segunda-feira, 30 de agosto de 2021

PERTO E DISTANTE


Cuiabá está há 1h50m de voo direto para São Paulo, o que, convenhamos,  é muito perto. 


Por “barato”, levando em conta o preparo para entrar no avião, o pouso, transporte até o local desejado, tranquilamente podemos acrescentar mais 4 horas.


O horário para retornar a Cuiabá não escolhemos nem a Companhia de Linhas Aéreas, e sim, o período de melhor transito da cidade mais populosa da América do Sul, arranha-céus e veículos. A tecnologia é um avanço, mas o “pacote” com que nos é ofertado é de amargar.


E o que dizer de viajar em tempos de Covid? Se não for por motivo de saúde ou trabalho inadiável é uma aventura. E aqueles inúmeros passageiros que apresentam limitações de locomoção? Enfrentam a precariedade dos nossos aeroportos sem Finger, e são submetidos a verdadeiros exercícios olímpicos para subir e descer as escadas da aeronave.


O perto e longe sempre me atraíram, pois exerci profundamente durante a minha vida essa aventura de estar distante e perto, perto e distante.


Como estudante no Rio, deixei mãe, pai, irmãos e amigos em Cuiabá. Depois, dois filhos foram estudar em Brasília e Rio, onde eu e minha mulher vivemos o perto e distante, cabendo a ela a presença no Rio, já que o filho que estudava em Brasília sempre estava conosco. Com o casamento dos dois filhos e da minha filha única, vivenciamos a síndrome do “ninho vazio”, embora com os três filhos morando na mesma cidade.


Há quinze anos sinto mais intensamente essa história do perto e distante por problemas biológicos e da idade. Meus médicos são de Cuiabá, meu hospital está em São Paulo. E entre perto e distante, continuo administrando minhas emoções e necessidades.


Gabriel Novis Neves

29-08-2021

sábado, 28 de agosto de 2021

CLUBES CUIABANOS


Lembro-me dos seguintes antigos clubes em Cuiabá: Mixto do “seo” Sinjão Curvo, na Rua Cândido Mariano; o Feminino na Rua do Campo; o dos Sargentos e Sub-Tenentes do Exército no Porto próximo ao Grupo Escolar Senador Azeredo (ou “peixe frito); do outro lado do rio Cuiabá, o Náutico de Licínio Monteiro da Silva; o Dom Bosco da “Colina Iluminada” dos irmãos Carvalho e Coronel Caracíolo.  Mais tarde o Monte Líbano, da colônia libanesa.


O Sayonara e o Balneário Santa Rosa merecem crônicas especiais, pois não se encaixam nesse grupo dos seis citados. Destes, o "Mixto", embora com seus bailes e festas carnavalescas, não me deixou grandes recordações.


O Clube Feminino fundado por Dona Zulmira Canavarros mereceu até livro do intelectual e ex-Reitor da UFMT, Benedito Pedro Dorileo. Reinou por vinte anos, comandado por Dona Nini, de Nilson Constantino, violonista e dentista querido em Cuiabá.


Nos anos 60, o Clube dos Sargentos, por pouco tempo, e o Náutico também com a mesma sorte, foram dominados pelo clube Dom Bosco; onde tudo acontecia lá, desde o jantar ao Presidente da República Médici, aniversário do Governador Pedrossiam, show solo de Chico Anísio até os Réveillons e bailes carnavalescos animados por João Batista Jaudy, em  dos quais com Jejé e tiroteios para o "de cor” entrar no clube de “elite”, fantasiado e sentado em uma poltrona carregada por quatro escravos “brancos”!


O Dom Bosco hoje é um entulho de um lindo clube com salão de festas, restaurantes, piscinas, quadras de vôlei e futebol de salão.


Surgiu em seu lugar o moderníssimo Monte Líbano bem maior que o da Colina, onde todos tipos de festas lá eram realizadas!


Como tudo na vida passa, o Monte Líbano vive a espera de alguém que queira adotá-lo.


Gabriel Novis Neves

05-008-2021




quarta-feira, 25 de agosto de 2021

ESCOLA DE MEDICINA DA UFMT


Criada em maio de 1970 como pertencente ao ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá). Com a criação da UFMT em 10-12-1970, passou a fazer parte dos seus novos cursos, porém só foi implantada em 1980.


Esse longo espaço de tempo tem como explicação a punição do governo federal na década dos anos 60, quando houve desenfreada e desorganizada criação de cursos de medicina por todo o Brasil, às vezes em cidades sem as mínimas condições de aceitabilidade para um curso como esse.


Como as pressões políticas eram intensas para novas escolas médicas, o MEC reuniu um grupo composto de mais de vinte mestres da medicina no Brasil, todos de universidades públicas dos grandes centros - centro sul, nordeste e alguns do Norte.


Nenhum pretendente conseguia “furar” a fila para funcionamento de novas e necessárias escolas como a de Cuiabá.


Conseguimos agendar um encontro com a comissão de “sábios” professores após varias desmarcações de audiências confirmadas anteriormente. 


Finalmente, em fins de 1979, conseguimos à tarde, logo após o almoço,  a entrevista desejada. 


Uma longa mesa era presidida por um ilustre e tranquilo professor de Porto Alegre, demais conselheiros de vários estados do Brasil e o grupo sabatinado era composto do Reitor, Pró-Reitor Administrativo, Auditor Geral da Universidade e o professor encarregado de implantar o Curso de Medicina da UFMT.


O Presidente iniciou os trabalhos, fazendo aos conselheiros um breve relato da reunião para analisar se a UFMT tinha condições de implantar o novo curso de medicina no próximo ano letivo de 1980.


Após discussão entre os conselheiros, totalmente contrários à abertura de novos cursos de medicina, foi dada a palavra ao Reitor para justificar e demonstrar que a UFMT tinha condições de implantar um belo e moderno curso de medicina em universidade pública de Cuiabá.


Antes de o Reitor falar, um conselheiro professor e escritor do Rio de janeiro, virou-se de costas, demostrando toda sua falta de educação e ignorância com relação ao Brasil.


Após a fala do grupo de Cuiabá, foi colocada em votação para apreciação a autorização do tão esperado curso de medicina, que foi aprovado com várias recomendações.


Passados quarenta anos o nosso curso pela avaliação de MEC é um dos cinco melhores cursos de medicina do país!


Essa foi o maior adversário para que a escola criada em 1970 só viesse a funcionar em 1980!


Tudo valeu a pena, da longa espera humilhante à autorização com inúmeras restrições.


Vencemos! Deus me concedeu vida longa para saborear a vitória de Cuiabá possuir a sua decana escola de medicina.


Gabriel Novis Neves

25-08-2021




domingo, 15 de agosto de 2021

VIDA


Todos os dias, ao acordar, tento reinventar a vida para manter minha saúde física e mental íntegras. 


Conheço muitos jornalistas esportivos que se tornaram excelentes cronistas do nosso cotidiano. Outros profissionais,  com curso superior ou não, se transformaram em dramaturgos, poetas, escritores, humoristas e políticos.


Na nossa terrinha existe profissional liberal que por anos escreveu pequenos textos sobre política local e nacional, principalmente. Suas crônicas eram  publicadas  em todos os jornais, revistas, sites, blogs e redes sociais, seu trabalho diário. Não sei por que há seis anos deixou de escrever.


Há quatro meses abriu o seu velho laptop para verificar se ainda funcionava. Começou a teclar alguma coisa e, em poucos minutos, tinha uma crônica totalmente diferente daquelas a que escrevia anteriormente.  Explicação para esse fato não conheço.


Indaguei de alguns profissionais da escrita sobre esse fenômeno de parar bruscamente de produzir "textículos" (como dizia o velho jornalista Villa) sem motivos e voltar,  após anos, extraindo desse fato prazeres novos. Como é bom escrever sem compromissos e compartilhar com alguns amigos! 


Reinventar-se é o mesmo que se transformar, sair da zona de conforto e da rotina. Algumas pessoas também acreditam que se reinventar é permitir novas experiências, buscar coisas novas para fazer, não se contentar com o fácil e se desafiar. Outras crêem que se reinventar é o mesmo que se desapegar daquilo que já não é necessário. Mudar a forma de pensar e se adaptar a novidades e mudanças.


Todas as definições parecem formas extraordinárias de viver a vida, não é mesmo?


Gabriel Novis Neves

01-08-2021




sábado, 14 de agosto de 2021

A UNIVERSIDADE DA SELVA


Para o 1º Encontro de Reitores das Universidades Públicas, realizado em Brasília em 17 de agosto de 1972, um grupo de professores da UFMT, criada em 10-12-1970, lançou um pequeno opúsculo chamado “A universidade da selva”, que consistiu no nosso atestado de nascimento para a comunidade científica nacional.


Nossa UFMT está localizada no marco zero da rodovia Cuiabá–Santarém, na zona de transição entre o cerrado e a maior concentração de florestas tropicais do mundo.


A experiência diária da Universidade tem aspectos originais. Uma equipe de campo pode ser forçada a andar de 25 a 30 km a pé, caso falte água no radiador, na estrada que leva à Utiariti (o hospital indígena da Missão Anchieta e do Programa de Medicina em Comunidades Tribais).


As distâncias médias percorridas entre o campus, em Cuiabá, e os postos e bases avançadas da Universidade no Rio dos Peixes em Dardanelos, em Utiariti e em Eremetsaukê, correspondem, respectivamente,  à rodovia Brasília–Rio, Brasília–Salvador, BrasíliaBelo Horizonte e Brasília–São Paulo em linha reta.


Os agentes maláricos, a importação crescente de doenças de outras regiões, são preocupações do consultor científico da Universidade, o Dr. Noel Nutels, que sugeriu a criação de um centro de pesquisas de doenças ambientais e de massa.


A UFMT é fonte de conhecimentos e –como admite Ceremecê, o grande capitão dos Xavantes,  ninguém ensina o que não sabe. Muito menos, ao nível de uma Universidade.


O campus estava localizado no maior vazio cartográfico do mundo contemporâneo, obrigando os pilotos a se guiarem visualmente pelos acidentes terrestres.


Isso nos obrigou a inverter os termos do binômio Ensino e Pesquisa, consagrado nos textos legais, para criar um movimento de profundidade (Pesquisa), imediatamente conversível em movimento de expansão (Ensino), e a partir deste foco de realismo dar sentido objetivo à produção da Ciência, da Tecnologia e do capital humano necessários ao desenvolvimento regional.


Cremos estar contribuindo para estruturar melhor o mercado de trabalho, impedindo a futura evasão de alunos dos cursos e a evasão de diplomados na região.


Claro que, à primeira vista, parecerá uma Universidade de índios, a nossa. Esperamos que esta impressão inicial não se dissipe, mas, ao contrário, se confirme – porque temos tentado, diligentemente, sê-lo.


Gabriel Novis Neves

06-08-2021





sexta-feira, 13 de agosto de 2021

COISAS DE MÉDICOS


Dia desses escrevi uma crônica e o editor do Bar-do-Bugre postou uma foto minha escrevendo no notebook para provar que era minha mesmo.


Um professor de reumatologia da UFMT fez uma série de observações técnicas sobre a minha postura deficiente, estampada no retrato.


“Querido Professor, Aqui vai uma contribuição de um reumatologista que pode melhorar a sua ergonomia na atividade que mais o ocupa hoje e que tanto nos encanta!


1.   Investir em um monitor com tela mais ampla, que fique na altura dos olhos;


2.   Elevar um pouco a cadeira de modo que os cotovelos fiquem fletidos em ângulo de 90graus, assim com devem ficar os quadris;


3.   Investir em um teclado ergonômico e o mouse sem fio.


Creio que com essas medidas ficará bem mais gostoso de escrever os seus belos textos e histórias.


Aceite minhas escusas pela ousadia, agi com o carinho e respeito que tenho pelo Senhor.


Abç”


Imediatamente entrei em contato com a empresa que é responsável pela manutenção do meu notebook e do computador convencional maior. O técnico entendeu o que eu desejava. Estou  esperando a hora chegar para fazer um PIX das despesas, e amanhã à tarde espero ter sanado esse problema de postura.


Estava há dias sentindo desconforto nos braços e ombros, chegando a apelar neste final de semana ao uso de analgésicos e massagens com anti-inflamatórios.  Havia debitado essa “conta” aos exercícios diários de fisioterapia nos braços e ombros.


Também não havia programado nenhuma despesa extra este mês...


Não paguei o preço da consulta, mas o valor dos novos equipamentos!


Sempre digo que o médico, até depois de morto, é chamado para dar consultas, muitas vezes espontaneamente, como meu colega, que não se calou perante o erro do próximo!


Bendito sois, oh Médico, com as suas coisas!


Gabriel Novis Neves

09-08-2021





quinta-feira, 12 de agosto de 2021

OS GARIMPEIROS


No início dos anos oitenta, visitei cidades do nortão do Estado, em uma ótima caminhonete e bom motorista, tendo por objetivo  de conhecer o sistema educacional de Guarantã, especialmente conhecer a educação infantil e pré -escolar em área totalmente afastada das esferas do poder central do Estado,  pioneiramente implantado pelas irmãzinhas de uma Congregação Mineira. Passei uma manhã conversando com as educadoras e saí  entusiasmado com tudo que vi e observei. 


Pernoitamos em Peixoto de Azevedo em direção de Guarantã do Norte, nosso destino final. Na volta pegamos a BR 163, ainda não pavimentada até Cuiabá, cerca de 900 quilômetros.


O nome do município "Peixoto de Azevedo" deveu-se ao Rio que banha seu território, que por sua vez recebeu o nome em homenagem ao tenente Antônio Peixoto de Azevedo, que no ano de 1819 comandou uma expedição que deu nome aos rios Arinos, Teles Pires e Rio do Sangue. Ao que se sabe, Antônio Peixoto de Azevedo buscava alternativas de transportes praticados na época em direção a capital paraense.


A referida epopeia destes desbravadores não obteve os resultados esperados. Devido a isto a região permaneceu bruta e intocada até chegar à década de 70, com o projeto do Governo Brasileiro de construir grandes estradas na Amazônia.


Nesta época, foram expulsos da região os chamados Índios Gigantes,  sendo os mesmos conduzidos pelos irmãos Villas-Boas até o Parque Indígena do Xingu.


Em 1979 grandes quantias de ouro foram descobertas no local,  e a notícia se espalhou rapidamente. Milhares de pessoas chegaram ao território  vindos  de diversas regiões, principalmente do Norte e Nordeste do Brasil, em busca do rápido enriquecimento, provocando uma verdadeira “corrida ao ouro”.   


Chegava-se a extrair dos garimpos “Peixotenses”, por anos a fio, a impressionante quantidade de mais de 1.000 quilos de ouro por mês! O impressionante é que Peixoto de Azevedo foi responsável, na década de 80 e início de 90, por cerca de 10 por cento de toda a produção nacional de ouro.


Também foram trazidos muitos colonos dos Estados do Sul. Foi nascendo então um povoado local, que se expandiu e se transformou em um grande aglomerado urbano. Na época, a região passou a ter cerca de 90.000 habitantes! Em 1981 o povoado foi elevado à categoria de distrito de Colíder e, em 1986 foi emancipado.


Nos anos 90, o confisco monetário do Governo Collor, trouxe muitos prejuízos, atrapalhando simultaneamente o desenvolvimento do município. No começo do século XXI, o município passou por diversas crises políticas  e administrativas, desacelerando ainda mais o seu desenvolvimento, diferenciando-o das demais cidades circunvizinhas. Seus garimpos, embora legalizados, não garantiram um grande avanço para o futuro.


Fiz esta rápida revisão histórica, baseada na história descrita no website da Prefeitura de Peixoto de Azevedo, onde vivenciamos o apogeu e a queda de um grande garimpo.  A Prefeitura deve possuir todos os ingredientes burocráticos das mais antigas prefeituras deste país, tão cheias de diferenças sociais.


Quando pernoitei em Peixoto de Azevedo, a “cidade” era um aglomerado de gente. O que me chamou a atenção foi  a única rua existente,  não pavimentada, onde corria muito dinheiro levado por garimpeiros, nela se instalando um grande número de “boates” e farmácias que se alternavam em toda sua extensão.


No outro dia, com o tanque cheio de gasolina, partimos ao destino final. Depois de meia hora de viagem, no horizonte da estrada empoeirada, dois jovens levantavam os braços pedindo que parássemos. O motorista pediu minha permissão e paramos à beira da estrada.


Os jovens indagaram se iríamos "para cima" e, diante da minha afirmação, se acomodaram no banco traseiro da caminhonete, sem antes esclarecerem que não tinham dinheiro para a gasolina.


Minutos de silêncio, logo quebrado por um dos meus convidados: - o senhor é doutor, vou lhe falar uma coisa, trabalhamos em um garimpo logo ali “pra riba”.


Passamos alguns dias na cidade das boates e farmácias. Naquela ocasião seria possível comprar sua caminhonete, disse um deles. Hoje não temos dinheiro para comer. E logo pediram para descer, pois tinham chegado ao seu destino – o garimpo.


Fiquei pensando na vida do garimpeiro, que fica meses em um buraco da mina de ouro, leva tudo o que ganhou para gastar até o último centavo com mulheres e farmácia. Aprend muito com aquele encontro, sendo hoje um defensor do garimpeiro.


Naquela época, a "Rita Cadillac" ainda não tinha descoberto o garimpo de Peixoto de Azevedo.


Gabriel Novis Neves

03-08-2021

Peixoto de Azevedo 


quarta-feira, 11 de agosto de 2021

PRIMEIRO ORÇAMENTO DA UFMT

 

A UFMT foi criada em 10 de dezembro de 1970, quando o orçamento da união para o próximo ano já estava “fechado”; isto é, não poderíamos sobreviver em 1.971!


O Governo de Mato Grosso ficou responsabilizado pela folha salarial dos professores e servidores do ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá). A Faculdade de Direito,  por ser criada como Federal, possuía seu próprio orçamento.


Nossa primeira ida à Brasília, em março de 1971, foi para resolver nosso orçamento plurianual (1972-1973 e 1974). O técnico responsável pelo orçamento no MEC nos recebeu de pé, apontando-me três enormes pastas que deveriam ser preenchidas para o orçamento!


Em vão quis me fazer entender que a UFMT só existia no papel e não teria condições mínimas de realizar aquilo que me fora pedido, um complicado problema contábil facilmente resolvido por funcionários do Tribunal de Contas da União. Ou do próprio MEC.


Contratamos uma qualificada equipe técnica de Brasília que, em Cuiabá e trabalhando quinze horas por dia, em cinco dias me entregaram os documentos  para voltar ao orçamento do MEC. Isso feito, consegui incluir o nosso primeiro plurianual valendo a partir de 1972.


Pensei que a paz estava consolidada. Mera ilusão! No segundo semestre de 1971 a discussão do tri-anual ganhou novo “patamar”, e o debate ficou sob o comando do eficiente Coronel Pamplona, secretário geral do MEC.


Foi muito difícil “explicar” ao Coronel que a universidade não possuía um orçamento. Esse trabalho “técnico” ficou sob a responsabilidade do professor de economia Édson de Souza Miranda!


O professor e eu sabíamos que se o secretário geral do MEC tivesse acesso à essas informações, o crescimento da UFMT nos próximos três anos teria como parâmetro apenas a correção inflacionária, isto é: nada.


Depois de longas discussões, o MEC “fingiu” aceitar a nossa proposta! No dia 30 de dezembro de 1971, pelo RÁDIOMEC da Escola Técnica Federal de Mato Grosso, o Coronel me chama para saber quanto estava faltando para fechar a folha de pagamento dos professores e servidores da UFMT. Imediatamente respondi – 670 mil.


A resposta de Brasília: - Essa quantia será depositada agora na agência Cuiabá do Banco do Brasil.


No primeiro dia útil de janeiro de 1972, o Conselho Diretor da Fundação UFMT transformou recursos de custeios - já que todos os professores e servidores estavam pagos pelo Governo do Estado - em recursos para investimentos.


Acrescentamos o dinheiro que bloqueamos da Faculdade de Direito para construção do seu auditório na Rua Comandante Costa, e iniciamos em fevereiro de 1972 as obras do primeiro bloco do Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas.


Assim é a história vivida e contada.


Gabriel Novis Neves

10-08-2021


Prédios do CCH e CCL UFMT 

Instalação da Faculdade de Direito de Cuiabá, 1957

Primeira turma de formandos da Faculdade de Direito de Cuiabá 

Prédio da Faculdade de Direito da UFMT


terça-feira, 10 de agosto de 2021

CERIMÔNIAS DE COLAÇÃO DE GRAU


A Universidade Federal de Mato Grosso iniciou pela fusão da Faculdade Federal de Direito de Cuiabá, com os Cursos Estaduais do ICLC (Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá), tendo sido criada por lei federal em 10 de dezembro de 1970, e implantada após 15 de março de 1971.


Até então, as solenidades de colação de grau eram realizadas pelas próprias faculdades responsáveis por esses cursos superiores; e utilizavam dependências de colégios estaduais, clubes, ou do Cine Teatro de Cuiabá.  O protocolo era rigoroso, cumprindo todos os cerimoniais dos cursos.


Tínhamos a imensa mesa de autoridades para abrigar os mais diversos egos, com direito aos discursos obrigatórios, dos paraninfos, patronos, nomes de turma, graduandos, e demais autoridades civis, e eclesiásticas presentes ao evento. Não raro o presidente da mesa concedia a comum “palavra livre”, onde cada presente poderia fazer o seu discurso. Entre as falas, a banda de música executava um hino cívico! Eram um terror essas “formaturas”, mas muito disputadas pelas presenças dos mais variados matizes de políticos do nosso Estado.


Em dezembro de 1971 ocorreu a primeira colação de grau unificada da UFMT. Teve como cenário o estacionamento da piscina da UFMT. Duas mesas foram colocadas no local - uma enorme destinada a todas as autoridades presentes e outra para os trabalhos de colação de grau, apenas com o reitor e dois pró-reitores.


As autoridades da ocasião elogiaram muito a nova composição da mesa, mais espaçosa e acolhedora. Quem inaugurou esse novo sistema foi o Ministro da Educação Jarbas Gonçalves Passarinho, responsável, junto com o Presidente Médici, pelo ato de criação da UFMT, homenageado Paraninfo de todos os formandos!


Foi um lindo espetáculo visual, com o maravilhoso discurso do grande orador Passarinho. Na mesa de trabalhos, o "Morro Grande" do município de Santo Antônio, distante à direita de Cuiabá, era o cenário natural que nos enviava relâmpagos, trovões e chuva. Conclusão: todos saíram da solenidade com pingos de chuva nos nossos vestuários.


Tivemos outras colações unificadas ao “relento” sendo que uma do meio de ano com a presença do Governador José Fragelli, foi realizada entre as calçadas do Centro de Ciências Sociais.


O forte vento do cerrado, com a incrível queda da temperatura chegou a incomodar o governador que, esfregando as mãos para dissipar o frio, perguntou-me se poderia usar um gorro de lã que carregava no bolso da sua calça e, ante minha aceitação peremptória, ainda me indagou ser possível tomar uma boa dose de conhaque inglês para se esquentar. Pedi ao garçom da reitoria para servir ao governador, e se houvesse mais, também gostaria de acompanhá-lo!


Finalmente, com a conclusão do Ginásio de Esportes da UFMT, as colações de grau unificadas passaram a ser realizadas naquele equipamento, contando com arquibancadas para abrigar o público das famílias dos formandos do relento e intempéries. Posteriormente, aquele espaço esportivo passou a pertencer aos grandes eventos do ano da cidade e do Estado.


Gabriel Novis Neves

09-08-2021






segunda-feira, 9 de agosto de 2021

MANIA NOVA


Por razões que desconheço,  nestes últimos trinta dias refiz e publiquei uma crônica. Foi a primeira que escrevi e publiquei, – “A barata voadora” (1964). Agora, na sua quarta versão (a melhor delas). 


Depois, adapteie um opúsculo que lancei em agosto de 1972 em Brasília e o novo “opúsculo” da Universidade da Selva publicarei na semana que vem como crônica. Acredito que esta será de grande valia para pesquisadores, alunos e professores da UFMT, pois a versão inicial praticamente desconhecem.


Diz a sabedoria popular que não se avança rumo ao futuro desconhecendo o passado, suas decisões com erros e acertos. Esse é o substrato da nossa verdadeira história, pois sempre existe um início. Nada acontece por acaso,  e desconhecer esse “nada” é negar a própria história.


Que tipo de universidade irei implantar?  Foi a primeira pergunta que fiz a mim mesmo quando escolhido reitor “pró-tempore” para implantar a UFMT.


Seria mais fácil copiar o modelo de uma boa universidade do centro-sul brasileiro, mas sem compromissos com o desenvolvimento socioeconômico da região e respeito ao meio ambiente e às comunidades indígenas existentes na região da UFMT, muitas virgens de contato com o homem branco.


De jeito algum poderia ser apenas uma alteração na estatística do MEC ao relacionar novas universidades públicas, assim como não admitia de forma alguma que ela fosse apenas mais uma “repartição pública federal”!


Teria que ser uma casa de ensino, pesquisa extensão, totalmente voltada ao desenvolvimento regional. Daí para frente tudo foi mais fácil. Ocupávamos o maior vazio cartográfico do planeta, e não conhecíamos quase nada do meio-ambiente para o qual iríamos formar profissionais de nível superior.


Óbvio que teríamos que inverter o “consagrado binômio” ensino-pesquisa, para pesquisa e ensino.


O grande capitão dos índios Xavantes – Cêremece, dizia ao seu povo: “Ninguém ensina o que não sabe, muito menos ao nível de uma universidade”.


Propusemos ao MEC e demais agências financiadoras de desenvolvimento regional, recursos para implantar um Centro de Pesquisas em Dardanelos (Aripuanã). Esse Centro de Pesquisas enviaria ao Campus de Cuiabá informações, mesmo empíricas, para currículos de novos cursos voltados para a nossa realidade. Foi quando sugerimos inverter ensino e pesquisa, para pesquisa e ensino.


O resto da história todos conhecem. Com menos de oito anos, a UFMT interferiu decisivamente na divisão do Estado de Mato-Grosso, se tornou modelo de universidade moderna, segundo o Ministro do Planejamento do Brasil, Reis Veloso, e modelo futuro de uma Universidade Amazônica, com o seu “quadrilátero de conhecimentos” da Amazônia, tendo como integrantes as universidades federais de Cuiabá, Belém, Manaus, Rio Branco e Rondônia.


Após consolidar internacionalmente a UFMT como casa da cultura, com o seu magnífico teatro, biblioteca, museus, atelier livre, orquestra sinfônica, coral, quarteto de cordas, e uma escola de samba, que desfilava nos carnavais de Rua de Cuiabá promovendo a integração universidade e comunidade, tudo isso em apenas onze anos, quando se encerrou o meu mandato de reitor.


Foi o que deu para fazer na década de setenta, e resumir em 2021, nesta minha fase de MANIA NOVA!


Gabriel Novis Neves

07-08-2021







domingo, 8 de agosto de 2021

PRIMEIRA EXPÊRIENCIA


Ontem à tardinha tive a minha primeira experiência em uma live profissional com professoras da UFMT. Digo profissional, pelo cuidado das duas professoras; uma com mestrado e doutoranda Joira Martins; e a outra entrevistadora, professora de Educação e doutora em educação, Integrante do Centro de Memória Viva do Instituto de Educação, professora Nilce Ferreira, coordenadora do Centro de Memória Viva do Instituto de Educação da UFMT/ Cuiabá.


Outras lives que fiz foram "amadoras" e, muitas vezes, quem me interrogava nem sequer sabia a data do meu nascimento ou meu nome completo. Aprendi com o ditado popular que se dança conforme a música tocada, e as lives eram bem assim, onde muitas das vezes eu passava de entrevistado para entrevistador.  No final dessas lives ficava sabendo tudo da vida profissional e privada das jornalistas entrevistadoras e elas se esforçavam para obter a informação que precisavam para o seu trabalho!


Com as professoras, foram duas horas de muita história vivida, findas as quais era evidente o meu cansaço mental e, mesmo assim, o término da live foi determinado pelo descarregamento da bateria do meu celular!  Teremos outras lives até concluir o trabalho de tese da Prof. Joira.


Pela manhã, vieram os subprodutos do trabalho de ontem e iniciei a fotografar os antigos retratos, dentre os quais descobri uma única foto minha, ainda com poucos meses de idade, sentado com outro primo contemporâneo no colo da minha avó paterna, a carioca Eugênia de Vasconcelos Neves!


Lembrei-me de tanta coisa que entendia estar fora da minha memória, como artigos que produzia mensalmente para uma extinta revista de entretenimentos, comentando futebol e tinha por título “Bola Rolando”!


UM PAINEL: Entrevista analisando os 40 anos da UFMT. Carta do médico Noel Nutells, recomendando-me como deveria ser uma escola de medicina na UFMT. Retratos do meu aniversário de três anos, sentado em cadeira alta com proteção e mamãe com a primeira filha nos braços. A mesa posta com doces e salgadinhos, esperando o discurso de “parabéns a você” do professor Ezequiel de Siqueira para a festinha iniciar. “Batatinha quando nasce esparrama rama pelo chão, menininha quando dorme, põe a mão no coração” - e estava liberada a mesa de guloseimas para as crianças.


Encontrei também um retrato das últimas férias dos meus pais no Rio de Janeiro, em 1939, onde, em foto  na Praça do Lido em Copacabana que estava cheia de brinquedos, fui "flagrado" vestido com roupa de marinheiro, sentado em uma cadeira do balanço, e a minha irmã em outra. Nos braços, minha mãe carregava seu terceiro filho de meses de nascimento. Ao largo, havia um “escorregador” , que as crianças até hoje adoram, pequeno “lago” com areia e água do mar para fazer esculturas.


Foi uma manhã com muitas emoções e, como acontece nessas ocasiões, decorreu estímulo para procurar - até encontrar - um documento “recente”, de agosto de 1972, que é o “atestado de nascimento” da nossa UFMT, lançado em Brasília por ocasião do Primeiro Encontro dos Reitores Das Universidades Públicas, com o nome de “Universidade da Selva”!

A historia é bem assim, prazerosa e quase sem fim!


Gabriel Novis Neves

06-08-2021








sábado, 7 de agosto de 2021

MINHA APOSENTADORIA DO CONSULTÓRIO


Intimamente, foi muito difícil aceitar a forçosa aposentadoria do consultório em razão da própria saúde. Para quem foi acostumado aos pequeno trabalhos desde criança, tendo na juventude passado a exercer com intensidade essa atividade que “dignifica o homem”, não foi confortável ou fácil, mesmo aos 82 anos de idade (quando da minha aposentadoria do consultório), ficar em casa sem fazer nada.


Parei, nesse período do afastamento do consultório, com toda e qualquer atividade laboral, até mesmo de escrever as crônicas diárias, só voltando a escrever em abril deste ano.


Foi totalmente diferente, no meu entendimento, a aposentadoria do trabalho público de médico e professor e a do atendimento médico no consultório privado. A primeira, é uma vitória alcançada por merecimento; enquanto a outra é um sacrifício imposto pela idade adiantada.


Certa ocasião, em reunião com colegas da faculdade, todos praticamente da mesma idade, arrisquei a perguntar para alguns, ainda em excelente aspecto físico, os motivos que os fizeram abandonar o atendimento privado no consultório.


As respostas foram as mais diferentes possíveis. Um me disse que quando atendia e examinava um paciente no consultório, na hora de prescrever a receita, com o medicamento indicado, este não vinha a sua mente. Ainda com o paciente não percebendo essa falha de memória, resolveu abandonar o consultório.


Um excelente cirurgião cardíaco, depois dos 80 anos, não tinha mais preparo físico para aquele prolongado procedimento, outro querido colega me confessou.


Outro eficiente cirurgião ginecológico, após suas perfeitas cirurgias, não conseguia dormir à noite, pensando nas ligaduras dos vasos que poderiam “frouxar”, produzindo hemorragias internas.


Era comum nessa idade avançada colegas tirarem uma “soneca” ouvindo a “historia” do paciente. Algumas enfermeiras dos consultórios, não raramente, eram chamadas pelos clientes para acordar o médico...


Finalizando com este "buscado" histórico da razão da aposentadoria dos médicos em seus  consultórios privados - um idoso obstetra chamou um colega mais jovem para ajudá-lo a examinar uma gestante em avançado trabalho de parto, pois não percebia evolução na dilatação do colo uterino. O colega jovem, ao fazer o toque vaginal, relatou que a gestante estava com dilatação total do colo e o bebê já estava aflorando. O idoso obstetra decidiu encerrar naquele momento sua intensa e extensa vida como "parteiro" pois, "com pouca visão", não percebeu que fazia o toque vaginal pela via retal.


E o que faz o médico aposentado aos 86 anos de idade, aprisionado em casa para se proteger da pandemia do Covid19 - que, em minha opinião, veio para ficar por longo período de recorrentes contaminações ?


Antes da pandemia visitava filhos, netos e bisnetos, lia e escrevia para passar o tempo. Ia também pela manhã à padaria para tomar o cafezinho e conversar com amigos. Agora, só me restou resignação para ver o tempo passar da melhor forma possível. No meu caso, conversando ao telefone com meus filhos e recebendo visitas individualizadas deles (com uso constante de máscara e demais proteções e barreiras biológicas), pelo menos uma vez por semana. Também é aprazível falar pelo face time com netas e bisnetas, sendo "uma delícia" acompanhar o crescimento e desenvolvimento dessas crianças. 


Também é prazeroso participar de longas “lives” com jovens jornalistas, abordando temas sobre a história de Cuiabá e da UFMT.


Impedidos de participar dos eventos esportivos, resta ficar “secando” alguns clubes na Taça Libertadora, Copa Brasil e principalmente Campeonato Brasileiro - já que o meu Botafogo foi rebaixado para a segunda divisão; torcendo pelo time  "Cuiabá", que subiu este ano - para não descer no final do campeonato; o que, convenhamos, seria um horror!


Ah! Estou também em uma fase da vida de escrever muito, já que não vejo mais televisão. Com cuidadora e enfermeira me vigiando constantemente, passo muitas horas  defronte ao notebook e vou empurrando para longe de mim o inevitável.


Gabriel Novis Neves

05-08-2021