sábado, 7 de agosto de 2021

MINHA APOSENTADORIA DO CONSULTÓRIO


Intimamente, foi muito difícil aceitar a forçosa aposentadoria do consultório em razão da própria saúde. Para quem foi acostumado aos pequeno trabalhos desde criança, tendo na juventude passado a exercer com intensidade essa atividade que “dignifica o homem”, não foi confortável ou fácil, mesmo aos 82 anos de idade (quando da minha aposentadoria do consultório), ficar em casa sem fazer nada.


Parei, nesse período do afastamento do consultório, com toda e qualquer atividade laboral, até mesmo de escrever as crônicas diárias, só voltando a escrever em abril deste ano.


Foi totalmente diferente, no meu entendimento, a aposentadoria do trabalho público de médico e professor e a do atendimento médico no consultório privado. A primeira, é uma vitória alcançada por merecimento; enquanto a outra é um sacrifício imposto pela idade adiantada.


Certa ocasião, em reunião com colegas da faculdade, todos praticamente da mesma idade, arrisquei a perguntar para alguns, ainda em excelente aspecto físico, os motivos que os fizeram abandonar o atendimento privado no consultório.


As respostas foram as mais diferentes possíveis. Um me disse que quando atendia e examinava um paciente no consultório, na hora de prescrever a receita, com o medicamento indicado, este não vinha a sua mente. Ainda com o paciente não percebendo essa falha de memória, resolveu abandonar o consultório.


Um excelente cirurgião cardíaco, depois dos 80 anos, não tinha mais preparo físico para aquele prolongado procedimento, outro querido colega me confessou.


Outro eficiente cirurgião ginecológico, após suas perfeitas cirurgias, não conseguia dormir à noite, pensando nas ligaduras dos vasos que poderiam “frouxar”, produzindo hemorragias internas.


Era comum nessa idade avançada colegas tirarem uma “soneca” ouvindo a “historia” do paciente. Algumas enfermeiras dos consultórios, não raramente, eram chamadas pelos clientes para acordar o médico...


Finalizando com este "buscado" histórico da razão da aposentadoria dos médicos em seus  consultórios privados - um idoso obstetra chamou um colega mais jovem para ajudá-lo a examinar uma gestante em avançado trabalho de parto, pois não percebia evolução na dilatação do colo uterino. O colega jovem, ao fazer o toque vaginal, relatou que a gestante estava com dilatação total do colo e o bebê já estava aflorando. O idoso obstetra decidiu encerrar naquele momento sua intensa e extensa vida como "parteiro" pois, "com pouca visão", não percebeu que fazia o toque vaginal pela via retal.


E o que faz o médico aposentado aos 86 anos de idade, aprisionado em casa para se proteger da pandemia do Covid19 - que, em minha opinião, veio para ficar por longo período de recorrentes contaminações ?


Antes da pandemia visitava filhos, netos e bisnetos, lia e escrevia para passar o tempo. Ia também pela manhã à padaria para tomar o cafezinho e conversar com amigos. Agora, só me restou resignação para ver o tempo passar da melhor forma possível. No meu caso, conversando ao telefone com meus filhos e recebendo visitas individualizadas deles (com uso constante de máscara e demais proteções e barreiras biológicas), pelo menos uma vez por semana. Também é aprazível falar pelo face time com netas e bisnetas, sendo "uma delícia" acompanhar o crescimento e desenvolvimento dessas crianças. 


Também é prazeroso participar de longas “lives” com jovens jornalistas, abordando temas sobre a história de Cuiabá e da UFMT.


Impedidos de participar dos eventos esportivos, resta ficar “secando” alguns clubes na Taça Libertadora, Copa Brasil e principalmente Campeonato Brasileiro - já que o meu Botafogo foi rebaixado para a segunda divisão; torcendo pelo time  "Cuiabá", que subiu este ano - para não descer no final do campeonato; o que, convenhamos, seria um horror!


Ah! Estou também em uma fase da vida de escrever muito, já que não vejo mais televisão. Com cuidadora e enfermeira me vigiando constantemente, passo muitas horas  defronte ao notebook e vou empurrando para longe de mim o inevitável.


Gabriel Novis Neves

05-08-2021




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