quinta-feira, 5 de agosto de 2021

SERENATAS CUIABANAS


Quando do meu retorno à Cuiabá, com a mulher grávida no oitavo mês, eu e Regina fomos homenageados com uma inesquecível serenata.


Carlos Eduardo Epaminondas, meu colega e amigo desde 1942, convidou Romano Fava - depois, meu vizinho de apartamento antes da sua partida para a eternidade -, e em companhia do saxofonista "China" foram cantar para nós.


O carro foi estacionado em frente à minha casinha, nas imediações da igreja N. Sa. da Boa Morte, e adentraram pelo baixo portão gradeado e sem cadeado para oferecerem o “show” no pequeno alpendre da casa.


De madrugada, onde só se ouvia o cântico das rãs e sapos da “lagoa”, o vozeirão do Romano cobria o silêncio com interpretações de músicas italianas e a obrigatória "Granada"! Nessa ocasião, a população de Cuiabá não alcançava 60 mil habitantes.


Regina estava acordada e se deliciou com aquele espetáculo que desconhecia – as serenatas de madrugada em sua casa. Perguntou sobre o que fazer naquele momento. Respondi que a boa educação mandava que os homenageados abrissem a sua casa, acendessem todas as luzes  e oferecessem bebidas, guloseimas e carinho em retribuição.


Cometemos uma grosseria social por necessidade, pois não tínhamos nada preparado para lhes oferecer. Os rapazes cantaram seu extenso repertório e saíram. Entraram silenciosos no automóvel, com certeza atribuindo a nossa falta de educação a um “inimaginável cansaço”!


Passei a vida toda pensando naquela noite e aos pouquinhos pedi perdão a todos os participantes daquela serenata.


Hoje,  com pouco mais de 600 mil habitantes, não temos praticamente mais casas domiciliares, a não ser nos “blindados” Condomínios Fechados, além da lei do silêncio que proíbe essas bucólicas e suaves serenatas, sempre após as 22 h.


Como era gostosa a minha Cuiabá!


Gabriel Novis Neves

03-08-2021




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