Recebi um convite da Diretora do atual Hospital Geral Universitário (HGU), Dra. Flávia Galindo, para a entregada da modernização do hospital, na festa dos seus 80 anos.
Justifiquei a minha ausência por motivos de locomoção.
Recebi algumas fotos da parte de fora e gostaria de saber como ficaram seu Pronto Atendimento, Ambulatórios, Salas de Pré- Partos, Partos, Reanimação dos Bebês, Centros Obstétricos e Cirúrgicos, UTIs, Enfermarias, Farmácia, Laboratórios, Cozinha, Refeitórios, Lavanderia, Almoxarifado, Repouso dos Médicos e Médicas, principalmente em um hospital tão complexo que funciona como hotelaria, restaurante e lugar de atendimento e tratamento de pacientes.
Gostaria de “bisbilhotar” por inteiro e não apreciar apenas a sua nova fachada.
Assim que melhorar, com certeza o visitarei e conversarei com médicos, professores, alunos e pacientes para saber suas impressões do novo Hospital Geral.
Aproveitando a visita dos meus filhos Monica e Fernando, disse a eles que gostaria de dar uma volta de carro, em um domingo pela manhã por causa do pouco trânsito, para admirar as novas alterações no HGU, porém, sem sair do carro.
E assim foi feito.
Paramos tranquilamente em frente à entrada principal, seguimos um pouquinho mais adiante, até a esquina da rua Thogo da Silva Pereira.
Dobramos à direita e paramos na antiga entrada dos Ambulatórios Gerais, prosseguimos lentamente até o local dos estacionamentos.
Dobramos novamente à direita, percorremos todo o extenso muro até cairmos na avenida Dom Bosco, onde em poucos minutos estava em casa na rua Estevão de Mendonça.
Gostei de tudo que vi, e aprovei.
A Maternidade de Cuiabá e Hospital Geral, foi inaugurada em 1942.
Era uma instituição filantrópica, dirigida por senhoras da sociedade, geralmente esposas de médicos, e seu 1º Diretor Clínico foi o Dr. Clóvis Pitaluga de Moura.
Não me lembro da sua inauguração, por ter sete anos de idade e morar na rua Galdino Pimentel, no Centro Histórico e o HG no longínquo 2º Distrito que era a rua 13 de Junho, após o Asilo das Irmãs Salesianas!
Quando retornei à Cuiabá para exercer a minha profissão (1964) fui convidado pelo Dr. Clóvis Pitaluga de Moura para ocupar o seu plantão semanal, alcançável sem ônus para a Instituição Filantrópica.
Era só um puxadinho separado da enorme estrutura de concreto armado.
A Maternidade funcionava em péssimas condições, mas graças a dedicação do seu Corpo Clínico, servidores e auxiliares de enfermagens e atendentes, parteiras de mãos cheias, atendia da melhor forma possível às suas pacientes.
Naquela época existiam dois tipos de pacientes, pagantes e não pagantes e os médicos não cobravam honorários dos médicos, esposas, filhos, netos e pais de médicos, sogros e sogras assim como padres e freiras e, todos viviam muito bem, sem luxo.
Quando Pedro Pedrosian assumiu o governo do Estado em 15-03-1966, sua esposa dona Maria Aparecida estava grávida do seu último filho.
Pedrosian era mato-grossense do sul do Estado (Miranda), e havia muita rivalidade entre Campo Grande e Cuiabá.
Campo Grande havia inaugurado um moderno Hospital de Clínicas e Maternidade, iniciativa dos irmãos Neder, excelentes médicos, João Pereira da Rosa e outros.
Se a mulher do governador fosse ter o filho em Campo Grande, que naquela ocasião apresentava melhores condições hospitalares, desagradaria aos cuiabanos.
Se fosse para São Paulo, desagradaria os mato-grossenses do norte e sul.
Conversou com o prenatalista da sua mulher em Cuiabá, que também era seu Secretário de Saúde, e decidiu que o parto seria aqui no puxadinho do HG.
O parto cesariano foi realizado pela manhã, pelo Dr. Clóvis Pitaluga de Moura, auxiliado pelo Dr. Zelito de Figueiredo, os dois mais famosos obstetras e cirurgiões da cidade, o anestesista Dr. Navantino Borba, e o pediatra José de Faria Vinagre.
Coincidência é que todos eram eleitores do Governador.
A paciente passou muito bem, e pela primeira vez na história do HG, uma paciente operada de cesárea teve alta no mesmo dia, indo dormir com o seu neném na antiga Residência dos Governadores sendo ajudada por excelentes e experientes parteiras.
Dona Maria Aparecida está viva (88) podendo confirmar essa história.
Eu (87) e meus irmãos oito irmãos, nascemos em casa com a presença de médicos.
Meus filhos (03), nasceram (1964-1965-1967) no original HG.
Já meus netos (06) e bisnetos (03) em Maternidade Privada e o meu bisneto português, na cidade do Porto (Portugal).
Pedrossian, em agradecimento ao excelente atendimento recebido à sua esposa, determinou que a CODEMAT, que era uma empresa do Estado, com pouca burocracia terminasse as obras do HG, o equipasse e entregou as obras poucos dias antes de deixar o governo em 15-03-1971.
Foram 20 anos de apogeu, quando as diversas clínicas foram implantadas.
Quando o Reitor Proprietário da UNIC me convidou para implantar seu curso de Medicina já criado, logo após o seu 1º vestibular, iniciamos a conversar sobre o futuro Hospital Universitário.
Me mostrou vários e excelentes terrenos, todos do lado do Coxipó, no perímetro urbano.
Trouxe excelentes arquitetos especializados na construção de Hospitais Universitários.
Cada anteprojeto hospitalar e memorial descritivo era de encher os olhos.
O negócio não fechou, pois, o novo hospital não teria guias de internações do SUS.
Procuramos a Santa Casa, já que no 2º ano teríamos a disciplina Semiologia Médica e no 3º Clínica Médica.
A Santa Casa nos concedeu um espaço alugado numa ala administrativa ociosa, e o Dr. Abdon implantou seu projeto de atendimento, todo ele construído e equipado pela UNIC.
Construímos em um terreno abandonado da Santa-Casa um pequeno prédio para a Clínica Médica, sendo projeto do Dr. Cór Jesus, responsável por essa disciplina, e o Dr. Abdon.
A intenção da UNIC era transformar a Santa Casa em Hospital Universitário, mantendo a tradição, de ser útero das Escolas de Medicina, no Brasil.
Não deu certo, depois a Santa Casa faliu, e o governo do Estado assumiu a massa falida, e hoje temos o moderno Hospital Metropolitano de Cuiabá prestando inúmeros serviços à nossa população.
A única saída para a UNIC seria adquirir o HG, totalmente sem crédito na praça, com clínicas fechadas, sem clientes particulares, seu corpo clínico reduzido a poucos obstetras e pediatras.
A derrocada do HG iniciou quando médicos novos começaram a chegar em Cuiabá no início dos anos oitenta e os velhos pararam de trabalhar.
A sociedade cuiabana ficou mais exigente com relação a hotelaria, reclamando com seus médicos das condições humilhantes quando atendidas no preparo e sala de partos.
Foi assim que surgiu a pioneira maternidade de Cuiabá, a Femina, com apenas cinco leitos no bairro Bandeirantes, hotelaria de primeira e excelente corpo clínico, sempre crescendo e chegando a potência que é hoje, bem administrada por cuiabanos, resistindo as investidas de grupos econômicos, especialmente de Brasília.
Já compraram os Hospitais Santa-Rosa, São Mateus, laboratórios Cedic, Carlos Chagas, Cedilab.
Com o HG sem condições de continuar a funcionar, mais uma vez a habilidade do reitor Altamiro Galindo apareceu para negociar com um grupo de médicos antigos que estavam ali trabalhando, sem carteira assinada, dando-lhe garantias que não seriam demitidos com a posse da UNIC.
Pela foto da inauguração dois remanescentes permanecem até hoje: os “intermináveis Dr. Antônio Figueiredo, cirurgião geral e obstetra e Dr. Afrânio Borba, pediatra.
Dr. Altamiro enviou seu irmão Chico Galindo para administrar o falido HG.
Fez uma verdadeira revolução transformando um falido HG e Maternidade em Hospital Geral Universitário (HGU).
Acompanhei toda essa epopeia, como 1º diretor da faculdade de medicina da UNIC, tendo sempre ao meu lado a professora Célia Galindo vice-reitora acadêmica e o Abrão, vice-reitor administrativo.
Agora, na gestão da professora-doutra Flávia Galindo, foi realizada a terceira reforma que só conheço por fora, do belo HGU, orgulho dos seus pacientes, alunos, professores e servidores dos seus vários cursos da área de saúde e população cuiabana.
Gabriel Novis Neves
24-10-2022
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