sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

O ÍNDIO BRANCO QUE VIVIA EM CUIABÁ


Em 1925, o explorador britânico Percy Harrison Fawcett e seu filho Jack Fawcett, estavam com um amigo no sertão mato-grossense em busca de uma mítica cidade perdida.


O trio acabou sendo morto pelos índios Kapalo, nas proximidades da Serra do Roncador em maio de 1925.


O assassinato não deixou vestígio e o desaparecimento virou lenda.


Foram organizadas diversas expedições de resgate de Facett.


Alguns sustentavam muitos anos depois do sumiço que Facett ainda estava vivo e morando entre os indígenas do Xingu.


Em 1937, a missionária norte-americana Martha Moennich divulgou a informação, acompanhada por fotos, de que um índio branco, loiro e de olhos azuis vivia entre os Kuikuro no Xingu, em cuja aldeia Facett esteve antes de desaparecer.


Ele teria sido descoberto no ano de 1926, ainda bebê, pelo reverendo Emil Halverson.


Chamado de Dulippé (ou Idulipé), a missionária dizia que o índio era filho de Jack Facett e, portanto, neto do explorador britânico.


Em fins de 1943, Assis Chateaubriant, proprietário dos Diários Associados do Rio de Janeiro, com a autorização do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) encarregou seu repórter Edmar Morel de ir ao Xingu resgatar Dulipé para integrá-lo à civilização.


Com o suporte logístico prestado pelo Governo de Mato Grosso, Dulipé foi localizado em fevereiro e 1944.


O índio era míope, não caçava e nem pescava e, por isso, o repórter não encontrou resistência por parte dos Kuikuro para obter sua liberação.


Veio para Cuiabá onde recebeu atendimento médico, foi vestido com terno de casimira e passou a usar óculos.


Os Diários Associados obtiveram do SPI a tutela de Dulipé e o matriculou no Colégio São Gonçalo.


A aculturação, contudo, teve um efeito devastador sobre o caráter de Dulipé, que passou a ser tratado como selvagem pelas ruas de Cuiabá.


Desprezado, acabou se entregando ao alcoolismo e começou a frequentar o baixo meretrício na região do Porto. Teve a vida abreviada por um acontecimento banal. Na madrugada do dia 20 de abril de 1959, desentendeu-se durante um baile no Terceiro com o sapateiro Orlando Alves Silva onde ambos estavam embriagados. O desafeto foi em casa buscar uma arma. Dulipé foi assassinado por duas punhaladas e teve morte instantânea.


A família de Facett jamais reconheceu Dulipé como filho de Jack, mas Edmar Morel tinha um aliado de peso na questão: o então general Cândido Rondon, que costumava chamar o índio de Tripé.


Em fevereiro de 1952, os Diários Associados acabaram admitindo sobre Dulipé: o indígena era portador do albinismo, anomalia genética na qual ocorre um defeito na produção de melanina.


Fonte: texto do Facebook do pesquisador Marcos Amaral Mendes.


Conheci e muito o índio branco de Cuiabá. Chamava-o de Idulipé, como todos de Cuiabá na minha época de adolescente. Morava no “Hotel de Trânsito” dos índios que ficava na rua do Campo, pouco acima da minha casa em calçada de frente. Tinha um grande portão que aberto dava entrada e abrigo para vários caminhões, em enorme quintal. Na frente desse quintal na rua de Cima, próximo ao beco Alto, ficava a sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI).


Frequentemente via o Idulipé passando de ida e volta na frente da minha casa.


Sempre de óculos escuros, calça e camisas de mangas compridas. Não me lembro de tê-lo visto com chapéus. Caminhava sem importunar ninguém ou ser importunado. Parecia um funcionário burocrata saindo e voltando para casa. Chamava muita atenção pela sua cor sem melanina e cabelos loiros.


Não me lembro de também do tratamento selvagem dado ao Idulipé.


Rondon, frequentava a casa de Álvaro Duarte, na rua do Campo separada pela rua Campo Grande do Clube Feminino.


Costumavam sentar-se nas cadeiras de balanço na calçada da sua casa para conversarem.


Sendo caminho do Idulipé, lhe vi conversando com “seo” Álvaro que era chefe do SPI e Rondon.


Rondon só o chamava de Tripé, segundo relato da filha caçula do “seo” Álvaro. Nunca explicou a origem do apelido.


Passou a beber muito, e morou uma boa temporada na casa do Dr. Benjamim Duarte Monteiro, pai do desembargador Leônidas Monteiro e irmão do “seo” Álvaro.


Frequentador do baixo meretrício foi encontrado morto, nos fundos da “Casa Orlando”, para o córrego da Prainha.


Esse foi o único “índio branco” que



conheci visitando as tribos de Mato Grosso.


Gabriel Novis Neves

14-02-2022













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