sábado, 13 de novembro de 2021

VIAGEM PARA O RIO DE JANEIRO


Às quatro horas da manhã de 12 de março de 1953, o casarão da “Rua do Campo” estava às claras com todas as suas lâmpadas acesas.  O motivo era simples: o primogênito da família Novis Neves iria viajar de avião para estudar medicina no Rio de Janeiro.


Para “aproveitar” o táxi do Lisandro, o Bugre (dono do Bar, o www.bar-do-bugre.blogspot.com), resolveu dar um "presente" a três dos seus filhos menores, levando-os junto com nossa mãe Irene, até o campo de aviação – como se chamavam antigamente os aeroportos.


Saímos de casa ainda escuro, passamos em frente ao Quartel do 16º BC, em rua ainda não asfaltada, deixando para trás uma nuvem de poeira.  Cheguei ao “campo de aviação” para a aventura de uma viagem que começava com o dia clareando e terminava com o fim do crepúsculo.


Pela madrugada minha mãe fritou alguns pastéis para que levasse embrulhado em um prato de papelão encoberto com papel de embrulho.  Era para “distrair” o estomago durante a longa viagem.


O velho DC3 decolou às 6 horas da pista não pavimentada, do local onde hoje se localiza as casas dos militares do 44º BIM e Shopping Estação.  A empresa era Cruzeiro do Sul, que fazia o conhecido vôo pinga-pinga, com escalas em Cáceres, Corumbá, Aquidauana, Campo-Grande, Três Lagoas, Araçatuba, São Paulo e Rio de Janeiro!  Em Araçatuba os passageiros deixavam o avião para o almoço que era servido no restaurante do aeroporto.


Após minha partida, papai voltou para casa feliz por ter encaminhado seu filho mais velho para completar seus estudos e satisfeito por proporcionar aos menores um lindo passeio.


Chegando ao Aeroporto Santos Dumont no Rio, já noitinha, fui recebido pelo meu tio "Sinhô", irmão do meu pai, e pelo primo Carlos Alberto, da mesma idade minha.  Este ficou encarregado de me levar à pensão em Botafogo, onde deixei a minha pequena mala de papelão reforçada por finas tiras de madeira e o prato de papelão com os pastéis.  


Depois, fui jantar na casa da tia Alba, irmã mais velha da minha mãe Irene na sua casa no Leblon.  Jantar de gala, preparado pela minha tia, com direito a garçom e primos reunidos.  


Ali se iniciaram as minhas dificuldades na cidade grande: não sabia utilizar os copos colocados na mesa a minha frente, nem os vários pratos de porcelana, o guardanapo no colo, e os talheres de pura prata, pesados para as manobras da degustação.


Terminada a refeição onde todos os presentes se esforçaram ao máximo para deixar o “caipira” recém – chegado à vontade, voltei para minha pensão, onde os pastéis do prato de papelão me salvaram da fome. 


Depois, tudo correu tão rápido!


Gabriel Novis Neves

30-10-2021






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