Bem antigamente, as academias eram consideradas como casas do saber. O conhecimento chegava e era propriedade de poucos que faziam parte delas e de lá não saiam. Pertenciam a este seleto grupo, aqueles que mais tarde, se tornariam conhecidos como os sábios da humanidade. Hoje, existem inúmeras academias, a “começar pelas infinitas de ginásticas”, existentes em cada edifício de apartamentos. Estudantes de cursos universitários são chamados de acadêmicos. Até certos times de futebol são chamados de academias.
Na Cuiabá antiga, só existia uma “Academia que era de Letras”, e frequentada em sua maioria por bacharéis em Direito e número reduzido de “Cadeiras”. Eram poetas, historiadores e escritores. Reuniam-se às vezes, ocasião em que apresentavam os seus trabalhos. Alguns eram impressos e publicados, outros não. Hoje, existem outras, “como a da Medicina” que luta para sobreviver, não tendo nem sede própria ou alugada, realizando as suas reuniões atuais, nas dependências do Conselho Regional de Medicina (CRMMT).
Bem antigamente, o escritor Machado de Assis fundou no Rio de Janeiro, capital do Brasil, a Academia Brasileira de Letras (ABL) em dezembro de 1896. Tornou-se a instituição literária mais amada e odiada do Brasil. Tinha como finalidade tratar e cuidar das questões relativas à língua e à literatura do Brasil. Hoje, a politicalha entrou na “Casa de Machado de Assis”, trazendo decadentes artistas de novelas de TV e cantores populares para o seu interior, causando em protesto à criação da Academia Brasileira de Cultura (ABC) em dezembro de 2021, cujo primeiro presidente foi o Presidente da Fundação CESGRANRIO (1971), empresário Carlos Alberto Serpa.
Na Cuiabá antiga, era sinal de erudição pertencer a “Academia de Letras”, também chamada de “Casa de Barão de Melgaço”. Hoje, seus membros se queixam da pesada mensalidade, pouco ou nada produzem. As porteiras estão abertas e pertencer a Academia de Letras de MT, deve fazer bem a autoestima.
Bem antigamente, era uma honraria pertencer a uma “Academia Brasileira”. Hoje, com a proliferação das Academias Brasileiras de tudo e em todos os bairros, a honraria desapareceu e seus membros vistos pela “ótica de desconfiança” de Carlos Drummond de Andrade, que se negou a participar da Academia Brasileira de Letras, possuindo currículo de sobra.
Na Cuiabá antiga e no Brasil, não existia Academia Brasileira de Médicos Escritores (ABRAMES), fundada há 35 anos no Rio de Janeiro, tendo como Patrono: Manoel Antônio Almeida. Ele foi um médico, escritor e professor brasileiro. Hoje, existem várias Academias de Escritores Médicos. Em 2014, um colega da turma de médicos de 1960, que recebe diariamente as minhas crônicas, selecionou vinte delas para a comissão que aprova novos sócios para a ABRAMES. Fui escolhido por unanimidade para ser “titular de uma cadeira”, da pioneira academia. Informado pelo colega da surpresa que ele me presenteou, não aceitei a honraria e não tomei posse. Continuei enviando as minhas crônicas, e oito anos depois, em julho de 2022 novamente sem me consultar ele foi relator da minha inclusão como “membro honorário”, não precisando viajar mensalmente para a cidade do Rio de Janeiro, para as reuniões da ABRAMES. Já participei de três reuniões à distância. Me sinto totalmente deslocado, no meio de tanta erudição. As reuniões constam de vários itens, e o de maior duração é o das “palestras literárias” apresentadas pelos acadêmicos e acadêmicas em maior número, e tem o nome de “tertúlias”. Tenho pavor em ser escalado em tertúlias, por justa causa. Não tenho nenhum livro impresso, que é o cartão de visitas de todo intelectual. Como participar de tertúlia, sem mostrar sequer um livro impresso? Se pelo menos fosse cantor, na minha vez cantaria um dos clássicos da música popular brasileira, melhor se eu pudesse me acompanhar tocando violão. Pobre acadêmico de Cuiabá!
Bem antigamente, só pertencia a Academia Brasileira de Letras, quem assinasse um documento se candidatando a uma vaga e fosse aceito. Depois, iriam cabalar votos para a sua eleição. Eram escritores, romancistas, poetas, cronistas, jornalistas e muitos deles conhecíamos na escola que adotavam seus livros. Hoje, basta ter um bom QI (quem indica), para pertencer a Academia Brasileira de Letras.
Na Cuiabá antiga, as eleições para a admissão de novos membros para a Academia Mato-Grossense de Letras, era nos moldes da ABL. Hoje, a porteira está aberta, bastando passar pelas calçadas da “Casa de Barão de Melgaço”, para ocupar uma cadeira. Como o mundo acadêmico valoriza o livro impresso!
Gabriel Novis Neves
25-11-2022
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