O velho não deve pensar no passado.
Faz mal quando isso acontece.
Surgem as lembranças de tempos atrás.
Tenho muito mais prazeres que perdas, mas são estas que me vem à memória.
Ultimamente tenho lembrado diariamente dos meus pais, minha mulher, irmãos, amigos que já não estão conosco.
Procuro ouvir pelo youtube músicas para me distrair, e as antigas são as que mais me atraem.
Elas me levam a um passado longínquo que me trazem recordações de um tempo que passou e não volta mais.
Toda regressão é mais dolorosa nos velhos, que têm poucos anos de vida na Terra.
Que coisa difícil é a velhice quando existe muito mais tempo vivido!
O futuro é sempre incerto.
Tenho que estar ocupado o dia todo para não ter tempo de ficar pensando.
É isso que faço escrevendo e cuidando da casa.
Ninguém me ensinou e foi o jeito que consegui para não pensar no passado.
Procurei meus contemporâneos que ainda estão entre nós e perguntei se isso também acontecia com eles.
Responderam que tinham um passado mais de perdas que eu, entretanto nunca sentiram o que eu sinto.
Não sei trabalhar com perdas, e no meu caso não deveria envelhecer.
Quando não estou no escritório, lugar em que não penso do passado, tenho que estar brincando com os meus bisnetos.
As duas Marias, a Isabela e Maria Regina, me encantam com as suas conquistas.
Estão na pré-escola, frequentam aulas de balé, estão aprendendo a cantar, tocar piano, inglês e natação.
Sabem atender o celular e trabalham bem com o iPad.
São católicas praticantes de frequentar as missas dominicais e são verdadeiras “irmãs-primas” e muito unidas.
O João Gabriel, de dois anos, acompanha as Marias; é esperto, adora falar por vídeo chamada pelo iPhone.
Entende quase tudo que falam com ele e já fala alguma coisa.
Meu outro bisneto de quase cinco anos nasceu em Portugal e está sendo educado lá, pois seu pai é português.
Algumas vezes já veio à Cuiabá, sendo aqui batizado.
Conhece o seu biso e conversa muito com as suas primas Marias por vídeo chamada.
Essa minha terceira geração evita que eu pense no passado.
Pena que esses encontros não sejam diários!
Gabriel Novis Neves
17-06-2013
La Roue de la Fortune. Calque de Miniatures de l’ Hortus Deliciarum de Herrade de Landsberg. Paris: Bibliothèque Nationale de France (Dept Estampes Ad 144 a) |
N.E.:
A imagem acima contém os quatro estágios simbolizados pelos quatro personagens em torno da Roda:
1) regnabo (eu devo reinar: figura em cima, do lado esquerdo da Roda, com o braço direito erguido)
2) regno (eu reino: figura em cima da Roda, freqüentemente coroada, para significar o reinado)
3) reganvi (eu reinei: figura que está do lado direito da roda, caindo da graça)
4) sum sine regno (eu não tenho reino: figura na base da roda que perdeu completamente os favores da Fortuna. Esta pessoa é as vezes completamente jogada da Roda ou esmagada por esta, sem nenhuma chance de reinar de novo) (STRAYER: 1983, p.145-147).
Vista pelos antigos como deusa do acaso, a Roda da Fortuna na Idade Média representava tanto a Roda da Vida, que elevava o homem até o alto antes de deixá-lo cair de novo, como a Roda do Acaso, que não parava nunca de rodar e indicava a mudança perpétua que caracteriza a natureza humana (BIEDERMANN: 1996, p. 591).
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