Quando eu era criança meus pais gostavam de brincar comigo com a sombra das suas mãos projetadas nas paredes da minha casa.
Eram muito divertidas as figuras projetadas por eles, dando-me a nítida impressão, ora de um pequeno pássaro abrindo o bico e batendo as asas, ora se preparando para voar com as asas já totalmente abertas.
As figuras que as projeções davam da cara do cachorro, eram um campo fértil à imaginação das crianças.
Como as crianças de antigamente eram treinadas para pensar e criar!
Hoje ao nascerem, já nos berçários das maternidades, são apresentadas aos brinquedos eletrônicos que o acompanharão para o resto das suas vidas.
Meus bisnetos de quase dois anos, quatro e cinco anos gostam de assistir filmes infantis pelo iPad, que é um moderno computador portátil.
Eles têm também muita intimidade com os mais modernos celulares, e a Maria, a bisneta mais velha, liga para conversar comigo e já aprendeu a fotografar pelo seu celular.
Quando vai à piscina da sua casa no condomínio onde mora, seu comportamento é de um adulto.
Chapéu de sol, creme protetor no rosto e corpo, biquíni e óculos escuros.
Fica sentada nas beiras da piscina em cadeiras apropriadas.
Ao seu lado, no mármore do seu entorno, um copo de papelão com refrigerante, e um pequeno prato de iguarias.
As crianças não têm mais infância.
Entram na pré-escola com quatro anos e complementam o seu horário com aulas de balé, canto, piano e natação.
Todas essas atividades são dadas por professores particulares e as aulas de religião ficam por conta da sua avó Monica no Santuário de N.S Auxiliadora na missa dos domingos.
Os presentes que ganham são todos de lojas comprados nos shoppings da cidade.
Os meus bisnetos jamais entenderão que as crianças do meu tempo fabricavam seus próprios brinquedos, que eram bem mais simples que os de agora.
Bonecas feitas de pano com restos dos tecidos da máquina de costurar da mamãe, bilboquê feito da pequena lata de tomate.
As rifas também eram utilizadas pelos meninos que vendiam quinquilharias em caixas de madeira com algumas divisórias horizontais.
Isso era feito na porta ou calçadas das suas casas.
O brinquedo da amarelinha quando meninas e meninos se divertiam, geralmente em calçadas sem piso.
O jogo de futebol era com a bola de pano feita em casa.
E o quintal dos velhos casarões cuiabanos com frente e fundos para ruas paralelas, verdadeira “Disneylândia”, era o local em que os brinquedos eram criados pelas crianças.
Utilizavam o barro para construir cidades, com pessoas, casas, rios e pontes, verdadeiros presépios do Natal, ocasião em que eram estimulados e ajudados por seus pais na brincadeira.
Este modelo de educação dos anos de quando eu nasci, não existe mais.
Será que o modelo atual é melhor para o desenvolvimento intelectual e criativo das crianças?
Acredito que sim.
Única preocupação que tenho é que as crianças não têm mais infância, nascendo e sendo criadas como adultos.
Gabriel Novis Neves
21-11-2022
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