quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

MINHA ATRAÇÃO POR BOTEQUINS


Tenho verdadeira fascinação pelos botequins, muito mais emocionais do que os bares e restaurantes.


Nasci no Centro Histórico de Cuiabá, na rua de Baixo (Galdino Pimentel), cuja população era algo semelhante a 35 mil habitantes.


Ali fui criado até aos 10 anos de idade, quando meus pais se mudaram para a rua do Campo (Barão de Melgaço), no meio da quadra onde ficava a Academia Mato Grossense de Letras e o Clube Feminino.


Desde que me entendo por gente ia ao bar do meu pai (Bar do Bugre), com duas frentes, uma para a Praça Alencastro e a outra para a Praça da República.


Aprendi a gostar de bar nessa ocasião.


Perambulava quando guri pelos botequins que ficavam na rua do Meio (Ricardo Franco) em todo o seu trajeto e ruas transversais.


A diferença entre bar, restaurante e botequim, era que este ocupava um reduzidíssimo espaço, com balcão, mesas e cadeiras nas calçadas.


Fornecia uma infinidade de petiscos feitos na hora, como o bolinho de arroz frito!


Também faziam sanduiches, pratos de comida feitos pelo seu dono, sem garçom para servir.


A comida do botequim era farta, saborosa e mais barata que a servida em restaurantes.


Cigarros eram vendidos “a retalhos” quando o dinheiro estava curto.


Todo mundo que frequentava o botequim era amigo, e o dono “pendurava as despesas” até que o freguês pudesse pagá-las.


As bebidas preferidas eram cervejas e cachaças, mas se quisesse poderia tomar uma boa “média com café não requentado”.


Lugar predileto de poetas, compositores, músicos, jornalistas e boêmios, embora acreditassem que música não se faz com quem bebe leite.


Botequim ficou em minha memória como um pequeno lugar onde na entrada havia sardinha nadando no azeite, azeitonas pretas, fatias de pão, com fumaça que vinha da pequena cozinha, tudo com muito barulho.


Esse é o botequim da minha juventude no Rio de Janeiro.


Nos subúrbios cariocas ainda encontramos botequins, e em Cuiabá desconheço mesmo nos bairros mais distantes.


Os bares ocupavam espaços maiores, geralmente tinham sorveterias, como o bar do meu pai, do Seror, Sinfrônio e Pinheiro, este com mesas de bilhar.


Quem ia ao bar, tomava cerveja, conhaque e vinho. Servia-se de salgadinhos feitos nas casas dos donos do bar, jogava-se bozó ou dados.


Suas portas eram fechadas bem antes da meia noite, com exceção da véspera do Natal e entrada do Ano Novo!


Também era comum o “pendura” quando fregueses famosos compravam vinhos finos e pacotes de cigarros.


Os restaurantes serviam pequenas porções de refeições, e o seu preço era exorbitante comparada a do botequim, onde seus fregueses gostavam de pratos abundantes para encher a barriga.


O tradicional bife a cavalo servido em botequim ocupava todo o espaço do prato, já em um restaurante mais parecia amostra grátis de tão reduzido que era.


A memória é como um baú de recordações, e hoje retirei de lá essa gostosura que foram os botequins, bares e restaurantes que fizeram parte da minha vida!


Gabriel Novis Neves

22-12-2022





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