Quando do meu retorno à Cuiabá, com a mulher grávida no oitavo mês, eu e Regina fomos homenageados com uma inesquecível serenata.
Carlos Eduardo Epaminondas, meu colega e amigo desde 1942, convidou Romano Fava - depois, meu vizinho de apartamento antes da sua partida para a eternidade -, e em companhia do saxofonista "China" foram cantar para nós.
O carro foi estacionado em frente à minha casinha, nas imediações da igreja N. Sa. da Boa Morte, e adentraram pelo baixo portão gradeado e sem cadeado para oferecerem o “show” no pequeno alpendre da casa.
De madrugada, onde só se ouvia o cântico das rãs e sapos da “lagoa”, o vozeirão do Romano cobria o silêncio com interpretações de músicas italianas e a obrigatória "Granada"! Nessa ocasião, a população de Cuiabá não alcançava 60 mil habitantes.
Regina estava acordada e se deliciou com aquele espetáculo que desconhecia – as serenatas de madrugada em sua casa. Perguntou sobre o que fazer naquele momento. Respondi que a boa educação mandava que os homenageados abrissem a sua casa, acendessem todas as luzes e oferecessem bebidas, guloseimas e carinho em retribuição.
Cometemos uma grosseria social por necessidade, pois não tínhamos nada preparado para lhes oferecer. Os rapazes cantaram seu extenso repertório e saíram. Entraram silenciosos no automóvel, com certeza atribuindo a nossa falta de educação a um “inimaginável cansaço”!
Passei a vida toda pensando naquela noite e aos pouquinhos pedi perdão a todos os participantes daquela serenata.
Hoje, com pouco mais de 600 mil habitantes, não temos praticamente mais casas domiciliares, a não ser nos “blindados” Condomínios Fechados, além da lei do silêncio que proíbe essas bucólicas e suaves serenatas, sempre após as 22 h.
Como era gostosa a minha Cuiabá!
Gabriel Novis Neves
03-08-2021
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