sábado, 31 de julho de 2021

A MEDICINA ESCOLHEU MINHA NOIVA


Bastou escrever “Mudança de Destino”, para receber sugestões de escrever sobre o consequente fato mais relevante da minha vida pessoal, na formação da família. Embora não me considere melhor personagem de mim mesmo, achei melhor cumprir a pauta dos meus amigos leitores com a esperança de os ver com corações mais aquecidos nestes dias de inverno em Cuiabá.


Até hoje é estranho entender como um cuiabano pobre conseguiu estudar medicina no Rio de Janeiro e, após namoro de quatro anos, ter casado com uma argentina, nascida em Buenos Aires, filha de diplomata argentino em serviço naquele país, com mãe carioca que acompanhava o pai diplomata brasileiro lá acreditado.


Aos seis anos ela acompanhou a família em mudança para o Rio de Janeiro onde, por direito, tinha dupla nacionalidade, brasileira e argentina. Foi educada nos melhores colégios do Rio, falava português sem sotaque, sendo  fluente em  espanhol, francês e inglês.


Foi a medicina que propiciou o nosso encontro. Tinha um parente, General reformado, que sofria com colecistite calculosa e, certa tarde, a família me chamou para vê-lo, pois em tratamento domiciliar não apresentava melhoras e apresentava quadro clínico de icterícia severa.


Estava no sexto ano de medicina e há dois anos era auxiliar acadêmico, admitido por concurso, do Hospital e Pronto Socorro Souza Aguiar, equipe Catta-Preta, referência em urgências e emergências na América do Sul. Imediatamente fiz o diagnóstico de tratamento cirúrgico e indiquei o meu mestre Fernando Paulino para operá-lo, o que foi feito com urgência no Hospital São Miguel, em Botafogo, por escolha da família.


Após a alta hospitalar fui várias vezes visitá-lo em atenção médica pós-cirúrgica, até estar totalmente curado e com muitos anos de vida a cumprir.


O meu parente tinha três filhas que moravam em um belo edifício na Rua Senador Vergueiro, no Flamengo. Suas filhas eram amigas da Regina e frequentavam reciprocamente seus apartamentos, conforme hábito da época.


Durante a recuperação do General, eu ficava algum tempo na sala respondendo a curiosidade das meninas, cada vez mais bem impressionado com aquela “pirralha” de gente, me olhando de forma diferente. Ela nunca disse a sua verdadeira idade para mim. Acrescentou uns três anos, que só vim a descobrir quando ficamos noivos em 28-07-1962. Eram nove anos de diferença! Eu tinha 27 anos e ela, 18 anos.


O resto todos sabem. Ela me acompanhou no meu retorno a Cuiabá para exercer minha profissão de médico. Seus três filhos nasceram no Hospital Geral de Cuiabá, nas mãos do médico Clóvis Pitaluga de Moura, também compadre.


Ela foi presente e acompanhou o nascimento de cinco netas e um neto, sendo retirada precocemente do nosso convívio por doença classificada incurável, aos 61 anos incompletos, deixando uma dolorosa lacuna na nossa família.


Descansa no Campo Santo de N. Sa. da Piedade, em Cuiabá, enquanto aguardo para prosseguirmos na eternidade.


Gabriel Novis Neves

29-07-2021









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