Quando mais o tempo avança, mais distante me sinto dos anos gloriosos de cinquenta e sessenta, quando estudei no Rio de Janeiro.
Passei à tarde lendo sobre o Teatro de Revista, importado de Paris para a Praça Tiradentes.
Como as atrizes daquela época eram bonitas e inteligentes.
Eram chamadas de vedetes. Enchiam o palco dos três principais teatros de revistas da cidade, muito bem frequentados por personalidades importantes, como o Presidente Getúlio Vargas e Jango Goulart.
Vargas deu o título de Rainha das Vedetes à Virgínia Lane, seu amor oculto por quinze anos.
Virginia Lane introduziu na gramática portuguesa o verbo sassaricar, que vem a ser paquerar nos nossos dias.
O empresário, diretor e responsável pelos espetáculos era Walter Pinto, um bonitão, de bigodinho que trazia as lindas meninas de Paris e Buenos Aires.
Outras selecionava por aqui.
Sua orquestra era composta por oitenta excelentes músicos regidos por um maestro e ficava em um poço entre as poltronas e o palco.
O Teatro Recreio comportava duas mil pessoas e foi demolido em 1969.
As vedetes não falavam palavrão e o nu era estático.
Eram moças com bom nível de escolaridade, cantoras, bailarinas, simpáticas, humoristas, especializadas em improvisos e palavras de duplo sentido.
Dialogavam com o público quando iam para a plateia, deixando muitos casais embaraçados.
Os ingredientes do Teatro da Revista da Praça Tiradentes eram cenários luxuosíssimos com muitos degraus, por onde desciam as vedetes muito bem fantasiadas.
Sassaricando imortalizou o “velho na Porta da Colombo”, confeitaria centenária onde os velhos iam ao final da tarde para verem as moças bonitas Rio desfilarem, muitas à procura de um bom companheiro.
Angelita Martinez outra grande vedete daquela época, imortalizou o local onde nasceu o verdadeiro gênio do futebol Mané Garrincha, quando gravou uma marchinha carnavalesca maliciosa.
Naquela época só existiam dois tipos de empregos para as moças bonitas: aeromoças ou vedetes.
Com o esvaziamento da cidade o Teatro Revista se espalhou por Copacabana, com as suas vedetes lindas, humoristas, em espaços menores.
Carlos Machado assumiu o trono do Walter Pinto no Teatro Nigth and Day no Hotel Serrador, ao lado do antigo Senado Federal e Norma Bengel, animava o final das tardes dos senadores com a sua beleza estonteante.
Casablanca ficava na Praia Vermelha, à esquerda da estação dos bondinhos para a Urca e Pão de Açúcar, e frequentemente eu ia assistir com meus colegas de faculdade aos ensaios das vedetes, enquanto esperava abrir o jantar do restaurante universitário às 17:30 hs.
O último grande show que assisti no Rio, tendo como convidados Piedade e Carlos Eduardo Epaminondas, foi produzido por Carlos Machado no Teatro Copacabana Palace.
Foi uma megaprodução em homenagem ao compositor brasileiro, Lamartine Babo.
Gabriel Novis Neves
31-12-2022
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