sexta-feira, 6 de agosto de 2021

UM PARTO DIFÍCIL PARA DISSOLVER CIÚMES ENTRE NETOS


Envio religiosamente minhas crônicas para meus familiares e amigos. Eles lêem e respondem me incentivando ou fazendo críticas. 


Hoje cedo, minha quarta neta telefonou pedindo uma crônica sobre o seu parto, difícil e complicado! Percebi que, na verdade, não passava de estar "morrendo de ciúmes", por dizer que os demais netos já haviam recebido uma homenagem, faltando só ela! Inclusive sugeriu o tema, que seguirei à risca.


Quando minha primeira neta nasceu, eu estava na plenitude da minha saúde física e pleno desenvolvimento profissional, na maturidade.


Estava recentemente aposentado do cargo de professor da UFMT e não havia ainda suspendido meu atendimento clínico no movimentado consultório médico, cujo funcionava quase em três turnos integrais, para implantar a primeira escola privada de medicina em Mato-Grosso, na UNIC!


Meu auxiliar exclusivo e predileto, das quase trinta cirurgias mensais, era meu querido e eficiente Paulo Fortunato, médico e também professor da UFMT, contando com uma diferença de idade a seu favor de quase vinte anos.


Excepcionalmente, procedi com o pré-natal e assisti partos de filha, noras, irmãs, sobrinhas, cunhadas, primas, pois me sentia à vontade para executar esses procedimentos com meus familiares, sob a circunstância da assistência. 


“A exceção existe para confirmar a regra”, afirmam os pensadores.


Quando ocorreu o parto da minha única filha, meu auxiliar predileto, cumprindo a boa ética médica, efetivamente me impediu que realizasse a assistência no procedimento, sendo auxiliado por outro médico em razão de considerar que a emoção daquele nascimento pudesse provocar "um troço" no cirurgião-avô de “meia idade”!


No segundo parto da minha única filha, o ato se repetiu! Sem vaidades, fiquei mais taquicárdico presenciando o procedimento do que se o estivesse assistindo ou até mesmo executando.


O pré-natal e parto mais difícil foi da neta que me "pautou" esta crônica. Pré-natal complicado, com diminuição do volume do líquido amniótico existente dentro da bolsa de águas onde fica o nascituro. Não se identificaram causas aparentes de “rotura prematura das membranas”, pois a mais comum é a infecção e isso estava descartado.


Foram avaliadas, pelo menos uma vez ao dia, as condições de vitalidade do nascituro por ultrassom gestacional, cardiotocografia, ausculta cardíaca fetal, medida da altura do fundo do útero e palpação, observação dos movimentos fetais, ganho de peso diário, exames clínicos e laboratoriais minuciosos, como curva térmica diária, hemograma e Proteína C Reativa (PCR) e até punção do líquido amniótico para pesquisa de infecção.


Com a diminuição do “líquido amniótico”, que é fator importante na nutrição fetal, contávamos os dias para o bebê atingir a maturidade pulmonar, o que aconteceu na 28ª semana de gestação, com ajuda de corticóides.


Até o dia do nascimento ficava a critério do obstetra escolher a data,  e o “terrorismo” era intenso para retirar o bebê que estava com boa vitalidade no útero materno. Sempre me lembrei dos velhos mestres que afirmavam: - Cada dia do bebê sadio no útero materno correspondia à menos três de internação deste na UTI!


Tornou-se imprescindível recorrer à  uma maternidade com retaguarda de UTI neonatal e o hospital em que a mãe estava internada não contava ainda com essa tecnologia. No dia primeiro de julho, logo cedo, a gestante foi transferida para o Hospital Jardim Cuiabá e o parto cesáreo foi assistido por meu filho, nas primeiras horas da manhã do mesmo dia.


A bebê nasceu chorando e gritando, contando bem menos de 2500g, sendo imediatamente encaminhada para as mãos da pediatra de plantão, também ex-aluna no Hospital Universitário Júlio Muller - HUJM.


Essa cirurgia foi rápida e sem intercorrências. Tão logo tenha sido encaminhada a bebê à neonatologista pelo cirurgião, fui “namorar” e “carregar”, bem coladinha ao meu peito, a minha quarta neta. 


Dia seguinte, fui visitá-la no berçário e, em lá chegando, a pediatra veio ao meu encontro com ar de preocupação para dizer imperiosa e incontinenti a remoção da recém-nascida, pois identificaram no berçário uma provável área de infecção! Só pensava em voltar para a maternidade sem UTI e ficar vigilante naquela  pequerrucha que praticava o “come, dorme cresce e engorda” sem infecção, pelo menos até atingir o peso mínimo para alta, que seria de 2500g, objetivo alcançado após um mês.


Foi imperativo montar, em um apartamento na Clínica Femina, uma UTI de emergência que recebeu encubadeira, oxigênio e dedicação de enfermeira neonatologista, estabelecendo severo controle de visitas até a sua alta médico-hospitalar! 


Uma criança  perfeita e hoje uma bonita moça, foi o resultado dessa batalha onde todos venceram.


Confesso que dos 15.000 partos que tenha realizado, este foi o mais difícil de presenciar. Com este extenso relato, minha neta fica com seu currículo de nascimento “quase” completo e a população sadia, em desenvolvimento gestacional, pode observar e se valer nesse exemplo da enorme valia dos cuidados pré-natais, através dos quais se preservou a vida da bebê, para prosseguir a geração tranquila e saudável tradutora do mandamento: CRESCEI E MULTIPLICAI!


Gabriel Novis Neves

04-08-2021




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