do euro. O grupo alinhado agradece o corte de recursos, pois é uma forma de ajudar o Brasil a vencer as dificuldades dos países ricos.  
Alexandre Garcia relata que esteve no olho do furacão da crise europeia. Por lá não viu nada e, nos jornais cuja imprensa é livre, leu algumas notícias relacionadas a ajustes da moeda.
Com relação ao Brasil, nenhuma notícia. A cassação do senador do Cachoeira não mereceu nem notícia de rodapé dos jornais.
Parece até que a crise existe no Brasil, o que não é verdade. Enfrentamos alguns probleminhas próprios de países em desenvolvimento, como inflação, aumento da taxa de desempregados e greves. Coisas normais, nada a preocupar.
Aqui em Cuiabá, o meu bom Lúdio recebeu ordens para adotar, como bandeira de campanha para ganhar as eleições municipais, a defesa do alinhamento. O governador do Estado, seu mais forte aliado, já embarcou nessa, e só fala em alinhamento, mesmo sofrendo cortes de recursos do governo federal.
Lúdio é contra privatizações, e o governo federal só pensa em privatizar o que ainda restou dos governos FHC e Lula. Agora a vez é dos aeroportos.
Lúdio não gosta de ouvir falar em Organizações Sociais na Saúde. O governador do Estado entregou a administração de todos os seus hospitais e alguns serviços de saúde às OSS.
Nem o ex-partidão da estrela está alinhado em Cuiabá. Está difícil alinhar o desalinhado grupo na eleição de Cuiabá como estratégia de vitória.
No momento, o meu bom Lúdio não tem discurso para a campanha. Alinhamento não é plano de governo e nem as pedras de Cuiabá acreditam nessa novidade de se conseguir recursos federais.
O candidato já disse que é contra a privatização da Sanecap, que já foi vendida. O seu partido, desde que assumiu o poder, só pensa em privatizar.
O governo do Estado, que lhe ofereceu o seu vice, entregou toda a saúde pública às Organizações Sociais (OSS).
Lúdio, como a maioria dos médicos e trabalhadores de saúde, foi contra e lutou para que esse crime não fosse cometido contra a população pobre.
O pior é que os resultados estão aí e, o governo Estadual, que apoia o candidato do PT, cometeu um tremendo equívoco enfrentando, inclusive, as recomendações do Conselho Federal de Medicina contra a privatização da saúde pública pelas OSS.
Seria estratégico para o candidato que tem luz própria perder a direção e sair da loucura do alinhamento para procurar novos caminhos.
Com certeza terá mais votos.

Gabriel Novis Neves
17-07-2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Interpretação


Uma realidade pode ser interpretada pelos números. Quando isso acontece, e acontece com muita frequência, imediatamente lembro-me da definição genial do economista do Livramento - Roberto de Oliveira Campos: “Essa sua interpretação está igual biquíni; mostra tudo e esconde o essencial.”
Todo mundo no planeta Terra sabe que a nossa educação é uma das piores. Pois bem, estou lendo uma matéria de uma jornalista de Brasília, dizendo que “as classes C, D e E são maioria nas Universidades Federais.” E mais, “que esse perfil desmistifica a ideia de que a maioria é de famílias ricas.”
Continuando a verdade dolorosa: “mas, nas áreas mais concorridas, há poucos de baixa renda.” Entenderam? Prosseguindo, “o percentual de alunos de baixa renda é maior nas instituições de ensino das regiões Norte (69%) e Nordeste (52%) e menor no Sul (33%).”
É o que mostra a pesquisa da Associação dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior (Andifes), sobre o perfil dos estudantes das universidades federais. Para a Andifes, o resultado do estudo, que teve por base 22 mil alunos de cursos presenciais, desmistifica a ideia de que a maioria dos estudantes das federais é de família rica.
Os dados mostram, entretanto, que o percentual de alunos das classes mais baixas permaneceu estável em relação a outras pesquisas feitas pela entidade em 1997 e 2003. “Os reitores destacam que a inclusão dos estudantes das famílias mais pobres não é a mesma em todos os cursos. Áreas mais concorridas como Medicina, Direito e as Engenharias, ainda recebem poucos alunos com esse perfil.
Nas universidades federais, os brancos são 53,9%, pretos 8,72%, 32% pardos e os indígenas menos de 1%. O estudo mostra ainda os egressos de escolas públicas, que representam 44,8% dos estudantes das universidades federais. Outro dado que não pode ser desprezível, é que menos de 3% dos universitários leem jornais e 20% dizem que se informam pelos telejornais. A internet é a principal fonte de informação dos universitários de instituições federais: 70%. Um quarto deles participa de atividades culturais e mais de 60% nunca participou do movimento estudantil.
Esse é o perfil do estudante universitário das instituições federais. “Ficou claro na pesquisa que, assim como existem no Brasil cidadãos de primeira e segunda classe social, no ensino superior temos também os cursos de primeira classe (Medicina, Direito e Engenharias), pouco acessíveis aos alunos pobres, e os denominados cursos “de cuspe”, em que o professor discursa o tempo todo, tendo como laboratórios, giz e lousa.”
O número de vagas ociosas nos cursos de segunda classe é grande. A educação tem como uma das suas finalidades, a melhoria da qualidade de vida dos seus estudantes e da população por eles atendida, que esses cursos não oferecem.
No início da nossa UFMT, os considerados cursos de segunda classe, que eram o de formação de professores, funcionavam com 01 (um) a cinco alunos: Matemática, Biologia, Física, Química, Letras.
Nessa época, o vestibular era eliminatório, isto é, o aluno era reprovado. As vagas ofertadas não eram preenchidas e ficavam ociosas. Hoje, ninguém é reprovado no vestibular, apenas não se consegue uma boa classificação. Poderá ser preenchida em caso de abandono ou falta de ajuda ao aluno para fazer o curso, mesmo em universidade pública.
Infelizmente o aluno pobre é minoria nos cursos nobres por falta de uma educação básica de qualidade e condições sociais adversas para o enfrentamento com aqueles que foram mais bem preparados.
A educação no Brasil não é democrática. Os números estão postos. Meditem sobre o futuro dessa nação, cada vez mais desigual e injusta com a sua juventude.
É a minha interpretação.

Gabriel Novis Neves
05-08-2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

COREOGRAFIA RELIGIOSA


Nasci na primeira metade do século XX. Naquela época os religiosos/as da Igreja Católica Apostólica Romana, usavam vestes próprias: as batinas e os hábitos.
As missas eram realizadas em latim, com o oficiante em um altar de costas para os fiéis.
Nem pensar em receber a Santa Eucaristia sem antes passar pelo confessionário.
A igreja era um lugar de paz, meditação consagração e agradecimento. Um órgão acompanhava uma cantora lírica e um coral na interpretação dos hinos sagrados, que penetravam fundo em nossos corações.
Era o ritual da fé. Saíamos do templo sagrado certos do perdão alcançado e de alguma graça pedida e recebida.
Os tempos agora são outros. A sensação que fica aos mais antigos que frequentam a moderna igreja católica, é que foi passada uma borracha nos rituais de antigamente. A fé agora precisa de amuletos.
Estas mudanças, dizem os entendidos, foram feitas com o objetivo de captar mais ovelhas para o rebanho do Senhor. Muitas estavam sendo atraídas para outros pastos.
Entretanto, na prática, não foi bem isso que aconteceu. As estatísticas e os serviços da igreja comprovam que, mesmo assim, esse rebanho foi reduzido.
Das inúmeras inovações introduzidas no modernismo da religião católica, quero citar apenas uma: a coreografia religiosa. Dizem que ela age como fator agregador da fé. Tenho minhas dúvidas.
Infelizmente, o culto religioso dos tempos modernos, se assemelha muito a um grande programa de auditório. Todos dançam, cantam e batem palmas.
No entanto, a motivação de quem sai de casa para assistir a uma missa é totalmente diferente daquele que procura um prêmio em um auditório do Gugu, Faustão, Sílvio Santos e tantos outros.
Além de produzir a desconcentração dos fiéis no momento do encontro espiritual tão procurado, tentam homogeneizar os sentimentos das pessoas.
A música eletrônica, com bateria e puxador de hinos, deixa na saudade o som dos antigos órgãos, que funcionavam como chave para abrir comportas das nossas emoções.
Será mesmo que essa recente coreografia religiosa, que transformou o espaço de orações em um imenso auditório de programa de diversão, era para evitar a evasão de fiéis? Não creio.
Não creio que a coreografia religiosa implantada, tenha aumentado a fé dos ferrenhos seguidores das palavras do Senhor. Pelo contrário, foi uma ducha fria na fé de muitos.
Se até hoje acreditamos nos dogmas da igreja, por que acrescentar a coreografia inibidora?
Temos muito ainda que analisar. Religião para mim é questão de fé. E a fé não precisa de artifícios para ser incorporada ou mantida.

Gabriel Novis Neves
21-02-2012

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Medicina moderna


É a que se pratica nos melhores centros médicos do país. O paciente é transformado em um número - entre senhas, computadores, máquinas, robôs, macas, corredores, filas, ambulatórios, consultórios, laboratórios, centros cirúrgicos, UTIs.
Nesse momento desaparece o paciente ávido por alguém que se preocupe com a sua história de vida. Fragilizado, ouve vozes de comando programadas por aparelhos, quando necessita de vozes humanas que conheceu ainda na vida intrauterina, por volta da vigésima semana de gestação.
As vozes que ouve para orientá-lo nos procedimentos são robóticas, sem nenhuma emoção – que só a voz humana é capaz de transmitir.
O diagnóstico atual de uma doença orgânica é feito pelos exames complementares, como se eles pudessem entender um olhar de sofrimento ou produzir uma sedação pelo contato com as mãos do paciente.
Geralmente, na medicina moderna, o paciente não possui um médico e, tampouco, hospital, fatores tão importantes na reabilitação dos enfermos.
O conhecimento médico é abastecido diariamente por tantas informações novas, que o saber ficou microfracionado e o paciente precisará ser atendido por uma infinidade de especialistas.
É comum um paciente grave ser atendido por uma série de especialistas, só que nenhum deles é o responsável pelo paciente.
O idoso é o que mais padece por falta de um médico, embora frequente um grande número de especialistas.
Não é só o doente que sofre com o atendimento da medicina atual.
O médico dos tempos atuais está prensado entre a ‘educação continuada’, fornecida pela indústria farmacêutica nos consultórios e ambulatórios médicos, como pelo próprio ensino universitário, que informa sobre as milagrosas novas drogas. São os professores universitários que em sala de aula transmitem ao aluno de medicina as excelências das suas pesquisas aos laboratórios das multinacionais.
Os cursos de medicina não são mais procurados pelos jovens que desejam exercer a medicina da área básica: saúde pública, clínica geral, cirurgia geral, clínica pediátrica e ginecologia e obstetrícia.
Diante dessa pequena foto da nossa medicina moderna, inacessível à população de baixa renda, e maioria neste país, convido a todos a uma reflexão sobre o nosso futuro em tempos de eleições.
O modelo vigente é para os ricos.
Os pobres jamais terão acesso às conquistas caríssimas da ciência médica. Terão que se contentar com a justificativa de que falta somente gestão para melhorar a saúde deles.
Nunca falarão em recursos tecnológicos como os oferecidos pelo hospital Sírio Libanês e Albert Einstein - só para citar dois exemplos.

Gabriel Novis Neves
18-07-2012


* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

domingo, 22 de julho de 2012

EMBOTAMENTO AFETIVO


Não consigo entender, e fico a me fazer algumas indagações sobre o embotamento afetivo nos dias de hoje.
Que tipo de sinapses nervosas nós estaríamos desenvolvendo na era moderna em que tudo se torna descartável em meses, dias, horas ou minutos?
Estaríamos nós sofrendo de mutações tão drásticas, que a dissolução dos sentimentos e emoções se dá tão rapidamente que já não temos mais tempo para perceber?
Estaríamos nós sendo tragados, com todo o seu poder de destruição, pela máquina monstruosa do consumismo?
Será que qualquer simples ameaça de entrega a um único objeto de amor ou desejo desencadearia imediatamente uma violenta reação química contrária, fazendo com que todos os sentimentos fossem anulados drasticamente, como num filme de ficção científica?
O embotamento é visível em todas as áreas: econômica, social, política, cultural e, desastradamente, na área vital para o ser humano, a afetiva.
E o que dizer quando esse embotamento é medicamentoso? Vivemos numa cultura que penaliza “os estados de infelicidade", enfatizando que eles devem ser tratados, ainda que as suas causas sejam plenamente justificáveis.
São as perdas, desencontros, conflitos familiares e toda a gama de sofrimentos que o simples viver nos impõe.
Não por acaso as doenças vem aumentando, apesar dos avanços científicos e tecnológicos vigentes.
Estará a nossa córtex cerebral perdendo a capacidade de fortalecer o nosso sistema imunológico e com isso fazer com que sejamos mais sensíveis ao estresse e às ameaças do meio ambiente?
Enfim, viver a era dos mutantes é uma tarefa nada fácil.
É só pensar que todas as transformações e avanços da humanidade aconteceram, na sua maior parte, nesses últimos setenta anos.
Até aí, os nossos ascendentes viveram de uma maneira mais ou menos linear, sem necessidades de adaptações tão rápidas.
Não será tudo isso um motivo de reflexão?
Será que a afetividade tem que ser exercida em segredo, propiciando-nos o sonho do conforto protetor debaixo das asas dos nossos sentimentos, inexistentes antes da corrida do desenvolvimento econômico?
"Para o mundo você pode ser uma pessoa, mas para uma pessoa você pode ser o mundo". (Anônimo)
O embotamento afetivo, como ele se tem apresentado, pode ser traduzido como o final do mundo das emoções.
Resta-nos o sentimentalismo, que é o sentimento que não compartilhamos, dizia o romancista inglês Graham Greene.

Gabriel Novis Neves
22-06-2012

TV Senado


Recebi de um amigo da Universidade da Selva - hoje morador de Friburgo (RJ) - um e-mail em que ele me recomenda assistir pela TV as sessões do Senado Federal.
Diz ele que eu vou gostar de ouvir discursos como os das senadoras de São Paulo e do Rio Grande do Sul – “às vezes, elas presidem as sessões da Câmara Alta com pulso firme”.
Faz elogios ao senador Raupp, de Rondônia, pela sua lucidez e cobranças ao governo.
Acha o senador do Amazonas, Eduardo Braga, muito seguro nas suas teses, e o Collor inteligente.
Dos senadores antigos o troféu é do gaúcho Pedro Simon.
Lamenta a ausência dos senadores do nosso Estado nos debates dos grandes temas nacionais, como educação e o caos urbano das grandes cidades.
Confesso que já fui assíduo telespectador das sessões da TV Senado, que é gravada e reprisada em horários que o trabalhador está em casa.
Mas, com tantos deslizes éticos naquela Casa de Leis, onde impera o mais descarado desrespeito às leis e aos cidadãos, há tempos optei por assistir ao Programa do Ratinho - com a sua grande atração, que já foi do Senado, que é o teste do DNA.
Ainda mais agora que o Senado sofreu mais um duro golpe: o desmascaramento do senador paladino da ética e da moralidade.
O discurso da maioria dos parlamentares não é coerente com suas ações. O que se vê é uma grande confraria de homens que “não são qualquer um”.
Estão na Casa cobiçada cuidando dos seus próprios negócios e dos grupos que representam.
A CPI do Cachoeira é um exemplo. São poucas as pessoas que têm estômago para ligar a TV Senado e acompanhar o que se passa por lá. Ver, por exemplo, lado a lado em grande cumplicidade, o “contraventor” e o ex-ministro da Justiça do Brasil, é mesmo de causar engulhos. O pior é que, como ministro, ele sabia de tudo e nunca condenou ou puniu ninguém dessa quadrilha.
Vou discordar do meu amigo, e, à noite, vou procurar na TV circos mais populares e inocentes.

Gabriel Novis Neves
24-05-2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

ESTADO AGIOTA


O Estado brasileiro é um assaltante - todos sabem. Trabalhamos quase cinco meses por ano para sustentar essa ineficiente e monstruosa máquina burocrática instalada em Brasília.
Máquina cheia de gambiarras para sustentar privilégios - proibidos de serem mostrados aos brasileiros.
Comparado com países ricos e civilizados, é um verdadeiro disparate o custo dos membros dos poderes no Brasil, que diz ter como meta exterminar a pobreza.
Difícil acreditar nessa corrente em um país esbanjador.
Estou lendo e ouvindo explicações de um especialista sobre o que escrevo.
Um amigo conseguiu cópia de um documento oficial que começou em 2001 com a assinatura de um convênio bilateral de pequeno recurso para obras emergenciais em área prioritária para o Estado. Há nove anos roda por um ministério de Brasília a prestação de contas do serviço executado, sempre com o famoso “ao, ao, ao”.
Ninguém decide o assunto, no caso, favorável, para colocar um final nessa indústria que o governo federal montou para cobrar juros de mora, com atualização.
Não houve dano ao patrimônio público ou desleixo com o acordo firmado.
Apenas dificuldades que surgem contra pequenos Estados sem representatividade em Brasília.
Incompreensível o governo federal rolar um documento de prestação de contas apenas para receber pequenos juros de mora, e deixar milhões de reais saírem impunemente pelas bolsas, cuecas, caixa dois, funcionários fantasmas, laranjas, superfaturamento das obras entre outros desperdícios. Não dá para entender.
Isso não é agiotagem?

Gabriel Novis Neves
22-06-2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Políticos e doença


Apesar de todos os avanços e sinais de modernidade que o Brasil tem experimentado, existe um preconceito que nem o presidente Bossa Nova conseguiu se libertar dele: o da crença de que os políticos não podem expor suas doenças.
JK, durante o seu mandato, sofreu um infarto do miocárdio. O assunto ficou com o Serviço de Segurança Nacional. O Brasil e o mundo jamais poderiam saber que o construtor de Brasília estava infartado.
Seria uma tragédia nas bolsas de valores e uma injeção de ânimo nos golpistas de plantão.
Antes de JK, o presidente Café Filho internou-se no Hospital Público dos Servidores do Estado (IPASE), com um quadro de infarto do miocárdio em área não nobre e, após a sua alta, não era mais presidente.
Tentou montar um governo constitucionalista no navio Almirante de Tamandaré, e o sonho terminou em Santos.
Antigamente os políticos escondiam as suas doenças.
Dois, dos quase presidentes contemporâneos, deixaram de assumir as suas funções exatamente por não revelarem suas doenças, enquanto era possível uma reversão pela ciência médica, que não realiza milagres: Petrônio Portela e Tancredo Neves.
Quem inovou no sentido de revelar publicamente suas patologias médicas foi o General Figueiredo.
Até o governo FHC, os presidentes, ministros e outros barnabés graduados, utilizavam hospitais públicos.
Tancredo morreu no hospital da USP.
Hoje, de dez políticos cujas despesas médico-hospitalares correm por conta do contribuinte, dez preferem o particular midiático Sírio Libanês, com médico-doutor recepcionista.
Político doente perdia eleição - era parte da crença popular.
O preconceito contra políticos que revelavam seus problemas de saúde chegou ao ponto do povo brasileiro eleger um atleta (Collor), para comandar o Brasil.
Reconheço que nos tempos atuais esse preconceito diminuiu, mas não foi extinto.
Existem ainda aqueles que preferem esconder os seus males, se isso fosse possível com os sofisticados meios de comunicação.
Não revelar uma doença hoje, enquadra-se perfeitamente no velho ditado que diz que a emenda saiu pior que o soneto.
Há uma forte e verdadeira razão para alguns políticos não revelarem os seus males: é por simples pudor.
Enquanto eles têm enormes facilidades de hospitalização e tratamento nos melhores hospitais do Brasil, os pacientes do SUS, com patologias muito mais sérias, morrem nas filas de espera.
Aqui em Mato Grosso não se consegue uma internação hospitalar nem com mandado judicial à Secretaria de Saúde do Estado.
 A justiça fica desmoralizada e, muitas vezes, o paciente morre e não acontece nada ao Estado.
São vários os casos de pacientes que ficam nos depósitos das enfermarias hospitalares aguardando por uma oportunidade de vida ou de morte.
Já para os nossos políticos essas dificuldades inexistem.
Há sempre vagas e equipes médicas altamente qualificadas, com chefe de recepção e pagamento de honorários, sem tetos e atrasos, com os recursos dos contribuintes brasileiros aos hospitais, serviços auxiliares e médicos.
Os nossos políticos e altas autoridades dos três poderes e anexos, não conhecem um hospital público, pois, até um simples curativo eles fazem fora do Estado.
Mesmo os hospitais privados estaduais, com excelente corpo clínico, são ignorados pela elite responsável pela saúde dos pobres (SUS).
É uma falta de respeito o que esses senhores fazem em nome da democracia.
O pudor de esconder uma doença é para poucos e chega a causar estranheza.
Pobre país em que os governantes são cruéis, até na doença dos seus semelhantes, demonstrando que não somos iguais.

Gabriel Novis Neves
29-06-2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

COMEÇOU MAL


Sou amigo do Mauro Mendes e fui seu eleitor para governador do Estado. Acredito que ele está preparado para administrar Cuiabá - empreitada bastante difícil.
As pesquisas, no momento, lhe dão o 1º lugar e a possibilidade de vencer a eleição no primeiro turno.
Entretanto, Mauro Mendes começou mal o seu trabalho de visitas. Foi muito infeliz na sua declaração à imprensa após uma visita a um hospital privado de Cuiabá, quando se referiu à qualidade dos atendimentos.
Disse ele: “Seguramente, o fator gestão é o grande causador da péssima qualidade dos serviços oferecidos nas instituições. Se melhorarmos muito a gestão, vamos melhorar muito o resultado e a qualidade da saúde em Cuiabá”.
Entenderam? A proposta do candidato é colocar um grande gestor na saúde, como se isso, e somente isso, fosse resolver todos os problemas da nossa combalida saúde pública.
Basta enumerar alguns aspectos para percebermos o caos instalado: salários indignos dos trabalhadores da saúde; número insuficiente desses profissionais para atender, e bem, a demanda de serviços; espaços físicos inadequados, pois os que estão aí, não estão dentro da filosofia da hierarquização do SUS - que começa com a atenção básica nas unidades do Programa Saúde da Família, equipado para terminalidade naquela fase e equipes com perfis técnicos para esse tipo de atendimento. 
Continuando, ainda podemos citar: as UPAS (Unidades de Pronto Atendimento e Social)  de número insuficiente e,  ainda não funcionando. Policlínicas em pontos estratégicos da cidade, que deveriam ser equipadas e funcionando bem para desafogar o Pronto Socorro.
Serviços outros, como Pronto Socorro para os usuários dependentes químicos e moradores de rua, que exige espaço físico e pessoal treinado (existente em Cuiabá, mas que a prefeitura não contrata por falta de recursos), simplesmente não funciona.
Finalmente, o novo hospital a construir, pois temos um que precisa de uma enorme plástica para ser reconhecido como hospital.
Tudo isto não se faz com discursos, e sim, com recursos.
Caro candidato, se o problema fosse gestão, Mato Grosso seria modelo para o mundo.
A Secretaria Estadual de Saúde, em oito anos, contou com a administração de médicos por apenas dez meses. Para se ter uma ideia da situação, o último secretário médico ficou no cargo, contando o dia da posse e os sábados e domingos, somente vinte e três dias.
O resto do governo da gestão foi comandado por um executivo de uma das empresas do agronegócio.
Esse período ficou marcado na história da saúde pública como o que fechou o maior número de hospitais do Estado.
Cuiabá perdeu 1000 leitos hospitalares e muitos serviços de ponta foram fechados no período da ‘boa gestão’.
O município de Cuiabá, nos últimos dez anos, teve mais de dez secretários de saúde. Atualmente é um leigo, amigo do prefeito.
Meu caro candidato, esse discurso de má gestão para os males da saúde pública é velho, repetido e não desperta nenhum sentimento de esperança de melhoria do serviço no eleitor, pelo contrário.
O próprio ex-presidente da República, que um dia afirmou que o SUS estava à beira da perfeição, já reconheceu o seu erro e pediu perdão ao povo brasileiro.
Após alguns meses de tratamento de uma séria doença em hospital privado em São Paulo, na sua primeira entrevista à imprensa disse: “Estou curado porque tive oportunidade de me tratar em um hospital particular. O problema da saúde pública no Brasil é a falta de dinheiro para a saúde”.
Reformule senhor candidato, o seu discurso para tratar dos assuntos para a saúde. Converse com o PR, que fez uma gestão ‘exemplar’ durante oito anos no Estado - e o resultado foi o maior sucateamento dos serviços da saúde nunca visto por estas bandas.
É importante lembrar o quase desaparecimento do Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa, que atendia aos pobres.
Ouça a voz da experiência. Procure em São Paulo o doutor Adib Jatene que, por muitos anos, foi gestor do INCOR quando este era o hospital dos presidentes, ministros, senadores, governadores e milionários.
Talvez o renomado médico do coração lhe convença a procurar recursos extras para a saúde. Não repita o fedorento e preguiçoso discurso dos seus antecessores.

Gabriel Novis Neves
15-07-2012