O VELHO E O NOVO

O velho tem muito receio do que é novo.

Quando o assunto é a mudança do ano, pior ainda.

A rotina transmite segurança aos idosos, e só os jovens sonham sempre em avançar em todos os sentidos em busca do novo.

Seja na escola, nas novas amizades, estado civil e enfrentamento do mercado de trabalho.

Não é que o velho goste da rotina, mas sente-se mais seguro com ela.

Até há pouco tempo eu viajava mensalmente, e essa troca de ares me produzia muitas alegrias.

Depois que atingi os patamares do velho, sinto tanta insegurança que prefiro pagar para não viajar.

Razões pragmáticas as tenho de sobra, suplantando aos prazeres.

Sinto-me muito bem protegido onde moro, e um simples passeio de lazer foi transformado para mim em verdadeiro pesadelo.

Já passei pelas diversas fases da vida, tendo deixado por escrito as minhas emoções de todas elas.

A fase da velhice, que deve ser a última, se caracteriza pela necessidade da segurança.

Qualquer movimento que me coloca distante das pessoas do meu ninho, e serviços fora do meu alcance, me levam à insegurança.

Ao apagar das luzes deste ano tento desesperadamente encontrar um alívio para meus sintomas, a fim de melhorar a qualidade deste restinho de vida, que ainda julgo possuir.

O velho desiste de fazer tudo como antigamente, pois os anos se passaram e deixaram as suas marcas.

É no final do ano quando fechamos o balancete da nossa vida, que verificamos que cada ano que passa a vida do velho fica mais repleta de rotinas.

Sei que a rotina é igual comida sem sal.

Não nos dá prazer e usamos como dieta de velho.

Quero saborear um prato existencial bem saboroso com uma pitada de sal, possível de ser percebido no meu sonho da juventude eterna.

Como seria bom se pudesse ainda morar em vaga de quarto de pensão e fazer minhas refeições nos restaurantes do SAPS (Serviço de Alimentação da Previdência Social).

Com dificuldade faço uma refeição na copa do meu apartamento.

Se os novos remédios que iniciei a tomar hoje me permitirem, irei fugir da rotina dos últimos anos causada pela doença dos velhos saudáveis.

Entraria o Ano Novo na ceia da casa da minha neta Camilla com toda a família e amigos reunidos.

Gabriel Novis Neves

28-12-2022