terça-feira, 31 de janeiro de 2023

PADRINHOS E MADRINHAS


É da nossa cultura judaico-cristã os pais escolherem, logo após o nascimento dos seus filhos, seus padrinhos e as madrinhas para a celebração do batismo.


Recém-nascido que morresse antes do batismo sua alma ficaria no purgatório, e não subiria aos céus.


O neném é levado precocemente à pia batismal pelos braços da sua madrinha e o padrinho que segura uma vela grande acesa, que é o Círio Pascal, que simboliza Cristo, a luz do mundo.


Essa cerimônia religiosa remonta aos primórdios do catolicismo.


Jesus veio de Nazaré da Galileia, e não foi o Batismo sacramental que Ele recebeu.


Jesus não tinha o pecado original, e João Batista foi escolhido pelo Pai para preparar o caminho do Redentor e anunciar a Israel a chegada do Messias.


Geralmente as escolhas cabem aos pais da criança, e a escolha inicia, geralmente, homenageando os avós.


O meu padrinho pelo lado materno era o Dr. Alberto Novis, e minha madrinha avó paterna Eugênia Neves.


E sucediam as escolhas com tias e tios, de ambos os lados.


Nas famílias numerosas como antigamente, era comum os filhos mais velhos batizarem seus irmãos caçulas.


Na minha família eu e a Yara batizamos nosso irmão caçula dos homens, o Olyntho, e tornamos compadres e comadres dos nossos pais.


Outros padrinhos e madrinhas eram escolhidos movidos por uma situação instantânea de agradecimento dos pais das crianças.


Eram vizinhos prestativos, amigos de longa data, e antigamente os médicos eram os preferidos para batizarem as crianças.


Com os anos essas amizades do início da vida dos recém-casados foram se distanciando, e essas pessoas que seriam as substitutas dos pais foram sendo colocadas no esquecimento.


Isso aconteceu na minha família, e tenho filhos sem nenhuma identidade com seus padrinhos e madrinhas.


As gerações atuais corrigiram esse hábito e escolhem como compadres e comadres, irmãos, cunhados, pessoas intimas das suas amizades, da mesma idade, e estão sempre juntos no convívio social.


Com a modernização, acredito que em breve a Igreja Católica Apostólica Romana irá rever o conceito de “pagão” e “pecado original”.


Quando adolescentes elas escolheriam seus padrinhos e madrinhas nos moldes do padrinho e madrinha de crisma.


Gabriel Novis Neves

13-12-2022




segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

ORGULHO DE MIM


Sinto muito orgulho em acreditar que posso despertar o sentimento do bem-estar em certas pessoas que tem acesso às minhas crônicas.


Como é bom saber que isso é possível, e em mim me causa uma pontinha de vaidade, em um mundo que vivemos tão conturbado por guerras, fome e miséria!


Minha profissão me ajudou, e muito, a entender a alma humana.


Minha especialidade me fez trabalhar atendendo mulheres, e todo ginecologista, dizem, ter alma feminina.


Quando esse sentimento de bem-estar contagia o cronista que escreve por pura emoção, meu coração enche de alegria e bem-estar.


Bens materiais não me proporcionam orgulho, e é sinal apenas de sucesso profissional.


A emoção que sentimos brota, muitas vezes, com uma simples palavra, e não medimos as suas consequências.


É a força espiritual que desperta o sentimento do amor e bem-estar.


Quem tem isso nas suas entranhas é um predestinado a fazer bem ao próximo.


Recebo relatos que são verdadeiros poemas, que só os poetas são capazes de traduzirem em versos.


O compositor fala de amores, como “minha estranha loucura”, e aqueles que colocam músicas em versos, não podem ser chamados de malandros.


Imagino o orgulho daqueles que têm seus versos musicados.


Encontrei alguém capaz de musicar algumas das minhas ideias.


A emoção despertada não tem preço. É um bem que pertence a todos nós.


Quando você entende que, sem esforço ou segundas intenções, produz isso, tem que se sentir orgulhoso de si mesmo.


Há ocasiões em que estamos mais sensíveis em ter esse sentimento, como nas festas de final de ano, semana santa para os católicos e aniversários.


É tão gostoso se sentir orgulhoso quando sabemos que fazemos alguém feliz, seja com um olhar, palavra, crônica, verso, ou escrevendo para uma melodia!


É muito bom ter esse orgulho, que faz bem ao coração e a nossa alma.


Gabriel Novis Neves

25-12-2022




domingo, 29 de janeiro de 2023

OS PITORESCOS 60


Bem antigamente, o velho continente era o europeu. O americano era o novo continente.

Hoje o mundo está globalizado e desapareceram os continentes.


Na Cuiabá antiga, Cuiabá era a capital de um imenso Estado cujo limite ao sul era com o Estado de São Paulo e ao norte com o Amazonas e Acre.


Depois, Mato Grosso sofreu várias divisões e Cuiabá continuou a ser capital de um Estado limitado ao norte pelo Estado de Rondônia e ao sul pelo Estado de Mato Grosso do Sul.


Hoje o nosso Estado é o maior do Centro-Oeste brasileiro e o terceiro maior do país.


Bem antigamente, as cidades da Europa eram vistas como cidades velhas centenárias.


Hoje, como cidades velhas centenárias e reconstruídas milimetricamente, após várias destruições pelas guerras que enfrentaram sendo a última que terminou em 1945.


Nessa guerra os “pracinhas” do Brasil combateram na Itália, que é exemplo de país com suas cidades reconstruídas e conservadas, porém dando ao turista americano, onde tudo é novo, a impressão de cidade morrendo.


Lá preservaram a sua história, não mudando ou modernizando os seus edifícios e casas, apenas restaurando-os e conservando-os.


Na Cuiabá antiga, além da capital e cidades que pertenciam a chamada “Grande Cuiabá”, algumas cidades como Vila Bela da Santíssima Trindade, São Luís de Cáceres, Poconé, Nobres, Rosário Oeste, Diamantino, Barra do Bugres, Rondonópolis, Poxoréo, Guiratinga, Alto Araguaia, Barra do Garças existiam cercadas de grandes distritos e sítios.


Nessa ocasião as cidades do velho continente davam impressão, de estarem morrendo pelos séculos de história que carregavam.


Aqui em Mato Grosso presenciávamos o lindo espetáculo de ver cidades nascendo.


Na época da última divisão do Estado de Mato Grosso, que deu origem ao Estado de Mato Grosso do Sul, cuja capital é a cidade de Campo Grande, ficamos com apenas 38 municípios.


Hoje temos 141 municípios.


Quantos municípios vimos nascer neste curto período de 45 anos!


A cidade mais antiga de Mato Grosso é Vila Bela da Santíssima Trindade, fundada em 19 de março de 1752.


O município mais novo está nascendo com o nome de Santiago do Norte, no distrito de Paranatinga, com 4,5 mil habitantes.


Bem antigamente, a cidade mais antiga da Europa, Plovdiv na Bulgária, é do 6º milênio a.C.


A cidade mais antiga do mundo é Jericó, na Cisjordânia.


As cidades mais antigas do Brasil, que foi descoberto em 1500, são Cananéia fundada em 1531 e São Vicente em 1532, ambas no litoral de São Paulo.


Completam a lista das cinco cidades mais antigas do Brasil:


Olinda (Pernambuco) - 1535


Vila Velha (Espírito Santo) – 1535


Igarassu (Pernambuco) – 1535


Cuiabá é a cidade mais populosa, e é uma cidade histórica de Mato Grosso. As outras cidades históricas são: Vila Bela da Santíssima Trindade, Barra do Bugres, Barra do Garças e Cáceres.  


Cuiabá é o município mais populoso do Estado, o segundo é Várzea Grande, terceiro Rondonópolis, quarto Sinop.


Sinop é conhecido como Capital do Nortão, sendo atualmente polo de desenvolvimento dessa região do Estado.


Possui uma Universidade Federal com vários cursos funcionando, inclusive a Faculdade Federal de Medicina.


Dizem que a cidade de menos de 50 anos implantada em plena selva pelo pioneiro Ênio Pepino, com a Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná (SINOP), empresa que idealizou e implantou o projeto urbano e rural da cidade, tem cara de capital.


Ela está sendo preparada para ser a capital do novo Estado que surgirá com nova divisão do nosso Mato Grosso.


Profecia ou palpite infeliz?


Gabriel Novis Neves

05-12-2022




sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

ALMOÇO ESPANHOL


Meu filho Ricardo fez um almoço de aniversário do Flávio, noivo da minha neta Fernanda, com uma delícia da culinária espanhola, a paeja.


O cozinheiro foi o seu sogro Mauro, médico por profissão acadêmica e “chef” por vocação.


É um craque na arte de cozinhar e um dos seus pratos prediletos nas festas de toda a família reunida é a paeja, ou paella em espanhol.


Dá gosto vê-lo cozinhar no imenso fogão da área da cobertura do apartamento do meu filho.


Ele escolheu fazer a paeja mista com frutos do mar e carne, podendo acrescentar frango ou peixes.


Na imensa panela rasa e arredondada, foram colocados camarões, polvo, tiras de lulas, mexilhões, pequenos pedaços de carne.


Arroz refogado em óleo de oliva e cozido, com alcachofra, azeitona preta, cogumelo, ervilhas, temperado com alho, cebola, pimentão, sal, pimenta do reino, salsinha, limão.


Enquanto aguardava o prato ficar pronto o “chef e os torcedores” tomavam cerveja bem gelada e petiscos preparados na hora.


É um verdadeiro show apreciá-lo cozinhar.


Dos meus três filhos, o Ricardo é o único fã desse hobby.


Adora receber familiares e amigos para almoços e jantares em datas comemorativas, todos os meses.


Eu não pude comparecer desta vez, mas, ele e a Patrícia minha nora, não se esqueceram e me enviaram o prato da festa, o suficiente para o meu almoço e da minha funcionária.


Apesar da distância da nossa cidade com o litoral, onde encontramos frutos do mar, a tecnologia dos transportes aéreos nos propicia encontrar nas casas especializadas essa delícia para consumo domiciliar com segurança sanitária.


Também temos diversos restaurantes e clubes que servem a culinária espanhola rica em frutos do mar.


Fico dividido quando a culinária é espanhola com a sua paeja, e a portuguesa com a sua bacalhoada.


Enquanto médico no Hospital e Pronto Socorro Municipal Souza Aguiar no Rio de Janeiro, todas as quintas-feiras, antes de iniciar o meu plantão noturno, jantava no restaurante português Lisboeta, especializada em bacalhau.


Aqui gosto muito do restaurante Parma, onde se come um excelente filé de bacalhau, inundado em azeite e batatas.


Os portugueses e espanhóis, primam pelos pratos fartos, diferente dos franceses que tem excelente cozinha e pratos maravilhosos que mais parecem amostras grátis.


Os italianos são insuperáveis com as suas massas, e imbatíveis com as suas pizzas!


E o meu almoço hoje correu por conta de mais uma festa na casa do Ricardo.


Gabriel Novis Neves

12-12-2022




A PETISQUEIRA DA RUA DO MEIO


Pertence às relíquias da minha infância. Ficava espremida no fundo da casa onde nasci na rua de Baixo e a aristocrática rua de Cima, da Cuiabá antiga.


Essa região era conhecia como a dos bares, sorveterias, restaurantes, botecos, e essa solitária petisqueira que pertencia aos irmãos libaneses Herane.


Um deles foi meu colega de turma no ensino médio do Colégio Estadual.


Quando estudante tinha um horário que atendia os fregueses do seu bar-restaurante da rua do Meio.


Esse era um hábito de antigamente, em que os mais jovens estudavam e ajudavam nos negócios da família, ou em outros lugares, para aumentar a renda familiar.


Mesmo sendo filho do dono do maior bar e sorveteria de Cuiabá, sentia uma atração especial pela petisqueira, e quando passava por lá parava na sua porta para observar seus fregueses e sentir o aroma que vinha da cozinha.


Com o tempo e as distâncias determinadas pelo estudo superior, não acompanhei o fechamento desse comércio.


Há muitos anos não percorro as ruas do centro histórico de Cuiabá e não faço a mínima ideia de como estão suas casas tombadas pelo patrimônio da União.


Os estímulos sensoriais que recebemos desde nossos primeiros dias de vida extrauterina, irão nos acompanhar para sempre, e deixam as suas marcas, tanto as agradáveis quanto as não tão agradáveis assim.


Com o estilo de vida moderna nossas crianças perderam essas referências sensoriais da infância.


Os antigos rememoram esses estímulos encontrando cheiro em tudo do passado.


Cheiro da chuva, da terra molhada, do vento uivante, da fumaça dos ônibus, da noite chegando.


Saudade também é um estímulo sensorial muito presente na vida dos idosos.


A Casa das Bicicletas, que ficava na rua Cândido Mariano entre a rua de Cima e a do Meio, era o local que alugava bicicleta para passear, e é um tipo de comércio que só existia na Cuiabá antiga.


Cuiabá não foi apenas a cidade verde das palmeiras imperiais dos meus amores, mas a cidade das distâncias causadoras da saudade.


No meu imaginário ainda irei encontrar A Petisqueira da rua do Meio.


Gabriel Novis Neves

13-01-2023






quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

PROBLEMAS DA “IA”


A idade avançada (IA) nos causa muitos embaraços, especialmente àqueles relacionados à morte.


Quanto mais vivemos mais nos aproximamos da morte, assim diz a natureza.


Depois que completei oitenta e cinco anos penso todos os dias na morte.


Como será? É a pergunta certa de todos que têm vida!


Ainda vai demorar quanto tempo para isso acontecer? Vou morrer aos poucos ou de morte súbita?


Esse pensamento diário sobre a morte só aumenta o meu padecer.


Nossa sociedade hipócrita insiste a nos convencer que a velhice é a melhor fase da vida.


Jovem, nunca pensei em envelhecer, embora soubesse ser um processo fisiológico e só não chegaria lá se falecesse antes.


Sempre cuidei, e bem, da minha saúde, apesar de ter tido uma vida cheia de stresses pelas barreiras naturais que tive que enfrentar.


Minha maior preocupação foi em deixar um legado aos meus descendentes e à sociedade.


Como acumulei idade tenho mais histórias, e nada me fazia pensar sobre a morte.


A morte atualmente faz parte do meu cotidiano, e como me incomoda, resolvi enfrentá-la escrevendo sobre ela.


Tenho intimidade com ela, pois como médico sempre trabalhei para derrotá-la, sabendo nem sempre ser isso possível.


Existe a data ideal apenas para se nascer, e a data para morrer continua sendo uma incógnita.


E a vida é um percurso que só tem ida, não existindo um retorno para correção.


Aquele que determina a data para morrer comete o suicídio, que é um ato que está relacionado aos transtornos mentais.


Tratamentos psiquiátricos poderão prevenir o suicídio.


Alguns personagens históricos cometeram suicídio, como o Presidente Getúlio Vargas no Palácio do Catete em 1954, com um tiro no coração, e foi um ato político consequência de um forte trauma sofrido.


Sufocado pelo escândalo político conhecido como “mar de lama”, o Presidente Vargas abreviou o seu tempo de vida entre nós e preferiu a eternidade da história a viver na desonra.


Ausente de nós fisicamente, através dos seus herdeiros políticos continuou vencendo as eleições, até o movimento de 1964.


Com a volta das eleições diretas em 1982, o Presidente Vargas foi fundamental para a vitória da eleição do gaúcho Leonel Brizola para o governo do Estado da Guanabara.


Pensar diariamente na morte é obsessão, que é um tipo de distúrbio mental descrito por Freud como um tipo de neurose, e é adquirida.


Diferente da causa maior dos suicídios que é a esquizofrenia e o transtorno bipolar, que são psicoses.


Para aqueles que cometem o suicídio, só a morte para explicar o motivo.


Eu tenho mais medo de cometer o suicídio que da morte natural, destino certo de todos nós.


Gabriel Novis Neves

11-01-2023




FAZ-ME BEM


Quando as ruas estão calmas, como nos domingos à tarde e feriados, e ajudado por leve brisa, do meu apartamento, fico ouvindo o som das batucadas vindos dos bares da Praça Popular.


Deitado na cama me esforço para identificar a melodia.


Só consigo reconhecer a pancada dos ritmistas.


À noite, de vez em quando acordo e ouço a batucada que vem de longe, indicando que ainda tenho muito tempo para dormir.


Os bares do fundo do meu prédio apresentam música ao vivo, que consigo acompanhar até a letra da melodia e ouço o burburinho do seu público.


Tenho uma grande frustração: a de não saber tocar um instrumento musical.


Para me desculpar penso em culpar meus pais por não terem me criado em ambiente musical.


Na minha época de criança tinha que estudar, passar de ano, e ser doutor.


Aprender a tocar um instrumento musical como violão e cavaquinho para interpretar a boa música popular brasileira, era sinal de malandragem e descuidar dos estudos que nos dariam uma profissão.


Era permitido estudar piano e violino e aprender música clássica, existindo bons professores em Cuiabá.


Cedo me interessei por música.


Aos 15 anos já conhecia a obra do Noel Rosa.


Também pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, tomei conhecimento dos grandes cantores nos anos dourados do rádio, logo substituídos pela televisão.


Chico Alves, o Rei da Voz e intérprete de marchinhas carnavalescas de sucesso como “ Bota o retrato do velho outra vez”, homenagem à Getúlio Vargas que ganhou as eleições presidenciais em 1950, após ser deposto em 1945.


Orlando Silva, que conheci em 1953 caminhando pela avenida N.S. de Copacabana.


Cézar de Alencar tinha um programa na Rádio Nacional aos sábados à tarde, onde apresentava e lançava grandes cantores da MPB.


Morando no Rio de Janeiro onde tudo acontecia, assisti ao lançamento da bossa nova com Vinícius de Morais, Antônio Carlos Jobim e companhia.


Conheci as canções dor de cotovelo interpretado por Nora Ney, Maysa Matarazzo e Elizete Cardoso.


A verdade é que é gostoso ouvir música boa, e me faz bem à alma.


Que saudade tenho das serenatas, quando toda a população cuiabana vivia em casas e éramos “sobressaltados” de madrugada pelas músicas dos violões chorões.


Haja ventos favoráveis e silêncio na noite, para me alcançarem no 20º andar do meu edifício, trazendo músicas, mesmo vindas de longe.


Gabriel Novis Neves

06-02-2022




terça-feira, 24 de janeiro de 2023

NOTÍCIA BOA TEM HORÁRIO


Quando o meu celular me chama fora do horário convencional, ou seja, muito cedo ou tarde da noite, logo sei que boa notícia não é.


O ano começou violento, com homicídios ou mortes não programadas.


Hoje quando o celular me chamou antes do café, sabia que boa notícia não era.


A minha devoção pelos ditados populares e poesias feitas por gente simples do povo, me fizeram acertar.


Era a notícia da morte de um ex-aluno de contabilidade da nossa universidade federal que iniciou a trabalhar comigo antes de concluir o seu curso superior.


O auditor chefe, Edilson Bezerra, era um cearense que veio do Rio de Janeiro onde estudou para trabalhar na contabilidade da Usina Jaciara.


Logo demonstrou toda a sua competência, sendo absorvido pelo governo do Estado e posteriormente a universidade.


Edilson foi o pai do curso de ciências contáveis na UFMT e seu mais entusiasta professor.


Tinha tanta confiança e honestidade no trabalho do Edilson, que só descobrimos que o curso não tinha autorização do Conselho Estadual de Educação para funcionar momentos antes da colação de grau da sua primeira turma de bacharel.


Tudo foi arrumado pelo padre Pombo, presidente do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso.


O curso foi criado e iniciou a funcionar na época do ICLC, subordinado à Secretaria de Educação comandada por mim.


Durante o meu longo período na reitoria, Edilson foi auditor chefe, ajudava o Atílio Ourives na vice-reitoria administrativa e lecionava no departamento de Contabilidade.


Morreu muito cedo dessa doença maldita, e seu aluno predileto Bolanger José de Almeida, ficou em seu lugar.


Bolanger era um excelente profissional, comprometido com as causas da universidade.


Foi pró-reitor, disputou a eleição para a reitoria e se aposentou cedo, cumprindo as normas constitucionais.


Ocupou inúmeros cargos públicos, como Secretário de Fazenda dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande.


Gostava muito dele, que conheci como aluno-funcionário da UFMT.


Na ocasião dos preparos do Teatro Universitário, com a montagem das poltronas, para a encenação da peça Macunaíma de Mario de Andrade, com direção de Antunes Filho, encontrei o Bolanger ajudando os operários num ritmo contagiante.


Perguntei se tudo estaria pronto para a data programada.


Ele me disse: se a gente continuar assim, vai dar.


Notei seus olhos bastante amarelados e a cor da sua pele também.


Aconselhei que fosse para sua casa repousar, e só voltasse a trabalhar depois de curado.


Ele me disse que tinha consultado um médico (1982) da universidade, e lhe foi relatado que após a guerra do Vietnã os cientistas observaram que essa icterícia era viral e não necessitava mais de repouso ou uso de medicamentos para se curar.


Bolanger morreu jovem, da mesma doença maldita que matou seu protetor Edilson Bezerra, aos 71 anos de idade.


Recebi a notícia num horário de notícias ruins, assim que o dia clareou.


Gabriel Novis Neves

19-01-2023




segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

CONSULTAR O GOOGLE


Nada melhor antes de dormir que consultar o google até o sono chegar.


A gente fica sabendo de coisas curiosas, não importando serem verdadeiras ou não.


Fiquei sabendo, por exemplo, que “certo cantor e ator famoso está no seu sétimo casamento, e a rainha do rebolado está no seu 18º casamento”.


Quer coisa mais desinteressante que a estranha Copa do Catar com as intermináveis mesas redondas dos canais de TV?


Com a eliminação do Brasil pela Croácia, ficamos livres das falações sobre os nossos super-jogadores e treinador.


Restaram-nos as infindáveis discussões da equipe de transição do novo governo federal, cujo chefe é o preparado vice eleito, mas muito perigoso para ser vice, com o seu currículo de sucesso para assumir o cargo principal.


É ruim ter o “Chuchu” de Pindamonhangaba como vice...


Consultando aleatoriamente o google, por falta de opções, a gente não sente o tempo passar, e logo chega a minha hora de dormir, sempre em torno das nove da noite.


Já fui de dormir tarde e acordar cedo para trabalhar com alegria.


Certa ocasião à noite em minha casa, Augusto Mário Vieira – um assíduo frequentador, me disse:


“Esta é uma das últimas casas cuiabanas, que preenchem as nossas noites”.


O poeta Augusto Mário Vieira, político, fazendeiro, conhecido como “Bandeirante no Ar”, nome do seu programa radiofônico de sucesso, na década de cinquenta da rádio “A Voz D’Oeste”.


Fundada por Jerci Jacob, ficava na rua 13 de Junho, no casarão que foi residência e consultório do Dr. Antônio Epaminondas, em frente à Praça Ipiranga.


Ele não imaginava que essas reuniões, seriam substituídas pelo google, acessíveis em pequenos celulares.


Com a pandemia foi instituído o distanciamento das pessoas.


Infelizmente este veio para ficar.


As vacinas amenizaram, mas as novas cepas do vírus do Covid 19 continuam fazendo vítimas.


Não temos mais um lugar para fofocar ou ficar sabendo das últimas da vida alheia, inclusive das nossas, acompanhado de um bom escocês envelhecido e de guloseimas.


Minha casa no bairro do Porto marcou época na vida da nossa cidade, frequentada por políticos, jornalistas, intelectuais e colegas da universidade.


Tudo que acontecia em Cuiabá passava pela casa da entrada do Morro do Tambor.


Por motivos de segurança, mudei-me para um apartamento que ficava no bairro Goiabeiras, depois Popular e agora Duque de Caxias.


Goiabeiras por que ficava numa chácara onde era abundante essa fruta.


Popular por que anos depois foram construídas em parte do seu terreno, as chamadas “casas populares”.


Duque de Caxias por estar nas proximidades do quartel do 16º Batalhão de Caçadores.


Bem antes da pandemia, as reuniões em minha casa aconteciam aos sábados e domingos.


Começavam no café da manhã, almoço e invadiam até o horário do futebol, quando havia a dispersão do pessoal.


Com a morte da minha mulher e a idade avançada fiquei só, e à noite, além da maravilhosa vista da cidade, tenho o google para me ajudar a chamar o sono.


Gabriel Novis Neves

09-12-2022










sábado, 21 de janeiro de 2023

OS PITORESCOS 59


Bem antigamente, no Brasil existiam brasileiros e portugueses que foram nossos colonizadores. Os brasileiros, em maior grupo, eram governados pelos portugueses. Hoje, o Brasil encontra-se dividido entre esquerda e direita. O detalhe é que pouca gente sabe o que é ser da direita ou esquerda. O que mais desejam é comer churrasquinho nos finais de semanas e beber cervejinhas estupidamente geladas.


Na Cuiabá antiga, o poder era exercido pela máquina do Estado, e governo nunca perdia eleição. Hoje, com a chegada de migrantes, especialmente do sul e sudeste do Brasil, ocupando nossos imensos vazios territoriais, principalmente da nossa área amazônica, passaram a ter o poder do dinheiro. Fruto do produto da exportação da madeira com a derrubada das nossas árvores centenárias, criando pastos para a criação de gado de corte e produtores de leite e plantação maciça de soja, feijão, milho, algodão, que abastecem o mundo. Desse modo passaram a escolher os nossos governantes. Não temos aqui gente da esquerda ou direita e sim do agronegócio ou não. Os reis do agronegócio elegem seus empregados, para o Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas. Essa é a ideologia que existe por aqui.


Bem antigamente, o mundo era dirigido por capitalistas ou comunistas, sendo esses países separados pelas antigas “cortinas de ferro”. Hoje, países comunistas são semipresidencialistas como a Rússia, e países satélites, e países capitalistas são chamados de socialistas, como o Uruguai e Argentina. Existem 5 países comunistas no mundo atual: Cuba, China, Vietnã, Laos e Coréia do Norte.


Na Cuiabá antiga, existia o capitalismo que era exercido por comerciantes, fazendeiros, usineiros, agiotas. Hoje, o capitalismo é exercido pelo pessoal do agronegócio e muitos deles apoiam candidatos aliados de Cuba, uma das únicas repúblicas comunistas existentes no mundo.


Bem antigamente, comunista era chamado de socialista, e capitalista de democrata. Hoje, todos os países do mundo dizem que exercem a democracia, até onde as eleições são realizadas com apenas um candidato, “para não causar confusão” (Coréia do Norte).


Na Cuiabá antiga, ser comunista era considerado pecado e ninguém falava em ser socialista. Cuiabá em 303 anos, jamais elegeu para a sua Prefeitura um candidato socialista. Todos os eleitos, inclusive um representante do MR8-, juraram serem sempre democratas e a favor do voto para eleger seus governantes, e nunca tomar o poder, por “Movimentos Revolucionários (MR) ”.


Bem antigamente, o Brasil gostava de ser governado pelos seus descobridores portugueses em 1500. A “Independência do Brasil” aconteceu em 1822 e a “Proclamação da República” em 1889. Todas essas três datas aconteceram por acaso, segundo relato dos nossos principais historiadores. Pedro Álvares Cabral com pequena flotilha, Santa Maria, Pinta e Nina deixou Portugal rumo às Índias. Depois de muitos dias, levado por fortes ventos avistou terras no continente – era o Brasil. D. Pedro dirigia-se à casa da sua amada Domitila, em Santos. Ao passar às margens do Ipiranga, teve que parar para resolver um problema gastrointestinal. Houve um desentendimento entre um pedido do Imperador e o Serviço de Intendência do Exército que dava suporte à viagem. Pedro irritado gritou: Intendência, estou morrendo. Esta frase ficou conhecida como o grito da “Independência ou Morte”. A “Independência do Brasil”, também foi por acaso. Os republicanos escolheram um velho e doente marechal, herói da Guerra do Paraguai, que era monarquista e o convenceram ir da sua casa nas proximidades do Ministério da Guerra, até a Praça onde os republicanos levantaram os braços do Deodoro que estava montado em um cavalo e deram um viva à República. As poucas pessoas que foram convidadas à praça não entenderam nada. Estava “Proclamada a República do Brasil” e antiga Praça de N.S. de Santana passou a ser chamada de Praça da República, pelo relato do historiador Laurentino Gomes.


Na Cuiabá antiga, todas essas datas chegaram ao nosso conhecimento, muitos anos após seus acontecimentos. Mato Grosso sofreu inúmeras alterações no seu imenso território, sempre com perdas de áreas e hoje, após a última divisão faz parte da República Federativa do Brasil.


Gabriel Novis Neves

08-11-2022




sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

FILÉ MIGNON COM MACARRONADA


É uma unanimidade, e o cuiabano raiz não é muito devoto das saladas e legumes.


São carnívoros, não dispensando uma carninha de boi nas suas refeições.


Bife de filé com batatas fritas é um dos mais cotados pela nossa culinária.


Sexta feira é o dia em que o trabalhador compra na feirinha do bairro a carne, geralmente picanha, dependendo do que tem no bolso para o churrasquinho do final da semana.


Gosto do filé inteiro, malpassado na frigideira, cortado em finas fatias da carne sangrando.


Vai bem com os mais variados acompanhamentos.


Pode ser macarronada inclusive a integral, arroz branco, ovos fritos, batata frita palito, farofinha de manteiga ou com banana frita.


Alguns, como o meu neto, não dispensam o feijão mulatinho nas refeições.


Embora a carne de porco seja a favorita do cardápio internacional de carnes pelo seu delicioso sabor, o cuiabano prefere a carne do boi.


A carne de boi próximo aos ossos, como é o caso das costelas, é de um sabor inigualável e o peão deixa cozinhá-la em cima de uma roleta de ferro com brasa no buraco.


Leva muitas horas para preparar essa carne deliciosa, que deve ser degustada com calma, acompanhada com um pouco de farinha de mandioca, ou mandioca bem cozida.


Existe uma lenda que o cuiabano gosta de peixe, especialmente do pacu, outrora encontrado em abundância no rio Cuiabá que separa a nossa cidade de Várzea Grande.


Os antigos repetiam que o forasteiro que vinha pra cá e comia a cabeça do pacu, por aqui ficava para sempre.


Pacu, pintado e matrinchã são peixes abundantes em nosso pantanal, seu preço equivale o da carne bovina.


Das carnes a mais barata é a dos frangos. Pode servir diariamente como a de boi nas suas mais variadas formas que não enjoa, como peixe todo o dia.


Mas, um dos nossos pratos prediletos continua a ser bife de filé mignon, arroz, feijão, batata palito e farofa de banana frita.


Sobremesa abacaxi fatiado e gelado.


Gabriel Novis Neves

09-12-2022





BRINQUEDOS DE CRIANÇAS


Quando eu era criança meus pais gostavam de brincar comigo com a sombra das suas mãos projetadas nas paredes da minha casa.


Eram muito divertidas as figuras projetadas por eles, dando-me a nítida impressão, ora de um pequeno pássaro abrindo o bico e batendo as asas, ora se preparando para voar com as asas já totalmente abertas.


As figuras que as projeções davam da cara do cachorro, eram um campo fértil à imaginação das crianças.


Como as crianças de antigamente eram treinadas para pensar e criar!


Hoje ao nascerem, já nos berçários das maternidades, são apresentadas aos brinquedos eletrônicos que o acompanharão para o resto das suas vidas.


Meus bisnetos de quase dois anos, quatro e cinco anos gostam de assistir filmes infantis pelo iPad, que é um moderno computador portátil.


Eles têm também muita intimidade com os mais modernos celulares, e a Maria, a bisneta mais velha, liga para conversar comigo e já aprendeu a fotografar pelo seu celular.


Quando vai à piscina da sua casa no condomínio onde mora, seu comportamento é de um adulto.


Chapéu de sol, creme protetor no rosto e corpo, biquíni e óculos escuros.


Fica sentada nas beiras da piscina em cadeiras apropriadas. 


Ao seu lado, no mármore do seu entorno, um copo de papelão com refrigerante, e um pequeno prato de iguarias.


As crianças não têm mais infância.


Entram na pré-escola com quatro anos e complementam o seu horário com aulas de balé, canto, piano e natação.


Todas essas atividades são dadas por professores particulares e as aulas de religião ficam por conta da sua avó Monica no Santuário de N.S Auxiliadora na missa dos domingos.


Os presentes que ganham são todos de lojas comprados nos shoppings da cidade.


Os meus bisnetos jamais entenderão que as crianças do meu tempo fabricavam seus próprios brinquedos, que eram bem mais simples que os de agora.


Bonecas feitas de pano com restos dos tecidos da máquina de costurar da mamãe, bilboquê feito da pequena lata de tomate.


As rifas também eram utilizadas pelos meninos que vendiam quinquilharias em caixas de madeira com algumas divisórias horizontais.


Isso era feito na porta ou calçadas das suas casas.


O brinquedo da amarelinha quando meninas e meninos se divertiam, geralmente em calçadas sem piso.


O jogo de futebol era com a bola de pano feita em casa.


E o quintal dos velhos casarões cuiabanos com frente e fundos para ruas paralelas, verdadeira “Disneylândia”, era o local em que os brinquedos eram criados pelas crianças.


Utilizavam o barro para construir cidades, com pessoas, casas, rios e pontes, verdadeiros presépios do Natal, ocasião em que eram estimulados e ajudados por seus pais na brincadeira.


Este modelo de educação dos anos de quando eu nasci, não existe mais.


Será que o modelo atual é melhor para o desenvolvimento intelectual e criativo das crianças?


Acredito que sim.


Única preocupação que tenho é que as crianças não têm mais infância, nascendo e sendo criadas como adultos.


Gabriel Novis Neves

21-11-2022