terça-feira, 3 de janeiro de 2023

CHUVA GOSTOSA


Estamos no meio da tarde e a nossa cidade está escura.


São Pedro resolveu abrir as torneiras do céu e caiu muita água, transformando viadutos em verdadeiros rios.


A correnteza das águas era tão forte, que automóveis pareciam barquinhos de papel rodando em bacia cheia de água.


O Corpo de Bombeiros foi chamado a resgatar um infeliz que estava perecendo em seu carro.


Os operários da construção civil nas proximidades do meu apartamento foram obrigados a deixar de trabalhar.


Os passarinhos estão silenciosos, sinal que sabem que têm que ficar em casa.


O asfalto das ruas está da cor da chuva, que é cristalina, mas no asfalto se transforma na cor dele.


Quando a água da chuva corre por baixo dos viadutos sua cor é de terra.


Mas nem sempre foi assim em minha cidade.


Quando eu era criança, logo após as tempestades com raios e trovões, a gurizada corria para o córrego da Prainha que cortava a cidade para tomar banho nas suas águas cristalinas.


Depois garimpávamos pepitas de ouro nas suas barrancas e vendíamos nas Casas Miraglia, especializada em joias.


Criança daquela época adorava tomar banho de chuva, para desespero dos seus pais.


Diziam que fazia mal, causando resfriado, gripe e pneumonia.


Aproveitei essa fase tomando muito banho de chuva na Prainha e no quintal da minha casa.


Só fui acometido por uma pneumonia quando não tomava mais banho de chuva, bem após aos 80 anos de idade.


Água da chuva só é cristalina quando passa pela janela do meu apartamento no 20º andar.


Não temos mais as correntezas com suas águas límpidas e fazendo o dia todo aquele barulhinho gostoso de pedrinhas rolando pelas ruas da cidade.


Quando retornei à Cuiabá morei em uma casinha na rua Floriano Peixoto em frente à Escola Técnica Federal de Mato Grosso, do MEC, e me deliciava com o silêncio da noite e o barulho das pedrinhas nas águas das nascentes que passavam na porta da minha casa.


Era um excelente calmante para fazer criança dormir, embalada no meu colo em cadeira de balanço.


Assim era a minha velha Cuiabá, quando tudo era bom e gostoso de sentir e se ver.


Os passarinhos voltaram a cantar, sinal que a chuva passou.


Gabriel Novis Neves

28-12-2022




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