quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

FAZ-ME BEM


Quando as ruas estão calmas, como nos domingos à tarde e feriados, e ajudado por leve brisa, do meu apartamento, fico ouvindo o som das batucadas vindos dos bares da Praça Popular.


Deitado na cama me esforço para identificar a melodia.


Só consigo reconhecer a pancada dos ritmistas.


À noite, de vez em quando acordo e ouço a batucada que vem de longe, indicando que ainda tenho muito tempo para dormir.


Os bares do fundo do meu prédio apresentam música ao vivo, que consigo acompanhar até a letra da melodia e ouço o burburinho do seu público.


Tenho uma grande frustração: a de não saber tocar um instrumento musical.


Para me desculpar penso em culpar meus pais por não terem me criado em ambiente musical.


Na minha época de criança tinha que estudar, passar de ano, e ser doutor.


Aprender a tocar um instrumento musical como violão e cavaquinho para interpretar a boa música popular brasileira, era sinal de malandragem e descuidar dos estudos que nos dariam uma profissão.


Era permitido estudar piano e violino e aprender música clássica, existindo bons professores em Cuiabá.


Cedo me interessei por música.


Aos 15 anos já conhecia a obra do Noel Rosa.


Também pela Rádio Nacional do Rio de Janeiro, tomei conhecimento dos grandes cantores nos anos dourados do rádio, logo substituídos pela televisão.


Chico Alves, o Rei da Voz e intérprete de marchinhas carnavalescas de sucesso como “ Bota o retrato do velho outra vez”, homenagem à Getúlio Vargas que ganhou as eleições presidenciais em 1950, após ser deposto em 1945.


Orlando Silva, que conheci em 1953 caminhando pela avenida N.S. de Copacabana.


Cézar de Alencar tinha um programa na Rádio Nacional aos sábados à tarde, onde apresentava e lançava grandes cantores da MPB.


Morando no Rio de Janeiro onde tudo acontecia, assisti ao lançamento da bossa nova com Vinícius de Morais, Antônio Carlos Jobim e companhia.


Conheci as canções dor de cotovelo interpretado por Nora Ney, Maysa Matarazzo e Elizete Cardoso.


A verdade é que é gostoso ouvir música boa, e me faz bem à alma.


Que saudade tenho das serenatas, quando toda a população cuiabana vivia em casas e éramos “sobressaltados” de madrugada pelas músicas dos violões chorões.


Haja ventos favoráveis e silêncio na noite, para me alcançarem no 20º andar do meu edifício, trazendo músicas, mesmo vindas de longe.


Gabriel Novis Neves

06-02-2022




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