terça-feira, 30 de novembro de 2021

VIDA DIFÍCIL PARA QUEM TORCE


Não é nada fácil a vida do torcedor do Cuiabá Esporte Clube. Além de torcer pela vitória do seu time, tem que secar os jogos dos seus adversários da zona do rebaixamento.  É um estresse que só terminará na última rodada do campeonato brasileiro da série A, também chamado de “brasileirão”.


Ontem dei sorte torcendo contra dois times concorrentes do Cuiabá pela sua permanência na série A.  Não basta eu ficar “secando” os adversários do clube da nossa cidade.  Ele tem que vencer as partidas, especialmente as jogadas em Cuiabá.  E até o VAR está nos atrapalhando, dificultando a conquista dos três pontos da vitória por um do empate não merecido.


A tabela do brasileirão tem que ser vista pelos torcedores do Cuiabá, de baixo para cima.  Duro saber que essa agonia da luta pela permanência na 1ª Divisão da série A do brasileirão, ainda demora dez dias para acabar.  


E não há jogo fácil pela frente do nosso time.  O próximo adversário do nosso Cuiabá, na Arena Pantanal será simplesmente o Palmeiras, Campeão da Libertadores.


Teremos que conquistar a vitória contra o campeão da Américas para somar os três pontos da provável classificação e continuar disputando a série A do Campeonato Brasileiro!


Um improvável rebaixamento do Cuiabá seria o fim desse esporte em Mato Grosso.  Até lá muitas promessas e sucos de maracujá.  As máquinas calculadoras continuarão trabalhando até o apito final do árbitro, que imaginamos não ter que consultar o VAR!


Gabriel Novis Neves

29-11-2021




domingo, 28 de novembro de 2021

CHEIRO DE NATAL


Quando as pequenas lâmpadas coloridas que encobrem o prédio em frente ao edifício onde moro foram acessas, senti que o Natal está chegando.  Antes mesmo da presença do Papai Noel e presépios, a iluminação do prédio me conduziu ao sonho da minha infância.  Pelo sonho somos levados com facilidade ao nosso passado, e sonhar com o Natal e suas envolvências não é pesadelo.  


As crianças da minha geração, muitas vezes descalças, já em férias escolares, saíam em grupos batendo palmas nas portas das casas e gritando perguntavam se ali tinha presépio.  Esse ritual era cumprido até o Dia dos Reis Magos, quando os presépios eram desmontados.  


As pessoas mais idosas também cumpriam esse ritual da visita aos presépios logo após o entardecer.  Era uma verdadeira romaria.


Na Cuiabá de antigamente tínhamos presépios super bem estruturados, como os da casa da dona Balbina, no sobrado do casarão da Rua Voluntários da Pátria. Da casa do “seo” Agostinho no início da Rua do Campo. O da Catedral Metropolitana no Centro de Cuiabá. Da Igreja de São Gonçalo, no Porto, e alguns em casas do Porto e Rua Nova.


Também existiam presépios bem mais simples. Em todos eles não podiam faltar às pitombas que, não raras vezes, arrancávamos algumas para saboreá-las.


O período de Natal era muito esperado por todas as crianças de Cuiabá de antigamente.  Era época de férias escolares; de pitombas; de escrever cartas ao Papai Noel pedindo presentes; das árvores de Natal; da Missa do Galo à meia-noite, cheia de mistérios e oficiada quando a criançada já dormia, sonhando com os presentes que Papai Noel traria dentro de um enorme saco vermelho.


Dia de acordar cedo, após as comemorações da véspera, e procurar no sapato debaixo da cama o presente deixado pelo Papai Noel. Ele entrava pelos telhados das casas, pois suas portas da rua estavam fechadas.


Doces lembranças de um tempo que existiu para as crianças.  As lâmpadas acessas em frente ao prédio onde moro trazem esse irresistível cheiro de Natal.


Gabriel Novis Neves

26-11-2021




O PITORESCO


Sem obedecer a ordem cronológica, resgatei alguns fatos pitorescos recentes que fazem parte da história e folclore de Cuiabá.


Na noite de inauguração da 1ª Clinica privada, para as mulheres “darem” a luz, faltou energia elétrica em Cuiabá.


O Tabelião do Cartório de Registro de Imóveis era cego.


O Aeroporto de Cuiabá fica em outra cidade.  


É chamado de Aeroporto Internacional sem nunca ter operado com Linhas Aéreas Internacionais.  


Devemos a construção desse aeroporto a uma dor de barriga da então 1ª Dama do Brasil.


Rondon é conhecido em todo o mundo.  Em Cuiabá é chamado por Cândido Mariano. 


O Arcebispo de Cuiabá foi o Príncipe dos Poetas.  Também Governador do Estado.


O único médico de ouvidos era surdo.


A universidade federal de Cuiabá foi criada em Campo-Grande.


A universidade estadual de Campo-Grande foi criada em Cuiabá.


A miss Cuiabá dos 250 anos era de Cáceres.


O Bar Moderno só existiu na Junta Comercial.


O Hospital Geral de Cuiabá é de uma empresa de São Paulo.


A Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá foi transformada em Hospital Regional.


A chácara do Dr. Fábio virou bairro de Cuiabá.


A do Dr. Melo, Jardim das Américas.


As Igrejas de Cuiabá têm horário comercial para atender seus fiéis.


“Paus rodados” consistem na maioria da população de Cuiabá.  Os de “tchapa e cruz” são falsificados.


Morar em casa (Condomínios fechados) virou moda em Cuiabá.  Apartamento já era.


Em Cuiabá, peixes do rio não são os pratos preferidos.  A geração nova prefere a comida japonesa.


O Cuiabá, time de futebol, foi criado por um gaúcho.


O engenheiro civil que construiu o Palácio da Instrução era carioca.


Os quatro filhos do “Bugre do Bar” foram casados com cariocas.


A UFMT era “da selva”.


Seu 1º reitor era filho do “Bugre”.


Não se cultiva mais apelidos em Cuiabá.  É “bulling”.


Filho “de quem” não é mais usado.


Aumentou o número de filhos “sem mães”.


“Influencer digital” é a profissão da moda em Cuiabá.


O Estádio de Futebol José Fragelli é chamado de Arena Pantanal.


Consciência Negra é feriado, Raça Negra grupo de pagode.


Praça Popular em Cuiabá é ponto de encontro da grã-finagem.


Os pobres se encontram nas longas filas das Caixas Econômicas, para retirarem o auxílio do Governo Federal.


Vadiagem em Cuiabá é pesquisar curiosidades históricas.


Gabriel Novis Neves

20-11-2021




sábado, 27 de novembro de 2021

SÓ ENVELHECE QUEM NÃO MORREU ANTES


Recebi de um amigo um telefonema me contando das peripécias que tem enfrentado. Dia desses recebeu um médico em sua casa. Viera consultá-lo. Estava de avental branco e usava máscaras protetoras.  Sentou-se em uma cadeira de balanço com agenda no colo.  Conversou longamente com ele. Quando o médico lhe pediu que fornecesse o nome do medicamento que usava, pediu auxílio à sua enfermeira para citar os 23 que lhe foram prescritos pelos mais variados especialistas.


Fez questão de ler um calhamaço dos resultados do seu último exame de sangue.  Ao sair pediu mais alguns exames de sangue.  Ele se despediu dizendo que iria procurar na bibliografia os efeitos colaterais dos remédios que tomava diariamente.


Outra consulta, diz meu amigo, ocorreu por vídeo, dois dias após, com um médico brasileiro nos USA.  Falaram por cerca de 30 minutos.  Diz que o que é difícil para os médicos daqui, também o é para os dos Estados Unidos.  Ficou de retornar a nova consulta daqui a um mês, antes do Natal.


Desanimado, quis saber minha opinião sobre o seu problema de saúde.  Disse-lhe que só existia uma fórmula de não passar mal, depois de certa idade: morrendo.  Ele já estava com mais de 70 anos e esses sintomas que ele sentia eram frequentes nos idosos.


Notei que sentia falta das consultas dos médicos de antigamente, onde as toalhinhas de linho para ausculta dos pulmões, o toque dos dedos para verificação dos batimentos cardíacos e o olho no olho eram manobras indispensáveis às curas da alma, principalmente.


Falamos por mais alguns minutos quando ele manifestou toda a sua indignação pela arbitragem do VAR no jogo do Bahia e Cuiabá, quando este marcou dois gols legítimos e anulados.  Ele não sabia que o meu Botafogo, com antecedência de uma rodada para terminar o Brasileirão série B, havia sido campeão.


Despedimo-nos e ele deve ter ficado intrigado sobre meu comportamento esportivo no ano que vem, quando o Cuiabá enfrentará o Glorioso!


Gabriel Novis Neves 

22-11-2021






sexta-feira, 26 de novembro de 2021

A EXCELÊNCIA PRIVADA


Trabalhava como médico plantonista do Hospital Geral e Maternidade de Cuiabá havia alguns anos. Meu dia era o sábado, 24h. Só assim poderia exercer outras funções durante a semana.


Nessa oportunidade conheci um colega cuiabano recém-formado em medicina. Estudara em Curitiba.  Demonstrou ser um excelente obstetra-ginecologista com boas noções em cirurgia geral.  Fiquei seu amigo e admirador. Nas conversas demonstrou seu interesse em criar uma maternidade, que oferecesse melhores condições de hotelaria às suas gestantes.


A cidade crescera e a maternidade do Hospital Geral era o único lugar para atender as gestantes da Grande Cuiabá.  Conversou com outros jovens colegas, todos recém-chegado, sobre a sua idéia.


Em uma noite de 1978, fui convidado como Reitor, para cortar a fita simbólica que marcava a inauguração da 1ª Clínica e Maternidade privada de Cuiabá.  Suas instalações ficavam em prédio alugado e adaptado no Bairro Bandeirantes, e sua capacidade era para apenas cinco apartamentos!


Eu costumava chama-la de “boutique” hospitalar, pela beleza das suas instalações e número reduzidos de quartos.  Anexo à Clínica existiam dois consultórios para os médicos fundadores.


Nessa ocasião fora vendida a casa onde tinha o meu consultório. Imediatamente o Presidente da Clínica me ofereceu um horário em seu próprio consultório, sem ônus, para atender minhas pacientes.  Aos poucos me transformei em 2º acionista da Clínica Femina, sendo também seu vice-presidente!


Era necessária a sua expansão. Compramos um terreno no bairro da Lixeira em frente ao antigo tanque do Baú.  Construímos um hospital maior. Vários terrenos nas suas proximidades foram adquiridos. O hospital passou por uma série de ampliações e transformações.  Hoje possui 100 leitos, Centro Cirúrgico, várias salas para cirurgia e partos, UTIs neonatal, pediátrica e adulta.


Prédio de consultórios, pronto atendimento, exames de imagens e bioquímicos. Prédios para administração hospitalar, lavanderia, farmácia, almoxarifado e amplos estacionamentos. Todos esses espaços compõem o complexo hospitalar Femina, com terreno suficiente para futuras expansões.


O mais importante foi à credibilidade que conquistou perante a sociedade mato-grossense, sendo vista como sinal de excelência de serviços médicos. Como foi bom ter participado e ajudado à construir. 


Gabriel Novis Neves

20-11-2021




quinta-feira, 25 de novembro de 2021

ENSINO PÚBLICO É JUSTIÇA SOCIAL


Fui nomeado, sem ser consultado, para exercer o cargo de Secretário de Educação de Mato Grosso, em maio de 1968, pelo governador Pedro Pedrossian.


Tinha que cuidar da pré-escola, ensino fundamental e médio, - voltado para o trabalho e lançar as estruturas para criação de duas universidades no Estado não dividido.  Todo o apoio me foi oferecido pelo governador para que o sonho de oferecer educação de melhor qualidade, com uma universidade federal em Cuiabá e outra estadual com sede em Campo Grande, fosse transformado em realidade.


O antigo ensino primário de quatro anos de duração era 80% ministrado pelas professoras que não possuíam o curso de normalista. Eram chamadas de professoras “leigas”, embora com muita experiência na educação das crianças.  O Estado possuía no Coxipó um Centro de Treinamento para essas professoras vindas do interior do Estado ainda não dividido, repito.  Tinham alojamento, refeições e salas de aulas.


Fizemos na ocasião um concurso público para normalistas, que substituíram muitas professoras “leigas”. As “estáveis” foram redistribuídas para outras funções, e muitas foram remanejadas para a rede de saúde.


O ensino médio era o tradicional, cujo objetivo era de preparar seus alunos para o vestibular, geralmente no Rio de Janeiro e São Paulo.  Só possuíam terminalidades os cursos formadores de normalistas para o ensino primário e os técnicos em contabilidade.


Foram criados em Cuiabá, Campo Grande, Rondonópolis, Cáceres, Corumbá, Ponta-Porã, Aquidauana, Três-Lagoas, os maiores Centros Educacionais. Dois menores em Coxim e Anastácio.  Abrigavam alunos da pré-escola até o ensino médio, que deveriam, também, ser voltados à formação para o trabalho.


Naquela época, a educação só era uma conquista social e econômica dos jovens se tivessem o seu final com a graduação de um curso superior.  Os Centros Educacionais visavam corrigir esse erro da terminalidade do ensino então visível apenas com a graduação no ensino superior.


O Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC) tinham seus cursos voltados para a formação de professores e tecnologia.  O Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), em Campo-Grande, preparavam profissionais para a área da saúde.  Em Corumbá, Aquidauana e Três-Lagoas foram criados os Institutos Superiores de Pedagogia, para formação de professores para o ensino médio.


Foram convocados os melhores cérebros do Estado para a realização do sonho das universidades, principalmente para os estudantes pobres que não podiam se manter estudando fora de Mato Grosso.


Importante nesse momento foi o aproveitamento de jovens que retornavam dos seus estudos pela CODEMAT, como também pelas estatais e colocados à disposição do ICLC.  Desse esforço e determinação de Pedrossian, foram criadas a UFMT em 10-12-1970 e poucos meses antes a UEMT, com as suas respectivas sedes em Cuiabá e Campo Grande.


Antes das universidades, jovens da minha geração eram obrigados a deixar nosso Estado para cursar o ensino superior com enormes sacrifícios econômicos dos nossos pais.  Na “cidade grande” enfrentávamos todos os tipos de dificuldades como moradia, alimentação e cursinhos preparatórios para o competitivo vestibular.


As universidades foram os maiores projetos sociais e econômicos do Estado ainda não dividido.  Todos os jovens passaram a ter as mesmas oportunidades, gerando justiça social para todos. Estava realizada mais uma experiência vivida por mim e transformada em realidade e discreta justiça social!


Gabriel Novis Neves

18-11-2021






quarta-feira, 24 de novembro de 2021

NA "CHÁCARA DOS LOUCOS"


Tenho escrito sobre minhas experiências de vida, principalmente daquelas adquiridas como estudante no Rio de Janeiro. Muitas das quais consegui transformar em realidade.


Fui aluno da Dra. Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico Nacional, no bairro Engenho de Dentro no Rio de Janeiro.  A psiquiatra-professora ensinava os seus alunos um método novo de como tratar pacientes com transtornos mentais. Utilizava a arte.  Até então os tratamentos psiquiátricos eram invasivos e violentos, onde se praticava o eletrochoque, lobotomia e insulinoterapia.


Fiquei surpreso nas aulas práticas da Dra. Nise da Silveira. Ela se sentada ao chão do grande salão, distribua papel, pincéis e tinta para seus pacientes, em vez de medicamentos.  Como imaginar tratar um esquizofrênico com arte e carinho, sabendo que esses pacientes têm comprometidas suas funções afetivas?


Fundou o Museu de Imagens do Inconsciente que abrigam hoje 350 mil obras e é Patrimônio Universal.


Retornando à Cuiabá, fui nomeado pelo governador Pedro Pedrossian para ser Diretor do Hospital Colônia de Alienados do Coxipó da Ponte.  Lembrei muito da minha professora do Engenho de Dentro.  A minha 1ª providência foi dar dignidade e tratar com humanismo os pacientes internados com transtornos mentais.  Muitos eram abandonados por familiares e policiais para o resto da vida.


Mudei o nome do hospital para "Adauto Botelho". 


As enfermarias continham números de camas insuficientes ao número de pacientes. Muitos dormiam no chão. Não havia separação com menores.  Existiam as “celas” fortes onde o espaço era individual. Eles ficavam acorrentados pelos pés. Recebiam as refeições pelas pequenas janelas da cela. O vaso sanitário era raso rente ao piso.  Não tinham higiene e não saiam da cela nem para tomar banho de sol. A medicação era o choque elétrico.


Jornais de São Paulo noticiavam sobre as mortes dos pacientes daquela “Chácara de Loucos”.


Com carta branca do jovem governador, em poucos meses reformei o hospital. Adquiri camas e colchões suficientes aos doentes masculinos e femininos. Contratei 15 auxiliares de enfermagem. Naquela época não havia técnicos em enfermagem e enfermeiros com nível superior era um sonho.  


Construí uma nova cozinha e chamei a melhor cozinheira hospitalar para cuidar das refeições dos doentes.  Acabei com as “celas” fortes, transformando-as em oficinas de trabalho, arte e lazer. Liberei seus “prisioneiros” para convívio com seus semelhantes.


Jardins foram criados no pátio de recreação, assim como um Centro de Convivência equipado com cadeiras espreguiçadeiras, música, jogos de dama e mesas para pingue-pongue e sinuca, - a única até hoje adquirida por um hospital público.  Quadra de futebol de salão, vôlei e basquete além de um campo de futebol de dimensões oficiais, tudo para recuperar pelo lazer e pela arte os nossos pacientes.


Alguns eram incentivados ao artesanato. Um deles, que denominarei "Esperidião" para continuar em relativo sigilo sua identidade, era esquizofrênico crônico e, por exemplo, chegou a construir a sua própria casa, mostrada e aprovada pela crítica de arte Aline Figueiredo.


O antigo “Hospital dos Loucos” passou a servir a sociedade com humanismo e o mérito e o resultado desse trabalho terminaram por me conduzir - sem que fosse consequência obrigatória e imediata preordenada -  à direção da Secretaria de Educação e Cultura do Estado. 


Sempre há um intuito e um escopo humanitários para o exercício da medicina e, no caso, a interação social que tais progressos permitiram foram derivados das inovadoras lições e aulas práticas da Dra. Nise da Silveira!


Gabriel Novis Neves

17-11-2021









Link para história de Adauto Botelho


terça-feira, 23 de novembro de 2021

ESQUECIMENTOS


Ontem tive um dia muito produtivo na feitura das minhas crônicas.  Antes de dormir me veio à mente um assunto interessante para escrever.  Rabisquei-a no meu cérebro e deixei para no dia seguinte escrever no computador.


Disciplinadamente, estou com o computador aberto e totalmente esquecido do assunto.  Estou cansado de saber que quando algo lhe vem á cabeça tenho que escrever no papel, pelo menos o seu título.  A autoconfiança me prejudicou para escrever a crônica de hoje.  Assim como o sonho que tive esta noite, que não me lembro mais.


Tenho recordado da minha infância, período escolar, primeiros anos de exercício da medicina e coisas parecidas do meu passado e da minha cidade.  Será que não me esqueci dos anos em que fui professor dos alunos da UFMT no HUJM?*


Assim que conclui a implantação da UFMT fui aconselhado pelo reitor da época a lecionar a disciplina ginecologia-obstetrícia aos alunos do 5º e 6º anos de medicina.  O HUJM é um hospital escola e presta serviços assistenciais ao SUS.


Era época de reconhecimento pelo Conselho Federal de Educação do nosso curso de medicina.  O professor designado para a inspeção foi meu ex-professor, patrono da minha turma e colega Reitor – Clementino Fraga Filho, um dos batalhadores pela conclusão da Cidade Universitária do Fundão no Rio de Janeiro.


Foi levado pelo nosso reitor, a fazer a visita no HUJM.  Quando me viu na sala de pronto atendimento com os alunos, me abraçou e disse sussurrando que queria falar reservadamente comigo.


Não fazia a mínima idéia do assunto. Quando a caravana da visita se descuidou de nós, Clementino Fraga Filho me fez a seguinte pergunta: você é amigo do reitor?    - Sim!, respondi. Fui o responsável pela sua saída do consultório, quando o convidei para estruturar o curso de medicina e o nomeei 1º diretor da faculdade.


Os reitores da minha geração, após o término dos seus mandatos, não aceitavam voltar às salas de aulas. Procuravam cargos relevantes no governo federal.


Fraguinha, nunca tinha encontrado um ex-reitor com estudantes, atendendo pacientes na porta de entrada do hospital. Estavam sempre escondidos dos estudantes, fora do contato tão importante entre alunos e professores.  Imaginava que eu estava sendo perseguido pela administração que me substituiu na Reitoria, na fase do reconhecimento do curso de medicina.


Eu compreendia que o atendimento na "porta do hospital" é muito importante, pois é quando se decide se o paciente entra ou volta para sua casa.


Anos depois, encontrei Clementino Fraga Filho na Academia Nacional de Medicina, que comentou comigo esse encontro que, na opinião dele, lhe serviu de lição acadêmica!


Gabriel Novis Neves

21-11-2021


*HUJM - Hospital Universitário Júlio Muller







segunda-feira, 22 de novembro de 2021

CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA


A pandemia causada pelo Covid 19 mexeu com o mundo, causando milhares de mortes, abalando economias fortes, criando novas formas de viver, onde o isolamento das pessoas foi fundamental.  As escolas foram fechadas, os bancos passaram a trabalhar on-line, os artistas ficaram sem exercer a sua profissão, os estádios de futebol sem receber público.


Com o aparecimento da vacina e imunização da população, a vida está voltando aos poucos ao normal.


Lembro o terror dos primeiros meses da pandemia, onde a impressão que ficou foi de uma guerra, com tudo fechado e muitas mortes.  O mundo daqui para frente não será mais o mesmo, onde certos hábitos permanecerão para sempre como o uso das máscaras de proteção facial, lavar as mãos com álcool em gel e o cuidado para se manter o distanciamento.


O sistema educacional pós-pandemia tem a tendência de permanecer à distância, com exceção da pré-escola. Adotarão o sistema híbrido.


Novas doenças emocionais surgiram com a pandemia, ainda de difícil cura.  Muitos casamentos foram desfeitos e novas formas de união aumentaram.


Serviços bancários e o comércio manterão o mínimo de atendimento presencial.  Restaurantes, teatros, cinemas terão um horário e público determinados para funcionarem.  Os orçamentos para a saúde deverão ser maiores que dos anos anteriores.  A indústria farmacêutica sofrerá um grande avanço, com o aparecimento de novos medicamentos antivirais.  


O trabalho informal aumentará e a taxa de desempregados também.  A economia mundial ainda levará um bom tempo para se recuperar.  E o homem deverá ser mais solidário com o próximo.


Não sabemos ainda o tempo de imunização dessas vacinas, e se seu uso será anual ou não.  Também ignoramos os efeitos futuros das vacinas.  A ciência está avançada, mas insuficiente para nos proteger de todos os males que somos acometidos, com velocidade de resposta aquém do esperado.


Gabriel Novis Neves

21-10-2021





domingo, 21 de novembro de 2021

AULA DA PARTEIRA - PRIMEIRO PLANTÃO NA MATERNIDADE


Estava no 4º ano de medicina, quando fui escalado pela Disciplina de Obstetrícia a “dar” o meu 1º plantão.  Todo satisfeito, já me sentindo meio médico, arrumei minha roupa branca em uma mochila, e fui para a Maternidade das Laranjeiras, da Faculdade Nacional de Medicina.


Éramos 10 alunos para aquele plantão na Maternidade Escola, cujo movimento era pequeno, por ser maternidade referência.  Por sorte nossa estavam na sala de pré-parto duas multíparas.  O professor dividiu os acadêmicos em grupos de cinco, para melhor acompanhá-las. 


Contávamos as contrações uterinas e seu espaço entre uma e outra, anotávamos sua intensidade e com estetoscópio de Pinard auscultávamos os batimentos cardíacos fetais, de quinze em quinze minutos.  Recomendava-nos a não se esquecer da aferição da pressão arterial da gestante, mantendo-a em decúbito lateral esquerdo. O toque vaginal seria realizado de acordo com a evolução do trabalho de parto.


Como éramos cinco “aprendizes”, para cada gestante, toda manobra semiótica era repetida pelo menos por cinco vezes, quando o professor não confirmava.  Não era das mais agradáveis situações para a gestante, o trabalho de parto em Maternidades Escolas.


Chegou o período expulsivo de uma das gestantes, com a confirmação do professor. Ela teve que ser transportada rapidamente para o Centro Obstétrico.  Os acadêmicos tentaram entrar junto à maca e sentiram dificuldades em passar, todos ao mesmo tempo, pela porta da sala de partos.


Todos os alunos queriam fazer o parto normal da multípara. Foram se vestir adequadamente. Quando retornaram, alguns ainda com problemas de calçar as luvas, a criança já tinha nascido com a enfermeira e esta já havia cortado seu cordão umbilical.


Restou a disputa para a retirada da placenta e apreciar o trabalho do neonatologista na sala de reanimação.  Esse foi o primeiro de quinze mil partos que assisti - e quase nem assisti - durante toda a minha vida profissional de médico parteiro.


Gabriel Novis Neves

16-10-2021







sábado, 20 de novembro de 2021

GENTILEZA GERA GENTILEZAS


Estou tão acostumado com a falta de delicadeza de muitas pessoas de hoje em dia que, quando diante de um ato de educação, sinto-me até desconfortável, sem saber o que fazer.  


O nosso vocabulário fica cada dia mais “chulo”, ainda mais agora que inventaram o Tiktok!  Ninguém consegue mais escrever um cartão de agradecimento, preferindo o resumo do TikTok!


A arquitetura das habitações modernas não possuem mais espaços para as bibliotecas.  Em seu lugar temos a brinquedoteca das crianças e adultos.  Nas faculdades os estudantes não compram mais livros e as consultas acadêmicas são feitas no google.  A comunicação entre pessoas, mesmo presenciais, são realizadas pelo celular.  


Nas salas de espera de consultórios de médicos, dentistas, advogados e outros profissionais, não existem mais as antigas revistas como “Seleções” e jornais.  Seus clientes, enquanto esperam a consulta, estão interagindo nas redes sociais ou conversando pelo celular.  


A profissão de livreiro foi extinta e as poucas livrarias existentes disputam espaços com boutiques nos shoppings.  O custo da edição de um livro virou coisa de escritor rico, de publicação de governos generosos ou grandes empresas.


Emprestei o único volume que possuo do livro “Raízes do Passado”, do meu irmão Pedro, a um querido colega de Academia de Medicina.  A cadeira que ocupa como titular-fundador tem como Patrono o meu bisavô, Dr. Augusto Novis.  


Augusto Novis era um jovem médico baiano, formado na Escola Imperial de Salvador, a mais antiga do Brasil, e foi quem perpetuou o nome da família.  Logo após a conclusão do seu curso de medicina e defesa de tese, ingressou na Marinha Imperial (1860), e foi designado para servir na flotilha de Mato Grosso, cuja base naval era Cuiabá, narra Pedro Novis Neves.  Era cirurgião da armada durante a Guerra do Paraguai, tendo participado ativamente da retomada de Corumbá.  Terminada a guerra ficou por aqui, onde constituiu enorme família.


Escrevo muito sobre a minha biografia e consultar “Raízes do Passado” é obrigatório para mim.  Pois bem, na devolução desta preciosidade de pesquisas genealógicas, recebi do amigo um bem escrito bilhete de agradecimento, acompanhado de uma garrafa de delicioso vinho preferido da sua casa.


Três bons exemplos para as gerações atuais (o empréstimo do livro, sua restituição, o agradecimento), na sua maioria incapazes de um ato de  cortesia.


Gabriel Novis Neves

09-11-2021




sexta-feira, 19 de novembro de 2021

CAFÉ ESTIMULANTE


Antes das sete horas da manhã eu já estava sentado na mesa da copa esperando pelo cafezinho, quando a campainha da porta da cozinha tocou de maneira intempestiva.  Logo diagnostiquei como a chegada de um filho, no que acertei. Vinha com duas sacolas de papel: uma com mini pães franceses e a outra com diminutos pães de queijo, comprados na padaria da esquina da rua onde moro.


Surpresa agradável para reforçar o meu desjejum. Diz ter sentido saudades de mim e começou a conversar sobre a apertada vitória do Brasil na noite anterior, em jogo de futebol contra a Colômbia.  Exercitamos o saudosismo quando a nossa seleção era composta de craques que jogavam em clubes brasileiros.  Hoje não existe mais aquela identificação da torcida, com jogadores brasileiros da seleção, que muito jovens saíram daqui para jogarem em clubes europeus.


Passamos rapidamente pelos assuntos de sempre, como alta dos preços dos alimentos, combustíveis, energia elétrica e taxa de desempregos.


Que bom receber esse tipo de visita não programada! Não cria no idoso a expectativa da espera, muitas vezes provocando ansiedades inúteis.  Também os assuntos não agendados são ingredientes importantes para uma boa conversa, mesmo sendo de pai para filho.


Antes de ir embora para o seu trabalho, fez questão de fazer uma ligação pelo fice-time para sua filha que mora em Portugal.  Ela estava voltando da manicure, caminhando pelas tranquilas ruas da sua cidade.  O vô coruja queria saber notícias do seu neto (e paixão). Ele estava na escola, respondeu sua filha. Disse que ele dorme cedo e logo às seis da manhã acorda todos de casa.


Antes de se despedir da filha querida, passa-me o telefone e logo pergunto à minha neta, quando virá com marido e filho para mais um Natal em família. Confirmou que na primeira quinzena de dezembro estará entre nós para matar as saudades, antes que novo surto da pandemia nos separe. Ótimas notícias para começar o novo dia, que foi véspera de um novo feriadão.


Gabriel Novis Neves

12-11-2021




quinta-feira, 18 de novembro de 2021

MORRER SEM SER ESQUECIDO


No dia de “Finados” minha irmã foi ao cemitério, fotografou os túmulos dos meus pais, muito bem cuidados, com vasos de flores naturais, e enviou para mim.  Quis demonstrar com o seu gesto que papai e mamãe não foram esquecidos e que estão vivos na nossa memória.


Quantos túmulos abandonados, sem flores ou cuidados, nos faz pensar que essas pessoas ali enterradas foram esquecidas ou não estão fazendo falta.


A vida é única aqui na terra, e passa tão rápida que ás vezes não somos mais lembrados, por não deixar filhos, familiares ou exemplos.  Com o aparecimento de novas famílias, que não se reproduzem, chegaremos a dias muito distantes a não deixar saudades.


Quando deixamos algo em benefício da população, com certeza deixaremos saudades e seremos sempre lembrados.  A vida é difícil de ser pensada, a morte de ser entendida.  Nascemos do amor de duas pessoas e crescemos nunca desejando a morte.


Mário Quintana mandou colocar na lápide do seu túmulo a seguinte inscrição, que resume tudo que escrevo agora: “Eu não estou aqui”.  O poeta confessa que não quer ser esquecido dizendo que não morreu e está entre nós, com seu imenso amor à vida e alimentando o próximo com a beleza da sua poesia.


A irmã que me enviou as fotos dos túmulos dos nossos pais, também acredita que não os encontrou nas sepulturas tão bem cuidadas por ela.  No entanto, eles estão entre nós, e velam e nos guiam em todos os momentos. Não devemos sentir aquela saudade dolorosa, e sim, guardarmos boas e suaves lembranças daqueles que partiram para outro plano. Mesmo no “Dia de Finados”.


Gabriel Novis Neves

03-11-2021




terça-feira, 16 de novembro de 2021

"BANDEJÃO - FILA-BÓIA - CALABOUÇO"


Quando cheguei ao Rio de Janeiro para estudar medicina, fiquei em uma pensão que fornecia o café da manhã, almoço e jantar.  


Assim que passei no vestibular, procurei uma pensão que alugava vaga em quarto de duas ou três pessoas, e fazia as refeições no restaurante da faculdade.


Com a chegada do irmão Pedro, alugávamos  quarto para dois em pensões que funcionavam em apartamentos.  Com a carteirinha de estudante não me preocupava mais com as refeições.


Durante a semana me servia do restaurante da Praia Vermelha, podendo aos domingos frequentar o restaurante dos estudantes, na ponta do "Calabouço". 


Isso quando não ia "filar a bóia" na casa de parentes.  A macarronada com galinha era o prato que minhas tias faziam aos domingos – dia de reunião das famílias.  Já nos últimos anos do curso, fazia muitas refeições nos hospitais onde estagiava.  


Minhas primeiras refeições no restaurante universitário foram de desconfiança.  Aquela bandeja de alumínio, com pequenas divisórias, para arroz, feijão, carne, salada, sobremesa, copo de papel com leite cru e um pãozinho francês - para quem estava acostumado as mesas fartas do interior do Brasil ainda rural -, causaram em mim um sentimento de desnutrição.


Pela primeira vez fazia refeições com calorias necessárias à minha faixa etária, determinadas por nutricionistas. Na ocasião pesava 60 quilos e tinha 1.85 m de altura, com costelas à vista, motivo da minha preocupação.  Com o decorrer do curso comecei a ganhar peso e valorizar a profissão de nutricionista, então inexistente em minha cidade natal.


Mesmo depois de concluído o curso de medicina, frequentei o restaurante da Praia Vermelha, até que um dia a nutricionista me chamou e disse que era médico e não poderia mais frequentá-lo.


Ainda hoje lembro com saudades, do restaurante universitário!


Gabriel Novis Neves

15-10-2021