sábado, 14 de agosto de 2021

A UNIVERSIDADE DA SELVA


Para o 1º Encontro de Reitores das Universidades Públicas, realizado em Brasília em 17 de agosto de 1972, um grupo de professores da UFMT, criada em 10-12-1970, lançou um pequeno opúsculo chamado “A universidade da selva”, que consistiu no nosso atestado de nascimento para a comunidade científica nacional.


Nossa UFMT está localizada no marco zero da rodovia Cuiabá–Santarém, na zona de transição entre o cerrado e a maior concentração de florestas tropicais do mundo.


A experiência diária da Universidade tem aspectos originais. Uma equipe de campo pode ser forçada a andar de 25 a 30 km a pé, caso falte água no radiador, na estrada que leva à Utiariti (o hospital indígena da Missão Anchieta e do Programa de Medicina em Comunidades Tribais).


As distâncias médias percorridas entre o campus, em Cuiabá, e os postos e bases avançadas da Universidade no Rio dos Peixes em Dardanelos, em Utiariti e em Eremetsaukê, correspondem, respectivamente,  à rodovia Brasília–Rio, Brasília–Salvador, BrasíliaBelo Horizonte e Brasília–São Paulo em linha reta.


Os agentes maláricos, a importação crescente de doenças de outras regiões, são preocupações do consultor científico da Universidade, o Dr. Noel Nutels, que sugeriu a criação de um centro de pesquisas de doenças ambientais e de massa.


A UFMT é fonte de conhecimentos e –como admite Ceremecê, o grande capitão dos Xavantes,  ninguém ensina o que não sabe. Muito menos, ao nível de uma Universidade.


O campus estava localizado no maior vazio cartográfico do mundo contemporâneo, obrigando os pilotos a se guiarem visualmente pelos acidentes terrestres.


Isso nos obrigou a inverter os termos do binômio Ensino e Pesquisa, consagrado nos textos legais, para criar um movimento de profundidade (Pesquisa), imediatamente conversível em movimento de expansão (Ensino), e a partir deste foco de realismo dar sentido objetivo à produção da Ciência, da Tecnologia e do capital humano necessários ao desenvolvimento regional.


Cremos estar contribuindo para estruturar melhor o mercado de trabalho, impedindo a futura evasão de alunos dos cursos e a evasão de diplomados na região.


Claro que, à primeira vista, parecerá uma Universidade de índios, a nossa. Esperamos que esta impressão inicial não se dissipe, mas, ao contrário, se confirme – porque temos tentado, diligentemente, sê-lo.


Gabriel Novis Neves

06-08-2021





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