terça-feira, 24 de janeiro de 2023

NOTÍCIA BOA TEM HORÁRIO


Quando o meu celular me chama fora do horário convencional, ou seja, muito cedo ou tarde da noite, logo sei que boa notícia não é.


O ano começou violento, com homicídios ou mortes não programadas.


Hoje quando o celular me chamou antes do café, sabia que boa notícia não era.


A minha devoção pelos ditados populares e poesias feitas por gente simples do povo, me fizeram acertar.


Era a notícia da morte de um ex-aluno de contabilidade da nossa universidade federal que iniciou a trabalhar comigo antes de concluir o seu curso superior.


O auditor chefe, Edilson Bezerra, era um cearense que veio do Rio de Janeiro onde estudou para trabalhar na contabilidade da Usina Jaciara.


Logo demonstrou toda a sua competência, sendo absorvido pelo governo do Estado e posteriormente a universidade.


Edilson foi o pai do curso de ciências contáveis na UFMT e seu mais entusiasta professor.


Tinha tanta confiança e honestidade no trabalho do Edilson, que só descobrimos que o curso não tinha autorização do Conselho Estadual de Educação para funcionar momentos antes da colação de grau da sua primeira turma de bacharel.


Tudo foi arrumado pelo padre Pombo, presidente do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso.


O curso foi criado e iniciou a funcionar na época do ICLC, subordinado à Secretaria de Educação comandada por mim.


Durante o meu longo período na reitoria, Edilson foi auditor chefe, ajudava o Atílio Ourives na vice-reitoria administrativa e lecionava no departamento de Contabilidade.


Morreu muito cedo dessa doença maldita, e seu aluno predileto Bolanger José de Almeida, ficou em seu lugar.


Bolanger era um excelente profissional, comprometido com as causas da universidade.


Foi pró-reitor, disputou a eleição para a reitoria e se aposentou cedo, cumprindo as normas constitucionais.


Ocupou inúmeros cargos públicos, como Secretário de Fazenda dos municípios de Cuiabá e Várzea Grande.


Gostava muito dele, que conheci como aluno-funcionário da UFMT.


Na ocasião dos preparos do Teatro Universitário, com a montagem das poltronas, para a encenação da peça Macunaíma de Mario de Andrade, com direção de Antunes Filho, encontrei o Bolanger ajudando os operários num ritmo contagiante.


Perguntei se tudo estaria pronto para a data programada.


Ele me disse: se a gente continuar assim, vai dar.


Notei seus olhos bastante amarelados e a cor da sua pele também.


Aconselhei que fosse para sua casa repousar, e só voltasse a trabalhar depois de curado.


Ele me disse que tinha consultado um médico (1982) da universidade, e lhe foi relatado que após a guerra do Vietnã os cientistas observaram que essa icterícia era viral e não necessitava mais de repouso ou uso de medicamentos para se curar.


Bolanger morreu jovem, da mesma doença maldita que matou seu protetor Edilson Bezerra, aos 71 anos de idade.


Recebi a notícia num horário de notícias ruins, assim que o dia clareou.


Gabriel Novis Neves

19-01-2023




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