terça-feira, 9 de novembro de 2021

CARTEIRAS DE IDENTIDADE


Às vésperas de viajar para estudar no Rio de Janeiro, fui indagado por um “veterano”, na porta do bar do Bugre, se eu estava pronto para viagem. Alertou-me na ocasião para não esquecer de levar a carteia de identidade, pois sem ela não seria ninguém na cidade grande.


Para sua surpresa falei que não possuía tal documento, pois esperava completar 18 anos para adquiri-la. Ele discordou com toda a razão, de mim.


Contei ao meu pai sobre o problema de última hora, e este pediu que eu fosse imediatamente à Chefatura de Polícia falar com o Dr. Clóvis Correa Cardoso, seu amigo e, assim fiz.  Na polícia fui conduzido rapidamente ao gabinete do chefe e, relatei o meu caso.


Fui aconselhado pelo Chefe de Polícia, a procurar um fotógrafo lambe-lambe, na Praça da República para "bater" fotos 3×4 de entrega imediata, já que a mais elaborada, tirada no estúdio do Cháu, só ficaria pronta dias depois.


Logo após o almoço, levei meia dúzia das fotos do lambe-lambe ao Dr. Clóvis. Este chamou o escrivão e passou as fotos para o documento. Solicitou urgência na confecção da minha carteira de identidade.  Fiquei esperando, e quando o escrivão levou pronta a carteira ao Dr. Clóvis, ele assinou na minha frente, desejando muitas felicidades no meu estudo.


Voltei para casa para mostrá-la aos meus pais. Era uma pequena caderneta de capas duras e verdes com o escudo do Estado, onde continha meus dados pessoais, com a minha foto e assinatura, e a do Chefe de Polícia do Estado de Mato Grosso.


Chegando ao Rio ao término do mês de março, papai enviou-me por carta um aviso bancário, dizendo ter depositado minha primeira mesada na Agência Central do Banco do Brasil.


Com o dinheiro que me restara, peguei o bonde e fui até ao Banco receber a mesada. Entreguei o aviso de depósito bancário ao funcionário do balcão que leu, disse que estava tudo certo e, queria a minha carteira de identidade que imediatamente lhe passei as mãos.


Olhou para a carteira com a foto do “lambe-lambe” e foi aos fundos do salão onde mostrou ao gerente, que espichou o pescoço para me ver bem. Retornou com a notícia que não efetuaria o pagamento, pois no documento da polícia constava que tinha cútis “parda” e “bigode” que na verdade eram defeitos técnicos da foto. Tive que chamar o meu tio advogado para assinar um documento no banco para as retiradas das mesadas posteriores.


Ao terminar o CPOR, tive direito a uma carteira de Oficial do Exército da Reserva, que durante muito tempo me serviu como carteira de identidade.


Em 1977, seguindo nova legislação, as carteiras de identidade de capa dura, foram substituídas pelas impressas em papel especial.   Esta também me criou alguns problemas, pois na época que a obtive por merecimento, ocupava o cargo de Reitor e era muito jovem para receber um numero de dois dígitos, até hoje intrigando muito as autoridades policiais, especialmente em aeroportos.


Tendo validade por tempo determinado, sempre tive que renová-las, mas permanecendo com o mesmo número de dois dígitos.  Guardei as antigas carteiras de identidade a me acompanhar, guardando também a saudade daquele tempo em que eu era “pardo” e tinha “bigode”...


Gabriel Novis Neves

21-09-2921





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