CHEIRO DE TERRA

Recebi de uma amiga jornalista, que por muitos anos trabalhou em Cuiabá na televisão pioneira e agora vive no Rio de Janeiro, um email poético sobre uma crônica que escrevi sobre a chuva em Cuiabá.

Ela frequentava a minha casa para sentir cheiro de pastelzinho de sábado. 

“Fechei os olhos e ele me fez “croc” quando mordi a delícia na minha imaginação”- escreveu ela.

“Quentinho, com queijo querendo fazer aquela corda de fuga prisional no caminho pra boca e escapar da sorte de ser parte da degustação."

Ela foi uma das minhas professoras de quando comecei a escrever em 2009. 

Ensinou-me que deveria ter sempre comigo uma cadernetinha de anotações para escrever as coisas do cotidiano, para quando chegasse em casa passasse para o computador. 

Hoje não preciso fazer isso, pois sempre quando saio levo o meu celular onde escrevo as minhas crônicas. 

Depois as envio por email em meu notebook. 

Ela tem o endereço eletrônico do meu blog e quando tem tempo consulta, e às vezes comenta aquilo que leu e acho que gostou. 

Só se comunica por email e não possui WhatsApp. 

Sobre a crônica da chuva me disse que sentiu cheiro de terra no ar. 

Ficou pensando que esse cheiro era da infância perdida, porque as crianças não têm mais essa referência sensorial nesses solitários espigões de concreto onde moram. 

Prosseguiu dizendo da sua ideia louca de engarrafar o cheiro de maresia, de tão sensual que ele é.

Naquele tempo esperava ansiosa a primeira chuva de Cuiabá, a da manga ou do caju, qual vem primeiro?

Corria pro pátio, nos canteiros beirando os muros da casa, para sentir aquele cheirinho gostoso. 

Quando na Chapada em dia de chuva, faria uma festa para me embebedar do aroma da grama e mato molhado. 

É sempre bom conversar com amigas que estão distantes de nós. 

Parece que as distâncias, quanto maiores, mais nos aproximam, e fazem surgir essa palavra mágica chamada de saudade. 

Não sei o que é mais gostoso - sentir o cheiro da terra no ar ou sentir saudade pela distância. 

Poetizar num final de dia também é bom. 

Gabriel Novis Neves

25-11-2022