quinta-feira, 12 de agosto de 2021

OS GARIMPEIROS


No início dos anos oitenta, visitei cidades do nortão do Estado, em uma ótima caminhonete e bom motorista, tendo por objetivo  de conhecer o sistema educacional de Guarantã, especialmente conhecer a educação infantil e pré -escolar em área totalmente afastada das esferas do poder central do Estado,  pioneiramente implantado pelas irmãzinhas de uma Congregação Mineira. Passei uma manhã conversando com as educadoras e saí  entusiasmado com tudo que vi e observei. 


Pernoitamos em Peixoto de Azevedo em direção de Guarantã do Norte, nosso destino final. Na volta pegamos a BR 163, ainda não pavimentada até Cuiabá, cerca de 900 quilômetros.


O nome do município "Peixoto de Azevedo" deveu-se ao Rio que banha seu território, que por sua vez recebeu o nome em homenagem ao tenente Antônio Peixoto de Azevedo, que no ano de 1819 comandou uma expedição que deu nome aos rios Arinos, Teles Pires e Rio do Sangue. Ao que se sabe, Antônio Peixoto de Azevedo buscava alternativas de transportes praticados na época em direção a capital paraense.


A referida epopeia destes desbravadores não obteve os resultados esperados. Devido a isto a região permaneceu bruta e intocada até chegar à década de 70, com o projeto do Governo Brasileiro de construir grandes estradas na Amazônia.


Nesta época, foram expulsos da região os chamados Índios Gigantes,  sendo os mesmos conduzidos pelos irmãos Villas-Boas até o Parque Indígena do Xingu.


Em 1979 grandes quantias de ouro foram descobertas no local,  e a notícia se espalhou rapidamente. Milhares de pessoas chegaram ao território  vindos  de diversas regiões, principalmente do Norte e Nordeste do Brasil, em busca do rápido enriquecimento, provocando uma verdadeira “corrida ao ouro”.   


Chegava-se a extrair dos garimpos “Peixotenses”, por anos a fio, a impressionante quantidade de mais de 1.000 quilos de ouro por mês! O impressionante é que Peixoto de Azevedo foi responsável, na década de 80 e início de 90, por cerca de 10 por cento de toda a produção nacional de ouro.


Também foram trazidos muitos colonos dos Estados do Sul. Foi nascendo então um povoado local, que se expandiu e se transformou em um grande aglomerado urbano. Na época, a região passou a ter cerca de 90.000 habitantes! Em 1981 o povoado foi elevado à categoria de distrito de Colíder e, em 1986 foi emancipado.


Nos anos 90, o confisco monetário do Governo Collor, trouxe muitos prejuízos, atrapalhando simultaneamente o desenvolvimento do município. No começo do século XXI, o município passou por diversas crises políticas  e administrativas, desacelerando ainda mais o seu desenvolvimento, diferenciando-o das demais cidades circunvizinhas. Seus garimpos, embora legalizados, não garantiram um grande avanço para o futuro.


Fiz esta rápida revisão histórica, baseada na história descrita no website da Prefeitura de Peixoto de Azevedo, onde vivenciamos o apogeu e a queda de um grande garimpo.  A Prefeitura deve possuir todos os ingredientes burocráticos das mais antigas prefeituras deste país, tão cheias de diferenças sociais.


Quando pernoitei em Peixoto de Azevedo, a “cidade” era um aglomerado de gente. O que me chamou a atenção foi  a única rua existente,  não pavimentada, onde corria muito dinheiro levado por garimpeiros, nela se instalando um grande número de “boates” e farmácias que se alternavam em toda sua extensão.


No outro dia, com o tanque cheio de gasolina, partimos ao destino final. Depois de meia hora de viagem, no horizonte da estrada empoeirada, dois jovens levantavam os braços pedindo que parássemos. O motorista pediu minha permissão e paramos à beira da estrada.


Os jovens indagaram se iríamos "para cima" e, diante da minha afirmação, se acomodaram no banco traseiro da caminhonete, sem antes esclarecerem que não tinham dinheiro para a gasolina.


Minutos de silêncio, logo quebrado por um dos meus convidados: - o senhor é doutor, vou lhe falar uma coisa, trabalhamos em um garimpo logo ali “pra riba”.


Passamos alguns dias na cidade das boates e farmácias. Naquela ocasião seria possível comprar sua caminhonete, disse um deles. Hoje não temos dinheiro para comer. E logo pediram para descer, pois tinham chegado ao seu destino – o garimpo.


Fiquei pensando na vida do garimpeiro, que fica meses em um buraco da mina de ouro, leva tudo o que ganhou para gastar até o último centavo com mulheres e farmácia. Aprend muito com aquele encontro, sendo hoje um defensor do garimpeiro.


Naquela época, a "Rita Cadillac" ainda não tinha descoberto o garimpo de Peixoto de Azevedo.


Gabriel Novis Neves

03-08-2021

Peixoto de Azevedo 


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