terça-feira, 5 de julho de 2022

A CASA DOS MEUS PAIS


Logo que eles casaram, foram morar em uma pequena casa alugada do senhor Américo de Barros na rua de Baixo bem na pracinha da subida para o Morro da Luz.


Ali nasceram seus filhos, Gabriel, Yara, Pedro e Inon.


O Inon tem um nome que precisa ser explicado por ser raríssimo.


Só conheci um, que foi colega de medicina.


Conta a minha mãe que havia bordado as fronhas dos travesseiros do casal com as iniciais dos seus nomes.


Minha mãe chamava-se Irene Novis e meu pai Olyntho Neves.


Vestiu os travesseiros com as fronhas bordadas, colocou um ao lado do outro, e leu o nome INON!


Com quatro filhos menores meu pai comprou, bem distante do Centro, de Antônio Cesáreo de Figueiredo, sua enorme residência da rua do Campo, com fundos para a rua da Fé.


Antônio Cesáreo foi Presidente de Mato Grosso (1897-1899).


Papai mandou dividir a casa, e nesse período de reformas (1945) foi encontrado grande quantidade de armamentos e munições enterradas em baixo de alguns quartos da parte da casa que foi dividida.


Eu vi o enorme e profundo buraco no quintal para enterrar o arsenal de guerra encontrado.


A mudança para a casa da rua do Campo foi realizada em janeiro de 1946, durantes as minhas férias escolares, da Yara e Pedro.


Todos nós estudávamos na Escola Modelo Barão de Melgaço.


Minha professora foi Aureolina Eustáquio Ribeiro, Carolina Bouret do Pedro e Nilce Valadares Coelho, da Yara.


A maior parte das coisas que tínhamos em casa foram transportadas por carroças.


No final o meu pai contratou um pequeno caminhão para levar as coisas maiores.


Para aproveitar a viagem do caminhãozinho, meu pai nos colocou na carroceria, e o Inon, de apenas cinco anos chorou o tempo todo com medo do passeio, agarrado nas pernas de seu irmão de dez anos.


Na rua do Campo nasceram a Ylclea, Antonieta Eugênia, Olyntho Filho, Aracy e Ana Beatriz.


O casamento das meninas foi realizado nas igrejas, e recepção na casa da Rua do Campo.


Também a festa de São Pedro com chá com bolo e brincadeiras juninas.


A única homenagem que meu pai recebeu, que foi da Associação Comercial, foi lá.


Os aniversários dos filhos foram todos na rua do Campo.


As rodas de conversas eram na calçada da porta da minha casa.


Vivemos momentos muitos felizes nesse casarão da rua do Campo, com quintal cheio de mangueiras, árvores frutíferas, horta caseira, algumas plantas medicinais e galinheiro, onde frequentemente a minha mãe me pedia para colher alguns ovos.


Poucos meses antes de completar oitenta e oito anos, meu pai assistido pelo Dr.Artaxerxes Nunes da Cunha nos deixou de causas naturais.


O velório foi realizado na sala de frente da casa pela funerária de Cristiano Garcia e o corpo enterrado no Cemitério da Piedade.


Tempos depois a casa foi vendida, demolida e transformada em estacionamento.


No quintal foi construída a casa da Yara, hoje alugada.


Minha mãe mudou-se para um apartamento, vindo a falecer há dezesseis anos.


Todos os filhos do casal vivem empoleirados em apartamentos, com exceção da Ylclea que habita uma casa em condomínio moderno e fechado e, a Aracy em casa de bairro do Coxipó.


A casinha alugada da rua de Baixo está descaracterizada e hoje é uma loja e a rua é comercial.


Gabriel Novis Neves

30-06-2022


Eu e a Regina sentados no batente da porta da casa da "Rua do Campo"


Fotografias do acervo do Sr. Francisco das Chagas Rocha:







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