domingo, 12 de junho de 2022

PITORESCO XXIX


Bem antigamente, fazendeiros ricos de Cuiabá, compravam casas e apartamentos luxuosos no Rio de Janeiro. Como a maioria não tinha curso superior e pouca escolaridade, faziam de tudo para serem sócios proprietários do Jóquei Clube Brasileiro (sinal de status). Hoje, os ricaços de Cuiabá, também com pouca escolaridade, compram casas e apartamentos luxuosos, para suas férias mensais, no litoral de Santa Catarina e jatinhos para seus deslocamentos.


Na Cuiabá antiga, ter uma pequena chácara às margens do rio Coxipó era sinal de riqueza.


Bem antigamente, os ricaços daqui eram filhos de gente daqui. Hoje, de migrantes do Sul que vieram para cá.


Na Cuiabá antiga, “djente” daqui casava com “djente” daqui, na sua maioria. Hoje, raramente. Preferem “páu rodado”.


Bem antigamente, era muito difícil encontrar um lugar seguro para namorar. Hoje, se namora na casa da namorada com direito ao café da manhã feito pela mãe da namorada.


Na Cuiabá antiga, as meninas brincavam com bonecas. Hoje, na Disney ou “pula- pula” no shopping.


Bem antigamente, quem tinha dinheiro levava seus filhos menores para conhecerem a cultura em Paris. Hoje, vão com os menores conhecer Miami. Os pobres se contentam com o “Beto Carrero”, em Santa Catarina.


Na Cuiabá antiga, as crianças com menos de dois anos eram crianças. Hoje, são chamadas de “crianças da pandemia”, que foram criadas em isolamento social. Quando em reunião familiar choram, demonstrando toda sua estranheza em ambiente com muitas pessoas.


Bem antigamente, a vida era bem mais simples e não precisávamos de documentos para sair de casa. Quando muito uns trocadinhos no bolso.


Na Cuiabá antiga, só conhecíamos a carteira de identidade e certidão de batismo como documentos. Hoje, em qualquer saída de casa, somos obrigados a levar a carteira de identidade, número do cpf, cartão de crédito bancário, cartão do plano de saúde, carteira de vacinação contra Covid 19, quando não é cardiopata. Nestes casos, ter em mãos o número da fábrica do aparelho do marca-passo e prótese da válvula mitral. O celular, entretanto, poderá substituir tudo isso, dependendo do local do atendimento.


Na Cuiabá antiga, só tirávamos a carteira de identidade aos 18 anos para estudar fora ou servir ao Exército. Dinheiro, só depois de trabalhar. Hoje, crianças com dias de nascimento, têm carteira de identidade.


Bem antigamente, não tínhamos a TV para assistirmos aos jogos de futebol. Hoje, qualquer ventania faz desaparecer o sinal do satélite. Ficamos, sem assistir aos jogos.


Na Cuiabá antiga, não existiam especialidades médicas. Os médicos atendiam todos os pacientes que os procuravam. Hoje, “algumas categorias sociais” não encontram especialistas que os atendem.


Bem antigamente, o carnaval brasileiro era realizado em pleno verão. Hoje, pós - Covid19, é no outono.


Na Cuiabá antiga, ainda tínhamos carnaval de rua com blocos e até Escolas de Sambas. Hoje, em algumas cidades, há desfiles das Escolas de Samba. Como sempre, homenageando pessoas, que apenas os carnavalescos conhecem.


Bem antigamente, os grandes times de futebol do Brasil estavam repletos de jovens jogadores chamados de “revelações”. Hoje, esses mesmos times estão cheios de jogadores veteranos em final de carreira ou de países sul-americanos.


Na Cuiabá antiga, o futebol era praticado por jogadores amadores. Hoje, temos futebol profissional composto de jogadores veteranos, “aposentados” e até estrangeiros. Os técnicos são sempre ex-jogadores, que não tiveram sucesso como treinadores da primeira divisão da elite do futebol brasileiro (hoje ocupados pelos portugueses, argentinos, uruguaios e até paraguaios).


Bem antigamente, jogos de futebol foram a grande distração das tardes de domingo. Hoje, é difícil o dia da semana que não há jogos.


Na Cuiabá antiga, os clubes de futebol só disputavam o campeonato cuiabano uma vez por semana com o sol da tarde. Não havia iluminação elétrica no campo de futebol para jogos noturnos.


Bem antigamente, domingo à noite era dia de cinema, teatro, circo e visitas, quando não um jantar fora. Hoje, noite de ficar em casa e dormir cedo.


Na Cuiabá antiga, domingo à noite era “de retreta na Praça Alencastro”. A TV acabou com tudo e criou novos hábitos.


Bem antigamente, para ser reconhecido como famoso deveria ter seu nome entre os ganhadores do Prêmio Nobel, nas suas diversas modalidades. Hoje, famoso é quem tem o nome publicado na Revista Forbes, que cita as pessoas mais ricas do mundo.


Na Cuiabá antiga, não tínhamos pessoas famosas e sim muito conhecidas. Hoje, na Revista Forbes temos até nomes daqui que desconhecemos.


Bem antigamente, para ser conhecido em algum lugar tinha que andar pelas calçadas das ruas e frequentar as festas religiosas. Poderiam ser reis ou rainhas. Hoje, rei ou rainha só se for do agronegócio.


Na Cuiabá antiga, galinha era criada em galinheiro no quintal das casas com os porcos. A galinha tinha apelido de “caipira”. O porco era “caseiro”. Hoje, existem empresários de frigoríficos de galináceos e de suínos. Seus produtos são para exportação. Se a minha avó estivesse viva, jamais acreditaria que estamos vendendo carne de galinhas e de porcos, para a Europa e Ásia.


Bem antigamente, existiam “terras devolutas” e de “índios” no nosso Estado. Hoje, terras devolutas pertencem aos migrantes do Sul, que aqui chegaram com “uma mão na frente e outra atrás”. Os índios são modernos fazendeiros às vezes sócios dos migrantes do “Sul”.


Gabriel Novis Neves

24-04-2022




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